“Eu
estou interessado em fazer um caminho, em vez de seguir uma trilha e isso é o
que eu quero fazer na vida – em tudo que eu faço.”
MICHAEL JACKSON,
EBONY, 1979
CAPÍTULO 1 OFF
THE WALL
LANÇADO:
10 de agosto de 1979
PRODUTOR:
Quincy Jones
NOTÁVIES
CONTRIBUIDORES: Rod Temperton (compondo/arranjando),
Bruce Swedien (engenheiro de gravação), Stevie Wonder (compondo), Paul
McCartney (compondo), David Foster (compondo), Carol Bayer Sager (compondo),
Tom Bahler (compondo), Patti Austin (vocais), Greg Phillinganes (teclado,
arranjo), Steve Porcaro (teclado/sintetizador), Paulinho Da Costa (percussão),
Johnny Mandel (cordas), Jerry Hey e The Seawind Horns (instrumentos de sopro)
SINGLES: “Don’t Stop ‘Til You Get Enough”, “Rock With You”, “She’s Out of My
Life”, “Girlfriend”
ESTIMATIVA
DE CÓPIAS VENDIDAS: 25 milhões
Off The Wall
fez pelo R&B o que o Pet Sounds dos Beach Boys fez pelo rock.
Foi um ponto de reviravolta, uma revelação sonora e destilação de uma era e
estado de espírito. O crítico Rob Sheffiel o chamou de o álbum que “inventou o pop moderno como nós o conhecemos”.
Na
verdade, enquanto ele não explora a vasta gama de temas de Jackson, que viria
em álbuns subsequentes, Off The Wall
captura perfeitamente a expiração e a energia, os desejos reprimidos e
dolorosas alegrias dos momentos da juventude. Isso representa Michael Jackson e,
por extensão, os ouvintes dele, quando o mundo parecia maduro de
possibilidades. Muitos críticos e ouvintes, da mesma forma, agora, consideram-no
a pura expressão do gênio de Jackson.
Devido
ao sísmico impacto cultural de Thriller,
é sempre esquecido que, em 1981, Off The
Wall foi o álbum mais vendido de todos os tempos por um artista negro.
Seria um registro sem precedentes para a Billboard
Top Ten hits (dois dos quais chegaram
a 1º posição). Talvez o mais importante, ele foi o álbum que, efetivamente,
marcou a transição de Michael Jackson de uma estrela infantil para um maduro
artista solo. Antes de ele ser lançado, Jackson ainda era mais bem conhecido
como o precoce prodígio de dez anos de idade, do antigo Jackson 5. Depois de Off The Wall, não havia enganos: Michael Jackson, o então “Príncipe do Pop”, tinha chegado. Ele tinha vinte
anos de idade.
Um Jackson de dezessete anos olha para New York, admirado.
Off The Wall
foi lançado no verão de 1979. Era um tempo de indisposição política, mas de
cultural vibração, na América. Enquanto o presidente Jimmy Carter enfrentava
uma crise de energia, uma recessão e a crise do refém do Irã, muitos americanos
se voltavam para a música e para a dança para escapar. Disco era, em essência, a menos espiritualmente inclinada psicodélica
dos últimos anos da década de setenta e as boates eram as novas comunidades hippies, o espaço onde música, drogas e
sexo convergiam. Jackson, que celebrava seu vigésimo primeiro aniversário no
estúdio 54, de várias formas, “parecia inteiramente em sintonia com o tempo,
tornando-se maior de idade no epicentro da cena da vida noturna, varrendo a
cultura e criando um som inteligente e
sexy para ela.” Mas ele, também, de alguma forma, destacou-se de tudo isso,
“um, estranhamente, inocente menino na era do Boggie Nights’ flashes, intocado por sexo ou drogas, apesar de toda
a maníaca indulgência em torno dele, uma Testemunha de Jeová perdida na cúpula
do prazer”.
“Pessoas vem ao
(Estúdio 54) como personagens”, ele observou, “e é como ir a um jogo”.
