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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

M Poetica : A Arte de Conexão e Desafio de Michael Jackson: Blood on the Dance Floor


Blood on the Dance Floor

 

É claro, Jackson estava errado quando ele cantava: “Você não pode me ferir”. Todos têm fraquezas. Em 1993, um ano depois do lançamento de Jam, Jackson foi acusado de abusar sexualmente de um menino e os resultados foram devastadores para todos os desenvolvidos. Blood on the Dance Floor, do álbum, de 1997, de mesmo nome, retrata um caótico mundo sombrio. Por toda a vida e trabalho, Jackson incorporou arte, e, especialmente, dança, tanto socialmente quanto pessoalmente transformativo. Mas agora há “sangue na pista de dança” e a dança em si se tornou contaminada, meramente mais uma forma de sedução e traição.

Jackon senta em uma cadeira em uma boate, irritado e desorientado. Críticos musicais o castigaram por sentar a maior parte do vídeo, mas esse é precisamente o ponto. E quando ele vai para a pista de dança, ele apresenta uma dança muito diferente do que nós já o tínhamos visto dançar antes. Ele não é o líder de uma gangue de dançarinos, definitivamente alegres no meio de um ambiente sem vida. Em vez disso, ele é outro cansado da vida cara. E ele não está dançando para transformar o mundo dele ou ganhar renovação, mas para se perder, esquecer. Como ele canta: “Para escapar do mundo eu tenho que desfrutar desta simples dança”.

Mas Jackson não é meramente um dançarino nesse vídeo; ele é também o narrador de uma história de violência e revanche. Uma mulher, Susie, é seduzida no clube e abandonada. Ela, então, planejou para matar o amante desiludido dela, na pista de dança, com uma faca. De muitas formas, esse vídeo é uma continuação do ciclo Billie Jean/ Dirty Diana, mas naqueles vídeos Jackson trabalhou para entender essas personagens. Aqui, ele não. Susie é simplesmente tão diferente Ele pode se simpatizar com uma mãe solteira ou adotar o ponto de vista de uma groupies, mas ele aprece não precisar entrar na cabeça de uma assassina.

A envolvente personagem Billie Jean / Dirty Diana/ Susie tinham, finalmente, se tornado um monstro, apesar dos esforços de Jackson para humaniza-la. (Ela também se tornou masculina, ela crava a faca “sete polegadas dentro”.) Mas como Billie Jean e Diana, ela não é apenas uma mulher. Ela também representa audiência de Jackson – uma audiência que não está satisfeita com as performances públicas dele, mas que acesso à vida privada dele, da mesma forma. Billie Jean dança com o narrador, depois, tenta retirá-lo da pista de dança, alegando que ele é o pai do bebe dela. Dirty Diana ama o artista que ela vê dançando no palco, depois, tenta tirá-lo do palco, também, entrando no carro dele e convidando-o para ir para casa com ela. E Susie foi seduzida por um homem que ela conheceu na pista de dança, e, quando ele não quer nada mais que isso, ela o apunhala na pista de dança.

Interessantemente, a letra de Blood on the Dance Floor move para frente e para trás o “você” do sedutor e o “eu” do narrador. O sedutor e o narrador têm histórias paralelas, e Susie está lá fora para pegar os dois. Isso sublinha o que Jackson, mais uma vez, está contando a história dúbia de uma mulher com o amante dela, assim como o artista com a audiência dele. O amante de Susie a seduziu na pista de dança, exatamente como Jackson nos seduziu, a audiência dele, no palco. Nós nos apaixonamos pelo Michael Jackson que nós vimos cantando e dançando no palco. Mas como Billie Jean, Diana e Susie, nós queríamos reclamar a pessoa por trás do artista também, a pessoa que existia fora da pista de dança, e fora do palco. E quando não pudemos pegar isso – quando a aparência em transformação dele e as perturbadoras entrevistas nos confundem, e ele, simplesmente, não seria quem nós queríamos que ele fosse – nós nos voltamos contra ele com toda a ira de um amante desdenhado e o atacamos.

É importante notar que o Michael Jackson “piadas” e a crucificação tabloide “Wacko Jacko” começaram muito antes das acusações de abuso sexual. Jackson lançou Leave Me Alone, a resposta dele ao bombardeio dos tabloides, em 1987 – seis anos antes das acusações de 1993, e 18 anos antes do julgamento de 2005. Em uma entrevista, em 1987, Robert Robertson do The Band, falou sobre este “estranho fenômeno americano, no qual nós pegamos estes heróis e nós os construímos e o expulsamos do paraíso. Nós continuamos a falar do assassinato de John Lenon, mas nós atacamos artistas populares de uma maneira mais sutil, da mesma forma: com palavras e piadas cruéis e um tipo único de desprezo que reservamos apenas para estrelas que, por qualquer razão, não mais nos encanta”.

Kacosn estava bem consciente desse fenômeno e falou sobre isso na entrevista de 1984 no auge da fama dele: “Streisand uma vez disse... ‘Eu superei isso, em 20/20’, ela disse que quando ele chegou, ela era nova e fresca e todo mundo a amou. Eles a elevaram e então... eles a derrubaram... Você sabe, ela é humana. Ela mão pode aguentar isso”.

Nós fizemos a mesma coisa com John Travolta, Houve um tempo, após o colapso do disco, quando Travolta era tão miseravelmente impopular que isso era como uma doença contagiosa capaz de infecta todo mundo que ousasse defende-lo: admitir que você gostava do trabalho de Travolta ou apreciava o talento dele era revelar que você mesmo era, terminantemente, chato.

Nós nos voltamos contra Elvis Presley também. Nós tendemos a esquecer disso por causa da renascente popularidade dele depois que ele morreu, mas há uma razão porque ele passou os últimos anos da carreira dele tocando em boates bregas em Las Vegas. Piadas e paródias sobre Elvis eram um grampo para de rotinas de comédias e passatempo nos programas de rádio nos anos setenta, embora olhando para trás com nostalgia, nós, convenientemente ignoremos o quão difuso o sentimento anti-Elvis estava de volta, então, ou o quão viciosamente ele era atacado – pela alegada paranoia dele e excesso, as armas dele, o peso dele, os sanduiches de nana com manteiga de amendoim dele, os terninhos dele e gola alta, até mesmo o distintivo estilo vocálico dele.

