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BLACK OR WHITE
(Escrita e composta por Michael Jackson;
produzida por Michael Jackson e Bill Bottrell. Gravada e mixada por Bill
Bottrell. Vocais solo e background: Michael Jackson. Bateria: Bryan Loren.
Letra do rap por Bill Bottrell. Percussão: Brad Bruxer e Bill Bottrell. Baixo:
Bryan Loren (moog) e Terry Jackson (guitarra-baixo). Teclado: Brad Buxer, John
Barnes e Jasen Martz. Guitarra Bill Bottrell. Guitarra heavy Metal: Tim Pierce.
Sequenciador de velocidade: Michael Boddicker e Kevin Gilbert. Rap performando por
L.T.B. “Introdução”: Especial performance de guitarra por Slash. Dirigido por
Michael Jackson. Composta por Bill Bottrell. Engenharia de som e designe: Matt
Forger. Filho interpretado por Andres Mckenzie. Pai interpretado por L.T.B.)
“Black or White” foi o maior single de Jackson, na América, desde “Billie Jean”. Ela ficou no #1 da Billboard Hot 100 por sete semanas e se tornou o rock single mais vendido dos anos
noventa. Ela também foi o maior sucesso global dele, atingindo o topo dos charts em vinte países, incluindo o
Reino Unido, Austrália, Áustria, Bélgica, Cuba, Dinamarca, Finlândia, França,
Israel, Itália, Japão, México, Noruega, Espanha, Suécia, Suíça e Zimbabwe.
Com o instantaneamente
identificável riff de guitarra dela,
“Black or White” foi uma explosiva fusão pop-rock-rap,
com uma mensagem de harmonia racial e uma corrente de indignação. Isso foi em um
momento em que tensões raciais estavam elevadas, após o espancamento de Rodney
King, pela polícia, e os subsequentes motins em Los Angeles. O curta-metragem, do mesmo modo, é, sem dúvidas, o
mais envolvente vídeo musical da carreira de Jackson. O crítico cinematográfico
Armond White o chamou de “um dos melhores vídeos musicais já feitos”.
Como muitas músicas de
Jackson, “Black or White” teve um longo processo de gestação. Ele esteve mexendo
em partes dela desde as sessões de Bad.
“Tão logo nós chegamos no Westakle [Studio], a primeira coisa que Michael cantarolou
para mim foi “Black or White”, recorda o produtor Bill Bottrell. “Ele cantou
para mim o riff principal sem especificar
qual instrumento seria tocado.” Bottrell, por fim, escolheu uma guitarra Guibson
LG2, de 1940, para “criar esta grande
parte, pungente, de velha guitarra de rock
& roll acústica”. Enquanto Bottrell adorou o som, ele não estava certo
se Jackson consideraria. Jackson também adorou. “Ele aceitou quando ele escutou
pela primeira vez”, disse Bottrell, “e eu fiquei realmente feliz em colocar
aquele tipo de som clássico em um álbum de Michael Jackson”. Tem sido suposto
por muitos que o famoso riff de
guitarra da música foi tocada por Slash, mas a parte de Slash foi, na verdade,
no prelúdio (durante a briga entre pai e filho, o que, como “Heal the World”,
foi orquestrado por Matt Forger).
Jackson e Bottrell
continuaram a voltar à faixa durante os próximos dois anos, construindo-a peça
por peça. “Este é o tipo de coisa que ele faz”, recorda Bottrell. “Isso parece
meio aleatório, mas é como se ele fizesse as coisas acontecerem por omissão.
Não há ninguém mais e é como se ele soubesse que é isso que você está
enfrentando e lhe desafia a fazer isso.” Interessantemente, enquanto a faixa
tomou anos, Jackson (que, geralmente, gravava os vocais centenas de vezes antes
de estar satisfeito) determinou o vocal na primeira tomada. “O cara é
absolutamente natural”, recorda Bottrell, “e, para mim, a melhor coisa sobre
‘Black or White’ era que o vocal improvisado dele continuou intocado durante o
ano seguinte [de trabalho em Dangerous]
e terminou sendo usado na música finalizada... Eu considerei esse vocal
brilhante, tão solto, backgrounds
imperfeitamente postos em camadas; era perfeitamente encantador. Em oposição a
algumas das outras pessoas que trabalharam com Michael, naquela época, quando
eu era autorizado a produzir, eu iria, consistentemente, tentar ir para vocais
simples, compilando-os de duas ou três tomadas, com soltos backgrounds e sentimentos mais instintivos. Nesse caso, ele veio
com vocal guia e faixa background tão
encantadores, que eu realmente resolvi continuar isso. É claro, tinha que agradá-lo
ou ele nunca teria me deixado seguir em frente com isso.”
