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sábado, 27 de outubro de 2012

Capítulo 7 - Invincible




Invincible é tão bom quanto, ou melhor que, Thriller, em minha verdadeira, humilde opinião. Ele tem mais a oferecer. Música é o que vive e dura. Invincible tem sido um enorme sucesso. Quando Quebra nozes foi introduzido pela primeira vez ao mundo, ele foi bombardeado totalmente. O que importa é como a história termina.”

MICHAEL JACKSON, USA TODAY, 2001






 



 

LANÇADO: 30 de outubro de 2001

PRODUTOR EXECUTIVO: Michael Jackson

CONTRIBUIDORES NOTÁVEIS: Rodney Jerkins (produtor/compositor) Teddy Riley (produtor/compositor), Brad Buxer (arranjo/tecladista/programação/mixagem). R. Kelly (compositor), Babyface (compositor), John McClain (compositor), O Coro Andraà Singers (vocais), Santana (guitarra), The Notorious B. I.G. (rap), Fats (rap), Stuart Brawley (engenharia), Bruce Swedien (engenharia/mixagem), Humberto Gratica (engenharia/mixagem)

SINGLES: “You Are My Life”, “Cry”, “Butterflies”

ESTIAMATIVA DE CÓPIAS VENDIDAS: 11 milhões


  

CAPÍTULO 7 INVINCIBLE

  

 

Lançado em 2001, Invincible foi o último álbum de estúdio de Michael Jackson. Ele também foi o menos bem sucedido comercialmente (embora tenha conseguido se tornar o quinto álbum consecutivo dele a chegar ao topo dos charts e terminado por vender mais de dez milhões de cópias em todo o mundo). Enterrado pela falta de promoção da Sony – devido à complicada e, emocionalmente carregada, disputa contratual – apenas um single foi oficialmente lançado, em vez dos seis planejados. Também não houve nenhum vídeo musical, além de You Rock My World, nem turnê. Os críticos, geralmente, condenavam o álbum por ser muito extenso (ele dura setenta e sete minutos e contém dezesseis faixas) e irregular. Depois de vários anos de antecipação sobre o “grande álbum de retorno” de Michael Jackson, Invincible foi visto, amplamente, como uma decepção. 
 

Ironicamente, porém, dado o relativo status obscuro dele, Invincible foi, provavelmente, o álbum mais acessível de Jackson desde os anos 80. Desde a retro jazz “Butterflies” ao pulso latino “Whatever Happens”, à melancólica R&B “Heaven Can Wait”, ele foi, de muitas formas, um retorno às bases. Em, ainda, brilhantes performances vocálicas, Jackson apresenta a hábil versatilidade dele, produzindo músicas que soam tanto clássicas quanto contemporâneas. Stephen Thomas Erlewine, do All Music, descreveu o álbum como uma “cintilante atualização, pós-hip-hop, de Off The Wall”. Invincible não contém o mesmo extasiado abandono e alegria dos álbuns antigos; no entanto, a atmosfera dele é, inquestionavelmente, mais leve que os três álbuns anteriores dele. Ele é Imagine de Jackson: uma expressão gentil, menos angustiada, mais convencionalmente íntima (inspirada em parte, não há dúvidas, pelo nascimento de dois dos filhos dele).


O produto final tendeu a polarizar fãs e críticos igualmente. Alguns o viram como o álbum mais agradável dele desde Bad. Outros, no entanto, viram-no como um pouco de regressão desde o trabalho desafiador no qual ele esteve engajado durante a última década, um álbum que repetiu algumas fórmulas e não experimentou, consistentemente, o risco e profundidade de Dangerous, HIStory e Blood on the Dance Floor. Mas independentemente de como ele se contrapõe aos álbuns anteriores dele, não há dúvidas de que Invincible contém músicas de altíssima qualidade. De “Unbreakeble” a “Threatened”, pode-se ver a inovação, o alcance, a habilidade que coloca Jackson ombro a ombro com os aspirantes ao lugar dele, mesmo neste estágio da carreira dele.
 

Invincible foi lançado apenas semanas depois dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Foi um tempo de choque e tristeza na América. Nas semanas e meses que se seguiram, havia uma atmosfera tanto de paranoia quanto de patriotismo. O psicológico de todo o país foi abalado, pois as imagens horríveis foram exibidas e reexibidas, infinitamente, na TV. As pessoas temiam que mais ataques estivessem a caminho. No entanto, desde Nova Iorque à Califórnia houve, também, uma onda de unidade nacional e determinação. Na verdade, muitos no mundo responderam com compaixão, fazendo vigilas e enviando apoio.
 

Michael Jackson aconteceu de estar na Cidade de Nova Iorque no dia dos ataques, apenas quadras de distancia do World Trade Center. Na noite anterior, ele e centenas de estrelas da indústria do entretenimento estavam reunidos para o 30th Aniversary Celebration dele, no Madison Square Garden, o que acabaria sendo as últimas performances em concertos da vida dele. Na manhã seguinte, Jackson recordou: “Eu recebi uma ligação de um amigo da Arábia Saudita, sobre que a América estava sendo atacada. Eu fui para o noticiário e vi as Torres Gêmeas caírem e eu disse: ‘Oh, meu Deus’... Isso é inacreditável – eu estava com medo de morrer ’”.
 

Em vez de voar para a segurança de Neverland, porém, Michael Jackson foi trabalhar. “Eu não sou de ficar sentado”, ele explicou à Rolling Stone, “eu queria fazer alguma coisa para ajudar quem perdeu os parentes, quem perdeu as mães, quem perdeu os pais. Aqueles que são nosso povo. Aqueles que são nossas crianças. Aquele que são nossos pais.” Apena cinco dias apões os ataques, Jackson anunciou um projeto que, ele esperava, arrecadaria 50 milhões de dólares para as vítimas de 11 de setembro.
 

Em adição, ele rapidamente reescreveu e gravou novamente uma música, “What More Can I Give”, que seria usada como um hino para o projeto. “Eu acreditava, em meu coração, que a comunidade da música iria se unir com uma, e realmente iria curar milhares de vítimas inocentes”, Jackson disse em uma declaração. “Há uma tremenda necessidade de doar dólares, agora mesmo, e através deste esforço cada um de nós pode desempenhar um papel imediato em ajudar a confortar muitas pessoas. Nós temos demonstrado uma vez e de novo, que música pode tocar almas. É hora de nós usarmos este poder para nos ajudar a começar o processo de cura imediatamente.”
 

Em contraste com a chamada de Jackson por amor e cura, entretanto, os Estados Unidos estava logo se preparando para a guerra: primeiro no Afeganistão e, depois, mais controversamente, no Iraque. Oposições Globais foram ferozes, mas definitivamente inúteis, enquanto a administração de Bush realizava a campanha dela “choque e onda” com um punhado de aliados. A guerra, que se estendeu pelo resto da década, tornou-se um símbolo de polarização, medo e incerteza, que permearia os próximos anos.
 