Na
verdade, enquanto Jackson se abstinha dos prazeres hedonistas da vida de boate,
ele também era fascinado pela teatralidade dela. “As pessoas vêm ao (Estúdio
54) como personagens”, ele observou, “e é como ir a um jogo. Eu penso que essa
é a razão psicológica para a loucura disco:
você se torna aquele sonho que você quer ser. Você simplesmente fica louco com
as luzes e a música e você está em outro mundo”.
Esse
“escapismo”, como Jackson sempre se referia a isso, tornou-se uma fascinação ao
longo da vida, pois fez a ideia da transformação, de se tornar algo diferente e
novo. Não todos, porém, estavam tão intrigados com o efeito transformativo do disco. O ano de 1979 viu uma séria
reviravolta contra a estética dance-driven,
como demonstrado no movimento “Disco
Sucks” e no infame “Disco Demolition
Night”, no Comiskey Park, em
Chicago, onde uma enorme pilha de álbuns de
disco foi queimada no jardim central, causando um motim, a partir de uma
multidão estridente de noventa mil pessoas. Off
The Wall, interessantemente, foi lançado em menos de um mês após esse
evento.
Além
das demonstraçõs públicas, críticos musicais eram, naquela época, quase universalmente
céticos sobre o disco, favorecendo,
em vez disso, a “autenticidade” e “seriedade” do rock. Enquanto o rock
empurrava os limites contra a cultura dominante, críticos argumentavam, disco era escorregadio, produto
artificial destinado à audiência de massa consumidora. Embora essa declaração contivesse
alguma verdade – disco, como qualquer
gênero popular de música, poderia ser e era, às vezes, insipido e
comercialmente calculado –, também revelava alguns vícios óbvios. Em 1979,
depois de tudo, o estereotipado e comercial rock
estava tão prevalente como o disco.
Pelo menos parte da antipatia parecia resultar de uma longa data. Algumas vezes
da subconsciente estigmatização da música “negra” que tinha previamente se
manifestado na segregação do R&B,
soul e funk do rock.
Disco
evoluiu de estilo musical predominantemente negro, transformando em funk, com um acompanhamento mais luxuoso
de cordas, buzinas, instrumentos desopro, guitarras elétricas e sintetizadores,
e batidas flor-on-the-floor.
Abrangendo som dele, mensagem e
audiência, disco, no seu melhor,
encorajava a diversidade, aceitação e experimentação, tornando-a a estética
musical de escolha de muitas minorias, incluindo não apenas negros, mas também gays, hispânicos e mulheres, na metade
para o fim dos anos setenta. “Disco era, diametralmente, oposta à postura
machista do rock branco”, observa o
crítico cultural Daryl Easlea, “e desde que não havia bandas em disco, turnês ou camisetas souvenirs eram difíceis de quantificar.
Poucos jornalistas escreveram apaixonadamente sobre isso, mas na maior parte,
era ignorado ou tratado com desdém”. Na verdade, descrições irônicas sobre a
efeminação, a teatralidade, a extravagância emocional e até mesmo a habilidade
do disco fazer as pessoas sentirem
vontade de dançar não eram meramente observações neutras. Como Craig Werner
escreveu, “Os ataques ao disco deu
voz respeitável aos mais feios tipos de racismos desconhecidos, sexismo e
homofobia.” (Interessantemente, no início da carreira adulta de Jackson, esses
mesmos ataques, particularmente pela percepção de efeminação, androgenia e
homossexualidade, eram, constantemente, lançados a ele da mesma forma.)
Disco,
é claro, não era a única presença na música. Os últimos anos da década de
setenta também deram origem às Músicas de Stevie Wonder em The Key of Life, e The Wall, de Pink Floyd; Hotel California,
do Eagles, Rumours, de Fleetwood; Mac
e News of the World, do Queen. Disco, prog rock, glam rock, soft rock, punk e pop todos competiam em uma envolvente e
elétrica cena musical. O mundo ainda estava sentindo a reverberação do álbum blockbuster, de 1977, o Sturday Nitght Fever, e artistas como Bee Gees, Donna Summer, Chic e Sledgehammer Sisters, dominavam os charts.
