Ghosts
Ghosts,
um curta-metragem de 38 minutos baseado em uma história de Jackson e Stephen
King, apresenta o mais completo exame de Jackson da função da arte e do papel
do artista. Ele começa com um tropel da vila, carregando tochas, invadindo a
mansão de um artista – um contador de história de fantasma – que vive sozinho
na periferia da cidade.
Isso
tem sido descrito como a resposta de Jackson ao escândalo de abuso sexual
infantil, com o prefeito da cidade (e líder do tropel) representando o Promotor
Distrital, Tom Sneddon, que liderou as investigações de 1993 contra Jackson e
serviu como promotor chefe durante o julgamento de 2005.
No
entanto, Ghosts é, também, um interessante exame de nossa complicada relação
com arte e artistas. Nós queremos que a
arte mexa conosco, emocionalmente, mas não muito. Arte que realmente nos
balança na nossa fundação é “assustadora”, e nós nos ressentimos disse.
Da
mesma forma, nós amamos artistas porque eles têm a habilidade de fazer coisas
maravilhosas que nos movimentam e nos entretêm.
Mas ao mesmo tempo nós desconfiamos deles e os tratamos como
“aberrações”, precisamente porque eles têm o poder de engajar nossas emoções
tão profundamente, e porque eles veem tão inadvertidamente diferente.
No
filme, o prefeito lidera os moradores da vila em um esforço de dirigir o
artista para fora da cidade. (Interessantemente, Jackson interpreta tanto o
artista quanto o prefeito durante o filme). A declarada razão para banir o
artista é proteger as crianças da vila. Ele é acusado de assustá-las com
histórias de fantasma, mesmo eles vindo em defesa dele e dizendo que gostam das
histórias dele: eles sentem medo, mas de divertem.
Porém,
as palavras do prefeito implica que ele é também motivado por uma desconfiança
do artista, porque ele é muito diferente. Como ele disse várias vezes, “Ele é
um esquisito. Não há lugar nesta cidade para esquisitões”. “Nós temos uma
agradável cidade normal, pessoas normais, crianças normais. Nós não precisamos
de aberrações como você contando histórias de fantasmas.” “Você é esquisito,
você é estranho e eu não gosto de você. Você tem assustado estas crianças,
vivendo aqui em cima, sozinho.” E, “Volte para o circo, sua aberração”.
Como
em bad, o personagem de Jackson se encontra sozinho e sob ataque por uma gangue
dos próprios vizinhos dele, e, como em Bad, ele responde chamando uma
imaginária gangue de pares, uma trupe de dançarinos, para ajuda-lo a confrontar
a ameaça – embora desta vez haja uma tropa de espíritos macabros que se juntam
a ele na dança. Eles até têm o mesmo maneirismo e começam a mesma chamada e
resposta que ele está cantando no fim de Bad: “Diga-me que você está errado”.
Ele está falando para o prefeito exatamente como ele falou com o líder da
gangue em Bad, desde que, ambos, de algumas formas, são líderes de gangue – um
apenas mais oficial que o outro.
Ele,
sem seguida, dança e canta com a trupe de fantasma, aparentemente em esperança
que o poder da arte e música criará uma conexão emocional e atmosfera de
respeito com entre ele e os moradores da vila, exatamente como fez com os
membros da gangue em Bad. E faz, pelo
menos com as crianças da vila e a maioria dos adultos. Eles ficaram em transe
por causa da dança, e começaram a apreciar a estranha beleza criada pelo elenco
de esquisitos dançarinos. No entanto, o prefeito continuou imutável. Enquanto o
líder da gangue em Bad ficou abalado
o suficiente pela dança para pedir uma trégua, apertando a mão do artista e
garantindo o espaço dele na vizinhança, o prefeito em Ghost, não.
A
música termina como um assombrosamente belo coro enquanto os fantasmas voam
para baixo, vindo do teto, criando uma escultura viva. Os moradores da vila
focaram tontos, mas o prefeito se recusou a acreditar na estranha beleza da
performance, e o artista lhe deu um profundo olhar. Esse foi um dos mais
pungentes momentos de todo o trabalho de Jackson. O artista está obviamente
ferido pelas palavras do prefeito, e ele está furioso com ele por lhe invadir a
casa e liderar os moradores da vila contra ele. (Como ele canta durante a dança:
“Você está buscando somente a mim./Você está me enojando.”). Mas apesar da
mágoa e raiva dele, o artista continua se estendendo até o prefeito,
encorajando-o a descobrir a beleza e o poder da arte. Porém, o prefeito ativamente
resiste ao encanto da experiência, ou
simplesmente não a compreende. De qualquer forma, ele não pode apreciar as
“assustadoras” músicas e dança que ele está testemunhando. Ele não está,
portanto, abalado pelo que ele viu e não tem nenhuma apreciação pelo artista
que criou isso.