Medo também acelerou dentro da indústria da música, enquanto as companhias e artistas lutavam para se adaptar às novas mudanças culturais e tecnológicas, incluindo serviços de compartilhamento na internet como Napster. O crescimento do Napster foi tão rápido quanto revolucionário. Quase da noite para o dia, colegiais e universitários, por todo o país, estavam baixando milhares de música online. Em menos de um ano, Napster gerou vinte e cinco milhões de usuários, tornando-se o website de crescimento mais rápido na história. Em 2001, apesar dos desafios legais, a popularidade do site atingiu o impressionante número de trinta e oito milhões de usuários. Eventualmente, em julho de 2001, Napster foi forçado a fechar. Mas já o gênio do serviço de compartilhamento tinha saído da garrafa. Muitos fãs de música descreveram isso como uma revolução na qual a música estava sendo libertada de um sistema corporativo obsoleto.

 
Executivos industriais, entretanto, não estavam tão contentes. As vendas de música já estavam em declínio no fim dos anos noventa. Agora, apesar do entusiasmo pela música popular parecesse estar tão forte quanto sempre, o resultado final continuava a cair. As vendas de CD foram de 730 milhões, em 2002, para 593 milhões em 2005. Nos Estados Unidos, a receita e licenciamento para vendas de música caíram quase sessenta por cento nos anos 2000, de 14,5 bilhões para 6,5 bilhões. Da mesma forma, lojas de música se tornaram quase extintas.
 

O que fazer sobre tudo isso se tornou o problema definidor da década para uma desorientada indústria da música. “A internet”, escreveu a Rolling Stone, “apareceu para ser a mais pretenciosa mudança tecnológica para os negócios de venda de música, desde os anos 20, quando a gravação fonográfica substituiu as partituras como o lucro central da indústria”. Potenciais soluções para essa mudança dramática dividiu executivos, artistas e ouvintes, igualmente. Alguns músicos proeminentes, incluindo Metálica e Dr. Dre, foram rápidos em denunciar o compartilhamento de arquivos, chamando isso de destrutivo e desonesto (os dois processaram o Napster), Outros, incluindo Radiohead e Chuck D, sentiram que isso gerava entusiasmo pela música, particularmente para novos e menos conhecidos artistas.

Jackson transmite um apelo antiviolência a HIStory World Tour.

 




Independentemente de algumas opiniões sobre o compartilhamento de arquivos e música digital, a transformação foi inegável e incontrolável. No fim da década, a distribuição, organização, consumo de música, e ouvintes, tinham sido fundamentalmente alterados. iPods se tornaram onipresentes e icônicos, substituindo não apenas Walkmans e Discmans, mas também a necessidade de carregar CDs, absolutamente. Música, agora, era armazenada, principalmente, em computadores, em vez de em prateleiras e pastas; ela era também, facilmente, organizada em playlists individualizadas. Ouvintes continuaram baixando músicas gratuitamente; no entanto, com crescente medo de legalidade, qualidade de som e vírus, mais e mais as pessoas se voltam às lojas online de música como iTunes e Amazon.com, onde músicas podem ser compradas mais baratas e confiáveis.
 

Foi na extremidade dessa transformação que Michel Jackson lançou Invincible. A indústria da música e tecnologia, no entanto, não foram as únicas coisas que mudaram. A música popular estava radicalmente diferente de quando Jackson lançou HIStory em 1995. O final dos anos noventa viu uma enorme ressurgência do pop em forma de boy bands, girl bands e ídolos teen. Em 1997, foi as Spice Girls e Backstreet Boys, em 1998, foram os Hansen, Usher, Destinty’s Child, Monica, Leann Rimes e Shania Twain; em 1999, Britney Spears e Christina Aguilera, assim como a explosão latina liderada por Rick Martin, Marc Anthony e Enrique Iglesias; 2000 viu a ascensão do N Sync e Jéssica Simpson; em 2001, Jennifer Lopez e Mary J. entraram em cena.
 

Jon Pareles, do New York Times, descreveu isso como o “um retorno generalizado – pós-grunge, pós-gangsta – para a enérgica e alegre música pop: uma reação à música muito arrogante e sombria”. O período de 1997 a 2002 foi, definitivamente, saturado com pop teen. Britney Spears se tornou o maior ícone pop desde Michael Jackson. Músicas como “... Baby One More Time” e “Ops... I Did It Again” dominaram as rádios e os charts, enquanto o álbum de estreia dela vendeu mais de trinta milhões de cópias. Os Backstreet Boys tinham se tornado a boy band mais bem sucedida desde os Jackson 5, produzindo quinze hits Top 40 e vendendo mais que 130 milhões de álbuns, incluindo uma venda estimada de quarenta milhões de cópias do álbum de 1999 deles, Millennium. ºN Sync chegou exatamente onde os Backstreet Boys pararam: O Strings Attached foi o álbum mais vendido de 2000 (atrás da coleção greates hits dos Beatles), nos Estados Unidos, com mais de onze milhões de cópias vendidas.  Para acrescentar a essa tendência, 2002 viu o começo das enormemente populares séries de reality television, American Idol.
 

Enquanto o teen pop era a força dominante, no entanto, o rock ainda tinha uma presença na mainstream através do revivido trio Irlandês, U2, e o mesclado pop britânico, Coldplay. A alternativa era liderada por grupos como Radiohead, The Flaming Lips e The Strockes. No fim dos anos noventa, hip-hop tinha, também, se tornado integrado, com sucesso, transformando de gangstar rap para uma elétrica mistura de pop (Puff Dady, Will Smith), rudeza sexual (Nelly, Sisqo) e inovação (Jay-Z, Kenny West). O mais bem sucedido rapper desse período, no entanto, foi Eminem, de quem o LP lançado em 2000, Marshal Matters, se tornou o álbum mais rapidamente vendido de todos os tempos (com 1,79 milhões de cópias vendidas em uma semana). O álbum continuaria para vender noventa milhões de cópias, enquanto Eminem se tornou o artista que mais vendeu na década.













Jackson provou que ele não tinha perdido a magia em uma espetacular performance de “Billie Jean”, no 30th Aniversary Special em 2001. Os dois concertos no Madison Square Garden terminaria sendo as últimas performances públicas da vida dele.











