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domingo, 28 de outubro de 2012

Man In The Music: Introdução VIII "Evolução Artística"




EVOLUÇÃO ARTÍSTICA
Apesar da experimentação e evolução dele, porém, o conhecimento convencional, da maior parte da mídia e dos críticos musicais, por décadas, foi a de que Michael Jackson alcançou o auge artístico com Off The Wall e Thriller e tudo que veio em seguida se revelou um lento e constante declínio. No obituário de 2009, o New York Times se referiu à carreira dele, pós-Thriller, como “uma bizarra desintegração.” O que fez a obra dele tão “bizarra” nestes anos? Nada específico é mencionado, além da “bizarra vida privada” dele, equiparada à música ruim. Da mesma forma, na retrospectiva do Times, Josh Tyrangiel escreveu: “Dado o tumulto na vida pessoal dele, não é surpresa que os anos 90 tenha sido um período estéril para Jackson criativamente.” Tyrangiel não explica por que o tumulto pessoal tinha provido tanta fertilidade criativa para outros artistas, como Ray Charles, John Lennon e Kurt Cobain (entre milhares de outros), mas não a Jackson. Ele também não explica como a prolífica produção criatividade de Jackson durante aquela época – Jackson escreveu e gravou mais músicas e lançou mais álbuns e vioclipes nos anos noventa que nos anos oitenta – pode equivaler a um “período estéril”. O crítico musical John Pareles, pelo menos, ofereceu uma crítica mais superficialmente específica, dizendo que foi a perda da inocência de Jackson que levou a arte dele ao declínio. “A doçura básica que fez o senhor Jackson cativante, apesar das esquisitices dele, coagulou”, ele escreveu. Os critérios que fizeram o trabalho de Jackson ressoante, então, para Pareles é a “doçura”, embora ele não tente conciliar isso com as primeiras músicas liricamente perturbadoras como “Billie Jean” e “Wanna Be Startin’ Somethin’.” A expectativa de uma “doçura” eterna é algo mais que estranho, dado que conflito, raiva, agitação, protesto social e desilusões têm sido estimulo para algumas das músicas mais poderosas.

Uma séria avaliação de toda a obra de Jackson tem faltado aos críticos, que têm, frequentemente, recorrido a vagas generalizações, dispensas condescendentes e muito moralistas. A variedade do trabalho dele, como resultado é, frequentemente, tanto fundamentalmente malcaracterizada, quanto mal interpretada. Na verdade, contrariamente à maior parte das narrativas, uma análise mais fiel da carreira solo de Jackson revela uma extraordinária evolução artística. Um adequado paralelo, na verdade, são os Beatles, que, da mesma maneira, começaram cantando grandes músicas de amor, mas continuaram desafiando a si mesmos e ao público deles com novas músicas e arranjos, letras mais complexas e socialmente conscientes e delectus personae, que desafiaram os valores normativos e premissas do tempo deles. Igualmente, observa o critico cultural Armond White, “A carreira de Jackson, abrangendo desde uma adorável estrela mirim a um deslumbrante jovem adulto a um eterno-desconcertante conquistador do mundo, mostra uma imaginação inquietante. Ele empurra a cultura para frente, desafiando-a, enquanto ele também desafia a si mesmo. A natureza idiossincrática dele revelou enigma e fascínio, mas também atormentou o status quo. O que é muito irônico para um astro pop fazer.” O reconhecimento de White, no entanto, revelou ser exceção, não a regra. Enquanto muitos críticos, antes e agora, têm elogiado profusamente os Beatles pelo amadurecimento e transformação deles, Jackson tem sido, muitas vezes, caracterizado como um superficial caçador de recordes, que falhou em superar o sucesso comercial de Thriller, de alguma forma, validando a percepção de que a música perdeu o valor.

Mais recentemente, tal pensamento convencional está sendo reconsiderado, pois o público e os críticos, da mesma forma, voltam aos álbuns e vídeos – muitas vezes, no que se refere ao último trabalho dele, escutando-os pela primeira vez – e reavaliam o valor estético e cultural dele. O que a reavaliação deles tem revelado e, sem dúvida, continuará a revelar, é que, enquanto os números de vendas e impacto cultural nos Estados Unidos possam ter declinado, a riqueza, profundidade e arte, não. Alguém precisa olhar para a evocativa e poética, “Stranger In Moscow”, uma das mais poderosas expressões de alienação desde a “A Day in the Life”, dos Beatles, ou o principal trabalho pop gótico, “Is It Scary” que se tornou um espelho em uma acusação social ou o vídeo musical para “Black or White”, que mistura sátiras e idealismo, antes de desencadear no totalmente destemido (e artisticamente sofisticado) refrão.
 
Tal trabalho pode ter um mostruário diferente, uma versão menos alegre de Jackson, mas certamente não foi estéril, nem chato. “O que é interessante”, observa Milka Gilmore, da Rolling Stones, sobre este sempre esquecido período criativo, “é que esse foi... o tempo no qual Jackson fez uma das mais interessantes artes dele: uma das mais espirituosas, mais dolorosas, iradas e, de longe, mais politicamente explícitas e perturbadoras”.

Mas é um erro pensar que esses temas mais desafiadores somente emergiram mais tarde na carreira dele. Certamente, um dos maiores comentários sociais dele veio, mais acentuadamente direto, quando a carreira dele progrediu, particularmente em Dangerous, HIStory e Blod on the Dance Floor, mas a tensão sempre esteve lá. Como Jody Rosen da Slate escreveu: “Embora ele tivesse objetivo maior e mais amplo que qualquer outro pop star, antes ou depois – ele queria que cada pessoa no mundo comprasse os álbuns dele –, ele nunca se comprometeu. A música dele está mais estranha e mais sombria que nunca para alcançar o sucesso blockbuster; por comparação, Sinatra, Elvis, os Beatles e Madonna são modestos.”

Jackson no set do vídeo Black or White dele; a arte de Jackson continuou a evoluir de  forma   interessante e desafiadora nos anos 90.





Isso, é claro, não quer dizer que não houve também momentos de leveza. Mesmo nos últimos trabalhos dele houve ainda momentos de inalterada alegria, músicas que simplesmente fazem você querer dançar, como “You Rock My World”, músicas que capturam a essência de estar apaixonado, como o clássico retrô-soul, “Butterflies”, ou a pura alegria nostálgica de “Remember The Time”.
























Jackson performando “They Don’t Care About Us”
 na History World Tour em 1997. As declarações
sociais de Jackson se tornaram mais afiadas e mais
diretas enquanto a década progredia.






Mas Jackson sempre acreditou que a música podia salvá-lo e, assim, ele poderia levar a audiência dele consigo. Portanto, em “Startin’ Something’” há um extraordinário final, no qual Jackson grita, “Eu sei que eu sou alguém!”, antes de, simbolicamente, se ligar a uma comunidade, com o coletivo grito africano: “ma ma se ma ma sa ma ma coo sa”. Do mesmo modo, em “Man in the Mirror”, amor egoísta é substituído por compaixão, criando uma identidade que está integrada com outros. É claro, nem todas as músicas fornecem esse tipo de conexão e transformação. Porém, era isso o que, Jackson acreditava, em princípio, a música podia realizar.






Jackson no set do vídeo You Are Not Alone

2 comentários:

Rosane disse...

dane..parabéns pela dedicação na tradução deste livro..estou recomendando o teu blog para alguns amigos meus..
abs Rô

Unknown disse...

Obrigada Rosane, eu faço a tradução com o maior prazer, estou adorando o livro. Estávamos precisando de um assim, não? Que faça justiça a genialidade de Michael.

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