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STRAGER IN MOSCOW
(Escrita
e composta por Michael Jackson. Produzida por Michael Jackson. Vocais guias e
background por Michael Jackson. Arranjos por Michael Jackson e Brad Buxer.
Teclado, sintetizadores e baixo: Brad Buxer, David Paich, e Steve Porcaro.
Percussão beatbox: Michael Jackson. Percussão: Brad Buxer. Cordas: Brad Buxer.
Guitarra de fundo: Steve Lukather e Brad Buxer. Synclavier: Andrew Scheos)
Embora ela nunca tenha entrado em nenhum dos grates-hits collections dele, “Stranger
in Moscow” é uma das realizações artísticas mais impressionantes de Michael
Jackson e, ao longo do tempo, será, sem dúvida, reconhecida como tal.
Poética e evocativa,
“Stranger in Moscow” revela o que está debaixo da raiva das duas músicas
anteriores. É a versão de Jackson da seminal “A Day in the Life” dos Beatles: uma sombria expressão de
isolamento, desilusão e alienação. O crítico musical Tom Molley descreveu-a
como uma “etérea e viva descrição de um homem surpreendido por uma ‘repentina e
abrupta queda da graça’, caminhando na sombra do Kremlin”. O engenheiro de
longa data, Bruce Swedien, sentia que ela era uma das melhores músicas que o
cantor já criou. Armond White apoia, chamando-a de “melhor faixa” de Jackson
“desde ‘Billie Jean’”. “O conto de angústia fora de compasso, mas cheio de alma
dela é eloquente o bastante para mitificar a alienação em termos pop e provocar uma reconsideração de
pós-guerra fria, pós-revolta sobre direitos civis.”
Jackson escreveu a
música enquanto estava em turnê em Moscow, em 1993, durante um particularmente
difícil e solitário momento da vida dele. “Ela caiu no meu colo”, ele recorda,
“porque assim é como eu estava me sentindo na época. Sozinho em meu hotel, e
estava chovendo, e eu apenas comecei a escrevê-la”. Na verdade, na manhã que a inspiração
para a música veio, Jackson chamou o tecladista e diretor musical dele, Brad
Buxer, que estava hospedado no hotel. Era 10h30min da manhã e, a pedido de Jackson,
Buxer veio imediatamente. “Eu bati na porta e disse: ‘Okay, Michael, eu penso
que você me chamou porque você quer ouvir a coisa Sega [Jackson tinha
concordado em criar uma melodia para o videogame
Sonic the Hedgehog 3]’E ele foi:
‘Não, não, eu quero apenas trabalhar. ’ E, então, havia um piano lá e eu comecei
tocando coisas e ele disse: ‘apenas toque, apenas toque’.” Buxer, que era
classicamente treinado e tocava inúmeros instrumentos, tinha trabalhado próximo
a Jackson nos últimos quatro anos. “Stranger in Moscow”, no entanto, foi a
contribuição mais significante dele àquela data. Na sessão do hotel, Jackson
iria, em alguns momentos, dirigir, em alguns momentos, simplesmente ouvir até
escutar algo que ele gostasse. “Eu toquei para ele um verso e ele adorou”,
recorda Buxer. “Daí, ele disse: ‘Toque mais alguma coisa. ’ E eu apenas ia para
estes acordes. É uma simples progressão, mas há esta estranha modulação.
Terceiras e sétimas são tudo em música... Se você pega uma base em uma quinta
ou uma tríade – com um A espesso e E espesso de um A espesso tríade e, então,
usar estas notas muito similares como a 3º maior e 7º maior do novo acorde
(nesse caso E maior 7) – Você pode torcer o ar com uma pequena batida e fazer
algumas coisas psicológicas acontecerem. Você consegue uma poderosa, mas quase
invisível modulação, que afeta a psique, simplesmente por alterar uma nota. E,
assim, eu fiz isso. E há uma nova seção que é E maior 7 para A e D maior 7 para
G, o que é apenas um completo passo abaixo, mesma progressão. Essas são as duas
progressões e isso era “Stranger in Moscow”. Uma vez que eles tinham a
progressão básica, Jackson desenvolveu a melodia, o que flutua nas notas mais
alta dos acordes. Em apenas uma hora e meia, Jackson e Buxer tinham,
essencialmente, criado a música inteira. (Jackson iria, mais tarde, terminar a
extraordinária letra e adicionar outros ornamentos.)