 



A reentrada de Michael Jackson nessa elétrica nova cena musical foi difícil de predizer. De um lado, a inteira reativação do pop era alguma coisa de uma homenagem à versão anterior dele. Podia-se ver a influência dele em todos os lugares, nos passos de dança, estilo, a tensão entre inocência e sexualidade adulta. No começo do novo milênio, havia uma sensação de que a América (e o mundo) poderia estar pronta para o retorno do Rei do Pop, ele mesmo.  Por mais bem sucedidos que os protegidos dele se tornassem, ninguém chegaria perto da criatividade, originalidade e impacto transcultural de Jackson.
 

Jackson não era mais jovem, porém. Em 1999, ele completou quarenta anos. Os anos noventa tinha sido uma década de desafio para ele, como pessoa e como personalidade. Em janeiro de 1996, ele e Lisa Marie Presley se divorciaram, depois de apenas vinte meses de casamento. Para muitas pessoas, isso foi a confirmação de que o casamento foi uma “farsa” o tempo todo. Para ambos, Jackson e Presley, essa foi uma decisão e época muito difíceis na vida deles.
 

Durante 1997, Lisa Marie e Michael passaram um tempo juntos durante a HIStory World Tour. Embora eles ainda se importassem um com o outro, entretanto, nenhum deles estava convencido de que daria certo de novo. Por anos depois do divórcio deles, Jackson manteve uma foto de Presley no criado mudo dele. No início dos anos 2000, os dois tinham, finalmente, começado a seguir em frente.
 

Para o público, o novo casamento de Jackson com a enfermeira de longa data dele, Debbie Rowe, menos de um ano depois do divórcio dele com Presley, era confuso, na melhor das hipóteses. Jackson conheceu Debbie Rowe no final dos anos oitenta, quando fazia visitas regulares ao dermatologista dele, Arnold Klein. Ela e Michael logo se tornaram amigos. Antes mesmo de Jackson e Presley começarem a namorar, Debbie Rowe, sabendo quão desesperadamente Jackson queria filhos, ofereceu torná-lo pai através de barriga de aluguel. Não foi até o casamento com Presley que Jackson começou a considerar seriamente a oferta de Rowe. O relacionamento de Jackson com Rowe, de acordo com a maioria das fontes, era platônico. Rowe queria dar um filho a Jackson como uma amiga.  Em entrevistas, ela descreveria isso como um “presente”.
 

Debbie Rowe, originalmente, pretendia ser uma barriga de aluguel. Ela queria que Jackson fosse pai, mas casamento nunca esteve em discussão. Eventualmente, é claro, isso mudou, no entanto; embora as razões não sejam absolutamente claras. De qualquer forma, Jackson e Rowe se casaram em uma cerimônia privada e discreta na Austrália. O improvável casal nunca viveu junto. O “arranjo” deles era simples: Jackson criaria as crianças e Rowe as visitaria ocasionalmente. Isso foi o que ela ofereceu, antes do escrutínio dos tabloides e o casamento apressado esse era o plano do casal.
 

Rowe queria dar a Jackson um filho como uma amiga. Em entrevistas, ela descreveria isso com um “presente”.
 

Menos de quatro meses depois, em 13 de fevereiro de 1997, o primeiro filho de Jackson, Prince Michael, nasceu. Jackson descreveu isso com o melhor dia da vida dele. “Palavras não podem descrever como eu me sinto”, ele disse em uma declaração escrita. “Eu tenho sido abençoado além da compreensão e eu trabalharei sem descanso para ser o melhor pai que eu posso ser. Eu aprecio que meus fãs estejam exultantes, mas eu espero que todos respeitem a privacidade que Debbie e eu queremos e precisamos para nosso filho. Eu cresci em um aquário e eu não permitirei que isso aconteça com meu filho. Por favor, respeitem nosso desejo e deem ao meu filho a privacidade dele.”
 

A declaração, previsivelmente, caiu em ouvidos surdos. Para apaziguar o frenesi tabloide que se seguiu para conseguir a primeira foto do filho recém-nascido dele – o que chegou ao ponto de helicópteros sobrevoando o hospital e repórteres tentando se esgueirar para dentro dos portões de Neverland – Jackson, finalmente, decidiu assumir o controle. Ele contratou um fotografo profissional e vendeu fotos dele e do filho para a OK Magazine (um tabloide britânico). O dinheiro foi doado para a caridade.
 

Nos anos que se seguiram, no entanto, ele iria ao extremo para garantir a privacidade dos filhos dele. Para alguém implacavelmente perseguido por paparazzi como Michael Jackson é impressionante como poucas fotos foram tiradas dos filhos dele. Ele foi, é claro, criticado pelas máscaras elaboradas e fantasias que eles usavam em público. Para Jackson, no entanto, isso era uma tentativa de protegê-los.
 

Mais que qualquer coisa, ele queria dar aos filhos dele a infância “normal” que ele nunca teve. “Eu quero que ele tenha algum espaço”, ele disse a Barbara Walters sobre Prince Michael em uma entrevista, em 1997, “onde ele possa ir à escola. Eu não quero que ele seja chamado de ‘Wacko Jacko’ – isso não é legal. Eles [me] chamam assim... Eles alguma vez pensaram que eu teria um filho um dia... que eu tenho um coração? Isso fere meu coração. Para que passar isso para ele?”
 

No novembro seguinte, ele e Debbie Rowe anunciaram que eles estavam esperando outra criança, dessa vez, uma menina, que seria chamada Paris Michael Katherine. A menina com 3 quilos e 375 gramas, nasceu poucos meses depois, em 3 de abril de 1998. Jackson ficou exultante. Mais tarde naquele ano, Jackson e Rowe, mutuamente, decidiram se divorciar. Embora ela nunca tenha vivido com Jackson, Rowe tinha sido perseguida por paparazzi desde o dia que a notícia do primeiro filhos deles saiu. Ela queria a velha vida dela de volta e Jackson queria dar isso a ela.
 

O último filho de Jackson, Prince Michael II (apelidado de Blanket), nasceu pouco depois do lançamento de Invincible, em 2002, de uma desconhecida mãe barriga de aluguel. “Eu não quero que ninguém conheça [a mãe]”, Jackson disse a Martin Bashir em 2003. “Ela não quer estar em jornais e tabloides... ela não quer isso, e eu não a culpo.” Jackson também explicou o significado por trás do apelido da criança: É uma expressão que eu uso com meus empregados. “Eu digo ‘você deveria cobertor a mim’, ou ‘você deveria cobertor a ela’, cobertor significando uma benção. É uma forma de demonstrar amor e carinho... Assim, o terceiro é Blanket e Blanket é realmente doce.”
 

Embora a configuração da nova família dele não fosse tradicional, ainda era uma família – algo que Jackson queria desesperadamente. Com Prince, Paris e Blanket, ele, finalmente, tinha algo além da música dele, que ele poderia amar incondicionalmente.
 

