1.
SCREAM
(Escrita e composta por Michael
Jackson, Janet Jackson, James Harris III, Terry Lewis. Vocais guias e
background: Michael Jackson e Janet Jackson. Teclados e sintetizadores; Jimmy
Jam e Terry Lewis)
“Scream” é uma afirmação musical. Despois do intenso
escrutínio e desmoralização nos poucos anos anteriores, Jackson estava pronto
para revidar com a arma mais poderosa que ele possuía: a música dele. Talvez,
nenhuma outra canção na carreira de Jackson tenha este tipo de soco rotundo de
“Scream”, uma furiosa expressão de indignação. Em faixas anteriores como “Wanna
Be Startin’ Somethin’”, “Leave Me Alone” e “Why You Wanna Trip On Me”, é claro,
ele tinha expressado alguns desses tipos de “pressões”, denunciando as mentiras
da mídia e hipocrisias sociais. Nunca antes, porém, o cantor teve esta raiva
direta, pessoal, e visceral. “Supertars não
fazem álbuns como este”, escreveu um crítico em 1995. “Eles fazem álbuns
seguros, agradáveis. Você sabe, fácil para o ouvido, simples, amigável... Isto
é Michael revidando. E ele mostrou o que poderia ser um golpe fatal.”
A faixa começa com
Jackson gritando como se estivesse preso em uma caixa de vidro. É um brilhante
efeito de aura que captura o aprisionamento e sufocamento que ele sente como um
desumanizado objeto da mídia. O grito gutural contém um senso de desespero,
angústia e raiva e, quando ele deixa isso sair, os vidros aprisionadores se
estilhaçam. Em vez de ser um espetáculo ou vítima, ele está poderoso. A música
dele, mais uma vez, provê uma sensação de libertação.
“Cansado de injustiça”,
ele começa. “Cansado de esquemas”. Essa é uma apropriada linha de abertura para
HIStory – o álbum mais político da
carreira de Jackson – e ele bate nas letras com uma intensidade que golpeia os
ouvidos dos ouvintes. Na verdade, sonoramente, “Scream” estava bem à frente da
curva, misturando o metal industrial de Nine
Inch Nails com o electro-funk de TV on the Radio, a mecânica angularidade
de Rhythm Nation com a alienação techno de OK Computer. Com a fuzz bass
de arrepiar os cabelos dela e a batida de fundo de estilhaçar vidros, é uma música que requer bons alto-falantes ou headphones para efeito total.
“Scream” também fez uma
declaração com a linguagem dela. Uma vez uma famosa devota Testemunha de Jeová,
com uma imagem de Peter Pan, Jackson chocou muitos ouvintes, quando o single de abertura dele substituiu os
versos no refrão, “Pare de pressionar”, em uma linha, com o impetuoso “Pare de
fuder comigo!” (Jackson também iria, não tão discretamente, mostrar o dedo do
meio no vídeo musical). De acordo com o engenheiro assistente, Russ Ragsdale,
Jackson estava relutante em blasfemar a faixa. “Eu estava na sala quando Jimmy
Jam pediu a ele para cantar o refrão de ‘Scream’”, ele recorda, “e ele não
diria a palavra F. Ele meio que fez isso muito percussivo em vez de cantar a
palavra inteira. Janet ficou encarregada da maior parte do vocal background. Não estava na natureza dele
usar palavras como essas, de jeito nenhum. Eu nunca o tinha ouvido blasfemar.
Portanto, foi uma surpresa que ele tenha usado outras palavras como essa no
álbum. Nós todos meio que sorrimos quando escutamos isso”. A linguagem incitou
desaprovação e condenação entre alguns pais e críticos. Para Jackson,
entretanto, isso foi uma maneira de expressar a feroz revolta dele pela
enganosa e hipócrita mídia.
Ironicamente – dado os
controversos “valores familiares” sobre linguagem – a música era, na verdade,
uma simbólica demonstração de solidariedade familiar em face da adversidade.
“Scream” foi o primeiro, e único, dueto com a irmã dele, Janet. (Ela iria, mais
tarde, performar, poderosamente, a música no MTV Music Awards 2009, logo depois da morte do irmão dela). Escutar
os irmãos superstars cantar juntos
pela primeira vez – e em tais circunstâncias – deu à música ainda mais poder e
drama. Janet estava no auge da popularidade
dela no início dos meados dos anos noventa; o apoio dela importou muito para
Michael. A contribuição dela não foi sem entusiasmo, tampouco. No segundo verso,
ela veio com tanta indignação quanto o irmão dela. “Vocês estão vendendo alma”,
ela canta, “mas eu me importo com a minha/ Eu tenho que ficar forte / E eu não
vou desistir da luta”. O refrão tem os dois perfeitamente harmonizados, quando
eles exigem a dignidade deles e respeito.
O vídeo musical para
“Scream”, dirigido pelo talentoso Mark Romanek, foi igualmente ambicioso. Com
um orçamento de 7 milhões de dólares, ele foi o mais caro vídeo musical já
feito. Também foi um dos mais aclamados de Jackson pela crítica. Apresentando
Michael e Janet como animes andrógenos presos em uma espaçonave isolada, os
irmãos, alternadamente, observam arte, jogam jogos, dançam, meditam e ficam
loucos, na isolada “abóboda de prazeres pop”
deles. A inspiração para o vídeo veio, em parte, de David Bowie, parte, de 2001:
Uma Odisseia no Espaço; mas talvez, mais significantemente, da vida complicada
de Jackson como celebridade da era da informação. “A isolação de Michael e
Janet veio da necessidade de conectar e a problemática disso pela necessidade
de escapar”, observa o crítico cinematográfico Armond White. “Romanek expressa
de forma literal o linchamento hight-tech
de hoje, por ligar isso ao limite extremo da comunicação eletrônica e complicar
isso com referências a Warhol, à internet
e à arte moderna.”
Enquanto ambos, música
e vídeo, eram, claramente, pessoais, contudo, seria redutivo ver “Scream” como
mera autobiografia. Como com a maioria das músicas do álbum, Jackson conecta as
lutas pessoais dele aos maiores problemas sociais. A injustiça que ele
experimentou é apenas uma pequena parte de um sistema muito mais amplo de
fraude e corrupção. Na ponte da música, na verdade, quando as sirenes retumbam,
nós escutamos uma reportagem quase inaudita: “Um homem foi brutalmente
espancado até a morte por policiais, depois de ser erroneamente identificado
com um suspeito ladrão. O homem era um negro de 18 anos...” Essa sutil
referência a outra vítima do sistema – neste caso, de perfil racial,
brutalidade policial exploração da mídia – é um testemunho da afiada
consciência cultural de Jackson. Em Dangerous,
o método de desafio dele foi fazer uma “jam”; quatro anos depois, a pressão
tinha crescido a tal grau, que ele
apenas podia gritar.
Nota
da tradutora:
Fuzz
bass:
é um tipo de guitarra
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