Jackson gostava do
jeito que a música estava se desenvolvendo, mas ainda tinha algumas lacunas,
uma da quais ele queria completar com um solo de rap. Jackson, inicialmente, tentou trazer Heavy D. ou LL Cool J
para fazer o trabalho (ambos os quais fizeram o rap em outras músicas durantes esse período), mas depois de ouvir a
amostra da versão de Bill Bottrell, ele sentiu que estava perfeito do jeito que
estava. “De minha parte”, brinca Bottrell, “eu não pensava muito em rap branco... [mas] eu toquei para
Michael no dia seguinte e ele foi: ‘Ohhh, eu adorei, Bill, eu adorei. Deve ser esse.
’ Eu continuei dizendo: ‘Não, nós temos que conseguir um rapper de verdade’, mas assim que ele ouviu minha performance ele
ficou cometido por ela e não poderia considerar usar ninguém mais.” A ponte,
igualmente, foi completada com o impetuoso ataque vocálico de Jackson sobre afluentes
acordes de guitarra.
A gravação final foi
uma fusão perfeita de estilos musicais, contendo elementos de hip-hop, pop, rock clássico e até mesmo
country. Isso foi a equivalência
musical do tema inclusivo da música. Rolling
Stone a descreveu como um “efervescente hit
pop”, que poderia “arrebatar seu coração com uma linha como: ‘Eu acredito
em milagres/E um milagre aconteceu esta noite’ mas... também arrebata seu corpo,
com estas engasgadas guitarras hiperativas e incríveis batidas irregulares-espasmódicas”.
Com os sons alegres e
refrão contagiante, contudo, ouvintes sempre se esquecem da corrente sombria da
música. A maioria a tem interpretado como uma direta chamada para harmonia
racial. Enquanto Jackson, indubitavelmente, acreditava no poder da música para
unir as pessoas, “Black or White” não é meramente uma ingênua expressão de kumbaya. Em uma linha, ele previne
fácil e cordial hipocrisia, desafiando: “Não diga que você concorda comigo/ Quando
eu o vi chutando poeira em meus olhos.” Na ponte, os versos alegres, de
repente, dão lugar a uma explosão de ultrajes: “Eu estou cansado deste
mal/Estou cansado destas coisas/ Estou cansado destes negócios.../ Eu não tenho
medo de seu irmão/Eu não tenho medo de nenhum lençol/eu não tenho medo ninguém...”.
Essa é uma interjeição
direta, particularmente para uma música pop
que alcançou o topo dos charts. A
letra relembra isso por toda a aspiração de igualdade racial, a revolta com
injustiça continua. Como uma das mais poderosas vozes “black” no mundo, Jackson
abertamente desafia vitimização, contestando a intimidação da supremacia
branca. Quando ele diz “Eu não tenho medo de nenhum lençol”, ele não está
apenas falando da KKK, mas de sutil, estrutural,
forma de racismo, também.
No vídeo musical, essa
porção da música vem diretamente depois de uma imagem de dois bebês (um negro,
um branco), sentados em cima do globo. “Exatamente antes de esta açucarada
imagem cansar, isso se torna apocalíptico”, nota Armond White, “Jackson
reaparece caminhando através de uma parede de chamas... imagens de guerra e
misérias assombram o plano de fundo, mas ele continua se movendo em nossa
direção... afastado uma cruz pegado fogo... [Isso] é reminiscência da mais
audaciosa cena em Like a Prayer, de
Madonna, mas Jackson demonstra uma indignação mais desafiante. E vindo de um
mundo de idealismo, na parte central do vídeo, a raiva de Jackson teve um forte
efeito”. Na verdade, parte da genialidade do vídeo de Black or White é a sustentada tensão entre oposições: entre
idealismo e realismo, inocência e experiência, sátira e sinceridade.