De muitas formas, esse era um momento feliz na vida de Jackson; contudo, ele ainda lutava com dor e vício. Desde as alegações de 1993, ele continuou a sofrer de uma dependência de analgésicos como Demerol, OxyContin e morfina, especialmente, enquanto em turnê. Para lidar com a persistente insônia depois dos concertos, ele também, alegadamente, passou a usar propofol, um agente sedativo, geralmente usado para indução da anestesia. “Fisicamente, turnê tira muito de você”, Jackson admitiu em 2001. “Quando eu estou no palco, é como duas horas de maratona. Eu me peso antes e depois do show e eu perco uns bons 4 quilos. Suor fica por todo o palco. Depois, você volta para o hotel e sua adrenalina está no auge e você não pode dormir. E você tem um show no dia seguinte. É difícil.” Jackson, supostamente, viajava como um anestesiologista (quem sedaria o cantor à noite) durante grande parte da HIStory World Tour.
 

Muitos membros da família e amigos próximos que se tornaram conscientes do vício de Jackson tentaram ajudá-lo. “Ele estava cercado por facilitadores”, diz o amigo de longa data, Deepak Chopra, “incluindo uma vergonhosa infinidade de MDs em Los Angeles, e qualquer lugar, que o suprimiam com drogas prescritas. Embora, muitas vezes, ele pudesse, sinceramente, confessar que ele tinha um problema, a conversa sempre terminava com uma deflexão e negação”.
 

Mais óbvio para o público, naquela época, era que Jackson continuava viciado em cirurgia plástica. O exato número de procedimentos a que ele se submeteu é desconhecido; mas está claro que Jackson continuava a lutar com a aparência dele, o que mudou repetidamente e dramaticamente desde 1995 a 2001. “Eu gostaria que eu nunca fosse fotografado e nunca fosse visto”, ele confessou ao Rabino Shmuely Boteach em 2001.
 

Talvez o mais debilitante para a carreira de Jackson nessa época, no entanto, tenha sido os infindáveis processos e embaraços financeiros que ele foi obrigado a enfrentar. A representação dele tinha se tornado uma porta giratória. Crescentemente, ele não sabia em quem confiar. Parte da razão para os repetidos atrasos no álbum dele, portanto, teve a ver com essas lutas nos bastidores. Desnecessário dizer, a vida dele tinha se tornado mais complicada do que era quando ele trabalhava no Westlake Studio, com Quincy Jones e o Time-A.
 

Enquanto ele se preparava para o “grande retorno”, muitos se perguntavam se ele ainda tinha o time, energia, e desejo de fazer isso acontecer. Em uma entrevista no final do milênio, Jackson parecia exausto, mas ainda otimista. Perguntado sobre quem era o público dele no novo milênio, ele respondeu: “Eu não sei. Eu apenas tento escrever musica maravilhosa e se eles adoram, eles adoram. Eu não penso sobre nenhuma demografia. A gravadora tenta me fazer penar assim, mas eu apenas faço o que eu gostaria de ouvir.” Perguntado sobre se as pessoas, finalmente, seriam capazes de esquecer o sensacionalismo e seriam capazes de focar na música, Jackson foi realista: “Eu penso que não, porque a imprensa me transformou neste monstro, esta pessoa louca que é bizarra e esquisita. Eu não sou nada disso.”
 

“Há alguma coisa que você possa fazer para mudar isso?” Jackson foi perguntado. “Bem, tudo que posso fazer é ser eu mesmo”, ele respondeu, “e criar a partir da minha alma. Mas eles pegam isso e manipulam”. 

 

“Eu estou colocando meu coração e alma dentro [do álbum]”, ele disse em uma entrevista naquele ano, “porque eu não sei se eu farei outro, depois desse...”

 
Ainda, Jackson estava excitado sobre o futuro. “Eu acho que o melhor trabalho estar por vir”, ele disse, “mas eu gostaria de ir para outras áreas, não continuar a fazer álbum após álbum”. Entre os muitos planos dele estava um papel principal em um filme, The Nigthmares of Edgar Allan Poe. Jackon há muito tempo desejava estar mais envolvido com filme, tanto dirigindo quanto atuando. Ele também estava interessado em fazer um álbum clássico e um livro infantil. “Eu acho que isso será totalmente diferente do que eu já fiz antes”, ele previa. “A ideia é levar isso um passo adiante e inovar ou, se não, por que mais eu estou fazendo isso? Eu não quero ser apenas outro que pode entrar na linha de montagem.”
 

Invincible foi, incialmente, marcado para ser lançado em nove de novembro de 1999. Pra frustação dos fãs, no entanto, o álbum foi adiado repetidamente e não seria lançado por dois anos ainda. “Eu estou colocando meu coração e alma dentro [do álbum]’, ele disse em uma entrevista naquele ano, “porque eu não tenho certeza se farei outro depois desse... Esse será meu  álbum genuíno, eu acho”.
 

Foram-se os simples dias de gravar em um único local. Começando em 1997, Jackson trabalhou em estúdios pelo mundo, desde Montreux, Suíça, a Nortfolk, Virgínia (onde Teddy Riley estava locado). Ele também gravou em Los Angeles, Nova Iorque, e no The Hit Factory em Miami (onde a maior parte do trabalho dele com Rodney Jerkins foi completada).
 

A lista de colaboradores de Jackson para Invincible, parecia nunca terminar. Em vários estágios, ele trabalhou com Teddy Riley, Dr. Freeze, Babyface, R. Kelly, Will Smith, Puff Daddy, Boyz II Men, K-Ci & Jojo, Carole Bayer Sager, David Foster, Tom Bahler, Walter Afanasieff, Lenny Kravitz, Wyclef Jean, Floetry, Brandy, Sisqo e Santana, entre outro. Ele também manteve os serviços dos parceiros de longa data, Brad Buxer, Bruce Swedien para trabalhar ao lado de novatos como Struart Brawley, George Mayers e Harvey Mason Jr. Talvez o maior contribuidor, no entanto, acabou sendo o jovem produtor Rodney “criança negra” Jerkins. O filho de um ministro de Nova Jersey, Jerkins conseguiu a estreia dele com ninguém menos que o Rei do New Jack Swing, Teddy Riley. Ele, subsequentemente, produziu músicas para alguns dos artistas mais quentes no fim dos anos noventa, incluindo Destiny’s Child, Brandy, Monica e Jeniffer Lopez.
 

Jerkins ficou entusiasmado pela possibilidade de trabalhar com Michael Jackson. “[Michael] é o melhor”, ele disse em uma entrevista em 2000. “Não há outro artista ao nível dele – e eu trabalhei com muitos. É maravilhoso trabalhar com ele porque ele sabe exatamente o que ele quer... Ele é tão inovador – ele não quer a coisa comum que as pessoas tocam no rádio o tempo todo e ele é muito colaborativo. Tudo tem que estar do jeito que ele quer.”