Nesse
contexto, o disco-pop visceral de Off The Wall parecia muito um reflexo do
gosto do momento. Mas parte do que distingue o álbum, antes e agora, decorre do
dinamismo dele, a sustentada tensão que ele bate entre opostos. Diferentemente
de muitos discos anteriores dos anos setenta, Off The Wall não é meramente uma celebração de excessos. É um álbum
tanto de inocência quanto de experiência, de timidez e deslumbramento, tanto
quanto de indulgência. Era muito sensual, mas sutil, sempre eufemisticamente.
Nunca fala de política, mas é implicitamente político, nunca fala de raça, mas
quebrou inúmeras barreiras raciais. Não se refere a nada especificamente sobre
o contexto histórico, mas claramente significa, para muitos dos ouvintes, um
momento específico no tempo. Ele é disco,
mas também é jazz, pop, funk, soul, R&B e Brodway. Off The Wall,
portanto, é um álbum difícil de classificar. A indefinição dele, porém, é o que
o torna tão convincente.
O trabalho com Off The Wall
começou, oficialmente, em dezembro de 1978, no estúdio de gravação Allen Zentz,
em Hollywood. O último ano tinha sido
um momento de dramática mudança e evolução para Michael Jackson. Depois de anos
se sentindo pressionado pelas expectativas da família, ele, finalmente, começou
a cortar vínculos com o dominador pai dele. Off
The Wall seria, também, o primeiro álbum sem o envolvimento dos irmãos
dele, a Motown, ou o dueto da Filadélfia, Kenny Gamble e Leon Huff. Além disso,
ele acabara de desempenhar o papel de Espantalho no filme The Wiz, uma adaptação urbana do sucesso da Brodway, ao lado do ídolo dele, Diana Ross. Exceto por turnês, esta era a primeira vez
que ele vivia fora de casa. Naquela nova situação, observou o produtor Bob
Cohen, ele era “como uma criancinha em um playground
de Mahatma”. Enquanto The Wiz,
definitivamente, desapontou nas bilheterias, Jackson era, geralmente, visto
como um dos poucos pontos luminosos, recebendo elogios pelo “genuíno talento
como ator” e profissionalismo.
O
mais importante foi que The Wiz
conectou Jackson e o legendário produtor Quincy Jones, que estava escrevendo a
trilha sonora para o filme. Jones carregava consigo uma fortuna em experiência,
conhecimento e habilidades. Nascido no sul de Chicago, ele foi uma talentosa e
ambiciosa criança, já arranjando e escrevendo músicas na adolescência. Quando
ele conheceu Jackson, em 1977, o currículo dele incluía viajar pelo mundo,
muitas vezes, com músicos parceiros do
jazz, receber uma educação clássica em Paris, compor trilhas de filmes
premiadas e trabalhar com lendas como Frank Sinatra, Sammy Davis Jr., Dinah
Washington, Nat King Cole, Ray Charles e Count Basie. Assim como Berry Gordy,
Jones era um pioneiro para os afro-americanos na indústria da música e, como Jackson,
ele era um compulsivo perfeccionista.
A música e a
personalidade de Jackson, paradoxalmente, incorporavam e
desafiavam as
qualidades do disco.
Dada
a pedigree, é notável o quão rápido Jones ficou impressionado pelo, então,
adolescente de dezoito anos, Michael Jackson. O papel de Jackson em The Wiz era o primeiro dele como ator.
