Menu

domingo, 28 de outubro de 2012

Introdução X " Morte e Renascimento"



MORTE E RENASCIMENTO
Aconteceu algo completamente inesperado, e trágico, para finalmente colocar a arte e as realizações culturais de Michael Jackson dentro de alguma perspectiva. Exatamente trinta anos depois de a carreira solo dele começar, em uma manhã de terça-feira, em junho, Michael Jackson morreu na casa dele, aos cinquenta anos de idade.

A notícia espalhou ondas de choque por todo o mundo. Da América à África, da Europa à Ásia, as pessoas souberam da tragédia por telefone, mensagens de texto, twetter, TV, rádio, sites de notícias na internet e redes sociais. O interesse foi tão avassalador que muitos wbsites proeminentes saíram do ar temporariamente ou ficaram congestionados, incluindo o Wikipedia, Google, TMZ e o Los Angeles Times. “Hoje foi um dia seminal na história da internet”, disse uma porta voz do America Online. “Nós nunca vimos algo assim em termos de alcance e profundidade.”

Na verdade, devido, em parte, à nova mídia, a resposta global à morte de Jackson foi, simplesmente, sem paralelo. Foi maior que a resposta à morte de Elvis Presley, John Lenon, do Papa João Paulo II, John F. Kennedy e da Princesa Diana. Especialista da imprensa estimaram que a morte de Jackson tenha sido assistida, na TV ou online, pelo aterrador número de um bilhão de pessoas.

Entretanto, dentro de horas dessa trágica notícia, as músicas e os vídeos de Jackson começaram o voar das prateleiras. Na semana seguinte à morte dele, nove das dez posições tops do Billboard Catalog Album Chart, nos Estados Unidos, pertenciam a Jackson, um marco jamais alcançado antes. Na semana seguinte, ele ocupou doze posições no topo. Ele também se tornou o primeiro artista no top 200 da Billboard com um álbum de coletâneas (Number Ones, apropriadamente, ficou na primeira posição por seis semanas não consecutivas).

No iTunes e em outros revendedores online, o Rei do Pop, igualmente, reinou supremo, batendo recorde depois de recorde de vendas  digitais. Nos Estados Unidos, nenhum outro artista tinha vendido um milhão de downloads em uma semana; na semana seguinte à morte dele, com estoques limpados nas lojas, Jackson vendeu 2,6 milhões. Por todo o mundo, os álbuns musicais de Jackson alcançaram o primeiro lugar em todos os países em ranques digitais, incluindo Austrália, Japão, Nova Zelândia, Argentina e Alemanha. “Em vida”, escreveu Jerry Shriver do USA Today, “Michael Jackson era Rei do Pop, na morte, ele também reina como rei nas lojas on-line ”.

O parâmetro continuou. Pelo fim de 2009, Jackson tinha vendido mais de oito milhões de álbuns nos Estados Unidos e estimados trinta milhões de dólares no mundo inteiro, não apenas se tornou o artista que mais vendeu em um ano em disparado, mas, também, superou até mesmo seu próprio estratosférico recorde de venda, nos anos de glória de Thriller.

Esses números impressionantes, é claro, nem mesmo contam os vários tributos e maratonas de Jackson na TV e radio, revistas comemorativas ou estimados quinze bilhões de acessos a vídeos de aparições de Jackson em sites como o youtube. Também não contam os milhões de pessoas que iriam ao cinema para assistir ao documentário This Is It, um documentário sobre os últimos ensaios para o concerto do cantor, que se tornou o melhor filme musical de todos os tempos.

Isso foi uma extraordinária volta aot topo para o Rei do Pop e fez ainda mais, considerando o contexto. Jackson não lançava um álbum novo há oito anos; ele tinha apresentado apenas dois concertos (no Madison Square Garden em 2001)na última década; e a maior aparição pública foi na absolvição dele, em 2005, depois de meses de manchetes obscenas e presunção de culpa. Agora, mesmo para os detratores, a verdade é incontestável: apesar das controvérsias, escândalos e percepção de “estranheza”, o legado artístico e cultural de Michael Jackson foi enorme.

Houve aqueles que, é claro, alegaram que a resposta à morte de Jackson foi, simplesmente, um triste cabo da maratona da mídia por audiência e culto a celebridades. Isso é parcialmente verdade. Certamente, como é o caso em todas as mortes de grande visibilidade, a mídia foi rápida em explorar a passagem de Jackson para ganhar audiência, algumas vezes, com o sacrifício de algumas outras notícias importantes. Mas apesar do excesso e mitificação, a importância cultural dele é inquestionável. Nos Estados Unidos, Jackson agora está ao lado de Elvis Presley e dos Beatles como uma das expressões populares mais culturalmente importantes na história da música. Globalmente, o alcance dele foi ainda maior. Alguns têm argumentado, muito persuasivamente, que ele foi “o artista mais influente do século vinte”.


