Os americanos se voltaram contra um dos heróis de Jackson, Charlie Chaplin, também.  Embora um cidadão bretão, Chaplin se tornou um dos atores mais amados da América, e ajudou os americanos a superar dias guerras e a Grande Depressão. No entanto, ele teve uma tempestuosa vida amorosa e uma suposta ascendência judaica (o que ele se negou a confirmar ou negar, dizendo que qualquer uma das declarações poderia ser usada para apoiar antissemitismo), ele foi criticado pelos esforços políticos, antes e durante a II Guerra Mundial. Em Chaplin: Uma Vida, o biografo Stephen Wissman alega que isso resultou em esforços engendrados para desacreditá-lo:

A reação contra Chaplin reuniu ímpeto no final de 1942. Westbook Pegler, um jornalista conservador..., deu o pontapé inicial na campanha com duas mordazes invectivas. Caracterizando as atividades de Chaplin em apoio ás nossas alianças militares com os soviéticos como pro-comunistas antiamericanas, ele recomendou deportação. E com ainda mais veemência, Pegler também sugeriu que os três divórcios anteriores do ator eram provas claras do desprezo dele pela pátria “pelos padrões americanos de relacionamento de casamento, família, e lar”.

A última acusação provou ser uma que pegou mais facilmente... Chaplin estava bem no caminho dele de ser publicamente marcado como um “leproso moral”.

O que é, talvez, mais mordaz sobre esse estágio da vida de Chaplin era a acurada consciência dele de que a audiência dele poderia se voltar contra ele.

Os pais de Chaplin eram, ambos, artistas talentosos, que terminaram a carreira deles em desprezível pobreza, e Wissman escreve sobre “o medo fixo” de Chaplin de que, como os pais dele antes dele, ele também estava a ser desprezado e esquecido pelo público, uma vez apaixonado, dele.

Os americanos suavizaram as condenações moralistas sobre ele por volta do fim da vida dele, e, quando ele foi premiado com o Oscar Honorífico em 1972 aos 82 anos, ele recebeu a mais longa ovação de pé de acordo com um premiado do Oscar. Alistair Cooke notou: “ele é agora – como diz a canção – ‘fácil de amar’, absolutamente seguro de adorar.” É claro, tudo foi esquecido quando ele morreu e os americanos voltaram a escarniá-lo mais – um padrão que temos repetido com inúmeras estrelas, desde então, incluindo Elvis Presley e Michael Jackson.

Nós nos voltamos contra um chocante número de artistas, incluindo performers tão diversos quanto Liza Minelli, Berry Gibb do Bee Gees e Sammy Davis Jr. Significativamente, Jackson foi publicamente apoiado por todos os três, antes que eles caíssem da graça do público. Ele era um amigo de longa data de Liza Minelli e a conduziu no casamento dela; ele era amigo próximo de Barry Gibb e padrinho do filho dele, Michael; e ele abertamente admirava Sammy Davis Jr., e escreveu um lindo tributo para a celebração do 60º aniversário dele, cantando:

 

Você esteve lá, e graças a você

Agora há uma porta por onde todos nós entramos

Sim, eu estou aqui porque você esteve lá

 

Jacksons e recusou a deixar a opinião do público influenciar a afeição dele por esses artistas ou oscilar o julgamento deles sobre o talento ou contribuições deles. Quando Eminem realizou um vídeo ridicularizando Jackson em 2005, um momento quando a opinião do público estava amplamente contra ele, Jackson replicou: “Eu tenho sido um artista na maior patê da minha vida, fazendo o que eu faço, e eu nunca ataquei um colega artista”.  Na verdade, ele sentia que artistas deveriam se unir e ajudar uns aos outros a lidar com a tempestade de uma inconstante e, às vezes, cruel audiência.

Mesmo como um jovem artista, Jackson foi muito consciente dos perigos que artistas e entretainer enfrentam. Um repórter gravou esta troca durante uma entrevista nos bastidores de um concerto em 1982:

Michael está questionando um dançarino se ele sabe sobre as recentes crises de um de um caído superstar. Michael quer saber qual é o problema. O dançarino fez mímica para a resposta dele, passando um dedo sobre o nariz dele. Michael balançou cabeça e traduziu para o amigo dele: “Drogas. Cocaína”.

... “Eu sempre quis saber o que faz bons performers desmoronarem. Eu sempre tentei descobrir. Porque eu simplesmente não posso acreditar que é a mesma coisa que os pega de novo e de novo.”

Nas músicas dele, Jackson aborda o lado mais sombrio da vida de um artista, incluindo isolação, vício ou, mais frequentemente, o espectro de um público imprevisível e potencialmente ameaçador. Mesmo a veloz “Wanna be Startin’ Somethin’” tem, notoriamente, letras sombrias – “Você é apenas um buffet. Você é um vegetal./Eles comem você. Você é um vegetal” – e nos diz: “Você faz Meu Bem chorar”.  Ele retorna a essa imagem em “Monster”, do álbum póstumo dele, Michael, cantando: “Você dá a eles tudo de si. / Eles lhe assistem cair./ E eles comem sua alma como um vegetal.”

Quando ele produziu Blood on the Dance Floor, os piores medos de Jackson se tornaram, horrivelmente, realidade. As acusações de abuso sexual infantil contra ele dominaram a mídia por meses e, como Chaplin antes dele, Jackson “estava bem no caminho dele de ser publicamente rotulado de um ‘leproso moral’”. A imprensa e o público estavam, agora, atacando-o, tão fervorosamente quanto, uma vez, o idolatraram e, dentro do espaço de um ano, ele foi de ser um dos mais amados homens do mundo a objeto de desprezo e mesmo ódio. Ele escreveu músicas temendo um público ameaçador por mias de uma década. Ironicamente, no entanto, uma vez que essa mudança no humor do público verdadeiramente aconteceu, isso não era a preocupação principal. Enquanto ele está desconfiado desta criatura furiosa que se virou contra ele. Ele está cada vez mais horrorizado pela devastação espiritual da pista de dança

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Erga-a Com Cuidado


Erga-a Com Cuidado
 
 
 
Postado por Joie e Willa em 21/02/2013
Traduzido por Daniela Ferreira
 
 
Joie: Willa, eu estava pensando em "Little Susie" recentemente, e as palavras dessa canção realmente me surpreendeu. Você sabe, essa é uma música que eu não acho que já recebe o reconhecimento que merece e eu acho que é por causa do assunto. É uma coisa triste, deprimente, e preocupante para pensar, ninguém quer debruçar sobre ele. Mas a música em si é verdadeiramente bela, e a música meio que comanda sua atenção desde o início. Na verdade, muitas vezes, eu me pego cantarolando a melodia dos compassos iniciais porque é tão assombrosamente bela.

Mas quando eu estava cantando para mim mesmo há alguns dias, eu comecei a realmente escutar as palavras e isso me fez pensar sobre Michael e essa ligação profunda, quase empática, que ele parecia compartilhar com as crianças em geral, mas com crianças que sofrem em particular. E eu realmente não estou falando de doentes terminais.
Nós todos vimos as imagens de Michael sentado ao lado da cama de alguma criança pobre, doente, oferecendo qualquer conforto que ele podia. Ele era tão famoso por isso quanto era pelo talento incrível. Mas eu estou falando sobre aquelas crianças que sofriam de uma forma diferente. Aqueles que estavam sendo abusadas ou negligenciadas. Ele compartilhou uma conexão real com essas crianças, bem como, e até escreveu sobre isso em canções como "Little Susie" e "Do You Know Where You Cjildren Are".