Quando o filme começou, ele nem mesmo tinha uma canção própria. “A maioria das
pessoas envolvida com o filme não tinha ideia de quem Michael Jackson era”,
Jones se lembra. Contudo, quando Jones viu Jackson em ação, a preparação dele,
os instintos dele, a ambição dele, ele se convenceu de que o jovem artista era um
talento único em uma geração, comparando-o a Sammy Davis Jr. e Frank Sinatra. “Michael
foi a melhor coisa que veio de The Wiz
para mim”, ele escreveu. “Quando nós ensaiávamos as cenas musicais... eu ficava
cada vez mais impressionado. Ele estava sempre superpreparado. Ele chegava às 5
da manhã, para a maquiagem de espantalho dele e tinha cada detalhe do que ele
precisava fazer memorizado para cada cena. Ele também sabia todos os passos de
dança, todas as palavras do dialogo e todas as letras de todas as músicas de
todos, na produção inteira.” Além da preparação, Jones viu em Jackson aquele
raro fator “x”. “(Michael Jackson) tinha o conhecimento de um homem de sessenta
anos e o entusiasmo de uma criança”, Jones observou. “Ele era um menino genuinamente
tímido e belo, que escondia a inteligência dele com pequenos sorrisos e
risinhos. Mas sob o exterior tímido estava um artista com um incandescente
desejo por perfeição e uma definitiva ambição de ser o maior artista do mundo.”
Jackson
na première de The Wiz, onde ele
encontrou Quincy Jones pela primeira vez. Eles começariam a trabalhar no
primeiro álbum solo dele, Off The Wall, nesse
mesmo ano.
Enquanto
filmava The Wiz, Michael Jackson,
igualmente, desenvolveu uma admiração por Quincy Jones e se convenceu de que ele
seria perfeito para produzir o primeiro álbum solo dele. “Quincy faz jazz, ele faz trilhas de filme, rock ‘n’ roll, funk, pop, ele é multicolorido e esse é o tipo de pessoa com quem
eu gosto de trabalhar”, Jackson explicou em uma entrevista em 1980. “(Off The Wall) foi a primeira vez que eu escrevei
e produzi completamente minhas músicas e eu estava procurando por alguém que me
desse essa liberdade, além de alguém que é ilimitado musicalmente.”
Assim,
Jones pôde não apenas ver o enorme potencial de Jackson, mas isso também o encorajou
a fechar um acordo com o cantor. Quando a Epic
Records rejeitou a ideia de uma colaboração Jackson-Jones, porque Jones era
“muito jazzy” e não podia produzir
sólidos hits de dança, Jackson não
recuou. “Ele marchou para a Epic com
(os empresários dele)”, Quincy recorda, “e disse: ‘Eu não me importo com o que
vocês pensam, Quincy está fazendo meu álbum. ’” Jackson venceu e,
eventualmente, o mesmo aconteceu com a Epic
Records.
Além
de atuar como produtor, Quincy Jones ajudou Jackson a reunir um elenco de apoio
formado por estrelas, incluindo o prestigiado engenheiro de gravação, Bruce
Swedien, de quem Jones era amigo íntimo, desde os anos cinquenta. Swedien
permaneceria com Jackson por toda a carreira solo dele, proporcionando uma
amizade, assim como “um dos melhores pares de orelhas” no negócio. Completando
com quem sempre se referiam como a “Grande Árvore”, o britânico Rod Temperton,
um membro de uma banda funk-disco internacional,
a Heatwave. Temperton era um
talentoso músico a quem Jones descreveu como “um dos melhores compositores que
já viveu, com um talento melódico e polifônico e instinto de um compositor
clássico”. Devido à reputação dele como um
hip e funky membro do grupo de disco Heatwave, muitos dos músicos que trabalharam em Off The Wall ficaram surpresos em saber
que ele era um “pequeno cara branco”, de North Lincolnshire, Inglaterra. Mas musicalmente,
Temperton, naturalmente, se ajustava com Jones, Swedien, Jackson e o resto do
time. “Rod era uma alma gêmea em muitos aspectos”, Jackson disse. “Como eu, ele
se sentia mais em casa cantando e escrevendo sobre a vida noturna que realmente
saindo e vivendo isso.”
Além
de a Grande Árvore, Jones e Jackson aproveitaram o talento como compositor de
algun dos maiores nomes na indústria musical, incluindo Paul McCartney, Stevie
Wonder, Carole Bayer Sager, Tom Bahler e David Foster. Eles também trouxeram
alguns músicos excepcionais: “o virtuoso tecladista” Greg Phillinganes, um
amigo de Jackson, que trabalhou intimamente com Michael nas faixas rítmicas, o “monstro
trompetista e arranjador”, Jerry Hey, e o talentoso Seawind Horns; o vencedor do Grammy
Award, o compositor e arranjador Johnny Mandel, nas cordas; Louis Johnson
(dos Brothers Johnson), no
contrabaixo; David Jones e Melvin, “Wah Wah Watson”, Fera na guitarra; John Robson
e Jeff Porcaro (do Toto) nas baterias
e o brasileiro Paulinho Da Costa na percussão. Quincy Jones, afetuosamente, se
referia a esta extraordinária coleção de talentos como “Time-A”.
