"Então, Que A Performance Comece"
Quanto mais eu estudo Jackson e o trabalho dele, mais
me convenço de que ele era um homem de muita coragem e perspicácia psicológica
profunda; ferozmente comprometido com a mudança social, ironicamente engraçado
mesmo durante os momentos mais difíceis, e um artista até o âmago do seu ser.
Ele viu tudo em termos de arte e do poder transformador da arte. Nós não temos
acesso direto ao mundo – só podemos acessar o mundo através dos nossos sentidos
e percepções e arte tem a capacidade de desafiar e mudar essas percepções. Isso
é um tremendo poder, e Jackson entendia isso melhor que qualquer outro artista
do tempo dele.
Por exemplo, quando os sintomas do vitiligo de Jackson
se tornaram progressivamente pior, ele poderia ter reagido cobrindo as manchas
brancas com maquiagem escura o resto da vida dele, como a maquiador dele, Karen
Faye, diz que fez nos primeiros anos da doença. Ou ele poderia ter divulgado
tudo, usando maquiagem mínima, e se tornado um porta-voz para a conscientização
e tratamento do vitiligo. Em vez disso, ele desenvolveu uma resposta artística
que desafia nossas crenças mais fundamentais sobre raça e identidade, e mudou a
nós e a nossa cultura de uma forma que ainda não começamos a medir.
Da mesma forma, Jackson poderia ter respondido à
percepção pública de que ele era um abusador de criança tentando ignorá-la ou
superá-la de alguma maneira, embora seja difícil ver como ele poderia ignorar
um assunto tão em desacordo com as crenças centrais dele. Ou ele poderia ter se
aposentado da vista do público inteiramente e tido uma vida privada confortável
com a nova família dele, algo que ele nunca tinha tido antes.
Em vez disso, ele desenvolveu uma resposta artística
que abala os alicerces da própria percepção, e desafia algumas de nossas
suposições mais básicas sobre como podemos ver, interpretar e dar sentido ao
mundo.
Esse é o trabalho de um artista poderoso.