 
Na verdade, embora Jerkins estivesse fortemente envolvido como produtor e coescritor em várias faixas, Jackson continuou a atuar – como ele fez em Dangerous e History – como produtor executivo para o álbum. “Ele estava super vocal”, recorda Jerkins. “Ele era tão colaborativo. Eu estou falando desde sobre ser determinado, a tudo. A qualidade de som era tão importante para ele. Ele olhava para tudo sob microscópio, como ‘A meia frequência está de mais’ – ele era muito técnico. Ele costumava dizer sempre: ‘Melodia é Rei’, portanto, ele realmente focava na melodia.”

 
Duarte 1999 e 2000, Jackson e Jerkins escreveram e gravaram músicas juntos. O papel de Jerkins era muito similar ao de Teddy Riley em Dangerous: ele estava lá para ajudar Jackson a desenvolver um novo “som” para as faixas rítmicas. Jackson, na verdade, pagou a Jerkins dinheiro o bastante para garantir que ele não trabalhasse com ninguém mais por três anos (embora Jerkins acabasse por produzir um álbum de Brandy no fim). Por essa época, eles desenvolveram um próximo relacionamento de trabalho e pelo início de 2000, eles já tinham criado, aproximadamente, trinta faixas juntos.
 

A primeira bateria de músicas, de acordo com Jerkins, era mais os sons vintages de Jackson, incluindo “You Rock My World”. Jerkins, como outros afiados produtores de R&B e hip-hop da época, estava começando a retornar ao disco, no fim dos anos setenta, soul e funk, para inspiração. Na verdade, por essa época, a direção de Jackson também já tinha oferecido vários sons-retrôs grooves da talentosa dupla de produtores Neptunes. Eles, entretanto, aparentemente, não sentiam que elas eram apropriadas. Os Neptunes acabaram gravando as músicas – as quais incluem os Top Ten hits “Señorita” e “Rock You Body” – com Justin Timberlake para o álbum de estreia dele, Justified. (De acordo com o membro do Neptunes, Pharrell, Jackson tinha um grande senso de humor sobre a gerência dele ter dispensado as músicas.)
 

O incidente, no entanto, simbolizou um debate interno desde o começo: o álbum deveria olhar para frente ou para trás (ou ambos)? Jackson gostava de Off the Wall e sabia que muitas pessoas iriam ficar entusiasmadas se ele o reciclasse, mas ele odiava a ideia de fazer algo que ele já tinha feito. Jackson disse a Jerkins que ele queria algumas músicas clássicas, vintages, mas ele queria que o álbum, num todo, fosse “futurístico”. Em certo ponto, depois que eles tinham estado trabalhando por mais de um ano. Jackson, na verdade, sugeriu que eles jogassem tudo fora e começassem do rascunho. Jerkins ficou chocado.
 

A preocupação de Jackson com o som dele se estendia a como ele era gravado e engenhado. Enquanto muitos produtores estavam mudando para gravação digital, Jackson queria manter o calor da analógica. “Ele tinha um pouco de medo de Pro Tools”, disse Rodney Jerkins. “Nós tentamos fazê-lo usar isso, mas ele não queria seguir esse caminho ainda. E eu entendo: Ele veio da escola do analógico.” O novo time de engenheiros usaram Pro Tools para manejar as faixas para Invincible, algumas das quais tinham, pelo menos, trinta versões diferentes. Parte do desafio para Jackson era tentar balancear o desejo de inovar dele (tecnologicamente, sonoramente), com a riqueza de experiência e conhecimento que ele tinha aprendido sobre gravar com pessoas como Quincy Jones e Bruce Swedien.
 

Não era tarefa fácil. Havia enorme expectativa de todos os lados – das gravadoras, dos colaboradores, dos fãs, mas mais significativamente, dele mesmo! “De todos os meus álbuns eu diria que este foi o mais difícil [de fazer]”, Jackson reconheceu em 2001. “Eu fui mais duro comigo mesmo. Eu escrevi tantas músicas... Eu não tinha filhos antes de outros álbuns, assim eu peguei um monte de resfriados; eu fiquei doente um monte de vezes... Portanto, nós tivemos que parar e começar de novo e parar e começar.”
 

Alguns dias ele e Jerkins, supostamente, trabalharam 16 a 18 horas por dia no estúdio, gravando material sem parar. “Eu pressionei Rodney” reconheceu Jackson, “e o pressionei e pressionei e pressionei e pressionei para criar, para inovar mais. Para se mais pioneiro. Ele é músico de verdade e é muito dedicado e é realmente leal. Ele tem perseverança. Eu não acho que eu tenho visto perseverança como a dele em ninguém. Porque você pode pressioná-lo e pressioná-lo e ele não fica com raiva.” Na verdade o desafio para Jerkins, embora frustrante, em tempos, era, também, revigorante. Trabalhar com Jackson requeria paciência, mas ele estava extasiado pelo resultado. “Tudo que posso dizer a você”, Jerkins disse na época, “é que este é um som que você nunca ouviu antes na sua vida. Definitivamente diferente de tudo o mais. Será o melhor álbum que ele já vez”.
 

Todos que trabalharam com Jackson em Invincible retornaram com críticas incandescentes. “Nós pensamos que conseguimos o próximo ‘Thriller’”, disse o ex-membro do Jodeci, DeVante, que trabalhou em várias potenciais faixas (nenhuma das quais foi incluída no álbum). R. Kelly, que escreveu e coproduziu o hit número 1 de Jackson “You Are Not Alone”, escreveu cinco potenciais músicas para Invincible. “Se ele escolher apenas duas eu ficarei muito feliz”, ele disse. (Jackson, por fim, escolheu “Cry”, para o corte final.)
 

Enquanto a trilha sonora final de Invincible contém abundantes dezesseis músicas, alguns materiais notáveis ficaram de fora, incluindo o trabalho com DeVante, Dr. Freeze, Lenny Kravitz, Brad Buxer e Jerkins (incluindo “Can’t Get Your Weight Off of Me”, “Escape” e “We’ve Had Enough”). Com tal profundo bem de material, Jackson poderia ter seguido inúmeras direções com o álbum. Ele estava experimentando em uma gama de estilos. Uma música com Lenny Krevitz – “Another Day” – era uma cósmica música neo-funk rock, que era diferente de tudo que Jackson tinha feito. Várias músicas com Brad Buxer – incluindo “Beatiful Girl”, “The Way You Love Me” e “Hollywood Tonight” – poderiam ter, facilmente, sido escolhidas. O mesmo pode ser dito de duas notáveis músicas que são colaborações de Dr. Freeze: “Blue Gangsta” e “A Place With No Name”. Outra linda outtake foi “Fall Again”, uma balada única, contagiante, escrita por Walter Anasief e Robin Ticke, mas nunca completamente finalizada.
 