Centenas de fãs se reúnem no legendário Teatro Apollo
No Harlem ao saber da morte de Michael Jackson.
Similares reuniões improvisadas aconteceram por todo o mundo.


Na esteira da morte dele, essa enorme influência internacional, estava em completa exibição. Reuniões espontâneas, de Los Angeles a Londres, Rio de Janeiro à Rússia, Kenya à Coreia, tocando a música dele e conduzindo vigílias. Muitas pessoas choraram; e outros cantaram e dançaram. Nas Filipinas, centenas de prisioneiros se reuniram para a coreografia de “Thriller”, o que se tornou uma sensação no youtube. No Irã, protestantes contra o regime repressivo cantaram “Beat It”. Em Gary, Indiana, a cidade industrial onde Jackson nasceu, centenas compareceram para prestar seus respeitos à humilde casa na 2300, Jackson Street. As pessoas levaram flores e fotos, cartas e velas. No Harlem, do lado de fora do legendário Teatro Apollo, avós, pais e filhos se uniram para lamentar e recordar; cada geração sabia e cantava as palavras das músicas dele. A música de Michael Jackson, como tinha por décadas, cruzou barreiras, conectou pessoas. “Foi um momento”, escreveu Rob Sheffield, “que resumiu tudo que amamos sobre Michael Jackson, pois todo carro, todo bar, toda janela aberta, parecia pulsar com a mesma batida, como se Jackson tivesse, com sucesso, sincopado o mundo inteiro aos ofegantes, íntimos e insistentes toques rítmicos dele”.

Na verdade, o que foi, talvez, mais surpreendente para muitos dos comentadores da mídia foi a emocional efusão que a morte de Jackson inspirou. A morte dele não apenas pegou as pessoas de surpresa; lembrou às pessoas o que ele significava para elas. A resposta foi particularmente profunda na comunidade afro-americana. “Do Capton ao Harlem”, escreveu Greg Tate, “nós temos testemunhado homens crescidos cair no choro por Michael; alguns dos meus mais obstinados amigos militantes negros, 24 horas, 7  dias por semana, homens e mulheres, igualmente, chorando, copiosamente, por dias, depois que eles receberam a notícia. Não é difícil entender por quê: para simplesmente todo mundo que nasceu na América Negra, depois de 1958, e isso inclui crianças, sobre as quais eu soube, têm nove anos de idade agora, Michael veio a possuir um bom pedaço de nossas melhores memórias de infância e de adolescência”.






















Jackson, na Dangerous World Tour, em um
momento de transcendência.



Durante as semanas subsequentes, em entrevistas e comentários, pessoas após pessoas falavam sobre se sentir conectados a Michael Jackson, de “crescer com ele”, de sentir que a música dele fazia parte da “trilha sonora” da vida delas.

“Michael Jackson e os Jackson Five foram grande parte da minha infância”, escreveu um fã. “Ele foi minha primeira paixão, minha primeira dublagem, o primeiro post colocado na minha parede, meu primeiro concerto. Eu tenho 44 anos, os Jacksons foram a primeira vez que eu, como criança, tive minha própria música. Eu sempre o amarei pelo talento dele e também por todas as especiais memórias de infância que eu aprecio. Descanse em paz, Michael. Eu sempre amarei você.”

“Como um cantor infantil”, lembrou-se outro comentador, “eu me lembrei de voltar para casa todo o verão do internato e explodir as músicas de MJ no meu som, assim que meus pais iam para o trabalho, e dançava como um bobo em volta da casa. Eu nunca me senti sozinho. Obrigado, Michael, pela música inesquecível e seu espírito maravilhoso”.

“Eu me lembro de quando eu dirigiria 200 milhas, todo os dias, para chegar à universidade”, compartilha outro admirador, “eu sempre confiaria no otimista álbum dele, Thriller, para me manter acordado, durante o longo caminho de volta para casa no Cojon. De muitas formas, ele salvou minha vida durante essas longas jornadas tarde da noite. Eu tenho que dizer a você, muito pouco tem me abalado.... Mas a morte de Michael, eu estou sempre pensando sobre o amor que ele pode nunca ter dado a ele mesmo, mas trouxe para o mundo todo, através da música dele”.

Muitos falaram do impacto de Jackson na raça. “Eu tinha 11 anos de idade, filha de um policial, quando os Jackson 5 apareceram na TV, lembra uma mulher. “Eu assisti por um minuto, então, eu disse: ‘Ele é uma gracinha’. A ira na nossa casa por aquele comentário inocente nunca será esquecida. Eu nunca tinha visto uma pessoa negra; o racismo e a ira dos meus pais foram incontroláveis. Eu defendi Michael Jackson àquela noite e (meu pai) me levou para meu quarto e me bateu até eu prometer nunca falar sobre ele de novo. Até hoje, eu realmente não sou capaz de falar sobre o que aconteceu. Eu apenas vi o vídeo ‘Black or White’, pela primeira vez, e eu gostaria de ter visto anos atrás! Eu estava certa e Michael Jackson estava certo. Obrigada, Michael, de uma pequena garota branca que não vê branco ou negro.”