Willa: Ah, eu concordo completamente, Joie. "Little Susie" é "assombrosamente bela", como você diz, e bem complicada também – uma das canções mais complicadas dele, em alguns aspectos – por isso leva um pouco de esforço para compreendê-la totalmente. Mas também é tão deprimente ao pon to de lhe fazer cortar os pulsos, e eu acho que você está certa – ela tende a ser afastada porque é tão perturbadora e deprimente.

Joie: Realmente é. E quando você sentar e realmente escutar as palavras, é de partir o coração. A canção conta a história de uma menininha negligenciada, Susie, que está, basicamente, por conta própria. Como ele diz em um verso:
 
Father left home, poor mother died
Leaving Susie alone
Grandfather’s soul too had flown
No one to care
Just to love her
How much can one bear

Pai saiu de casa, pobre mãe morreu
Deixando Susie sozinha
Alma do avô também tinha voado
Sem ninguém para se importar
Só para amá-la
Quanto pode alguém suportar?
 
Então, nós não sabemos se Little Susie está em um orfanato, ou se algum outro membro da família tinha ficado com ela. Tudo o que sabemos é que ela é muito só, e a única pessoa que realmente sente a perda dela é o homem da porta ao lado, pois Michael nos diz isso:
 
Everyone came to see
The girl that now is dead
So blind stare the eyes in her head
And suddenly a voice from the crowd said
“This girl lived in vain”
Her face bears such agony, such strain
But only the man from next door
Knew Little Susie and how he cried
As he reached down to close Susie’s eyes

Todos vieram ver
A menina que agora está morta
Tão cego o olhar nos olhos na cabeça dela
E de repente uma voz do meio da multidão disse
"Esta garota viveu em vão"
O rosto dela tem tanta agonia, tal tensão,
Mas só o homem da porta ao lado
Conhecia a pequena Susie e como ele chorou
Quando ele se abaixou para fechar os olhos de Susie
 
Portanto, não sei muito sobre ela, nós nem sequer sabem quantos anos ela tinha. Tudo o que sabemos é que ela estava sozinha e ela viveu uma existência muito triste, sem sentido. Negligenciada por todos na vida dela, com a possível exceção do homem da porta ao lado.

Willa: Isso é verdade, Joie, e esse isolamento extremo – uma criança sozinha, sem família para amar e protegê-la e cuidar dela – é um elemento muito importante desta canção. Você sabe, eu não sabia disso até eu assistir os vídeos da
MJ Academia Project, mas eles disseram que a letra foi inspirada por “A Ponte dos Suspiros”, um poema de 1844 por Thomas Hood. Como “Little Susie”, é um poema sobre uma jovem mulher completamente sozinha no mundo. Como Hood pergunta:
Who was her father?
Who was her mother?
Had she a sister?
Had she a brother?

Quem era pai dela?
Quem era mãe dela?
Ela tinha uma irmã?
Ela tinha um irmão?
 
No entanto, ao contrário de Susie, a jovem tem um lar e uma família, mas a colocou para fora quando ela ficou grávida:
 
Sisterly, brotherly,
Fatherly, motherly
Feelings had changed:
Love, by harsh evidence,
Thrown from its eminence;
Even God’s providence
Seeming estranged.
 
Fraternal, fraterno,
Paternal, maternal
Sentimentos mudou:
Amor, por provas duras,
Lançada a partir da eminência dele;
Mesmo a providência de Deus
Parecendo alienada.
 
Então ela tem uma família, mas eles se voltaram contra ela, e como Susie (embora por razões diferentes), ela, de repente, se vê completamente sozinha, vulnerável e abandonada – “Mesmo a providência de Deus / Parecendo alienada”. Em uma situação aparentemente sem esperança, sem ninguém a quem recorrer, essa mulher jovem, sem nome, comete suicídio ao pular de uma ponte e se afogar em um rio.
Assim como “Little Susie”, “A Ponte dos Suspiros” centra-se em uma história dolorosa e perturbadora – que em 1800, em especial, teria sido considerado um tema impróprio para uma conversa educada. Mas através da interpretação compassiva do poema da história dela, isso nos encoraja a olhar para uma situação que é geralmente ignorada e sentirmos simpatia por essa mulher frágil e jovem, que não tinha ninguém para lhe confortar e ajudar. Como Hood escreve na única estrofe repetida:
Take her up tenderly
Lift her with care;
Fashion’d so slenderly
Young and so fair!

Leve-a com ternura
Levante-a com cuidado;
Vestida tão graciosamente
Jovem e tão justa!
 

Isto é muito semelhante ao coro de “Little Susie”:
She lies there so tenderly
Fashioned so slenderly
Lift her with care
So young and so fair

Ela está deitada lá tão delicadamente
Vestida tão graciosamente
Levante-a com cuidado
Tão jovem e tão justa
 
Em ambos os casos, Thomas Hood e Michael Jackson estão incentivando-nos a olhar para uma situação que nós podemos não querer pensar. Mais do que isso, eles estão nos pedindo para abrir os nossos corações, assim como nossos olhos, e tentar nos preocupar com alguém que ninguém se preocupava enquanto ela estava viva.
 
Joie: Isso é tão verdadeiro, Willa. E isso é algo em que Michael Jackson era muito bom – incentivar-nos a abrir os nossos corações e cuidar profundamente por aquelas almas perdidas e esquecidas que ninguém mais quer se preocupar.
E eu amo que você tenha apontado esse poema de Thomas Hood. Eu também não tinha ideia sobre a conexão de “Little Susie” e a “A Ponte dos Suspiros” antes de assistir os vídeos de MJ Academy Project, mas as comparações e as semelhanças são realmente fascinantes. Eu adoro a simetria entre a estrofe repetida no poema de Hood e o refrão repetido em “Little Susie”.

Willa: Eu também, e a maneira como Michael Jackson evoca esse velho poema acrescenta tanta profundidade para as letras, eu acho. E nós os fazendo algo semelhante com a música também. Por exemplo, “Little Susie” abre com um coro cantando de “Pie Jesu” de Requiem, de Maurice Duruflé. Aqui está um link para Sarah Connolly, mezzo-soprano, cantando “Pie Jesu”, que pode ser traduzido como “Jesus Piedoso”:
 

Então ouvimos uma jovem enrolando uma caixa de música e cantando a melodia de “Little Susie” – não as letras, apenas as notas. Isso é seguido por alguns compassos de uma das minhas músicas favoritas, “Sunrise, Sunset” de O Violinista no Telhado. E então – quase a meio tempo de execução dos 6 minutos e 30 de “Little Susie” – Michael Jackson finalmente começa a cantar as linhas de abertura. Assim, “Little Susie” abre com 3 minutos de citações musicais, e essas referências musicais fornecem um contexto importante para o que estamos prestes a ouvir.

