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domingo, 28 de outubro de 2012

Earth Song: Inide Michael Jackson Magnum Opus (parte 4)

Deixe a Música Criar a Si Mesma

Quando retornou ao Estúdio Westlake em junho de 1989, ele estava explodindo com ideias criativas. Em uma tábua na mesa mixagem, ele colocou uma citação de John Lennon: “Quando a verdadeira música vem a mim” lia-se, “a música das esferas, a música que ultrapassa entendimento – que não tem nada a ver comigo, porque eu sou apenas o canal. A única alegria para mim é por ela ser dada a mim e transcrevê-la como um médium... São por esses momentos que eu vivo.” As palavras ressoavam profundamente para Jackson: era exatamente assim que ele se sentia sobre criatividade.
“Deixe a música criar a si mesma”, ele sempre relembrava a sim mesmo. Para Jackson, Lennon era uma alma parente: um talento similarmente excêntrico, com ambição, idealismo e desafio para reimaginar o mundo.
Ainda, Jackson sabia que levava tempo e esforço para realizar o que ele via e ouvia na mente dele. Algumas músicas poderiam ser completadas dentro de semanas, enquanto outras levariam anos. Com “Earth Song”, ele teve o esqueleto básico trabalhado, mas ele ainda não estava totalmente certo sobre como executá-la. A música tinha que ser grande, dramática, e visceral e os contribuidores precisavam ser bem certos. Quem quer que estivesse colaborando precisava realmente entender o escopo e a visão.


Trilogia da Terra

Gradualmente, nos meses subsequentes, as várias partes da música começaram a ser lapidadas. “isso se tornou uma grande obsessão para nós dois”, recorda Bottrell. (20)
As primeiras preocupações de Jackson era obter as dimensões e atmosfera correta. Ele queria que tivesse a paixão e intensidade da música gospel, mas a paisagem sonora de algo como Pink Floyd ou Brian Eno, algo emprestado do rock progressivo, ambiente, e musica mundial, mas ainda clássica e acessível. Ele não queria que a música fosse muito complexa ou abstrata, desde que a música seria criada para mover massas de pessoas. A chave, portanto, era fazer “parecer simples”, mas formá-la com camadas de detalhes, textura, nuance e riqueza. (21)
Esse processo começou com a ajuda de Bill Bottrell e o compositor Jorge del Barrio e continuou, anos depois, com David Foster, Bill Ross e Bruce Swedien.
Jackson, originalmente, concebeu “Earth Song” como uma trilogia (similar a “Will You Be There”), composta de uma peça de orquestra moderna, a música principal, e, depois, um poema recitado (mais tarde lançado com “Planet Earth”). No total, a música teria mias de 13 minutos. O poema, que contém ecos de Wordsworth, Keats e Whitman, entre outros, era, essencialmente, uma cósmica canção de amor ao planeta. “Nas minhas veias, eu tenho sentido o mistério”, Jackson disse.
De corredores do tempo, livros de história
Canções da vida das eras, latejantes no meu sangue
Tem dançado o ritmo da maré e cheia
Suas nuvens nebulosas, sua tempestade elétrica
Eram turbulentas tempestades em minha própria forma
Eu tenho lambido o sal, o amargo, o doce
De todos os conflitos, da paixão, da dor
Sua turbulenta cor, sua fragrância, seu sabor
Tem excitado meus sentidos além de toda urgência
Na sua beleza eu tenho conhecido o como
De infinita alegria, este momento de agora. (22)


A linguagem sensual de Jackson evoca um tipo diferente de relacionamento com o mundo natural: algo de intimidade, maravilha e respeito. Isso rejeita a tradicional noção ocidental de que os humanos “são donos” da natureza e podem fazer como ela o que lhes agradam.

Para Jackson, natureza era muito mais que um belo cenário. Ele a amava tanto quanto amava uma pessoa. Era uma fonte de profunda alegria, inspiração e rejuvenescimento. (23) “O mundo inteiro abunda em mágica”, ele escreve em uma obra no livro dele, de 1992, Dancing the Dream. “[A Natureza] tem exposto a verdadeira ilusão ou inabilidade de ser incrível pelas maravilhas dela. Toda vez que o sol nasce, a Natureza está repetindo um comando: ‘Veja! ’ A mágica dela é infinitamente exuberante e tudo que temos que fazer é apreciá-la.” (24)

Jackson trabalhou com Jorge del Barrio na introdução orquestral. Um talentoso compositor e condutor, Del Barrio, (que mais tarde trabalharia com Jackson em diversas outras músicas, incluindo “Who Is It” e “Morphine”), descreveu que trabalhar com Michael como “uma das mais memoráveis experiências da minha vida. Ele estava apaixonado pela música dele. Ele passava a maior parte do nosso tempo sozinho, criando. Nós éramos muito amigos e forças criativas trabalhando juntas”. (25) Jackson considerava del Barrio um “gênio” e perfeito para o que ele queria realizar com “Earth Song”.