“Eu ainda posso me lembrar de ter 3 anos de idade, na sala de estar com meus irmãos mais velhos, e eles estavam assistindo ao vídeo ‘Rock With You’”, lembra um comentador. “Todos os lasers verdes e lantejoulas, eu pensei que MJ era (um) super-herói negro... Ele deu a mim a inspiração para saber que você pode nascer como um garotinho negro na América e se tornar um Rei no mundo, apenas por usar talentos e dádivas, com as quais Deus abençoou você.”

Inúmeros comentários, também, revelaram os seguidores internacionais de Michael Jackson. “Nós temos sido privados de muitas coisas por muitos anos, que a música dele abriu um completo mundo novo para nós”, disse uma fã russa, Valentina Gromova. “Havia muita energia nele.”

“Quando eu era criança”, escreveu outro comentarista, “ele era muito popular em nossa vila remota na Índia. Naquela época, nós nem mesmo sabíamos quem era o presidente americano, mas nós conhecíamos Michael Jackson. Nós desfrutamos a música dele, muitíssimo, mesmo sem entender o significado de uma palavra sequer. Esse é o poder da música”.

“Michael Jackson era muito amado na África”, lembra Nana Koram. “Eu cresci em Ghana adorando este Rei do Pop. Ele era um das mais talentosas e icônicas figuras da indústria da música, que transgrediu todas as barreiras culturais, apesar do fato de que ele cantava apenas em inglês.”

Nas semanas seguintes à morte de Jackson, comentários e memórias como essas verteram de todos os cantos do mundo. Além de milhões de comentários nos sites de notícias, de música e de fãs, o site oficial de Jackson recebeu mais de quinhentos mil acessos de pessoas querendo oferecer condolências. Declarações de condolências e respeito também verteram de líderes mundiais.

“Ele entrará para história como um dos maiores artistas do mundo”, disse o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, (apesar da falha dele em reconhecer a arte de Jackson, mais abertamente, tenha irritado alguns fãs). O ex-presidente da Coreia do Sul e vencedor do Prêmio Nobel da Paz, Kim Dae-Jung, chamou Jackson “um herói do mundo”. No Rio de Janeiro (onde Jackson, uma vez, gravou um vídeo musical com Spike Lee para They Don’t Care About Us), o prefeito, Eduardo Paes, anunciou que a cidade erigiria uma estátua em honra de Jackson. O ex-presidente da África do Sul e ícone dos direitos civis, Nelson Mandela, que colaborou com Jackson em vários projetos sobre direitos humanos e caridades, chamou o amigo dele de “um membro próximo da nossa família... Nós tínhamos grande admiração pelo talento dele e por ele ter sido capaz de triunfar sobre a tragédia em muitas ocasiões na vida dele”.





         Stevie Wonder performa um medley de músicas no memorial de Jackson,
         2009, em Los Angeles.



A admiração alcançou os colegas de Jackson também. “É tão triste e chocante”, disse Paul McCartney. “Eu me senti privilegiado por ter me relacionado e trabalhado com Michael. Ele foi um massivamente talentoso homem-menino com uma alma gentil. A música dele será lembrada para sempre e minhas memórias de nossas horas juntos serão alegres.” A colega ícone pop, Madonna, da mesma forma, falou da profunda admiração dela por Jackson, tanto como artista como pessoa. “Em uma tentativa desesperada de manter a memória dele, eu fui para internet para pegar clipes antigos dele dançando e cantando na TV e no palco e eu pensei: ‘Oh, Deus, ele era tão único, tão original, tão raro. E nunca haverá alguém como ele de novo. ’ Ele era um rei. Mas ele também era um ser humano e, ai, somos todos seres humanos e, às vezes, nós temos de perder coisas antes de podermos verdadeiramente apreciá-las.”

Em Barcelona, o U2 prestou um tributo durante uma turnê, dedicando “Angel of Harlem” ao cantor, antes de seguir para “Man In The Mirror” e “Dont’t Stop Till You Get Enough”, enquanto noventa mil fãs cantavam juntos. Em Gladstonbury, Lady Gaga, também em turnê, soluçou com a notícia, mais tarde, elogiando Jackson como revolucionário e uma das maiores influências. Nas semanas subsequentes, reconhecimentos vieram de aproximadamente todos os indivíduos na indústria da música e do entretenimento, de artistas do rock, como Slash e Eddie Van Halen, a rappers como Kanye West e Jay-Z, e cineastas como Steven Spielberg e Martin Scorsese.

0 comentários:

Postar um comentário