Um réquiem é a música escrita para uma Missa de Requiem, que é uma cerimônia muito formal e altamente ritualizada, marcando a passagem de um membro da comunidade, em geral, uma figura proeminente. E “Sunrise, Sunset” fornece acompanhamento musical para outra cerimônia muito formal e altamente ritualizado: um casamento judaico na virada do século 20 na Rússia. Aqui está um clipe de "Sunrise, Sunset" da versão cinematográfica de O Violinista no Telhado:
 

Assim, Michael Jackson escreveu uma canção comovente sobre uma menina cuja vida passou despercebida – uma figura solitária e insignificante, conhecida apenas pelo inominável “homem da porta ao lado”, como você mencionou anteriormente, Joie. No entanto, ele prefacia essa canção evocando rituais realizados para aqueles que são importantes e profundamente ligados às comunidades deles, o que aumenta ainda mais o sofrimento do isolamento de Susie – da completa desconexão dela com uma comunidade que poderia tê-la alimentado e protegido.
Ests longa introdução executa outra função, também, eu acho – ela sugere que Michael Jackson sentiu que Susie merecia um ritual de passagem também. E assim ele criou um – uma cerimônia para marcar a passagem de uma amada e desprotegida pela comunidade dela. Nesse sentido, o badalar dos sinos no final de “Little Susie” é especialmente importante, porque eles gravam um considerado insignificante demais para ter o requiem dela própria.

Joie: Eu concordo plenamente com você, Willa. Ele estava fazendo um ponto muito específico, muito importante com essa música do início ao fim. Ele estava tentando nos mostrar que todos merecem um “ritual de passagem”, como você chamou. Todo mundo merece ser amado, enquanto nós estamos aqui, e imortalizado quandopartir. Eu acredito que foi uma ideia que era muito importante para ele. Você sabe, o nosso amigo, Joe Vogel, teve isto a dizer sobre “Little Susie” no livro dele, Man in the Music:
“Little Susie” é mais uma prova do alcance e profundidade de Jackson como artista. A canção também demonstra o compromisso delle com a visão criativa dele, independentemente de quem possa alienar. Muitos críticos ficaram simplesmente perplexos que um “miniópera”, sobre um assunto tão sombrio e grotesco pudesse pousar em um disco pop mainstream. “O que ela está fazendo em um álbum com Dallas Austin e Jam e Lewis é uma incógnita”, escreveu a Rolling Stone. Para Jackson, no entanto, o raciocínio para “Little Susie”... era muito simples: Ele acreditava que era uma grande peça. Expectativas comerciais de viabilidade ou audiência não importavam. O que importava era a conexão pessoal, a história, a melodia.
Assim, além da melodia, era a ligação pessoal e a história que eram importantes para ele. Tão importante que não lhe importava o que os críticos pensassem ou quais eram as expectativas do público. Era uma história que, ele sentia, precisava ser contada.
 
Willa: Eu concordo, e eu adoro a forma como Joe empurra de volta contra a noção frequentemente expressa, ainda completamente falsa, que Michael Jackson media o trabalho dele estritamente em termos de vendas de discos. Como Joe escreveu e você citou: “Ele acreditava que era uma grande peça. Expectativas comerciais de viabilidade ou audiência não importam.”

Joie: Sim, você sabe, eu nunca entendi qesse rgumento, Willa. Tudo que você tem a fazer é realmente examinar o corpo de trabalho solo dele e você vê que tal falso argumento não se sustenta. Mas, Joe Vogel também passa a apontar que obra-prima essa música realmente é:

Enquanto “Little Susie” permanece em grande parte desconhecida, ela é uma das canções mais pungentes e únicas em todo o catálogo dele. “Se ele decidir deixar de ser um cantor pop”, escreveu Anthony Wynn, “esta música [é] prova de que ele poderia compor música para filmes e seriamente ganhar o Oscar por isso. É triste, assustadora, bonita”. Na verdade, “Little Susie” reafirma as habilidades substanciais dele como compositor.

E você sabe, Willa, é simplesmente uma vergonha como essa declaração é verdadeira. “Little Susie” é quase praticamente desconhecida fora do mundo dos fãs e ela realmente não devia ser. É uma música tão bonita, com tanta coisa para dizer.

Willa: É realmente, e até mesmo entre os fãs, ela não é especialmente bem conhecida ou bem quista. Ela não é uma canção de bem-estar, não importa o jeito que você olhar para ela. Mas enquanto a história que ela conta pode ser dolorosa de se ouvir, ela tem algo importante a nos dizer, no entanto.
Mas estou intrigada com a crença de Anthony Wynn de que Michael Jackson teria sido um compositor de sucesso de trilhas sonoras de filmes. Eu acho que é verdade, em parte porque a música dele é muito visual, de certa forma, como você e eu falamos com Lisha McDuff em um post em março passado, “Som de visualização” Além disso, ele era hábil em integrar a música a partir de muitos gêneros diferentes para criar efeitos dramáticos que funcionam muito bem em filmes, eu acho. E a música dele, muitas vezes, tinha uma grande varredura para isso, como a música de bom filme muitas vezes tem – como “Sunrise, Sunset” tem, por exemplo.

Na verdade, é muito interessante olhar para “Sunrise, Sunset”, tanto em comparação com “Little Susie” e como ela funciona dentro de “Little Susie”.  É um motivo muito importante essa canção. Michael Jackson a cita quatro vezes: na introdução antes do primeiro verso e, novamente, após cada refrão, inclusive após o refrão final, que leva o badalar dos sinos. E, tematicamente, “Sunrise, Sunset” forma um contraste forte com “Little Susie”, porque é a canção que um pai, uma mãe, e toda uma comunidade canta como uma jovem mulher que se casa, deixa a casa dos pais, e começa uma família dela própria. Então, é uma canção de amor para a filha – de esperança para o futuro dela, assim como a dor de perdê-la – e que comemora a passagem agridoce do tempo.
Importante, o homem com quem ela vai se casar é aquele que ela ama, que ela aceitou para si mesma, não o que pai aceitou por ela. Na verdade, agora que penso nisso, há uma forte corrente em “Little Susie” sobre a relação tensa entre pais e filhas. “A Ponte dos Suspiros” é a história de uma jovem mulher que ama um homem, sem primeiro obter a permissão do pai dela, razão pela qual ele e o resto da família a rejeitam – e, sem a proteção de um homem, a partir de qualquer pai ou um marido adequado, ela morre.
O Violinista no Telhado, então complica essa história. Ele é baseado em um romance, Tevye as Filhas dele, sobre um leiteiro judeu e as cinco filhas dele, e centra-se sobre a questão de quem deve ser permitido escolher os futuros maridos. A filha mais velha adora um alfaiate pobre, não o açougueiro rico a quem Tevye a prometeu. Mas ele vê que ela o ama, e depois de alguma procura da alma dá-lhes a bênção e apoio. “Sunrise, Sunset” é a canção de casamento deles, então, nesse sentido, fornece um contraponto exato para “A Ponte dos Suspiros”.