Não foi muito depois de
escrever e gravar a música que Jackson decidiu criar um álbum inteiro de novo
material, em vez de apenas algumas poucas faixas arrematarem uma greatest-hit collection. Tanto Jackson
quanto Buxer sabiam que eles tinham criado algo especial. Embora, aparentemente,
uma simples balada em tom menor, o esparso arranjo de “Stranger in Moscow”
captura perfeitamente o sentimento imparcial, vazio, de um homem estranho ao
mundo em volta dele. A faixa começa com o som de chuva, então, uma batida
lenta, mecânica (construída no beatboxing
de Jackson) e uma suave guitarra dedilhada.
Nos versos, Jackson
canta em sofisticadas linhas chamada-e-resposta; o efeito eco captura
perfeitamente o sentimento de isolamento dele. “Eu estava caminhando na chuva”
ele canta. “Máscara da vida, sentimento insano.” Isso começa o que é,
provavelmente, a letra mais impressionante da carreira de Jackson, lembrando a
poesia de T.S. Elliot ou Rainer Maria Rilke. A narrativa fragmentada que ele apresenta
é sobre dissonância cognitiva: Ou o mundo é que é insano ou ele é quem é. Ou,
talvez, sejam ambos. No refrão, ele pergunta repetidamente: “Como você se sente?/
Como você se sente?/ Quando você está sozinho e com frio por dentro.” A pergunta,
no entanto, é deixada pendente, sem resposta, por toda a música.
Mais tarde, Jackson
canta sobre ser “abandonado na fama dele”. Ele sente uma sensação de traição,
solidão e desespero que, como a Rolling
Stone colocou, “rivalizaria com qualquer dor de roqueiros de Seattle”. Ele é um trágico personagem,
como Jay-Gatsby (“isso é o que [o] perseguia, a poeira suja que flutua na
esteira do sonho dele”). Jackson descreve o estado mental dele como “Armagedom
do cérebro”.
“As palavras retratam
as dores dele com versos tão vívidos”, observa o crítico musical Jonathan
Conda, “– narrando uma vida de dor contra imagens mentais e sentimento da
Rússia Guerra Fria”. No fim da música, Jackson sampleou um interrogatório da KGB, perguntando: “Porque você veio do
ocidente? Confesse! Para roubar as grandes conquistas do povo, as realizações dos
trabalhadores”.
Para Michael, ícone do
mundo Ocidental (e capitalismo), a música apresenta um fascinante paradoxo: uma
vez uma criança negra das decadentes ruas de Gary, Indiana, ele se tornou o
mais famoso por star do mundo; ele
era um autêntico símbolo do sonho americano. No auge de Thriller, a, então, União Soviética, não permitiria que a música
dele fosse ouvida; ela teve que ser contrabandeada. Agora, dez anos depois,
Jackson estava performando para centenas de milhares de fãs em lugares como
Praga e Moscow, enquanto que, essencialmente, estava banido da América. Na
música, portanto, ele é um “homem de lugar nenhum”, um vagabundo. Ele tinha
sido usado e cuspido pelo próprio país e sistema (uma “súbita e abrupta queda
da graça”). Mas ele é, também, um “estranho” na Rússia – preso em um hotel onde
a “tumba de Stalin não [o] deixaria estar”. Ele é um pária, um homem invisível,
se sentindo descartado, exilado, sem lar e sozinho.
Uma certa redenção,
porém, surge no vídeo musical (o qual, como a música em si, é amplamente
subestimado). O crítico musical Owen Hatherly chama-o de um “impressionista, semi-noir, ao estilo de conto de
sobrevivência de Le Carre... mendigos e edifícios imponentes... localizado em
uma paisagem urbana que é uma parte Tim Burton, uma parte Andrei Tarkovsky.”
Dirigindo por Nicolas Brandt, ele despreza danças coreografadas e teatrais do showbiz de muitos curtas-metragens de Jackson
em favor de algo mais discreto e desolador: uma narrativa visual na qual as
vidas de seis isolados estranhos é mostrada, enquanto o mundo se move em volta
deles em câmera lenta. Jackson é identificado com essas “pessoas comuns”: ele
também está sozinho, e caminha pelas ruas em um longo casaco preto como um
fantasma, incógnito. Por volta do meio do caminho no vídeo, contudo, ele e os
outros personagens saem na chuva. Enquanto eles são, individualmente, batizados
pela água, algo muda: é como se a dor deles fosse purifica e conectada por uma
experiência comum: o sofrimento deles. O paradoxo no vídeo, então, é que apenas
por expressar ou abrir a solidão e dor de cada um, eles podem encontrar algum
grau de conexão.
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