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domingo, 28 de outubro de 2012

Man In The Music: Introdução III "Uma Educação Incomum"


 
UMA EDUCAÇÃO INCOMUM
 
Entender Jackson como um dançarino e performer é crucial para entendê-lo como um cantor e compositor, pois, se, alguma vez, existiu alguém que exemplificou o título “cantor e dançarino”, foi Michael Jackson. Ele aprendeu com os melhores: showmens como Sammy Davis Jr., James Brown, Jackie Wilson, Fred Astaire e Gene Kelly. Quando ele tinha apenas oito anos de idade, ele lhes assistia, do lado do palco, em legendários teatros como o Regal e o Apolo, absorvendo e aprendendo.

A maior revelação para o jovem Michael Jackson foi o “Padrinho do Soul”, James Brown. Como Elvis Presley foi para o jovem John Lenon, James Brown foi para Michael Jackson, embora, tivesse a vantagem de ver o ídolo dele de perto e pessoalmente. “Depois de estudar James Brown das coxias”, ele se lembra, “eu aprendi todos os paços, todos os grunhidos, todos os giros e voltas. Eu tenho de dizer, ele daria uma performance que te deixaria exausto, esgotá-lo-ia, emocionalmente. Toda a presença física dele, o fogo saindo dos poros dele, seria fenomenal. Você sentiria cada gota de suor no rosto dele e você saberia que ele estava esquentando. Eu nunca vi nenhuma performer como ele.”

Não foi penas a performance e dança de James Brown que Jackson incorporou. O característico ritmo de canto de Brown, o staccato vocal dele (com sílabas curtas, grunhidos, gritos e exclamações), e o puro funk elementar dele está todo na música de Jackson. Jackson, é claro, adaptou e fundiu o estilo de Brown com outros, mas Brown foi, inquestionavelmente, a mais profunda influência, inicial, de Jackson.

A educação musical de Jackson continuou na Motown, onde ele foi cercado por alguns dos mais renomados músicos de uma era, incluindo Marvin Gaye, Gladys Knight e Smokey Robinson. Quando garotinho, ele foi especialmente fascinado por Diana Ross, com quem ele morou durante meses, depois de chegar a Los Angeles, em 1970. “Ela era arte em movimento”, ele escreveu mais tarde. “Eu a observei ensaiar um dia, no espelho. Ela não sabia que eu estava observando. Eu a estudei, o jeito como ela se movia, o jeito como ela cantava, o jeito que ela era.” Quando jovem adolescente, ele também ficaria no estúdio com Stevie Wonder, observando-o gravar um dos álbuns clássicos dele, incluindo Song in the Key of Life. “Ele sempre viria para o estúdio curioso sobre como eu trabalhava e o que eu fazia”, Wonder se lembra. “‘Como você faz isto? Por que você faz isto? ’ Eu acho que ele entendeu claramente, por ver várias pessoas fazerem a cena da música, que isso, definitivamente, funcionou.” Jackson, mais tarde, se referiu a Stevie Wonder como um “profeta musical”.

              James Brown, o “o homem mais trabalhador do show business”, em
              uma pose característica. Brown foi a maior influência de Jackson no início.


Houve muitas outras influências importantes durante os anos dele na Motown, que ajudaram a habilidade natural de Jackson: Suzanne de Passe, a primeira produtora dos Jacksons 5, coreografa, estilista, Relações Públicas, instrutora e um mãe substituta; um grupo de talentosos compositores e produtores chamado  “A Corporação”,  que incluía Deke Richard, Freddie Perren e Alphonzo Mizell; e Hal Davis, quem escreveu muitas das músicas da Motown dos Jackson 5 e de Michael, desde “I’llBe There” a “Dancing Machine”. Mas sem dúvidas, ninguém teve um impacto profundo no desenvolvimento do jovem Michael Jackson quanto o próprio criador da Motown, Berry Gordy. Gordy ensinou a Jackson perfeccionismo e meticulosa atenção a detalhes no estúdio. Se uma música precisasse ser tocada mais de cem vezes para ficar certa, eles a gravariam mais de cem vezes. Era um treinamento exaustivo, especialmente para um garotinho, mas Jackson aprendeu. “Eu nunca esqueci a persistência dele”, ele mais tarde escreveu. “Eu observava todos os momentos das sessões quando Berry estava presente e nunca esqueci o que eu aprendi. Atualmente, eu uso os mesmos princípios.”

Mas talvez o maior impacto de Gordy sobre Michael tenha sido incutir nele a ambição para ultrapassar classificações, conquistar o mundo da música o do entretenimento. Gordy era um experiente e perspicaz executivo, que sentia que a música negra podia (e deveria) alcançar as massas multirraciais e, até, a audiência internacional. Embora alguns sentissem isso como uma ambição comercialmente motivada, a princípio, que santificavam ou integralizavam a música negra, não há dúvidas de que fez significantes invasões em uma indústria que era, naquele momento, ainda quase segregada racialmente.

O projeto de Gordy foi importante, não apenas porque criou um clima para que artistas como Jackson fossem aceitos pela audiência branca e internacional, mas também porque era uma ideologia de inclusão, que Jackson, mais tarde, adotaria de todo o coração. Pelo resto da carreira, ele se recusou a ser rotulado por raça, gênero, nacionalidade e tudo o mais. Música, ele sentia, era universal. E um garoto de Gary, Indiana, podia ser o “Rei”.

Essa filosofia foi, na verdade, grande parte do motivo pelo qual Jackson foi atraído por Quincy Jones. Jones, ele explicou em uma entrevista, em 1980, era “ilimitado musicalmente”: ele fazia tudo, desde jazz a pop e partitura clássica. Ele era, também, “multicolorido”, o que significava, para Jackson, que o trabalho dele não seria encaixotado em “música negra”.

Na verdade, enquanto Jackson era claramente enraizado musicalmente, e de outras maneiras, nas tradições afro-americanas, a variedade de influências se desenvolveu muito além de qualquer raça ou etnia. “Eu amo boa música”, ele explicou. “Não tem cor, não tem limites.” Os próprios interesses musicais de Jackson, inicialmente, estenderam de funks pioneiros como P-Funk e Sly and the Family Stone a grupos de pessoas como Carpenters e os Mamas & the Papas; de Broadway a cantores de baladas, como Julie Andrews e Barbara Streisand e sensações disco como o Bee Gees.

Jackson adorava experimentar arte como um fim em si mesma (o que ele, frequentemente, chamava de “a mágica”), mas ele também queria entender a “anatomia” da arte. Ele queria entender tudo sobre como a arte funcionava, a história da arte, por que tinha resistido à prova de tempo, quais eram as possibilidades. Quando ele conheceu Quincy Jones, no final dos anos setenta, embora ainda um adolescente, ele já tinha, aproximadamente, uma década de experiência aprendida de primeira mão com alguns dos mais renomados músicos e compositores na indústria. Jones descreveu-o como uma “esponja”.  “Ele queria ser o melhor em tudo... absorver tudo”, Jones disse. “Ele foi ao modelo máximo de cada categoria para criar uma atitude e pessoa que seria inigualável.”

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