A segunda filha de Tevye o tensiona ainda mais a partir das crenças tradicionais dele; ela se apaixonando por político radical e estudioso judeu de fora da cidade. É difícil para ele, mas ele respeita o homem jovem e sabe que a filha o ama e ele, novamente, dá a bênção. Mas então a terceira filha se apaixona por um jovem russo que não é judeu, e Tevye não pôde aceitar isso. Quando ela foge com esse jovem, Tevye a repudia – ele fica profundamente triste com isso, mas mesmo assim ele diz á família dele que ela “está morta para nós. Nós vamos esquecê-la”. Ela lhe implora “eu o imploro que nos aceite”, mas ele não pode. Como ele diz: “Se eu tentar dobrar muitpo, eu vou quebrar”. Então ela acaba abandonada pela família dela, embora, ao contrário da jovem em “A Ponte dos Suspiros”, ela tem um marido para ficar com ela.
É muito interessante para mim que Michael Jackson cuidadosamente situa a história de “Little Susie” contra o pano de fundo dessas outras histórias de mulheres jovens aceitas ou rejeitadas pelos pais. Como você disse anteriormente, Joie, Susie foi abandonada pelo pai; a mãe e o avô morreram, então ela não tem família e nehum proteção masculina de qualquer tipo – e sem o apoio deles, ela morre. Então, se nós tomarmos uma abordagem feminista, em “Little Susie” há uma crítica sutil, mas forte, desse modelo patriarcal, onde as meninas, e até mulheres jovens, simplesmente não podem sobreviver sem uma figura masculina protegendo-as e apoiando-as. Podemos interpretar isso literalmente para significar um pai ou avô ou marido, ou mais expansivamente para significar a lei do pai, que inclui instituições que reforçam o poder masculino, como a família, a igreja, a polícia, os militares, os meios de comunicação, o mundo corporativo.
E, claro, Michael Jackson rotineiramente desafiaava todas essas instituições de poder e esteve constantemente resistindo, tanto ao próprio pai (literalmente) e à lei do pai (figurativamente). Assim, interpretando “Little Susie” dessa forma, parece se encaixar tanto a visão dele quanto o sistema de crenças dele.
 
Joie: Uau, Willa. Eu acho que eu nunca teria amarrado “Little Susie” à ideia de desafio às autoridades, ou ao poder masculino como lhe chamam. Mas isso é uma interpretação fascinante; obrigada por compartilhar isso! E eu amo o que você disse sobre a forte corrente da relação tensa entre pais e filhas em “Little Susie”, e eu acho que você está certa sobre o dinheiro aqui. Ao ouvir as letras, podemos supor que as coisas teriam sido muito diferentes para Susie se ela tivesse o pai em casa e tivesse sidoparte da vida dela. Certamente ela não teria sido deixada sozinha depois que a mãe e o avô faleceram. Talvez ela teria tido uma existência mais feliz e não teria sido tão negligenciada, se o pai e a mãe tivessem ficado juntos e criado um ambiente amoroso e estável para ela. Podemos imaginar um mundo onde a pequena Susie teve uma infância feliz com dois felizes pais amorosos. Mas infelizmente, não era o destino dela.
E você estava certa quando disse que mesmo entre os fãs, essa música não é muito bem conhecida ou bem quista, porque não é uma canção de bem-estar. Mas é uma música muito poderosa, e linda, que merece muito mais atenção do que recebe.
 

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Com A Caneta Você Tortura Homens


Com A Caneta Você Tortura Homens
 
 


Joie: Então, Willa, eu tenho pensado ultimamente sobre a existência de Michael e sobre como surreal seria ter esse tipo de escrutínio público sobre a sua vida 24 horas por dia, 7 dias por semana. Você pode imaginar o quão louco que seria? Ou como especial o seu tempo tranquilo e privado seria para você, se fosse a sua vida? Eu não posso imaginar ser uma figura pública nesse nível. Bem, em qualquer nível, mas realmente, especialmente nesse nível. Quando eu realmente apenas sento e contemplo, isso explode em minha mente. Ele realmente era uma dessas pessoas que o mundo gostava de ver e ouvir falar. Se você o amava ou amava odiá-lo, todo mundo sempre quis mais – não conseguimos o suficiente dele.

Willa: Isso é verdade, Joie. Toda a vida dele foi realizada em um palco global – não apenas as performances dele, mas a vida dele fora da tela também. E, como você diz, é quase impossível imaginar o que seria. E se cada coisa embaraçosa que você já disse ou fez alguma vez em sua vida fosse exposta para o mundo inteiro? Ou se os seus momentos mais dolorosos estivessem em exposição e debate por um público global? Basta imaginar: sua esposa pede o divórcio, o que é doloroso o suficiente, mas então, milhões de pessoas ao redor do mundo se sentem livres para especular sobre se ela realmente amou você, para começar. Isso é apenas inimaginável para mim.

Joie: É inimaginável. E impossível de quebrar a cabeça por aí. Muitas vezes ele escreveu sobre as experiências dele em músicas como “Leave Me Alone”, “Scream”, e “Privacy”.  E ele foi muitas vezes acusado por críticos de ser paranóico por causa disso. E, na verdade, se você pensar sobre isso, há muitas, muitas músicas que poderiam cair na categoria da “percebida paranóia”.
Canções como “Tabloid Junkie”, “Money” e “Is It Scary”.
Mesmo canções como “2Bad” e “This Time Around”.  E uma muito grande que me vem à mente é a música inédita “Xscape”. Essas letras são tudo sobre a “percebida paranóia”.
 
