“Eu não estou planejando escrever
outro livro tão cedo. Se você quer saber como me sinto, você pode checar HIStory.
É um livro musical.”
MICHAEL JACKSON, SIMULCHAT, 1995
LANÇADO: 16 de junho de 1995
PRODUTOR EXECUTIVO: Michael
Jackson
NOTÁVEIS CONTRIBUIDORES: Jimmy
Jam (produtor), Terry Lewis (produtor), David Foster (produtor), Janet Jackson
(vocais), Bill Bottrell (produtor/compositor), R. Kelly (compositor), Dallas
Austin (compositor), Brad Buxer (teclado/arranjo), Bruce Swedien (engenheiro),
Eddie Delena (engenheiro assistente), Andrew Scheps (engenheiro assistente),
Rob Hoffman (engenheiro assistente), Johnny Mandel (orquestração), The Andraé
Crouch Singer Choir (vocais), Slash (guitarra), Boyz II Men (vocais), The
Notorious B.I.G. (rap), Shaquille O’Neal (rap), Matt Forger (coordenação técnica)
CANTORES: “Scream”, “You Are Not Alone”, “Earth Song”,
“They Don’t Care About Us”, “Stranger in Moscow”
ESTIMATIVA CÓPIAS VENDIDAS: 22 milhões
CAPÍTULO 5 HISTORY:
PAST, PRESENT AND
FUTURE, BOOK I
HIStory
é o álbum mais pessoal de Michael Jackson. Desde a fúria ardente de “Scream” à
dolorosa vulnerabilidade de “Childhood” o álbum era, nas palavras de Jackson,
“um livro musical”. Ele abrangeu todas as emoções turbulentas e lutas de alguns
anos anteriores: ele era o diário dele, a tela dele, a refutação dele.
O resultado, para
alguns, foi um pouco dissonante. Eles queriam o “velho” Michael Jackson: a
melodia calorosa, jovial, e as letras que estimulam a dança. HIStory abertamente desafiou essas
expectativas. Sonoramente, ele seguiu em frente, já que continuou a cruzar e
mixar gêneros (incluindo hip-hop, industrial funk e orquestral pop). Tematicamente, ele confrontou, em vez de evitar o
complexo estado emocional de Jackson. No entanto, ele também pareceu exteriorizado;
amarrando a angústia e revolta dele aos problemas sociais maiores, como
sensacionalismo da mídia, materialismo, discriminação e alienação.
Enquanto esta abordagem
provoca alguns momentos crus (e músicas sem a viabilidade comercial dos álbuns
anteriores), ele, também, parece libertar Jackson – e resulta em um das mais
politicamente potentes, emocionalmente honestas e artisticamente poderosas
faixas que ele já vez. “Jackson expressa difíceis experiências e desconfortável
conhecimento”, observa o crítico cultural Armond White. “Na voz agressiva dele,
há lugar para o desespero, a ânsia urgente de qualquer um”. Na verdade, embora
a maioria dos críticos tenha sido lenta em olhar o passado do imediato contexto
biográfico do álbum e reconhecer a realização artística dele, HIStory bem pode ser considerado a magnum opus de Michael Jackson. Nunca os
vales tinham sido tão baixos e os picos tão altos.
HIStory
foi criado a partir de um tipo de exílio cultural. Em 1995, enquanto ele continuava
sendo enormemente popular na maior parte do resto do mundo, Michael Jackson
tinha perdido muito do encanto dele nos Estados Unidos. As alegações de abuso
sexual infantil, em 1993, tinham devastado a imagem dele. Alguns sentiram que
isso, efetivamente, encerrou a viabilidade dele como um dominante pop star. As sórdidas alegações, porém,
não foram a única razão para a minguante relevância dele. Isso também tinha a
ver com a mudança cultural da juventude e o espírito musical da época. Os
ícones culturais do início ao meio dos anos noventa eram artistas como Kurt
Cobain, Tupac Shakur, e Alanis Morissete. Em comparação, a imagem de Jackson
parecia muito teatral e ensebada. “Black or White” e “Heal the World” simplesmente
não ressoaram com o cinismo e sofismo da Geração X. Dance pop e temas humanitários eram ridicularizados por grungers vestidos de flanela e gangstars usando calças largas e
reagindo contra o percebido artificialismo, falsidade e otimismo dos anos
oitenta.