Em contraste com a seção da Nona Sinfonia de Bethoveen, que Jackson usou para conduzir “Will You Be There”, o prelúdio para “Earth Song” era mais ambiente e primordial. Ela contém sons naturais, tambores indígenas, profundos blocos de sintetizador e cordas exuberantes. “Eu trabalhei com Michael em criar um som sinistro”, recorda del Barrio, “o começo de Earth, como poderia ter soado, quando ela foi criada, e a vida começa e quando ela se desenvolveu para a Mãe Terra e acabou  se transformando em “Earth Song”, que fala sobre a morte do planeta nas mãos  do Homem. Michael sentia que essa música era para ser  uma que, definitivamente, ajudaria a salvar o mundo.” (26)

De acordo com o engenheiro de gravação, Matt Forgger, a música era “muito moderna, muito inovadora. Ele queria mudar as regras da música pop, esticar e experimentar. Era um som completamente diferente para Michael. Todo o conceito era muito ambicioso”. (27)

Em última análise, no entanto, Jackson não pôde, completamente, fazer as engrenagens funcionarem juntas da forma que ele esperava e decidiu manter apenas a porção principal. Ainda, muitas das mesmas ideias e sons foram complementadas no arranjo orquestral de del Barrio, incluindo as dramáticas cordas. Jackson também trouxe membros da banda Toto, Steve Porcaro e David Paich, para ajudar com a programação de sintetizador. A atmosfera da faixa, ele sabia, era crucial. Os ouvintes tinham que sentir a música pela música. Para, efetivamente, transportá-los. Também tinha que ter a arco dramático e tensão da estória. O desafio era alcançar isso em seis minutos e meio.


Notas do autor:


20. Bill Bottrell. Entrevista Pessoal do Autor. 14 de maio de 2011.
21. “Com Michael”, explica Matt Forger, “a base pode ser ilusoriamente simples, mas muito está acontecendo. Muitos detalhes e trabalho. Ele entendia contraste. Ele era muito particular sobre textura. Ele queria que [“Earth Song”]soasse fresca e nova e tivesse este tipo de peso e ímpeto.” Entrevista Pessoal do Autor em 15 de maio de 2011.
22. Michael Jackson. Dancing the Dream. Poems and Reflections. Doubleday, 1992.
23. Jackson estava lendo Emerson, extensivamente, naquela época. “Nos bosques está a juventude perpétua”, Emerson escreveu no ensaio dele de 1835, “Nature”, “Um festival perene... De pé sobre o chão nu, – minha cabeça banhada pelo ar jovial, e enaltecida dentro de espaços infinitos, todo o egoísmo mesquinho desaparece. Eu me torno um globo ocular transparente; eu não sou nada; eu vejo tudo; as correntes dos Ser Universal circulam em mim, eu sou parte ou partícula de Deus.” Quando Jackson se deparou com a passagem, ele estava exilado. Esta foi uma das razões pelas quais ele comprou o Rancho Neverland, longe do congestionamento e distrações da cidade. Dancing the Dream é repleto de tais reflexões Emersonianas sobre ser transformado em natureza.
24. Michael Jackson. Dancing the Dream: Poems and Reflections. Doubleday, 1992.
25. Jorge del Barrio. Entrevista Pessoal do Autor. Traduzida por Ramon del Barrio. 25 de junho de 2011. “Michael considerava meu pai extraordinário e eles também passavam muito tempo rindo e fazendo piadas.”, diz Ramon del Barrio, depois de falar com o pai dele. “Papai e Michael trabalharam juntos por muitos anos e eu tenho certeza de que há muitas músicas que não foram lançadas, também.”
26. Jorge del Barrio. Entrevista Pessoal do Autor. Traduzida por Ramon del Barrio. 15 de junho de 2011.
27. Matt Forger. Entrevista Pessoal do Autor. 15 de maio de 2011.




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