Everywhere I turn, no matter where I look
The system’s in control, it’s all run by the book
I’ve got to get away so I can clear my mind,
Xscape is what I need,
Away from electric eyes
No matter where I am, I see my face around
They pen lies on my name, then push from town to town
Don’t have a place to run, but there’s no need to hide,
I’ve got to, find a place,
So I won’t hide away
(Xscape) Got to get away from the system loose in the world today
(Xscape) The pressure that I face from relationships that could go away
(Xscape) The man with the pen that writes the lies that hassle this man
(Xscape) I do what I wanna cause I gotta please nobody but me
 

Para onde quer que eu me volte, não importa onde eu olho
O sistema está no controle, tudo é executado pelo livro
Eu tenho que ir embora para que eu possa limpar a minha mente,
Xscape é o que eu preciso,
Longe dos olhos elétricos
Não importa onde eu estou, eu vejo meu rosto ao redor
Eles mentem em meu nome, em seguida, empurram de cidade em cidade
Não tem um lugar para correr, mas não há necessidade de se esconder,
Eu tenho que encontrar um lugar,
Então eu não vou esconder
(Xscape) Tenho que ficar longe do sistema solto no mundo de hoje
(Xscape) A pressão que eu enfrento de relacionamentos que poderiam ir longe
(Xscape) O homem com a caneta que escreve as mentiras, que aborrecimento esse homem
(Xscape) Eu faço o que eu quero porque eu não tenho que agradar ninguém além de mim
 
 
Eu amo essa música muito, eu realmente espero que ela encontre o caminho para um álbum apropriado algum dia para que todos possam se divertir. Mas por agora, aqui está uma versão que você pode ouvir no YouTube:
 
 
 
 

Willa: Uau, Joie, eu nunca tinha ouvido essa música antes, mas é fascinante, não é? Os tambores têm esse ritmo rat-tat-tat-tat, como o fogo de metralhadora, e há efeitos sonoros eletrônicos que realmente dão a sensação de que ele está sob vigilância, ou mesmo sendo caçado por esses “olhos elétricos”. E as letras refletem isso também – sente-se que, não importa onde ele vá, ele está em um espaço confinado, com as paredes fechando.

Joie: As palavras são realmente meior que triste, de certa forma. Como é ver seu rosto em todos os tablóides, em todo lugar que você olha, com manchetes pouco lisonjeiras, falsas, e, até mesmo, francamente desagradáveis ​​ligadas a ele?

Você sabe, eu realmente nunca entendi a alegação de paranóia, absolutamente. Sim, ele parecia fazer questão de incluir pelo menos uma música como essa em todos os álbuns, mas por que rotulá-lo paranóico por simplesmente escrever uma canção sobre a experiência de vida dele? Isso só não me parece justo.

Willa: E você não está sendo paranóico se o que você está dizendo é verdade. Você só está sendo paranóico se você tem uma sensação ilusória de que as pessoas estão atrás de você quando eles não estão. Mas as pessoas realmente estavam lá fora para pegá-lo, desde paparazzis emboscando-o para uma foto de choque, aos alegados parceiros de negócios processando-o por um pedaço da riqueza dele, aos membros da família tentando encarregá-los de shows que ele não queria fazer, a executivos tentando espremer cada última gota de lucro que poderiam tirar dele. Isso não era paranóia. Essa era a vida dele.

Joie: Exatamente! Essa era a vida dele! Você sabe, eu estava assistindo o Globo de Ouro de algumas semanas atrás, e Jodie Foster estava recebendo o Cecil B. DeMille Award pelas realizações de uma vida dela no ofício. E no discurso, ela disse algo que realmente me impressionou e logo me fez pensar em Michael. Ela disse:
 
“Mas falando sério, se você tivesse sido uma figura pública a partir do momento que você era uma criança, se você tivesse que lutar por uma vida que parecia real e honesta e normal contra todas as probabilidades, então talvez você também pudesse valorizar a privacidade acima de todas as outras coisas. Privacidade.”

Essa parte do discurso dela realmente se destacou para mim, porque, como todos sabemos, Jodie Foster é uma atriz notoriamente privada, que é quase tão famosa pela forma como ela guarda ferozmente a privacidade como ela é pelo incrivelmente impressionante catálogo de filmes dela. Ela é também alguém que pode totalmente relacionar com o que Michael deve ter passado na vida dele. Como Michael, ela se tornou uma grande estrela e um nome familiar em uma idade muito, muito jovem, e ela tem feito grandes esforços ao longo dos anos para “lutar por uma vida que parecia real e honesta e normal”.  No entanto, a meu conhecimento, nunca ninguém a acusou de ser paranóica por tentar proteger a privacidade dela.

Willa: Isso é verdade, e eu não acho que Jodie Foster já experimentou o nível de intrusão que Michael Jackson experimentou. Ele realmente estava em câmera 24/7, como você disse. É como aquele filme, O Show de Truman, onde uma empresa de entretenimento adota um bebê e, em seguida, coloca toda a vida dele em exposição como um reality show prolongado. Na verdade, isso é interessante – Aldebaranredstar compartilhou uma citação de Peter Weir, o diretor de O Show de Truman, onde ele afirma que as ideias sobre a personagem principal veio de Michael Jackson:

“Você assisti ao O Show de Truman e, quero dizer, Jim Carrey fez um trabalho fantástico, mas Michael Jackson é Truman. Foi nele que eu o baseei, e ele é a coisa mais próxima de Truman.”

Joie: Você sabe, eu não tinha ouvido falar disso até depois que Michael faleceu. E eu nunca fui uma fã de Jim Carrey, assim, eu realmente nunca assisti ao O Show de Truman, acredite ou não. Mas desde que ouvi o comentário de Peter Weir, eu realmente quero vê-lo. Talvez eu vá alugá-lo neste fim de semana.

Willa
: Ah, é fascinante, Joie – especialmente assistindo a isso com Michael Jackson em mente. Eu acho que você vai extrair muita coisa.

Joie: Eu estou realmente interessada nele agora. Eu vou deixar você saber quando eu assistir. Mas eu quero falar sobre algumas dessas outras músicas que mencionei anteriormente. Por exemplo, as letras de “Tabloid Junkie” sempre me fascinaram, e quando eu penso sobre elas, no contexto dessa “percebida paranóia”, com que muitos tentaram rotular Michael Jackson elas se tornam relamente expressivas.
 
Speculate to break the one you hate
Circulate the lie you confiscate
Assassinate and mutilate
It’s the hounding media, in hysteria 

Especular para quebrar o que você odeia
Circular a mentira que você confisca
Assassinar e mutilar
É a mídia que perseguidora, na histeria
 

Essas são palavras muito fortes, e eu tenho certeza que a partir do ponto de vista dele e das experiências de vida dele, essas palavras foram muito verdadeiras.

Willa: Essas são palavras fortes, de som e significado. Na verdade, eu estou intrigada com os sons dessas palavras – especular, circular, confiscar, assassinar, mutilar – e como elas ecoam a palavra “ódio”, uma palavra que ele coloca em uma posição muito importante no final da primeira linha. A forma como esses sons estão localizados, quase parece que há uma reverberação de “odeio, odeio, odeio, odeio, odeio” em todo esse verso. E eu me pergunto se isso é o que ele dentia, sendo atingido com uma história de ódio após a outra.
 
 
A sonoração que Willa alude funciona bem na letra em inglês, pois a palvra ódio ou odeia é hate, enquanto as outras usadas, mutila, assassina, confisca, circula, especula, tem o mesmo som no final, especulate, circulate, assassinate, confiscate. Poseríamos criar a mesma sonorização deixando todas as palavras na forma infinitiva, odiar, assassinar, especular, confiscar, circular, mutilar, mas não conjulgando, uma vez que o verbo odiar se conjuga de forma irregular.
 