Uma das primeiras faixas a ser mencionadas para o álbum foi o tema “I Have This Dream”, uma colaboração com Carole Bayer Sager e David Foster. Sager descreveu a faixa como “uma música para nos levar para dentro do ano 2000 com esperança”. A música, no entanto, no fim, não fez parte de Invincible. Também ausente foi o hino para caridade de Jackson, escrito em 1998, “What More Can I Give”. Desnecessário dizer, Jackson, facilmente, tinha ótimo material para fazer de Invincible um álbum duplo.
 

O perfeccionismo de Jackson não apenas impediu muitas músicas ótimas de ser incluídas, mas continuou a adiar o lançamento de Invincible. Enquanto o verão de 2001 se aproximava, os fãs de Jackson (para não mencionar os executivos da Sony) estavam ficando mais impiedosos pela longa promessa de um novo álbum. Ele esteve gravando, intermitentemente, por quase quatro anos, agora, e gastou uma quantia estimada de 30 milhões de dólares, mas continuava se sentindo insatisfeito. Aquele verão, no entanto, sob extrema pressão, ele finalmente escolheu a trilha sonora final de músicas e deixou seguir.
 

Mais tarde naquele verão, a data de lançamento de Invincible foi, finalmente, determinada (20 de outubro de 2001), e o excitamento começou a crescer. “Eu estava gravando do outro lado da sala dele no Hit Factory”, disse o cantor Luther Vandross, “e você deveria escutar o barulho. Os engenheiros assistentes, que é um ótimo monitor, um ótimo padrão para se é quente ou não. Eles voltaram e disseram: ‘Oh, é quente, é ótimo, a música está realmente soando bem, todo mundo vai adorar’”.
 

Os executores da Epic e Sony estavam animados com o produto final. “Michael está cantando melhor que nunca”, o presidente da Epic, David Glew, confidenciou. “As baladas! As baladas são lindas e elas estão todas lá. As músicas de dança são cheias de melodia. Nós vamos lançar um single no meio de julho, pelo menos 8 semanas antes de o álbum chegar nas lojas. Michael fez o trabalho dele, agora nós temos que fazer o nosso. Trata-se de como fazer propaganda”. O presidente da Sony, Tommy Mottola, chamou o álbum “algumas das melhores músicas que Michael Jackson fez”.
 

Enquanto os dias para o lançamento de Invincible se aproximavam, variavam as previsões sobre como ele seria recebido. Alguns sentiam que o clima das músicas faria o álbum alcançar o sucesso; outros sentiam que o álbum não poderia competir com o teen pop e R&B contemporâneo, que apelavam aos novos ouvintes. “O problema que ele enfrenta, agora, é alcançar uma audiência que não sabe quem ele é”, disse o editor musical da Rolling Stone, Joe Levy. “Esta é a primeira vez que ele tem que experimentar e se conectar com um público que não cresceu com ele... Isso é similar ao que Elvis enfrentou na época do o especial de retorno dele em 1968. Jackson está em uma posição onde [os consumidores de música] ou não sabem quem ele é ou não se importam ou o consideram um arremate para uma piada. Mas Elvis provou que eles estavam errados. Quando ele queria que eles se importassem com a música, ele podia fazer um bom trabalho. Parece-me possível que Michael Jackson faça exatamente a mesma coisa.”
 

Michael Jackson, certamente, provou exatamente isso, quando ele subiu no palco do Madison Square Garden, em Nova Iorque, naquele setembro. Os concertos de Nova Iorque, que venderam todos os ingressos dentro de horas, comemoravam os trinta anos de Jackson como um artista solo. Era a primeira vez dele performando na ilha principal em mais de onze anos. Quase toda a indústria no entretenimento veio para testemunhar o “grande retorno” e prestar homenagem. A lista de convidados e artistas incluía lendas como Quincy Jones, Diana Ross, Ray Charles, Gladys Knight e Whitney Houston; ícones da tela como Elizabeth Taylor, Marlon Brando e Liza Minelli; e uma nova geração de artistas, incluindo Beyoncé, Justin Timberlake, Usher, Alicia Keys, Miss Eliot, Rick Martin, Britney Spears, Puff Daddy e Jay-Z, além de centena de outros.
 

Nos dias que antecederam aos concertos, o excitamento na cidade – e na indústria da música – era palpável. “Eu penso que isto mostra o quanto as pessoas são loucas por Michael. Elas queriam vê-lo, então as pessoas estavam tentando [imitá-lo], porque eles queriam muito vê-lo”, disse um membro do Destiny’s Child, Kelly Rowland. “O mais próximos que nós temos [na América] de realeza é Michael Jackson”, disse a estrela de hip-hop, Sisqo.
 

Jackson não desapontou. Depois de um par de horas um pouco entediantes de tributo, ele subiu ao palco com os irmãos dele, pela primeira vez, desde a Victory Tour em 1984. A atmosfera na arena estava elétrica, quando eles executaram um medley de música clássicas do Jackson 5. Quando Michael apareceu em silhueta para a performance solo dele, o telhado quase veio abaixo.  Aos quarenta e três anos de idade, ficou claro, para todo mundo, que Michael Jackson ainda arrasava.




 



























Jackson posa com o amigo e ator Chris Tucker,
quem apareceria no vídeo dele para “You ock My World”.


 
Condensado e exibido pela CBS, dois meses depois, os concertos foram assistidos por mais de vinte e cinco milhões de telespectadores, o maior especial musical em uma rede de televisão em mais de seis anos. Isso foi um prometido começo para o longamente esperado retorno de Jackson. Infelizmente, a manhã seguinte viu o caos e destruição de 11/9. De repente, a música pop, além de muitas outras coisas, parecia supérflua e tomou um lugar secundário, enquanto as pessoas tentavam se reorientar e se recuperar do trauma.

 








































Jackson performando o clássico dele “The Way You
Make Me fell” com a Pop star Britney Spears para o 30th
Aniversary Special dele no Madison Square Garden.
 


Apesar de receber avaliações mornas dos críticos, Invincible vendeu uma saudável quantia de 366.300 cópias na primeira semana, apenas nos Estados Unidos, (onde muitos previram que ele fracassaria). Dentro de cinco dias, ele tinha, alegadamente, vendido três milhões de cópias globalmente.
 

