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domingo, 28 de outubro de 2012

Introdução XI " O Homem na Música"


O HOMEM NA MÚSICA

Mas de todas as declarações sentimentais e tributos, um dos mais íntimos e poderosos elogios veio do amigo e colega de longa data de Jackson da Motown, Stevie Wonder. Wonder, é claro, nunca viu Jackson se apresentar; ele nunca testemunhou as mudanças na aparência dele; ele nunca viu os vídeos musicais ou figurinos ou máscaras. Porém, ele conhecia Jackson em um nível muito mis profundo que a maioria. E ele escutou a música dele. Michael, ele sempre disse, era um presente.

No meio do frenesi da mídia, seguinte à morte de Jackson, Stevie Wonder não fez nenhuma declaração pública ou aparição. “Ele está emocionalmente perturbado e escolheu ficar quieto neste momento”, disse um representante. Semanas mais tarde, quando ele subiu no palco no memorial de Michael, ficou claro que ele continuava devastado. “Este é um momento que eu gostaria de não ter vivido para ver chegar”, ele disse. Quando ele começou a tocar as cordas de abertura para “I Cant Help It”, no entanto, uma música que ele tinha escrito para o álbum Off The Wall, em 1970, ele parecia estar canalizando a energia de Jackson: aquela familiar, mas estranha, mistura de saudade tingida com tristeza.

No medley que se seguiu, uma apaixonada combinação de “Never Dreamed You’ d Leave in Summer” e “They Won’t Go When I Go”, Wonder permitiu que a música, ao mesmo tempo, recuperasse, lamentasse e testemunhasse. “Não mais amigos prostrados/ Esperando finais trágicos”, ele canta na letra da música, com uma audiência silenciosa escutando. Isso foi uma profunda canção gospel soul que evocou uma muito forte, pessoal, e visceral dor. Era uma música sobre perder um amigo, não um ícone.

Mas não foi somente perda que Wonder transmitiu; foi justa indignação. “Mentes imundas enganam o puro”, ele exclamou, “O inocente irá partir com certeza/Para eles existem um lugar de descanso.” Enquanto a música construía um clímax emocional, um angustiado Wonder derramou até a última gota de sua alma nela. Como se cantar essas palavras fosse, finalmente, afastar o circo em volta, o barulho trivial e revelar a essência, a humanidade e a tragédia de Michael Jackson.

“Michael, eles não irão,” ele chorou, “Eles não irão para onde você vai.” Quando Wonder terminou, a multidão aplaudiu, mas como Michael, ele parecia estar em outro lugar.

Para Wonder (e muitos outros), a morte de Jackson, pelo menos, significava que o sofrimento dele tinha terminado e ele poderia, finalmente, escapar para o vibrante mundo criativo que ele “concebeu”. Para aqueles deixados para trás, no entanto, incluindo os filhos dele, os amigos dele, a família e fãs, ainda havia uma profunda sensação de perda. Como Jackson, ironicamente, escreveu na autobiografia dele em 1988: “Sempre, no passado, artistas têm sido figuras trágicas. Muitos dos verdadeiros grandes artistas têm sofrido ou morrido em razão da pressão ou drogas... é muito triste. Você se sente enganado, como um fã, por você não os ter visto evoluir, enquanto eles envelheciam.”

Na metade dos anos noventa, a ex-mulher de Jackson, Lisa Marie Presley, lembrou-se dele, no meio de uma conversa sobre o pai dela, olhando para ela muito intensamente e dizendo com “uma quase tranquila certeza, ‘Eu tenho medo de terminar como ele, do jeito que ele morreu. ’” Não era algo que ele queria; na verdade, ele sempre expressou medo de morrer. Mas ele tinha lido e visto o bastante para saber que não era fácil sobreviver uma vida inteira na fama. Por mais de quarenta anos ele lutou com isso, jogou com isso, explorou isso, correu disso, escondeu-se disso, denuncio isso e descreveu o efeito disso na obra dele. No fim, o mundo o perdeu, mas ganhou “Billie Jean”, “Strange in Moscow” e “Man in the Mirror”.

“Mesmo que a vida dele parecesse interiorizada”, escreveu o jornalista David Gates, “no exterior, foi manifestamente um trabalho de gênio, se você quer chamar isso de um triunfo ou um show bizarro, essas são apenas palavras. Nós nunca vimos ninguém assim antes, quer na inventividade artística dele ou na, igualmente, artística autoinvençã dele e nós não o esqueceremos até a grande Neverland nos engolir a todos”.

Michael Jackson continuou a criar e performar até a última noite dele. Ele disse para os colegas colaboradores dele que ele não podia dormir porque ele “não podia desligar; as ideias continuavam vindo; a imaginação dele não descansava. Ele tinha grandes planos para o futuro. “Isso era uma aventura”, ele disse ao último time criativo dele, “uma grande aventura”.
























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