Em
retrospecto, coordenar esse diverso grupo de tal forma perfeita foi um
extraordinário ato de colaboração artística. “Ele foi o álbum mais suave em que
eu já estive envolvido”, Jackson disse em uma entrevista em 1979. “Havia muito
amor, foi incrível. Todos trabalharam juntos muito facilmente.” Era uma
atmosfera de receptividade e confiança que Quincy ajudou a promover e que Jackson
aprenderia e executaria como produtor executivo em projetos posteriores. “Nós
estávamos apenas pegando muitas chances”, recorda Jones. “Sentíamo-nos livres.”
Depois de retornar de The Wiz, Jackson estava ávido por mais
independência – especialmente do pai dele.
Essa
liberdade, espontaneidade e espírito de colaboração foram incorporados às
faixas. “Em um par de músicas a banda estava lá enquanto eu cantava e nós fomos
capazes de sentir um ao outro”, Jackson disse em uma entrevista em 1979. “E
isso ficou marcado no álbum. Eu nunca tinha feito assim antes, jamais! Isso deu
tal espontâneo sentimento e me lembrou de quando o R&B primeiro começou no Sul e todos os negros simplesmente se
reuniam em um barraco e faziam uma Jam.
Isso é o que falta hoje. Tudo é muito comercial e mecânico. Muitos músicos hoje
estão compenetrados no que eles fazem para eles mesmos e não um com o outro.”
Como artista, Jackson sempre acreditou nessa energia comum como parte
integrante da criatividade.
Michael
Jackson e Quincy Jones, capturados aqui, em 1983, formariam uma das mais bem
sucedidas parcerias criativas na história da música popular.
O
primeiro foco de Quincy Jones, entretanto, foi em Michael Jackson. “Nós
tentamos todos os tipos de coisas que eu tinha aprendido ao longo dos anos para
ajudá-lo com o desenvolvimento artístico dele”. Jones recorda. “Escutando música
para relaxar, apenas um ‘terceiro menor’ para dar a ele flexibilidade e uma
variedade mais madura nos registros altos e baixos e mais de que algumas
mudanças de tempo. Eu também tentei dirigi-lo com músicas que tinham mais
profundidade. Algumas delas sobre relacionamentos. Seth Riggs, um treinador de
voz, deu a ele vigorosos exercícios de aquecimento par expandir as faixas
superiores e inferiores dele por, pelo menos, uma quarta, o que eu, desesperadamente,
precisava para que os vocais dramáticos fluíssem.”
Um pensativo
Jackson no set do vídeo musical dele,
Can You
Feel It, em
1980.
Jackson
respondeu ao desafio, impressionando os colegas mais experientes dele, não
apenas com o talento, mas com a preparação dele. Jones se lembra dele vindo
para as sessões no estúdio com as partes dele completamente memorizadas,
letras, harmonias, tempo. “Ele podia vir para uma sessão e fazer duas vozes
guias e três partes de vozes de fundo em um dia”, Jones disse em uma entrevista
em 1982. “O tempo de um estúdio é muito caro e é por isso que alguém como
Michael Jackson é o artista que o produtor sonha. Ele anda preparado. Ele
realizava muito em uma única sessão, isso me impressionava.”
Quincy
e Michael vasculharam através de dúzias de músicas potenciais para Off The Wall, algumas delas escritas por
Jackson e algumas introduzidas por Jones, Temperton e outros. Eles queriam
apenas o mix certo de sons e estilos
e tentaram colocar faixas que destacariam as habilidades diversas de Jackson.