O público, no entanto, parecia responder de forma meio indiferente ao primeiro single de Jackson, “You Rock My World”. Embora o single tenha alcançado a 10º posição na Billboard Hot 100, foi criticado por não ser particularmente original ou novo, especialmente dado o quanto o álbum foi aguardado. “You Rock My World” foi o único single líder de Jackson, como artista solo, a não chegar ao Top Five nos Estados Unidos. (O single se saiu muito melhor internacionalmente, chegando a 2º posição no Reino Unido e em 1º na França). O vídeo para a música apenas reforçou que os dias visionários de Jackson tinham ficado para trás. Dirigido por Paul Hunter (que tinha trabalhado com Mariah Carey, Will Smith e a irmã de Michael, Janet) parecia uma pobre imitação de “Smooth Criminal”, desta vez, filmado em Cuba.  Apesar de participações especiais do comediante Chris Tucker e lendas da tela, como Marlon Brando, o vídeo nunca decolou realmente. É claro, não foi apenas o problema com o vídeo em si. Por essa época, vídeos musicais, em geral, não tinham mais o impacto que eles tinham nos anos oitenta e início dos anos noventa. MTV e VH1 tinham mudado mais em direção a reality televisions, enquanto o youtube ainda não existia.


De acordo com aqueles próximos a Jackson, ele também não estava feliz com o álbum. Ele também não estava feliz com a sequência de singles da Sony (ele preferia lançar “Unbreakeble” primeiro). Atrás das cenas, problemas muito mais sérios estavam em ebulição. Uma rixa grande se desenvolveu entre Jackson e o cabeça da Sony, àquela época, Tommy Mottola. As apostas tinham atingido o ponto de Jackson ameaçar deixar a Sony, enquanto Tommy Mottola informou ao cantor que ele estava preso por cláusulas no contrato.
 

Dentro de meses, apesar do promissor começo. Invincible começou a cair nos charts e a Sony, abruptamente, encerrou a promoção. “Butterflies”, que estava agendada como um lançamento de single, atingiu a 2º posição nos charts R&B tocando sozinha no ar, mas a Sony atrasou e acabou cancelando o lançamento dela. Também foi cancelado o vídeo para “Unbreakable” e uma planejada performance para “Whatever Happens” no Grammy.
 

Os fãs ficaram perplexos e irados. Invincible tinha, alegadamente, vendido cinco milhões de cópias em todo o mundo nos primeiros meses. Então, o que estava acontecendo? A Sony já estava desistindo do álbum? Michael estava cansado de trabalhar nele?
 

Os dois álbuns de estúdio anteriores de Jackson, Dangerous e HIStory, foram promovidos por quase dois anos, Invincible foi abandonado depois de menos de dois meses (embora Mottola, apenas meses antes, ter dito que ele era o melhor trabalho de Jackson desde Thriller). Jackson estava, justificadamente, irado. Ele sentia que Mottola o tinha usado e traído. De acordo com uma fonte, Mottola ameaçou “arruinar” Jackson. “não ameaças físicas”, a fonte disse à Fox News, “mas certamente a ameaça de que Michael seria destruído e a carreira dele estaria acabada se ele não concordasse com os termos de Tommy”.
 

O produtor Rodney Jerkins lamentou que todo o trabalho duro que ele e Jackson colocaram no álbum estava, agora, sendo abandonado, em razão de uma poderosa batalha. “Eu penso que isso é um beco sem saída”, ele disse, “porque não há promoção, não há vídeo. Se não há nada para promover ou vir, como você pode vender álbuns?” A Sony até mesmo se recusou a distribuir o single para caridade de Jackson, “What More Can I Give”, que deveria arrecadar dinheiro para os sobreviventes do 11/9. “Eu gostaria de ver a Sony, pelo menos, ter a decência de deixar uma gravadora, terceira parte neutra, lançar as músicas”, disse o produtor executor Marc Shaffel. “todo mundo que tinha ouvido duas músicas sentiram que ambas eram hits número um e que elas arrecadariam muito dinheiro para causas beneficentes”.
 

Enquanto os motivos de Tommy Mottola para cancelar as promoções pra Invincible tenham sido objeto de imensa especulação, a verdade continua, de alguma forma, obscura. Alguns sentiam que o motivo principal era dar o troco pela enorme soma de dinheiro que Jackson tinha gastado fazendo Invncible; outros alegaram que Mottola estava atrás do famoso catálogo dos Beatles. O que é sabido, como certeza, é que a disputa atingiu um nervo sensível para Michael Jackson. Isso não eram apenas negócios para ele; era traição pessoal. Desde os dias dele na Motown, ele tinha trabalhado sem descanso na arte dele e colocado o coração e a alma dele na carreira. Nesse processo, ele tinha feito bilhões de dólares para gravadoras, incluindo a CBS/Epic e Sony, que o tinham firmemente apoiado. Agora, ele sentia, esse apoio tinha acabado. De muitas formas, o mau tratamento era uma repetição do trauma que ele sentiu com o pai dele: ele sentia que ele era um fantoche, um produto, explorado infinitamente pelo que ele podia oferecer, mas não recebia a básica dignidade de um artista respeitado. A dor ficou pior quando muitos antigos amigos e colegas ficaram do lado de Mottolla. Como em 1993, Jackson se sentiu abandonado, quando ele mais precisou de apoio.
 

A questão racial mais que exacerbou a situação. Michael Jackson estava bem consciente da história de artistas negros na indústria da música. Desde Chuck Berry a Little Richard, Bo Diddley a Jack Wilson, Jackson viu revolucionários artistas afro-americanos não apenas menosprezados em proporção ás realizações deles, mas explorados pelas gravadoras brancas. Ele assistiu ao herói dele, James Brown, sair em turnê com idade avançada para fazer dinheiro, porque executivos brancos possuíam os direitos e royalties das músicas que fizeram dele uma lenda (isso, na verdade, foi uma razão para que Jackson – com a ajuda do advogado John Branca – não apenas se certificasse de que ele possuía todo o material dele próprio, mas também, ativamente adquirisse direitos autorais das músicas de outros artistas).

 
Michael Jackson sentia tão fortemente que o caso dele era parte de uma ampla evolução de racismo e exploração na indústria da música, que ele começou a defender o caso dele publicamente.  Isso foi uma rara atitude de manifesto político para o cantor. Na conferencia de imprensa, no Harlem, para a National Action Network, apoiado por Jhonnie Cochran e Al Sharpton, Jackson estabeleceu o caso dele:
 

É muito triste ver que estes artistas realmente estão sem um centavo, porque eles criaram tanta alegria para o mundo. E o sistema, começando com as gravadoras, totalmente tira vantagem deles... E preciso que vocês saibam que isto é muito importante, pelo que nós estamos lutando, porque eu estou muito cansado – eu estou realmente, realmente cansado da manipulação... Eu estou aqui para falar por toda a injustiça. Vocês precisam se lembrar de algo, o minuto que eu comecei a quebrar os recordes de todos os tempos de vendas – eu quebrei os recordes de Elvis, eu quebrei o recorde dos Beatles – o minuto em que [eles] se tornaram os álbuns mais vendidos de todos os tempos na história do [Guinness World Records], da noite para o dia, eles me chamaram de aberração, eles me chamaram um homossexual, eles me chamaram de abusador de crianças, eles disseram que eu tentei clarear minha pele. Eles fizeram tudo para tentar jogar o público contra mim.

