Menu

domingo, 28 de outubro de 2012

Earth Song: Inside Michael Jackson's Magnum Opus (parte 7)

Acima de Topo


“Earth Song” foi lançada como single em novembro de 1995. Por todo o mundo, extraordinariamente, ela tocou em estações pop, próxima a músicas das Spice Girls, Hootie and the Blowfish e Take That. Ela alcançou o primeiro lugar nos charts em quinze países. No Reino Unido, ela se tornou o single de Jackson mais vendido de todos os tempos, vendendo mais que um milhão de cópias.

Interessantemente, entretanto, ela nem mesmo foi lançada como single nos Estados Unidos. Essa abstinência é ainda mais notória considerando-se que o single anterior de Jackson, “You Are Not Alone”, foi um hit número 1 nos Estados Unidos. Mas por razões não explicadas, ela não foi oferecida ao radio nem lojas de discos nos Estados Unidos. O produtor Bill Bottrell sente que a decisão não foi por acidente. “[A música] era contra corporação, contra violação da natureza”, ele diz. “Portanto, era propensa à censura.” (70) Na verdade, mesmo que a música não fosse oficialmente bloqueada, o fato de que ela não era vista como viável para ouvintes dos Estados Unidos diz muito.

Entrementes, a resposta dos críticos foi, na maior parte, cínica e desdenhosa. Críticas a descrevem como “exagerada”, “patética”, “sentimental”. A Rolling Stone descreveu-a como uma “peça de mostruário, algo com o que arrasar em Monte Carlo”. 71 Muitos zombaram a preocupação da música com “baleias, árvores e elefantes”.

Tais avaliações, entretanto, fala mais sobre a cultura indiferente e desdenhosa que as produziram, que sobre a música. Os anos 90, depois de tudo, foi uma década caracterizada pela indiferença, apatia e ironia. Um estudo da Standford University, de 1998, mostra que indiferença e cinismo estavam crescendo em todas as faixas etárias. (72) Em países ocidentais, a Geração X, na maior parte, cresceu em um mundo de isolamento suburbano. As angústias dessa geração, porém, eram dirigidas à falsidade, ao materialismo e ao ambiente dela. Mas o solipsismo dela também a impedia de reconhecer a real raiz dos problemas desses excessos. Não foi até o fim os anos 90 que questões como globalização, mudanças climáticas e exploração corporativa começaram a receber maior atenção.

O fervor e ambição de “Earth Song” ao abordar tais problemas eram, de muitas formas, anacronismo. O público em geral, principalmente em um país privilegiado com os Estado Unidos, no meio de uma explosão econômica, prefere olhar para o próprio reflexo disso que para o exterior.

O desdém por “Earth Song” também fala para generalizada mentalidade de massa no jornalismo musical. (73) Nesse caso, o instintivo consenso era de que a dimensão e alcance da música, automaticamente, equiparava-a à “enfática” e “bombástica”. Similarmente, porque ela é sobre “salvar o planeta”, ela era “sentimental” e “quixotesca”. Mas tais caracterizações dizem mais sobre as expectativas sobre a música pop contemporânea que a qualidade da canção.

Ninguém, por fim, esperaria uma opera a aderir aos padrões de uma canção folclórica ou um o poema épico para ler como uma estória curta de Hemingway. “Earth Song” era grande e dramática, porque ela foi idealizada para ser grande e dramática.

Parte da reação negativa à música teve a ver com as expectativas que os críticos (e o público) tinha sobre o próprio Jackson. Desde a metade dos anos 80, a mídia tinha desenvolvido uma simples, mas lucrativo, retrato de Jackson, que poderia ser cortado e colado a cada nova estória: Ele era um excêntrico, ingênuo, inacessível megalomaníaco. Avaliações da música dele eram, quase exclusivamente, interpretadas através destas lentes, desde 1985 em diante, independentemente do mérito da música ou álbum.