Enquanto fazia o álbum, Jackson também desenvolveu uma saudável competição com
o colega compositor Rod Temperton. “(Um dia)”, Jackson recorda, “ele veio ao
estúdio com este super (ritmo), ‘doop, dakka dakka doop, dakka dakka dakka
doop’, essa completa melodia e refrão, ‘Rock
With You’, eu fui, ‘Wow! Então,
quando eu escutei isso eu disse: ‘Okay,
eu realmente tenho que trabalhar agora’. Assim, toda vez que Rod apresentasse alguma
coisa, eu apresentaria alguma coisa, e nós tínhamos uma pequena forma de competição
amigável”. Jackson comparou isso à forma como Walt Disney levou diferentes
artistas a competir para animar um filme. “Quem tivesse o efeito mais
estilizado que Walt Disney gostasse, ele escolheria... era como algo amigável,
mas era uma competição... Portanto, sempre que Rod trazia algo, eu traria algo...
Nós criamos esta coisa maravilhosa.” Temperton e Jackson não apenas terminariam
compondo a maioria das músicas de Off The
Wall, mas de Thriller também.
Eventualmente,
Jackson e Jones diminuíram a longa lista de potenciais faixas musicais a dez
músicas: Três (“Don’t Stop Till You Get
Enough”, “Workin’ Day and Nigth” e “Get
on the Floor”) eram composições de Jackson. Três outras (“Rock
With You”, “Off the Wall” e “Burn the Disco Out”) eram contruibuições
de Rod Temperton. Finalmente, “Girfriend”
veio de Paul McCartney, “She’s Out of My
Life”, veio de Tom Bahler (que trabalhou com Jackson em The Wiz), Carole Bayer Sager trouxe “It’s the Falling In Love” e Stevie
Wonder contribuiu com “I Can’t Help It”.
Jackson,
fotografado, aqui, de terno,
queria apresentar uma imagem nova,
mais madura, ao público.
Enquanto
os retoques finais estavam sendo dados nas músicas no estúdio Westlake e Cherokee, as atenções estavam voltadas para a capa do álbum e para
a imagem do novo artista. Para muitas pessoas, apesar do recente sucesso de Destiny, Michael Jackson continuava
estigmatizado como um angelical artista infantil dos Jackson 5. “Até agora”, escreveu Stephen Holden da Rolling Stone, em 1979, “(Jackson tem),
compreensivamente, se agarrado às reminiscências da original imagem dele da Motown, como Peter Pan, enquanto,
cuidadosamente, considera o papel de jovem príncipe”. Um dos principais
objetivos de Off The Wall, de uma perspectiva
de markenting, portanto, era dar este
simbólico passo à frente e introduzir o Michael Jackson adulto, enquanto
maduro, educado, sofisticado e sexual. Antes até mesmo de tocar o disco, a nova
imagem dele estava exposta da capa do álbum, com Jackson apresentado como o
“Frank Sinatra negro”, vestindo um estiloso (para o momento) smoking e cintilando o sorriso megawatt dele. Parecia “uma foto tirada
na formatura ou em um casamento, ou em qualquer outro ritual de passagem”, observou
Anthony DeCurtis, da Rolling Stones.
O empresário de Jackson, naquele tempo, Ron Weisner, alega créditos pelo plano
de jogo desta imagem, com exceção das meias brancas ,que, não surpreende, foram
ideia de Jackson. (Como um artista, Jackson tem um olho aguçado para imagens
icônicas; ele também adora o contraste de cores, que ressalta a percepção do
movimento na dança. Posteriores capas de Off
The Wall mostrariam apenas a metade inferior de Jackson, destacando as meias
brilhantes e os moccosins.). Tanto na embalagem quanto no conteúdo, o álbum
serviu como a metamorfose de Jackson para uma pessoa nova, jovem, bem sucedida,
adulta.