  

“Eu estou cansado – eu estou realmente, realmente cansado da manipulação.”






















 Jackson no set do MTV’s Total Request Live com Carson Daly.
Depois de uma inicial de markenting.Todas as promoções,
singles e vídeos para Invincible foram cancelados devido a
uma rixa entre Jackson e o, então, cabeça da Sony, Tommy
 Mottola.

 

Embora houvesse muitos que vissem algumas hipérboles nas alegações de Jackson, houve uma significante quantidade de verdades no maior ponto que eles estavam fazendo. Independentemente do pigmento da pele dele, Jackson, claramente, continuava se identificando com as lutas dos artistas afro-americanos e músicos. A maioria na mídia, no entanto, simplesmente desdenhava as queixas deles como uvas azedas, porque o álbum dele não tinha se saído tão bem quanto esperado.
 

Independentemente da controvérsia e a decepção em torno de Invincible, como Jackson colocou: “A música é o que vive e dura”. E muito de Invincible, em retrospecto, continua soando muito novo e impressionante.
 

O padrão para Michael Jackson, é claro, sempre foi ele mesmo. Um álbum poderia ter várias músicas muito boas (como Invincible tinha), mas se não vendesse cinquenta milhões de cópias e produzisse uma sequencia de # 1 hits, era rotulado de fracasso. “O fato de que [Michael Jackson] é um grande músico está agora esquecido”, observou o crítico musical Robert Cristgau em 2001. “Eu uso a presente tensão porque a) as habilidades dele parecem intactas e b) como somente Frank Kogan tem escutado objetivamente o suficiente para observar, ele está fazendo coisas novas com elas – o funk dele está afiado e as baladas, mais leves, ambos para efeito inquietante.”
 
 
Tais avaliações, no entanto, provaram ser minoria. Como usual, muitos poucos críticos foram capazes de focar na música, sem injetar a opinião deles sobre as excentricidades, aparência física e controvérsias pessoais de Michael Jackson. Porém. Se alguém fosse capaz de ultrapassar as distrações e comparações estranhas, Invincible tem os méritos dele. “De todos os álbuns que eu tenho escutado”, disse o rapper Eminem, em 2002, “o melhor do ano é de longe Invincible. Michael Jackson merece muito mais crédito do que está recebendo”.
 

Na verdade, desde o “minimalismo R&B ligeiro, durável” das faixas a frente do tempo, à rica sentimentalidade dos grooves meio-tempo e à emoção e pureza do vocal das baladas dele, Invincible continuou a mostrar os talentos únicos e diversos de Jackson. 
 

A parte frontal foi carregada com faixas rítmicas afiadas, corajosas, criadas para atrair uma nova geração de ouvintes. “Unbreakeble” e “Heartbreaker”, ambas coescrtitas com Rodney Jerkins, são, sonoramente, músicas explosivas que representam o funk-techno do novo milênio. O tempo é balanceado com suave jam retrô como “Heaven Can Wait” e “Butterflies” e baladas sublimes como “Speechless”. Mark Anthony Neal descreveu o álbum como “um retorno de alguns dos tipos de sólidos R&B contagiantes que marcaram o melhor das gravações de Jackson com os irmãos dele e a estreia ‘adulta’ dele com Off The Wall.” Tematicamente, o álbum tem um segmento similar ao de Dangerous, começando com a determinação e desafio de “Unbreakable”, chegando ao ápice com a transcendência pessoal de “Speechless” e “You Are My Life”, mudando para a consciência social de “Cry” e “The Lost Children” e terminando com a provocativa reviravolta de “Threatened”.


        Jackson no set do único vídeo musical dele para Invincible, Your Rock
         My World.



Um dos principais debates sobre Invincible, contudo, teve a ver com a lista de produtores dele. Alguns sentiam que a “irregularidade” foi devido a “muitos cozinheiros na cozinha” e acreditavam que Jackson teria sido mais bem servido apenas fixando com um ou dois produtores. “Butterflies”, argumentou Mark Anthony Neal, “é o melhor exemplo de por que o investimento de Jackson em Jerkins foi um equívoco tão grande, pois [Andre] Harris e outros fragmentos do campo do “Toque de jazz” poderiam ter, legitimamente, feito todo o projeto, eles mesmos.” Outros sentiam que Teddy Riley, parceiro de Jackson em um dos mais criativos trabalhos dele (Dangerous), colaborou com uma das faixas mais convincentes do álbum. “Teddy Riley prova, com apenas duas músicas, que ele é uma centena de vezes o jovem compositor descolado inundando a maior parte deste álbum”, escreve Nikki Transter. “Enquanto as batidas jocosas das faixas de Jerkins, absolutamente, são funk e divertidas, é o trabalho influenciado de Riley, como ‘Whatever Happens’ e ‘Don’t Walk Away’, que são mais intrigantes e que fornecem a Jackson o ambiente para experimentar liricamente, vocalmente e instrumentalmente.”
 
 
No fim, entretanto, parecia que o argumento de alguém pelo melhor produtor ou melhor visão do álbum tinha mais a ver com as preferências estéticas. Na verdade, todos os principais colaboradores de Jackson – Rodney Jerkins, Teddy Riley, R. Kelly, Floetry e Babyface – eram enormemente talentosos; mas juntos, os trabalhos deles parecia desordenado para alguns ouvintes. O próprio Jackson reconheceu, mais tarde, que ele pode ter trabalhado demasiadamente no álbum e deixado de fora alguns dos primeiros materiais que deveriam ter continuado.
  
 
O legado de Invincible, portanto, ainda é, de alguma forma, indefinido. O impacto cultural dele foi relativamente mínimo em relação ao lançamento inicial dele. O médio ouvinte de música iria, provavelmente, reconhecer uma ou duas das músicas dele. Em adição, diferentemente dos álbuns anteriores, não houve nenhuma interpretação visual para associar a ele através de vídeos musicais ou performances. Ele foi um álbum assolado por controvérsias, expectativas não satisfeitas e decepções.
 
 
Contudo, o álbum vendeu mais de dez milhões de cópias e foi recentemente votado “o melhor álbum da década” pelos leitores da Billboard.com. Muitas das músicas, da mesma forma, nunca ouvidas na época, são redescobertas pela nova geração sem a bagagem e distrações que, antes, as acompanhavam. Para os fãs de Jackson, igualmente, o álbum Invincible e as músicas excluídas dele são um verdadeiro tesouro subestimado de material, que representa o último trabalho, totalmente realizado, de Jackson.