Outra expectativa, particularmente dos críticos, era que Jackson deveria manter as abençoadas “dance music” de Off the Wall e Thriller, em vez de algum material “irado”, “desafiador”, “politico” que veio em seguida. Os críticos sempre preferiram ver Jackson como um entertainer em vez de um artista (um estereótipo com uma longa história racial, da qual Jackson era bem consciente). Enquanto a música dele se tornava mais experimental e desafiadora, jornalistas tentavam, em vão, coloca-lo de volta “no lugar dele”. Eles não queriam ouvir músicas sobre racismo, distorção pela mídia e o meio ambiente, eles disseram. Eles queriam leves e alegres “pop”.


Notas do autor:

71. James Hunter. “Michael Jackson’s HIStory.” Rolling Stone. Agosto de 1995.
72. Generation X not so special : Malaise, Cynicism on the Rise.” News Release. Agosto de 1998.
73. Anthony De Curtis observa: “Muito da escrita rock é esnobe, adolescente e desdenhoso... Críticos de rock têm, rotineiramente, almejado superar os assuntos deles e eles têm conseguido, pelo menos, nos próprios trabalhos e nas próprias mentes, se em nenhum outro lugar.” Anthony DeCurtis. Foreword. Reading Rock and Roll. Ed. Kevin H. Dettmar. Columbia University Press, 1999.



O Corpo como Tela


As performances de Jackson para “Earth Song” foram, igualmente, assunto de escárnio e controvérsia. Muitos críticos as interpretaram como a perfeita ilustração do complexo de messias de Jackson. Outros ficavam incomodados pelo efeito visceral que as performances tinham sobre as multidões (as pessoas da plateia eram, frequentemente, mostradas alcançando Jackson e soluçando).

Nos breves três anos (1996-1999) que a música foi apresentada, ela serviu como dramático clímax para os shows de Jackson. Eles eram espetáculos extraordinários. Independentemente da opinião sobre o homem, assistir-lhe cantando, vibrando, uivando, pendurando, precariamente, sobre a multidão e despejando a alma dele no palco, pelo menos, deixava claro por que ele era um dos mais poderosos artistas da era moderna. Isso era uma potente combinação de entretenimento e arte, profecia e ativismo, música e visuais, realizados de uma forma que eles nunca tinham visto antes.

“Jackson é sempre dramaticamente iluminado, enquanto envolvido em uma convolação de roupagem Baroque e altitude crescente contra o céu noturno em um aparato ‘plataforma’”, observa a aclamada artista visual Constance Pierce. “Pairando sobre a audiência massiva dele, a iluminada roupagem da capa de seda esvoaçando, a presença hipnotizante de Jackson captura milhares abaixo dele em uma estética participativa, uma ‘arte performance’ ritual... Velas são acesas e uma torrente de braços é erguida em uníssono. Um gesto de paixão incorporado na performance de ‘Earth Song’ de Jackson, tanto irônico, quanto transcendente, queima-se dentro da consciência coletiva do século 20.” (74)

Em, talvez, a mais básica performance dele – no concerto no Royal Center de Brunei, em julho de 1996 –, brilhando com o suor de um show de três horas, Jackson apresenta uma coda improvisada (“Diga-me e quanto a isto!”) que pertence a uma dos melhores momentos dele no palco. Não há adereços, nenhuma pirotecnia, apenas ele, o microfone e a música.

A carga “messiânica” ganhou mais circulação depois de uma apresentação no BRIT Awards de 1996, na qual Jarvis Cocker interpretou a performance muito literalmente. Alguém alegaria que Michelangelo ou Rembrandt são “messiânicos” por pintar a crucificação? Jackson estava, sem dúvidas, usando icônicos símbolos e gestos messiânicos nas performances dele. O que é, raramente, levado em consideração, no entanto, é como, como um dançarino/artista de palco, o corpo dele atua como tela. Verdadeiramente,

 “incorporar” a música significa permitir a si mesmo a liberdade de se tornar qualquer coisa que a música e a letra ditar. (75)

Jackson, portanto, dessa forma, usa gestos e símbolos messiânicos, não porque ele pensa que ele é o messias, mas em razão do que este arquétipo pode comunicar e expressar artisticamente. Com esta obra em particular, era o melhor jeito que ele poderia pensar para transmitir a agonia, o sofrimento e redenção da música.

