9.
WHO IS IT
(Escrita e composta por Michael
Jackson, produzida por Michael Jackson e Bill Bottrell. Gravada e remixada por
Bill Bottrell. Arranjos de teclados por Brad Buxer e David Paich. Arranjo de
corda por George del Barrio. Vocais solo e background: Michael Jackson.
Arranjos por Michael Jackson. Bateria: Bryn Loren e Bill Bottrell. Baixo: Bill
Bottrell (sintetizadores) e Louis Johnson (baixo-guitarra). Performance e programação
de teclado: Brad Buxer, Michael Boddicker, David Paich, Steve Porcaro e Jai
Winding. Solo do violoncelo: Larry Corbett. Voz soprano: Michael Jackson e
Linda Harmon Concert master: Endre Granat)
“Who is It” tem sido sempre ligada a “Billie Jean” e
é fácil ver por quê. Ambas as músicas são maravilhas sonoras; ambas contêm tema
sombrio, tormentoso, enigmático; e ambas têm incríveis linhas de baixo. Mas
enquanto “Billie Jean” tem sido, largamente, reconhecida como a obra-prima que
ela é, “Who is It” continua, relativamente, ignorada. Adam Giham, do Sputnickmusic, a descreveu como uma
“música criminalmente menosprezada”. Na verdade, em um álbum cheio de músicas
extraordinárias, “Who Is It” fez um forte argumento por ser a melhor de todas.
Jackson concebeu a faixa
em 1989, não muito depois de retornar da Bad
Wolrd Tour. “Eu apenas me lembro dele vindo até mim e cantando isso,
cantando a linha de baixo para mim, e o clima que ele queria”, recorda Bill
Bottrell. “E isso meio que cresceu daí.” Bottrell e Jackson trabalharam com Brad
Buxer e David Paich para conseguir o som e o arranjo exato. “As partes vieram
quase instantaneamente’, recorda Buxer. Quase não houve nenhum processo de
pensamento.” A percussiva abertura e finalização de Jackson permaneceram
amplamente intocadas. “O processo é criar um vocal rítmico para um metrônomo– o
que é um som, uma batida rítmica”, Jackson explicou o processo beatboxing dele.
“E você está fazendo esses barulhos com a boca para essa batida. Esses sons
podem ser enlaçados de acordo com como você os experimenta no computador de
novo e de novo. Essa é a sua fundação para toda a faixa – tudo toca disso. Esse
é o ritmo... Toda música que eu tenho escrito, desde que eu era muito pequeno,
eu tenho feito assim. Eu continuou fazendo desse jeito.”
Jackson, na verdade,
demonstrou o fundamento para a música em uma improvisada performance, a capella, na entrevista dele, em 1993,
com Oprah Winfrey. O momento provocou uma reação tão forte que a Sony decidiu lança-la como o próximo single do álbum (no lugar da planejada
“Give In To Me”). (Greg Tate, do Village
Voice, mais tarde, escreveu sobre o momento: “Meu oficial favorito clipe de
Michael em todos os tempos é aquele dele no viciante
beatboxing, na Oprah [o estimulante
som 808 dele poderia facilmente castrar até mesmo o de Rahzel!] e livremente
fazendo uma nova jam em criação – instantemente
conectando Michael em uma sincopada batida cardíaca para estes tributos
espirituais, que Langston Hughes descreveu, aqueles ‘são velhos como o mundo e
mais velhos que o fluxo do sangue humano em veias humanas’. O cerne da questão:
qualquer um que desafie Michael Jackson com um teste racial definitivo, vindo com
um evento real de batalha rythman-and
blues terão a bunda real deles engraxada.”) “Who Is It” acabou alcançando a
6º posição nos charts R&B (e a 14º na Billboard
Hot 100) em 1993.
Como com “Billie Jean”,
Jackson não apenas escreveu a música, mas ajudou a atualizar todos os aspectos do
arranjo e instrumentação intricadamente postos em camadas. Uma acurada escuta
revela alguns toques soberbos: os assombrosos vocais sopranos (por Jackson e
Linda Harmon), os admiráveis floreios de violoncelo, a bela flauta solo na
ponte e as melancólicas cordas por toda a música. Bill Bottrell se lembra de que
Jackson adorou o estendido “êxtase final”, o que, ritmicamente, repete o refrão.
O efeito é tal, que a música dificilmente precisa de palavras. Tudo está na
música: a atmosfera, os desesperados soluços e choros. (Enquanto a versão do álbum,
poderosamente, transmite o transtorno psicológico da música, algo do sombrio
caos dela é ainda mais visceral no IHS
mix incluído no The Ultimate
Collection.).
Mas a narrativa que Jackson
pinta apenas intensifica a angústia e o mistério da música. “Eu dei a ela
paixão”, ele canta. “Minha verdadeira alma/ Eu dei a ela promessas/ E segredos
tão guardados.” A letra, na superfície, é sobre um relacionamento destruído
pela infidelidade e traição. Mas a primeira emoção que Jackson transmite é
solidão. O choro desesperado dele, “Eu não posso suportar isso porque eu estou
solitário!” é um dos mais pungentes momentos em todo o catálogo dele. “Isso parece
não importar”, ele confessa no refrão,
E isso não parece certo
Porque o desejo não trouxe nenhuma sorte
Ainda choro sozinho à noite
Não julgue minha postura
Porque estou mentindo para mim mesmo
E a razão por que ela me deixou
Ela encontrou outro alguém?
É esta tumultuada e
crua urgência emocional, tanto quanto a característica sonora dela, que atrai comparações
com “Billie Jean”. Mas em certos modos, “Who Is It” representa uma evolução em
tema: o culpado desespero dele é mais ambíguo, mas internalizado. O assunto
dele não é mais uma mulher (e os perigos, seduções e armadilha que ela
representa); é a própria condição psicológica dele (“Eu sou o morto/Eu sou o
condenado/ Eu sou a agonia dentro desta cabeça que está morrendo”).
Essas são poderosas
expressões de desespero que rivaliza com o mais penetrante trabalho de poetas
como Lowell ou Sylvia Plath. “Who Is It” é um desesperado choro por conexão
humana, uma revelação embrulhada em um exorcismo de seis minutos e meio.
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