14.
LITLE SUSIE
(Escrita e composta por Michael
Jackson. Produzida por Michael Jackson. Programação: Brad Buxer, Steve Porcaro
e Andrew Scheps. Engenharia e mixagem por Bruce Swedien. Vocais: Michael
Jackson. Orquestração: Brad Buxer e Geoff Grace. Solo Infantil: Markita
Prescott)
“Little Susie” é ainda outro testamento do alcance e
profundidade de Jackson como artista. A música também demonstra o comprometimento
dele com a visão criativa dele, em relação a quem ela poderia alienar. Muitos
críticos estavam simplesmente perplexos que uma “miniópera” sobre um assunto
tão sombrio e grotesco pudesse aterrissar em um mainstream álbum pop. “O
que isto está fazendo em um álbum com Dallas Austin e Jam e Lewis é o que todo
mundo se pergunta”, escreveu a Rolling
Stone.
Para Jackson,
entretanto, a razão para “Little Susie” (e outras inclusões não tradicionais)
era muito simples: ele acreditava que era uma grande obra. Viabilidade comercial
ou a expectativa da audiência não importa. O que importava era a conexão
pessoal, a história, a melodia. Jackson tinha, em verdade, escrito e gravado
uma versão da música mais de quinze anos antes, em 1979. Ele a consertou algumas
vezes ao longo dos anos, mas não foi até trabalhar na faixa com Brad Buxer, em
1994, que ela, finalmente, começou a ser desenrolada por Jackson.
Enquanto “Little Susie”
continua, em maior parte, desconhecida, ela é uma das mais pungentes e
singulares músicas em todo o catálogo dele. “Se ele tivesse decidido deixar de
ser um cantor pop”, escreveu Anthony Wynn, “esta música [é] prova de que ele
poderia compor músicas para filmes e, seriamente, vencer Oscars por isso. Ela é
triste, sinistra, bela”. Na verdade, “Little Susie” reafirma a substancial habilidade
dele como compositor. Uma história de solidão e perda trágica, pungente, a
canção, também, corajosamente, desvia-se de tradicionais instrumentos e expectativas
pop/rock, apresentando uma orquestra
estilo Broadway e acordes emprestadas
de “Sunrise,
Sunset” do Fiddler on the Roof. A
música começa com o segmento “Pie Jesu” da magistral
obra prima de Maurice Duruflé, Requiem
OP.9. Depois do interlúdio, a voz de uma garotinha (cantada por Markita
Prescott) cantarola uma melodia simples ao som de uma caixa de música. O efeito
é tanto encantador quanto perturbador.
Daí surge a história
devastadora, narrada no que tem sido considerada uma das mais tocantes performances
vocais de Jackson. Em vívidos (frequentemente horripilantes) detalhes, nós
sabemos sobre uma garota órfã, que morre de negligência (e provável abuso). “Ela
estava lá gritando/ Ritmando a voz com o destino dela”, Michael canta, “Mas ninguém
veio a ela, logo”.
Por anos, ela canta uma
bela música, mas não é ouvida. “Pai deixou o lar/ Pobre mãe morreu/ Deixando
Susie sozinha.” A contínua solidão que ela sente acaba causando extremo desespero.
“Por estar condenada por saber que a esperança está morta/ E você está
desgraçada/ Então, grita/ E ninguém está lá." A emoção nessas linhas é
profunda. Elas transmitem o terrível sentimento de estar completamente sozinho,
invisível, não amado, de sentir que não há absolutamente nada por que viver.
“Ela sabia que ninguém se importava.”
“Negligência pode
matar”, Jackson avisa, “como uma faca em sua alma”.
Quando Susie é,
finalmente, “descoberta”, ela está morta. “Tão cegos fitam os olhos no rosto
dela.” Ela se matou? Caiu da escada? Foi assassinada? Na narrativa de Jackson
isso permanece um “mistério tão sombrio no ar”. A questão mais importante é
como ela é ignorada e maltratada na vida. “A face dela carregava tanta agonia,
tanta tensão.” Somente um homem realmente a conhecia, mas ele não pode evitar o
trágico destino dela. Em vez disso, quando ele vê o flácido corpo dela no chão,
ele se ajoelha para fechar os olhos dela. “Ela jaz lá tão ternamente”, Jackson
canta, “Vestida tão esplendorosamente/ Erga-a com cuidado/ Oh, o sangue no
cabelo dela”.
É, possivelmente, uma
das músicas mais angustiante que Michael já cantou. E a ressonância dela atinge
ainda mais profundamente, dado alguns dos paralelos com a vida e a morte
trágica do próprio cantor.
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