Dirigido por John
Landis (que também dirigiu Thriller)
o curta-metragem de onze minutos começa no céu, antes de dar zoom em direção a
um típico subúrbio de vizinhança branca. Aqui, as ruas são imaculadas, e as
casas uniformes. Mesmo antes de nós entramos em uma casa, nós percebemos certa
esterilidade e vazio na vizinhança: está claro que os cidadãos desta, aparente,
idílica cidade de classe média estão afastados uns dos outros, consumidos nos
próprios espaços privados.
A ideia é reforçada quando
nos é concedido um olhar dentro de uma casa de dois andares que, simbolicamente,
separa uma criança (interpretada por Macaulay Culkin) dos pais dela. Enquanto a
criança dança rock para a um solo de
guitarra, no quarto dela, o pai está no andar inferior, imerso em um jogo de baseball, e a mãe dela está lendo um
jornal tabloide. A música está tão alta que isso, finalmente, leva o pai até o
segundo andar para gritar para o filho dele (“Eu pensei que tinha dito a você
para abaixar este barulho.”). Isso é um jogo na clássica divisão generalizada
que rock ‘n’ roll tem provocado nas
famílias americanas (veja o vídeo do Twisted
Sister para “We’re Not Gonna Take It”). Entretanto, isso é, também, uma
paródia dessa alegoria. O garoto suburbano representa a primária demografia de
bandas de rock nos anos noventa e a
“rebeldia” dele é quase risivelmente inócua.
Toda a cena de abertura
é intencionalmente exagerada por efeitos, sugerindo a alienação da família –
uns dos outros e, também, de todo o mundo que eles vivem. Jackson, é claro,
sabe que a classe média branca americana constitui uma grande parte da
audiência dele. O que o vídeo tenta fazer, portanto, é segurar um espelho para
essa audiência e provocar um momento de autorreflexão.
Jackson transaciona
dentro da verdadeira música por ter o menino sedento de atenção, vindo para o
térreo, com guitarra e amplificadores, explodir o pai dele para fora da casa.
Significativamente, o pai aterrissa, com poltrona e tudo, em um campo na África;
uma eficaz chance de recolocação para um arquetípico pai americano. Aqui,
Jackson inicia a “reeducação” do pai por retirar a socialização deles e
retornar às origens da música, som, e dança. “A proverbial resistência da
América Branca à musica de selvagens, aqui, encontra a herança afrocêntrica
dela”, escreve Armond White. “O apropriado começo da música e a entrada de Jackson,
aqui, além de um grupo com lança e escudo carregando flechas, com rostos pintados
de preto e branco, fazendo uma ligeira dança Watusi, nega a resistência por
abraçar a herança”.
Essa coda começa quando o vídeo “oficial” termina.
Nós vemos o diretor vir para um elaborado set
de Hollywood. “Isso foi perfeito”,
ele diz à atriz. A câmera girar para mostrar um elenco completo, que, completamente
ocupado, conversa e começa a empacotar, supondo, como a audiência, que o vídeo
terminou e que a história foi contada. Então, a câmera faz um zoom de volta a
uma misteriosa pantera negra, que espreita, despercebida pela equipe, antes de
deslizar para fora do set. Uma vez do
lado de fora do prédio, a ameaçadora pantera desce as escadas para fora do set; quando ela chega à rua, ela,
graciosamente, metamorfoseia-se em Michael Jackson, que pausa, olha em volta e apanha
um fedora preto. Daí, caminhando dentro de um único holofote, ele se volta e
fita diretamente a câmera. O olhar dele é penetrante, desconcertante.
Exatamente quando a imagem fixa, Jackson explode em uma série de movimentos
rápidos e ininterruptos de dança e poses. Ele está usando mocassins pretos,
meias brancas, calças pretas, camiseta branca, camisa preta e um punho branco.
Isso é um notável visual de contrastes.
