Stranger
in Moscow
Esta
é a maldita paisagem que Jackson habita em Stranger in Moscow, do álbum de 1995
dele, HIStory. E, novamente, ele faz
uma pergunta ética, embora dessa vez seja uma persona singular: o que o artista
deveria fazer, quando o público se volta contra ele, e a fonte de inspiração
dele – ou seja, o relacionamento dele com crianças, a e energia criativa da
infância – se tornou suspeita?
Como
em Billie Jean, ele caminha consigo,
enquanto pondera sobre o que fazer; com o que está em torno dele, mais uma vez,
refletindo a jornada psicológica dele. A “veloz e repentina queda da graça” o
tem deixado “sozinho e frio por dentro/ Como um estranho em Moscow”. Mas mesmo
nesse estado angustiante, ele continua sintonizado com as pessoas em volta
dele: o homem só em um apartamento, uma mulher em uma cafeteria, um mendigo, um
negociante, um adolescente vendo outras crianças jogando bola. Ele entende que
eles estão sós e tristes e que têm os próprios tormentos. Ele é apenas uma das
milhares de pessoas que sofrem, e a solução não é fácil. Alguém atira uma moeda
para o mendigo, exatamente como Jackson fez com o bêbado em Billie Jean, mas
agora, nós estamos olhando para a transação do ponto de vista do mendigo, vendo
a moeda cair em direção a ele/ nós. Mas dessa vez, ele não se transforma; ele é
apenas um mendigo com uma moeda. Dinheiro não pode consertar isso.
Começa
a chover, basicamente um símbolo universal para tempos ruins, e as letras
confirmam isso: “Dias ensolarados parecem distantes... De novo e de novo e de
novo isso vem./ Queria que a chuva apenas me deixasse estar.” Os adultos se
encurvam, blindando-se contra a chuva e se sentindo ainda mais tristes e
isolados. De repente, nós escutamos um grito excitado, e, então, um pequeno grupo
de crianças vem espalhando água do aguaceiro. Como as empobrecidas, mas alegres
crianças em Jam, elas aceitam os tempos difíceis e estão alegres de qualquer
forma.
A
energia criativa da infância ainda existe, e ainda tem a capacidade de
inspirar. Através delas, o significado da chuva, em si, é transformado de
dificuldades para um tipo de batismo, uma fonte de renovação. Uma a um, os
adultos, estende uma mão para a chuva e começa a se aventurar.
No
fim do vídeo, Jackson está na chuva também, completamente encharcado, ele atira
a cabeça para trás e o cabelo molhado forma arcos sobre ele. Daí, ele fica de
pé com os braços estendidos, a chuva caindo. É um notável gesto, desde que essa
era uma pose característica para ele, quando ele estava em concerto – uma que
ele tipicamente adotava durante os aplausos de uma audiência, como se ele
estivesse tentando reunir tudo isso, como um enorme buquê de flores, sem deixar
que nenhuma delas caísse. No entanto, aqui ele não está sendo banhado em
aplausos, mas em condenações, e os braços dele caem com o peso delas. Mas ele
decide aceitar esses tempos difíceis, exatamente como ele uma vez aceitou os
aplausos, e, embora ele não esteja feliz, talvez como as crianças que estão
correndo, ele irá encontrar isso dentro dele mesmo, para ter momentos de
alegria na chuva também.