Joie: Uau, eu nunca pensei nisso dessa forma, Willa. Ele provavelmente se sentia como se o odiassem. Mas essa era a vida dele, e eu estou supondo que, às vezes, deve ter parecido insuportável para ele. Mas olhando para essas palavras, eu também posso ver onde os críticos – ou a mídia – teria se ofendido e quer contra-atacar, tentando fazê-lo parecer louco e paranóico.
Especialmente quando ele incluiu palavras como estas:
 
It’s slander
You say it’s not a sword
But with your pen you torture men
You’d crucify the Lord

É calúnia
Você diz que não é uma espada
Mas com a sua caneta que você torturar homens
Você iria crucificar o Senhor
 
 
 
E ele continua a dizer isto:
 
It’s slander
With the words you use
You’re a parasite in black and white
Do anything for news
If you don’t go and buy it
Then they won’t glorify it
To read it sanctifies it
Then why do we keep foolin’ ourselves?
 

É calúnia
Com as palavras que você usa
Você é um parasita em preto e branco
Faz qualquer coisa por notícias
Se você não vai e compra isso
Então eles não glorificarão isso
Ler santifica isso
Então, por que continuamos enganando a nós mesmos?
 

Você sabe, era quase como se fossem insultos uns aos outros. Michael iria escrever uma música sobre a experiência de vida dele, a mídia ficaria ofendida e o atacaria contra ele, assim ele reagia da única maneira que podia... escrevendo outra música sobre a experiência. Um ciclo vicioso. Era um tipo muito precário de relacionamento entre eles.
 

Willa: Eu vejo o que você está dizendo, Joie, mas é uma questão complicada, e nós vemoso algumas dessas complexidades nos versos que você acabou de citar. Por exemplo, nas linhas: “Você diz que não é uma espada / Mas com sua caneta você torturar os homens”, ele está referenciando o velho ditado: “A caneta é mais poderosa que a espada”. Esse ditado está realmente louvando o poder da palavra escrita para provocar uma mudança social positiva. Ele está dizendo que a palavra escrita – seja em romances ou ensaios ou poesia ou a imprensa – é mais poderosa que os exércitos a resistir à opressão, expondo a injustiça, e os erros de endireitamento. Isso é uma ideia muito semelhante a que ele expressa em Beat It e Bad and Jam, entre outras, de que a arte é mais poderosa do que a violência, e nós sabemos que era uma ideia na qual ele acreditava apaixonadamente.

Mas a imprensa de hoje, com seu foco no sensacional e no trivial, nega o poder que tem – “você diz que não é uma espada” – e, depois, descuidadamente desperdiça esse poder para “torturar os homens”. Em ves de ser um farol para o bem, torna-se “um parasita em preto e branco”.

Joie: Eu adoro essa frase! “Um parasita em preto e branco. Faz qualquer coisa pela notícia”. É tão perfeito para as de celebridades predatória que vemos hoje, eu acho.

Willa: Realmente é. Assim, parece-me que ele está criticando a imprensa, não só por atacá-lo, mas por negligenciar o propósito mais elevado que eles deveriam estar realizando. Eles deveriam estar fazendo a parte deles para “Cure o Mundo/ Torne-o Um Lugar Melhor”, e eles não estão. Em vez disso, eles atacam os que tentam. Eu mesmo li artigos sarcástico sobre Nelson Mandela e Madre Teresa. Como Michael Jackson diz à imprensa nessas linhas que você citou acima, Joie: “Você crucifica o Senhor”, dada a oportunidade, em vez de ajudar a lutar contra a injustiça.

Joie: Eu concordo com você, Willa. A música inteira é um olhar muito contundente na mídia. É mais um exemplo de Michael Jackson segurando um espelho para nos examinar a nós mesmos, mas claro, ninguém escuta; ninguém além dos fãs. Todo mundo está ainda chamando-o paranóico.

Willa: Ah, é um olhar muito contundente. Os ataques a ele não são apenas injustos e dolorosos, mas também distraem as organizações de notícias do verdadeiro trabalho que deve ser feito. Nós vemos essaa ideia em “Breaking News”, também. Na verdade, toda a música é uma brincadeira com as palavras “Breaking News”. Normalmente, essas palavras se referem a um boletim de notícias sobre um evento que acabou de acontecer, mas ele muda o significado para essas palavras, e elas passam a se referi a o quão disfuncional as organizações de notícias se tornaram. As organizações não podem mais comunicar a notícia real, porque os tradicionais sistemas de coleta de notícias estão caindo aos pedaços – como ele diz: “Você está quebrando a notícia”.

Também é interessante que mais uma vez ele sutilmente se refere à ideia de que “a pena é mais poderosa do que a espada”, quando ele canta: “Você escreve as palavras para destruir como se fosse uma arma”.  Então, novamente, ele está dizendo que a mídia tem esta poderosa espada – o poder da imprensa – e eles estão fazendo mau uso dela para “torturar os homens”, em vez de expor a corrupção e a injustiça e lutar por um mundo melhor.

Joie: Você está certa, Willa. E o que você disse sobre a imprensa que abusa do poder dela para “torturar homens”, em vez de usá-lo para lutar contra a corrupção e a injustiça, me faz pensar de outra canção que poderia ser incluída nesta discussão: “Whay You Wanna Tripo On Me”. Na primeira audição, não é realmente uma música “Paranóica”', mas, quando examinamos as letras, ela se encaixa tão bem com o que você disse:
 
They say I’m different
They don’t understand
But there’s a bigger problem
That’s much more in demand
You got world hunger
Not enough to eat
So there’s really no time
To be trippin’ on me
You got school teachers
Who don’t wanna teach
You got grown people
Who can’t write or read
You got strange diseases
Ah but there’s no cure
You got many doctors
That aren’t so sure
So tell me
Why you wanna trip on me?
 
 
Eles dizem que eu sou diferente
Eles não entendem
Mas há um problema maior
Isso está muito mais na demanda
Você tem fome no mundo
Não há suficiente para comer
Então não há realmente nenhum momento
Para você viajar em mim
Tem professores
Que não querem ensinar
Você tem pessoas crescidas
Quem não pode escrever ou ler
Você tem doenças estranhas
Ah, mas não há cura
Tem muitos médicos
Isso não está tão certo
Então me diga
Por que você quer viajar em mim?
 

O que ele está dizendo aqui é que com todos os milhões de problemas reais do mundo, por que, na terra, a mídia o está atacando o tempo todo? Por que eles estão quebrando o pescoço para acompanhar cada movimento dele e empurrando câmeras no rosto dele, quando há tantas outras questões muito mais importantes e angustiantes acontecendo no mundo?
 
Willa: Uau, Joie, eu nem sequer pensei em “Whay You Wanna Tripo On Me”, mas você está certa – ela realmente soletra tudo isso, não é? Como ele diz: “há um problema maior / Que está muito mais da demanda” para chamar a atenção da imprensa, então por que eles estão gastando muito tempo e energia perseguindo-o e criticand-o?