Off The Wall
foi completado em apenas seis meses. “A abordagem de Michael é muito
dramática”, lembra Quincy Jones. “Muito concisa. Quando ele concebe uma ideia
ele vai todo o caminho com ela. Ele tem a presença de espírito para sentir
alguma coisa, concebê-la e, então, trazê-la à vida. É um longo caminho da ideia
à execução. Todo mundo quer ir ao céu e ninguém quer morrer. Isso é energia,
homem. Você precisa ser emocionalmente preparado para colocar tanta energia
dentro disso quanto é necessário para fazer direito.” Depois de todo o trabalho
e energia investidos no álbum, tanto Jones quanto Jackson estavam, justificadamente,
orgulhosos do produto final. Off The Wall
era um álbum firme, rico, multifacetado, em todas as faixas. “(Quincy e eu)
dividimos a mesma filosofia sobre fazer álbuns”, Jackson escreveu mais tarde.
“Nós não acreditamos em lados-Bs ou músicas de álbuns. Todas as músicas devem
ser capazes de se sustentar como singles
e nós sempre buscamos isso.”
A
abordagem Jackson-Jones também significou uma diversa, mas equilibrada, linha
de canções. Eles queriam que contivesse algo para todos, mas ainda soasse como
pertencentes a um conjunto.
O álbum foi lançado
em agosto de 1979, para um público curioso. Primeiro single, “Don’t Stop Till You
Get Enough”, já tinha alcançado a 1º posição no chart da Billboard, em
julho, e estava sendo tocado nas boates por todo o país. Contudo, até o álbum
ser escutado integralmente, as pessoas não começaram a perceber que algo
especial tinha sido formado na parceria de Michael Jackson e Quincy Jones. “Fãs
e parceiros da indústria da música, igualmente, ficaram de boca aberta quando o
(o álbum) foi emitido para o público”, escreveu o biografo J. Randy
Taraborrelli. Na verdade, é difícil imaginar completamente, agora, a experiência das pessoas ao tocar o álbum ou
fita cassete, pela primeira vez, e escutar o transbordante ritmo, a textura
colorida e o êxtase desenfreado dele.
Em
adição aos dois hits em 1º posição do
álbum, (“Don’t Stop Till You Get Enough” e “Rock With You”), outros dois (“Off
The Wall” e “She’s Out of My Life”)
chegaram ao Top Ten em 1980. Enquanto isso, o álbum permaneceu no Top 20 por uma marca incrível de
quarenta e oito semanas. Em 1982, ele já tinha chegado a, aproximadamente, sete
milhões de cópias vendidas nos Estados Unidos sozinho, fazendo dele o álbum de
um artista negro mais vendido de todos os tempos.
Ele
simbolizava um importante marco cultural, com certeza. Para muitos ouvintes e
críticos, porém, a música, por si mesma, era revolucionária. Off The Wall era uma nova geração de
álbuns, uma síntese de gêneros e músicas única. Na revisão do álbum, em 1979, a
Rolling Stone o chamou de “uma
amostra original, sofisticada de R&B-pop”;
All Music descreveu-o como “uma
intoxicante mistura de fortes melodias, ganchos rítmicos e sua construção indelével...
que é, absolutamente, emocionante em sua alegria absoluta”; Blender afirmou
“(ele) olhou para além do funk, para
o futuro da dance music e para além
das baladas soul para o futuro das
canções tocantes, na verdade, para além do R&B,
para o pop sem preconceitos”.
Com Off The Wall, Jackson não apenas reinventou a si mesmo, mas revolucionou o gênero R&B.
Enquanto
não manifestamente um portador de mensagens, os temas implícitos dele eram tão
importantes quanto. Off The Wall era,
definitivamente, uma celebração de diferenças e excitamento, de emoção e
imediatismo, de libertação e transformação, era uma escapatória temporária do
“mundo real”, da monotonia e conformidade da alma mortal, um convite para se
sentir vivo, jovem, único e livre. Se o famoso “muro” de Pink Floyd foi um símbolo da isolação do narrador, o de Michael
Jackson era uma barreira que deveria ser saltada, mesmo que a estimulante
liberdade fosse transitória. Como Jackson canta na faixa título, “Deixe a
loucura na música entrar em você... A vida não é tão ruim assim/ Se você vive
loucamente.” Letras como essas não apenas ressonavam com Jackson em um nível
pessoal, mas também falavam para milhões de outros, no final dos anos setenta,
que se reuniam na pista de dança e nas boates, experimentando abertamente com
identidade e sexualidade.