O criticismos em relação ao curta-metragem de Jackson para “Earth Song”, dirigido pelo talentoso e ótimo fotografo de arte Nick Brandt, similarmente, perderam o ponto. (76) Apenas a mais simplista (ou, propositalmente, hipócrita) interpretação iria lê-lo como Jackson fingindo que ele tinha o poder de, magicamente, resolver todos os problemas do mundo. Na verdade, no vídeo, ele é retratado como todos os outros, envolto pela repercussão da ganância e violência humana. “As caretas dele estão duras de remorso, medo, raiva e determinação”, nota o crítico cinematográfico Armond White. “Ele está fazendo algo quase miraculoso – dramatizando arrogância para o propósito de iluminar e melhorar avida para outros... A postura dele, segurando-se em galhos de árvores enquanto é esbofeteado pelo vento do destino, não é sacrifício, não é uma crucificação, é um posicionamento. Michael está apostando na crença de onde e como nós vivemos.” (77)

O filme foi gravado em quatro diferentes lugares em todo o mundo: a floresta equatorial Amazônica, um campo na Tanzânia, uma zona de guerra da Croácia e uma floresta completamente queimada em Nova Iorque. Depois de mostrar imagens de desflorestamento, poluição, morte e crueldade, Jackson (além do pequeno grupo de pessoas de outras partes do mundo), cai de joelhos, enterrando os punhos no solo em desesperada súplica. É esse simbólico gesto que inicia o imaginado reverso. Apenas por se importar com a dor da Terra (e dos Outros), por entender como estamos conectados, e por nossa coletiva vontade de mudar, nós podemos esperar curar o mundo.

O filme, destarte, é sobre contrastes: o mundo como ele é o mundo como ele poderia ser. Embora Jackson esteja no centro do filme, ele não é retratado como um “messias”, mas em vez disso, como “a voz dos que choram na vastidão”.


74. “Lacrymae Rerum: Reflexões de um Artista Visual Informado e Inspirado por Gestos de Transcendência na Arte Passional de Michael Joseph Jackson.” Paixões dos Céus em Expressões de Grande Arte. Sociedade Internacional de Fenomenologia. Grande Arte e Estética, 16ºm Conferência Anual. Universidade de Harvard. 18 de maio de 2011.
75. “Quando Jackson incorporou uma particular postura arquetípica”, nota Constance Pierce, “o corpo físico dele se transformou em uma espécie de símbolo, elegante caligrafia, no que, o Divino pode canalizar gestos de explosiva emoção ou íntima compaixão. O artista se tornou xamantico, assumindo nossas massivas ‘sombras’ cumulativas e varrendo tudo isso para a luz”. “Lacrymae Rerum: Reflexões de Um Artista Visual Informado e Inspirado por Gestos de Transcendência na Arte Passional de Michael Joseph Jackson.” Paixões dos Céus em Expressões de Grande Arte. Sociedade Internacional de Fenomenologia. Grande Arte e Estética, 16ºm Conferência Anual. Universidade de Harvard. 18 de maio de 2011.
76. “O momento mais interessante para mim”, recorda o diretor Nick Brandt, “foi com ‘Earth Song’, quando eu tive um monte de Nova Iorquinos cansativos, muito cínicos como equipe, para a parte da filmagem que ele estava. Ele apenas diziam: ‘oh, sim, Michael Jackson, da-da-da-da-da’, mas depois, quando ele começou a cantar, no fim da música, e ele estava gritando os vocais... você poderia ver, você olharia em volta e todos tinham parados nos trilhos deles, e o estavam assistindo, cravado. E ele apenas me deu uma tomada de cada ângulo, porque ele foi soprado por estas máquinas de vento e coisas estavam voando nos olhos dele. Eu quero dizer, isso foi muito difícil, eu quero dizer, disparando poeira e folhas e todo tipo de coisas no rosto dele. E todo mundo ficou eletrificado. Ele, completamente, transformou a todos.”
77.  Armond White diz que Earth Song está “entre as mais magnificas combinações de música e imaginário no centenário do cinema.” Keep Moving: The Michael Jackson Chronicles. Resistance Work. 76-79

0 comentários:

Postar um comentário