Mas você sabe, parece-me que, quando os críticos chamam Michael Jackson de paranóico, eles não estão apenas se referindo às canções dele sobre a imprensa. Eles também estão se referindo às canções dele sobre a mulehres menitoras, ameaçadores, perseguidoras – canções como “Heartbreak Hotel”, “Billie Jean”, “Dirty Diana” e “Dangerous” Mas como você apontou em um de nossos primeiros posts, Joie, aquelas mulheres que ameaçam podem ser interpretadas como representando a fama, celebridade, ou mais especificamente, os meios de comunicação. Por exemplo, existem essas letras de "Wanna Be Startin 'Somethin'":
 
 
Billie Jean is always talking
When nobody else is talking
Telling lies and rubbing shoulders
So they called her mouth a motor
 

Billie Jean está sempre falando
Quando ninguém mais está falando
Dizendo mentiras e esfregando os ombros
Então eles a chamaram de fofoqueira
 

Bille Jean poderia ser uma mulher que está “sempre a falar” e cuja boca é como “um motor”, mas isso é uma descrição muito precisa dos tablóides também.

Joie: Oh, wow. Bom ponto, Willa! Eu nunca realmente pensei nessas músicas como sendo parte da narrativa “paranóica”, absolutamente, mas você está certa, se encaixa, não é? As mulheres ameaçadoras de todas essas músicas estavam meio que lá fora para pegá-lo, não estavam? Isso é muito interessante.
Você sabe, essa conversa toda ainda me faz pensar sobre o comentário de Jodie Foster fez no discurso dela no Globos de Ouro sobre lutar por uma vida que se sente “real e honesta e normal”.  E é tão triste que ele nunca tenha tido isso, porque a vida dele foi constantemente colocada em exposição. E como você disse antes, ele não era paranóico no sentido clínico, porque “eles” realmente estavam atrás dele. Todos os dias da vida dele. Talvez eles não estivessem lá para pegá-lo, mas eles estavam, certamente, para capturar cada movimento dele.

Willa: Sim, eles estavam. Mas como ele aponta em muitas dessas canções, eles estão fornecendo o que o consumidor quer, como você citou acima de "Tabloid Junkie":
 
If you don’t go and buy it
Then they won’t glorify it
To read it sanctifies it
Then why do we keep foolin’ ourselves?

Se você não for e comprar isso
Então eles não glorificarão isso
Ler santifica isso
Então, por que continuamos enganando a nós mesmos?
 
 
Ele expressa uma ideia similar em “Monster”:
 
It’s got you jumping like you should
It’s got you bouncing off the wall
It’s got you drunk enough to fall
 

Ele o
deixa salantando como você deveria
Ele o deixa tranquilo
Ele lhe deixa bêbado o suficiente para cair

Então, ele está dizendo que os consumidores se tornaram viciados em nessas histórias chocantes – “Ele o deixa bêbado o suficiente para cair” – e os meios de comunicação é que estão alimentando o vício. Mas se (o coletivo “nós”) pode, de alguma forma, se desintoxicar desse tipo de calúnia e remover o mercado para essas histórias, esse tipo de jornalismo vai murchar e morrer.

Joie: E você sabe, a coisa realmente difícil de entender é por quê? Parece que todo mundo reclama “desse tipo de jornalismo”, mas ele ainda persiste. E assim, muitas vezes, “ese tipo de jornalismo” não é nem mesmo verdadeiro ou preciso.
Michael apontou isso tão bem em “Tabloid Junkie”:
 
Just because you read it in a magazine
You see it on a TV screen
Don’t make it factual
 
Só porque você leu em uma revista
Você vê isso em uma tela de TV
Não faça isso factual
 
 
Willa: E Joie, esse é talvez o ponto mais importante de todos. Você sabe, eu acho que a maioria das pessoas percebe que artigos e programas de televisão de estilo tablóide realmente não relatam as notícias – que são exageros goresseiros ou sensacionalistas ou mesmo mentiras completas – então por que eles existem? Qual é o ponto de “jornais” e progarmas de “notícias de celebridades” que relatam notícias falsas? Isso não faz qualquer sentido.

Eu acho que eles são realmente um tipo de entretenimento – um entretenimento corrupto – não notícia. Os tablóides transformaram Michael Jackson em um “monstro” e um “animal”, como ele canta em “Monster”, e em seguida, zombavam dele como um tipo de entretenimento cruel. Por alguma razão, insistimos em transformar as pessoas em monstros de vez em quando, e os tablóides fizeram isso com ele e obrigou-o a desempenhar esse papel cultural. Ele fala sobre esse fenômeno, um pouco, na obra posterior dele – em canções como “Threatend” “Is It Scary” e “Monster” e “Breaking News”. E isso é cruel...

Você sabe, meu filho tem 14 anos e ele trouxe para casa um monte de informações sobre o bullying nos últimos anos. As escolas estão realmente trabalhando duro para evitar o bullying, e as crianças ajudam a lidar com isso quando acontece. E uma das coisas que eu percebi é que quase tudo o que o meu filho me contou sobre o bullying – de xingamentos a cyber-bullying para isolar aqueles que são percebidos como diferentes – se aplica à imprensa tablóide também. Eles são agressivos, e nós devemos ser tão vigilante na prevenção de comportamentos prejudiciais pelo estilo de mídia tablóide como estamos na prevenção de comportamento prejudicial por valentões.

Devemos evitar não só porque fere os alvos, pessoas como Michael Jackson, mas também porque fere a nós também. Eu acho que a maioria das pessoas acha que os tablóides são bastante inofensivos – apenas bobagem irracional sobre UFOs e celebridades e as previsões de Nostradamus – e elas não se dão conta de quão prejudicial esse bombardeio constante de comportamento de desinformação e má-fé pode ser. Eu acho que os tablóides e programas jock-radio de choque, e os tipos de entretenimento inflamatórios, têm influenciado o modo como falamos uns com os outros, tornando-nos menos civil e mais crítico. E quer percebamos ou não, eles também influenciaram a nossa percepção e visão de mundo. Como Michael Jackson disse à Oprah em 1993: “Se você ouvir uma mentira muitas vezes, você começa a acreditar”.

Joie: Willa, eu não poderia concordar mais com você. Eu gosto especialmente do que você disse sobre tablóides e programas de jock-radio de choque ser um tipo de entretenimento inflamatório, e eu acho que provavelmente 90% dos programas de TV chamado “Reallity Shows” podem ser colocados em nessa catagoria também. E programas como esses têm influenciado a nossa forma de falar e nos relacionarmos entre nós – e não de uma boa maneira, absolutamente. Novamente, é uma das muitas lições que Michael Jackson tentou mais e mais nos ensinar, mas a maioria se recusa a ouvir.