Menu

domingo, 28 de outubro de 2012

Capítulo - Dangerous : " Who Is It "

 
9.                WHO IS IT 

(Escrita e composta por Michael Jackson, produzida por Michael Jackson e Bill Bottrell. Gravada e remixada por Bill Bottrell. Arranjos de teclados por Brad Buxer e David Paich. Arranjo de corda por George del Barrio. Vocais solo e background: Michael Jackson. Arranjos por Michael Jackson. Bateria: Bryn Loren e Bill Bottrell. Baixo: Bill Bottrell (sintetizadores) e Louis Johnson (baixo-guitarra). Performance e programação de teclado: Brad Buxer, Michael Boddicker, David Paich, Steve Porcaro e Jai Winding. Solo do violoncelo: Larry Corbett. Voz soprano: Michael Jackson e Linda Harmon Concert master: Endre Granat)
 
  

“Who is It” tem sido sempre ligada a “Billie Jean” e é fácil ver por quê. Ambas as músicas são maravilhas sonoras; ambas contêm tema sombrio, tormentoso, enigmático; e ambas têm incríveis linhas de baixo. Mas enquanto “Billie Jean” tem sido, largamente, reconhecida como a obra-prima que ela é, “Who is It” continua, relativamente, ignorada. Adam Giham, do Sputnickmusic, a descreveu como uma “música criminalmente menosprezada”. Na verdade, em um álbum cheio de músicas extraordinárias, “Who Is It” fez um forte argumento por ser a melhor de todas.

Jackson concebeu a faixa em 1989, não muito depois de retornar da Bad Wolrd Tour. “Eu apenas me lembro dele vindo até mim e cantando isso, cantando a linha de baixo para mim, e o clima que ele queria”, recorda Bill Bottrell. “E isso meio que cresceu daí.” Bottrell e Jackson trabalharam com Brad Buxer e David Paich para conseguir o som e o arranjo exato. “As partes vieram quase instantaneamente’, recorda Buxer. Quase não houve nenhum processo de pensamento.” A percussiva abertura e finalização de Jackson permaneceram amplamente intocadas. “O processo é criar um vocal rítmico para um metrônomo– o que é um som, uma batida rítmica”, Jackson explicou o processo beatboxing dele. “E você está fazendo esses barulhos com a boca para essa batida. Esses sons podem ser enlaçados de acordo com como você os experimenta no computador de novo e de novo. Essa é a sua fundação para toda a faixa – tudo toca disso. Esse é o ritmo... Toda música que eu tenho escrito, desde que eu era muito pequeno, eu tenho feito assim. Eu continuou fazendo desse jeito.”

Jackson, na verdade, demonstrou o fundamento para a música em uma improvisada performance, a capella, na entrevista dele, em 1993, com Oprah Winfrey. O momento provocou uma reação tão forte que a Sony decidiu lança-la como o próximo single do álbum (no lugar da planejada “Give In To Me”). (Greg Tate, do Village Voice, mais tarde, escreveu sobre o momento: “Meu oficial favorito clipe de Michael em todos os tempos é aquele dele no viciante beatboxing, na Oprah [o estimulante som 808 dele poderia facilmente castrar até mesmo o de Rahzel!] e livremente fazendo uma nova jam em criação – instantemente conectando Michael em uma sincopada batida cardíaca para estes tributos espirituais, que Langston Hughes descreveu, aqueles ‘são velhos como o mundo e mais velhos que o fluxo do sangue humano em veias humanas’. O cerne da questão: qualquer um que desafie Michael Jackson com um teste racial definitivo, vindo com um evento real de batalha rythman-and blues terão a bunda real deles engraxada.”) “Who Is It” acabou alcançando a 6º posição  nos charts R&B (e a 14º na Billboard Hot 100) em 1993.

Como com “Billie Jean”, Jackson não apenas escreveu a música, mas ajudou a atualizar todos os aspectos do arranjo e instrumentação intricadamente postos em camadas. Uma acurada escuta revela alguns toques soberbos: os assombrosos vocais sopranos (por Jackson e Linda Harmon), os admiráveis floreios de violoncelo, a bela flauta solo na ponte e as melancólicas cordas por toda a música. Bill Bottrell se lembra de que Jackson adorou o estendido “êxtase final”, o que, ritmicamente, repete o refrão. O efeito é tal, que a música dificilmente precisa de palavras. Tudo está na música: a atmosfera, os desesperados soluços e choros. (Enquanto a versão do álbum, poderosamente, transmite o transtorno psicológico da música, algo do sombrio caos dela é ainda mais visceral no IHS mix incluído no The Ultimate Collection.). 

Mas a narrativa que Jackson pinta apenas intensifica a angústia e o mistério da música. “Eu dei a ela paixão”, ele canta. “Minha verdadeira alma/ Eu dei a ela promessas/ E segredos tão guardados.” A letra, na superfície, é sobre um relacionamento destruído pela infidelidade e traição. Mas a primeira emoção que Jackson transmite é solidão. O choro desesperado dele, “Eu não posso suportar isso porque eu estou solitário!” é um dos mais pungentes momentos em todo o catálogo dele. “Isso parece não importar”, ele confessa no refrão,
 

E isso não parece certo
Porque o desejo não trouxe nenhuma sorte
Ainda choro sozinho à noite
Não julgue minha postura
Porque estou mentindo para mim mesmo
E a razão por que ela me deixou
Ela encontrou outro alguém?
 

É esta tumultuada e crua urgência emocional, tanto quanto a característica sonora dela, que atrai comparações com “Billie Jean”. Mas em certos modos, “Who Is It” representa uma evolução em tema: o culpado desespero dele é mais ambíguo, mas internalizado. O assunto dele não é mais uma mulher (e os perigos, seduções e armadilha que ela representa); é a própria condição psicológica dele (“Eu sou o morto/Eu sou o condenado/ Eu sou a agonia dentro desta cabeça que está morrendo”).

Essas são poderosas expressões de desespero que rivaliza com o mais penetrante trabalho de poetas como Lowell ou Sylvia Plath. “Who Is It” é um desesperado choro por conexão humana, uma revelação embrulhada em um exorcismo de seis minutos e meio.

 

0 comentários:

Postar um comentário