Talvez
a maior realização de Off The Wall,
porém, esteja na ousadia sonora dele. “(Ele) é um álbum dançante lançado no
auge da febre disco, mas inclui
nenhum dos gêneros clichés”, observa
o crítico musical Anthony DeCurtis, “Os ritmos são suaves, mas propulsivos,
carregados, mas graciosamente sincopados; as melodias são claras como ar, mas
imediatas e inesquecíveis.” Barney Hoskyns da NME o descreveu com o “o dance
music mais intrincadamente temporizado, completamente texturizado,
brilhantemente sensual, já feito.”
As
camadas de instrumento complementam, mas nunca se sobrepõem aos
alternativamente zombeteiros, sensuais e sublimes vocais de Jackson. “Jackson
trouxe para Off The Wall faixas vocais
que nenhum cantor pop, antes ou
depois, poderia ter imaginado”, escreveu o crítico musical Jimmy Gutterman. “O
tenor dele voa por todo o lugar (mesmo semi-rapping
um pouco em “Get On The Floor”), mas
os momentos vocais mais expressivos, aqui, são sem palavras: choros, gritos,
exultações, gemidos, que falam muito.”
Considerando o enorme sucesso
comercial do álbum e a aclamação da crítica, após o lançamento, não é de se
admirar que Jackson tenha se sentido tão devastado quando o álbum foi esnobado
no Grammy Awards, em 1980, (recebendo
apenas uma indicação para o Best Male
R&B Vocal Perfomance). “Eu me
lembro de onde eu estava quando eu recebi a notícia”, Jackson recorda. “Eu me
senti ignorado pelos meus colegas e isso doeu.” Membros da família se lembram
dele chorando inconsolavelmente. “Jackson sentiu que a indústria da música
estava tentando mantê-lo no lugar dele, como um artista de único estilo”,
observou a Rolling Stone, “um cantor
negro que faz dance music”. Jackson,
porém, recusou-se a aceitar esse fato. “Aquela experiência acendeu um fogo na
minha alma”, ele mais tarde escreveu. “Tudo sobre o que eu podia pensar era o
próximo álbum e o que eu faria com ele. Eu queria que fosse realmente
incrível.”
Apesar
de ter sido esnobado pelo Grammy, Off The Wall venceu o teste de tempo.
Para muitos daqueles que se tornaram maiores de idade nos anos setenta, ele é
definido como o álbum da jovem vida deles. “Se você me pedir para escolher
entre Off The Wall e todo o catálogo
anterior de The Sex Pistols e The Beatles”, escreveu o crítico musical
Mark Fisher, “não haveria competição. Eu respeito The Beatles e os Pistles,
mas eles já tinham sido calcificados nos arquivos das revistas
cinematográficas, antes mesmo que eu desse ouvidos a eles; enquanto Off The Wall continua vívido,
irresistível, suntuoso, repleto de detalhes tecnicolor”.
Na
verdade, mais de trinta anos, desde que ele foi lançado, ouvintes e críticos,
igualmente, são praticamente unânimes em elogiá-lo. Em uma pesquisa da VH1 com mais de setecentos músicos,
compositores, disc jockeys, programadores
de rádio e críticos, em 2003, Off The
Wall foi classificado como trigésimo-sexto melhor álbum de todos os tempos.
A Rolling Stone o classificou como 68
na lista dos 500 Greates Albuns of All Time. Em 1999, a revista Q, do Reino
Unido, o chamou de “um dos melhores álbuns já feitos... (com) uma das melhores
melodias da história do pop”.
Off The Wall
também inspiraria várias gerações de artistas que viriam, incluindo Prince,
Janet Jackson, Usher, Justin Timberlake, Alicia Keys, Jay-Z, Kanye West, Ne-Yo,
e Beyoncé, além de centenas de outros, servindo como o que o crítico musical
John Lewis tem chamado de “Pedra Rosa para toda a subsequente R&B”.
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