O
artista responde se transformando em um esqueleto dançarino e puxando o
prefeito para a pista de dança. Quando isso também não funciona, ele dá um
passo à frente: ele se torna um espírito e, literalmente, entra no corpo do
prefeito, forçando-o a dança e a fazer parte da experiência artística. Em
vídeos anteriores, Jackson frequentemente usou empatia para entrar nas mentes dos
outros e entende-los melhor. Dessa vez, no entanto, é uma troca bidirecional:
ele também quer que o prefeito o entenda, o artista, assim, ele literalmente se
derrama dentro do prefeito e o força a dançar. Se o prefeito experimentar a
alegria da dança, por si mesmo, talvez, ele compreenderá a perspectiva do
artista. Talvez, ele estará mais disposto a reconhecer a humanidade em outros,
mesmo “esquisitos” e “aberrações” e artistas. Talvez, ele até venha a apreciar
o valor da arte em si e perceber por que histórias de fantasmas são tão
importantes, para crianças bem como para adultos.
Assim
Jackson, no papel parelho dele como o Prefeito, conduz uma das mais incomuns danças
da carreira dele: como um homem forçado a dançar contra a vontade dele. Ele gira,
faz moonwalk, agarra a virilha dele –
todos os movimentos clássicos de Jackson, mas os membros do prefeito empurram
enquanto ele resiste à compulsão do próprio corpo dele para dançar. Mas isso
não funciona também. A dança não é transformativa para o Prefeito. Enquanto
muitas das pessoas da cidade ficam envolvidas pelo espírito do momento e
começam a dançar e completamente experimentar a alegria, para o Prefeito isso é
mais como uma forma de tormento. Ele odeia isso, e resiste à dança o tempo
todo, até que ele finalmente grita: “Pare!”.
O
espírito imediatamente o liberta da dança, mas segura um espelho diante do
rosto dele. Isso é um lugar comum para dizer que arte é como um espelho,
forçando-nos a nos ver de uma forma diferente. Em Ghosts, essa ideia é apresentada literalmente. O braço do artista sai de dentro do corpo do Prefeito
e segura um espelho diante do rosto dele, que está em metamorfose sob a influência
do artista dento dele, para revelar ao Prefeito a própria esquisitice interior.
O Prefeito, que tem repetidamente chamado o artista de aberração, é forçado a
ver o que está sendo revelado na própria face e perguntar a se mesmo; “Quem é
assustador agora? Quem é a aberração agora?”.
O
artista, em seguida, deixa o corpo do Prefeito, suspira, e diz: “Então, vocês
ainda querem que eu vá?”. Em outras palavras: a experiência funcionou? A
exposição do Prefeito ao poder do artista – por ouvir a assustadora música e
por dançar, ele mesmo, por ver a face dele no espelho e testemunhar a própria
aberração interior – mudou a cabeça dele? As o artista já sabe a resposta. Ele esteve
dentro da cabeça e do corpo do Prefeito e sabe que ele é resistente à dança.
Quando o Prefeito replica: “Sim! Sim!”, ele ainda quer que o artista vá embora,
o artista não está surpreso. E assim o artista parte – não caminhando no chão,
mas destruindo-se.
Mas,
é claro, um artista nunca morre realmente, enquanto a obra dele perpetua, e
essa concepção é retratada literalmente em Ghosts,
também. Tão logo o artista morre, ele renasce como uma obra de arte: uma enorme
estátua viva com uma face de pedra, grande o bastante para encher soleira. (Depois
de tudo, Jackson deixa para trás um enorme corpo de trabalho.) Quando o filme
venta em direção a conclusão dele, nós descobrimos que a obra do artista é
ainda mais poderosa que o próprio artista. O vídeo, destarte, termina com o
Prefeito banido, o artista restaurado, e algumas crianças seguindo o caminho
delas de se tornar artistas, elas próprias.
É
um caprichado final legal, mas isso não parece assim, em muitos aspectos. A
atmosfera do filme é nervosa, e não se aquieta durante, nem mesmo na conclusão.
O artista Jackson retratado não é um entertainer reconfortante, um contador de reconfortantes
contos de fadas. Em vez disso, ele é um poderoso artista – um Maestro, como ele
é listado nos créditos. Ele está no controle, é imprevisível e possui
habilidades sobrenaturais. Os habitantes da vila estão, compreensivelmente,
desconfiados dele, mesmo no fim, embora eles riam nervosamente e respondam
quando ele comanda. Ele é um amestro das emoções dele, assim como da arte dele,
e ambos o respeitam e desconfiam dele por isso.
A
mensagem global de Ghosts é que, como
histórias de fantasma, arte significativa é tanto divertida quanto “assustadora”:
é poderosa, perturbadora, ameaçadora. Ela nos inquieta, e nos força a
confrontar verdades desconfortáveis. Ela segura um espelho diante de nossos
rostos (literalmente, no caso do Prefeito), e nos força a olhar para nós mesmo
de forma diferente. O artista cria uma
experiência para nós com um propósito em mente. Nosso trabalho com audiência é
estarmos abertos a essa experiência. Como o artista pergunta durante o filme,
em diferentes pontos ao longo do caminho: “Eu assustei você?” ou “Você já está
assustado?”. Nós temos nos permitimos ficar completamente envolvidos pela experiência
que o artista preparou para nós? Essa é a diferença entre as crianças (que
prontamente admitem que elas gostam de ser assustadas, mas mesmo assim são tocadas
e alteradas pela experiência) e o Prefeito (que absolutamente resiste à
experiência artística até ser, finalmente, banido).