Enquanto Jackson
caminha por uma deserta rua da cidade, não há música, apenas o som dos passos
dele e o vento. Ele fita a câmera, novamente – dessa vez o olhar é um pouco
mais longo –, antes desencadear uma brilhante e percussiva rotina de dança. “Isso
cria uma estranha tensão”, escreve Margo Jefferson. “Parcialmente porque é
sinuosa e elegante – a forma de caminhar é macia. E muito porque, em cada uma
das batidas, ele afaga, arrebata, acaricia o falo dele”. Isso, é claro, é parte
do que tornou o vídeo controverso. Não é apenas que ele agarre a virilha dele
(ele tem feito isso em muitos vídeos antes) – isso é uma perturbadora agressão,
a combinação de dor, violência e sexualidade. “Esta é uma versão filme noir do famoso ‘Singin’ in the
Rain’ de Gene Kelly”, observa Armond White, “e a subversão de Jackson dessa alegre
obra arquetípica, certamente, perturbou a noção do que é show business da maioria das pessoas. Mas essa coda é a verdade de Michael... Não há música porque Jackson, que
tem performando desde que era criança, não tem tradição para a expressão
musical de raiva. Este inquietante balé é feito para ritmos interno; o que ele
não pode dizer em palavras, vem como um rugido de uma (isso mesmo) pantera
negra”.
Na verdade, é preciso imaginar
mais, uma vez, o verdadeiro contexto para, verdadeiramente, entender a coragem
e audácia do artista. O vídeo foi transmitido na rede de televisão; por toda a
América (e por todo o mundo), famílias foram atraídas, como se para o Super Bowl, para ser entretida. Porém,
muitos ficaram chocados e confusos. Na sequência final, o vídeo alcança o
clímax, quando Jackson começa a bater nas janelas (as inscrições racistas foram
adicionadas mais tarde), compulsivamente esfregando-se e gritando. No momento mais
poderoso do vídeo, talvez, Jackson gira como um tornado, antes de cair de
joelhos em uma poça d’água, rasgando a camiseta dele e gritando em agonia.
Uma vez que a explosão
emocional cessa, ele parece voltar a si e olha para a destruição com uma
expressão de dor, remorso e incerteza. O vídeo termina com Jackson metamorfoseando
de volta à pantera, e deslizando para dentro da rua escura e deserta. Assim,
significativamente, há outra afiada justaposição, quando nós estamos de volta a
uma típica casa americana com outro arquetípico pai (Homer Simpson) dizendo ao
filho dele (Bart) para desligar o que ele acabara de assistir. Foi uma forma de
iluminar a construída tensão com humor, mas também permite que o vídeo complete
o ciclo e reapresente, novamente, esse ponto.
A moldura final é um
último close-up da face dolorida de
Jackson e as palavras: “Preconceito é Ignorância”.
A música e o vídeo, é
claro, também levantaram questões sobre a identidade racial e sexual de Jackson.
Se isso não importa se alguém é branco ou
preto, como a letra diz, por que ele
mudou a cor da pele dele? Alguns perguntaram. Em 1991, ninguém sabia que
ele tinha vitiligo (esta revelação veio dois anos depois na famosa entrevista
dele com Oprah Winfrey). A suposição, contudo, para muitos, era que ele não
gostava de ser negro. As cirurgias plásticas, é claro, complicou ainda mais o
assunto. Para alguns, essas realidades cosméticas questionam toda a mensagem
dele; mas como Mark Anthony Neal nota: “Se você somente prestar atenção na aparência
física de Michael Jackson, você verdadeiramente perde algo que é muito mais
complexo... Michael Jackson, artisticamente e esteticamente, nunca deu as
costas à negritude dele. O trabalho dele sempre esteve em conversação com a
cultura negra, nos Estados Unidos e, ainda mais, globalmente.”
Na verdade, em Black or White (e outros vídeos de Dangerous)
Jackson faz exatamente isso, enviando inúmeros sinais que demonstram a
identificação dele como um homem negro de ascendência africana. Jackson,
também, desafiou noções tradicionais de identidade. Raça, ele parece argumentar,
não é meramente sobre pigmentação da pele, (“Eu não passarei minha vida sendo
uma cor”); do mesmo modo, ser um homem ou um pai não é apenas beber uma
cerveja, enquanto se senta em uma poltrona e assiste aos esportes na TV. Jackson está tentando subverter
tradicionais noções de raça, gênero e sexualidade, que encaixotam as pessoas e impedem
a comunicação e o entendimento.
A reavaliação e a tolerância
que Jackson está pedindo, portanto, não significa apenas branco ou preto, mas
tudo entre isso, todas as variações, nuances e identidades hibridas. Isso, por
fim, é o que ele representava. Por causa dessa ambiguidade, ele foi rotulado de
aberração. Em nome desta típica percepção superficial, ele está nos lembrando
de que mesmo as chamadas aberrações são humanos enraizados em uma complexa
narrativa que requer mais que rótulos preto ou branco.
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