2.
MORPHINE
(Escrita
e composta por Michael Jackson. Produzida por Michael Jackson. Engenharia por
Keith Cohen. Eddie de Lena. Mick Guzauski e Tim Jackson. Arranjo clássico:
Jorge del Barrio. Arranjo rítmico: Michael Jackson. Vocais backgrounds:
Michael Jackson, Brad Buxer, Bill Bottrell e Jon Money. Teclado: Brad Buxer e
Keith Cohen. Sintetizadores: Brad Buxer. Grand piano: Brad Buxer. Percussão:
Michael Jackson, Brad Buxer e Bryan Loren. Bateria: Michael Jackson. Guitarra: Michael
Jackson e Slash. Coro: Andraé Crouch Singers Choir. Sample de “O Homem Elefante”)
Na corajosa, pungente
obra-prima “Morphine”, Jackson aborda um tema que ele nunca tinha abordado
antes: vício em drogas. Ela é uma profunda expressão pessoal, não apenas
escrita e composta pelo cantor, mas também produzida e arranjada por ele
(Jackson também ajudou na percussão, bateria, guitarra). “Michael sabia
exatamente o que ele queria escutar [de] cada instrumento”, recorda Brad Buxer.
“Ele cantou todas as partes... o piano no meio da música [e] estas camadas de
sintetizadores no refrão”. Particularmente, dada a causa da morte dele, em
2009, “Morphine” é tão reveladora quanto trágica.
A música começa com o
que soa como uma injeção elétrica. Para uma batida funk implacável, industrial, o cantor ataca em explosões viscerais
de raiva, agressão e dor. “É verdade um jogo, papai/ É tudo o mesmo, baby/ Você é tão confiável.” A raiva e
desapontamento, combinada com este som que agride aos ouvidos (o crítico
musical Tom Sinclair a descreveu como alternância do estilo de tormenta
estridente de Trent Reznor, com o esplendor orquestral de Bacharachian”), cria
uma chocante experiência auditiva, principalmente para aqueles acostumados ao pop mais melódico de Off The Wall e Thriller. Mas “Morphine” é melhor
entendida como um experimento – tanto sonoramente quanto liricamente – em
representar a experiência de sofrimento físico e psicológico e o alívio temporário
disso (mais literalmente na forma de analgésicos narcóticos, como Demerol e
morfina, dos quais, ambos, Jackson foi dependente, intermitentemente, desde o
início dos anos noventa).
Essa experiência é
também brilhantemente transmitida na forma da música: Por volta da metade da
faixa, uma batida irritante diminui, simbolicamente representando o efeito
pacificador da droga. “Relaxe, isto não vai machucá-lo”, Jackson canta tranquilizador,
a partir da perspectiva da droga/médico:
Antes de eu injetar
Feche seus olhos eu conte a até dez
Não chore
Eu não vou converter você
Não há necessidade de desmaiar
Feche seus olhos e se deixe levar
Demerol, Demerol
Oh, Deus, ele está tomando Demerol
Demerol, Demerol
Oh, Deus, ela está tomando Demerol
Ele tentou
Muito convencê-la
A ser mais do que ele tinha
Hoje ele quer isso duas vezes mais
Não chore
Não ficarei magoado com você
Ontem você tinha a confiança dele
Hoje ele está tomando duas veze mais
Demerol, Demerol
Oh, Deus, ele está tomando Demerol
Demerol, Demerol
Oh, Deus, ele está tomando Demerol
Esses versos são alguns
dos mais devastadoramente tristes que Jackson já cantou. Além da literalidade
da droga, está o persistente anseio de Jackson em escapar da dor, solidão,
confusão e inexorável pressão. Nesse breve interlúdio, ele, lindamente,
transmite o tranquilizante, sedutor, mas temporário, alívio da realidade. Há um
senso de súplica, desespero, antes do fim altamente abrupto, e o ouvinte está,
novamente, de volta no mundo desagradável de acusações e angústia.
Adam Gilham, da Sputnikmusic, descreveu essa sequência
como um “momento de absoluta genialidade”. A música, como um todo, contém poder
primitivo e angústia, que se compara à obra mais visceral e crua de John Lennon,
Trent Reznor e Kurt Cobain. O crítico musical Thor Christensen chama “Morphine”
de “facilmente uma das mais ambiciosas músicas que ele já gravou”. É uma
confissão, uma intervenção, um testemunho, e um aviso.
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