As mudanças culturais
não foram apenas nos gostos musicais, é claro. Quando Jackson retornou ao
estúdio, em 1994, globalização e novas informações tecnológicas estavam revolucionado
o mundo de maneiras profundas. Era o começo da era digital com a internet mudando o modo como as pessoas
se comunicavam, consumiam e recebiam informação. O correio eletrônico substituiu
“o correio lesma”, chat rooms era os
novos bares, as pessoas começaram a comprar livros, música e roupas online, e empresários como Steve Jobs e
Bill Gates se tornaram multibilionários.
Nos Estados Unidos, a
era Clinton estava em curso, e com ela a explosão ponto-com que conduziu a uma
década de mercados de afluência e prosperidade. Os anos noventa são, agora,
frequentemente, relembrados, nostalgicamente, como pré-Bush, pré-11/9, pré-recessão
da era de ouro. Enquanto a visão de Clinton de uma “ponte para o século vinte e
um” inspirava esperança, contudo, não demorou muito para que isso também
gerasse alguma desilusão e severa reação contra cultural. Enquanto CEOs fizeram lucros recordes, também foi
um tempo de terceirização, redução, concentrações e dominação de corporações. A
fúria dos cidadãos contra a globalização culminou no caos e violência dos
protestos em Seattle, em 1999, contra
o World Trade Organization.
Jackson no set do vídeo dele, Scream, em
1995.
Os anos noventa também testemunharam uma efetiva fusão entre noticiário
a cabo, de vinte e quatro horas, e noticiários de entretenimento. O desejo por
cobertura de celebridades, em particular, tornou-se um tipo de obsessão
internacional, alimentada por uma incessante perseguição por dólares de
classificação e publicidade. A cobertura parede a parede de dois eventos
marcantes – o caso de homicídio de OJ Simpsom (1994) e a morte da Princesa
Diana (1996) – perfeitamente sintetizou o paradigma “infoentretenimento”. Ambos
os casos apresentavam dramas de celebridades, tragédias, como perseguições em alta
velocidade e acidentes de trem, que anteciparam a mudança para a reality TV e estabeleceram o novo esboço
para o que poderia ser considerado mainstream
“News”. Ambos acontecimentos também tiveram um profundo impacto pessoal em
Michael Jackson.
Jackson, notoriamente, assistiu à infame perseguição de carro a OJ Simpson,
do Hit Studio, em New York. Quando o
circo julgamento se desdobrou, ao longo do próximo ano, ele pode ver,
claramente, a maneira como o tribunal, jurados, e a ideia de justiça tinham
sido infectados pela parasitária cobertura midiática. Simplesmente não havia
garantias de que a verdade iria prevalecer, quando julgamentos eram
transformados em programas de televisão e testemunhas se tornam celebridades,
elas mesmas.
A morte de Diana, da mesma forma – um evento midiático mais global – foi
devastadora para Michael Jackson. Embora o relacionamento deles fosse limitado
(ele a encontrou uma vez, na Bad World
Tour, e falou com ela, pelo telefone, algumas vezes), ele, há muito tempo,
sentia uma afinidade com a Princesa de Gales. “Ela era muito afetuosa, muito amorosa,
muito doce”, ele disse em uma entrevista em 1996. Quando ele soube da morte
dela, ele literalmente se despedaçou. “Eu acordei”, ele recordou, “e meu médico
me deu as notícias. E eu caí de tristeza e eu comecei a chorar. A dor... Eu sinto
dor, no meu estômago e no meu peito. Então, eu disse: ‘Eu não posso lidar com
isso... é demais. ’ Apenas a mensagem e o fato de que eu a conhecia
pessoalmente”. A mensagem para Michael, é claro, era que a mídia tabloide
poderia não somente zombar de você, perseguir você, roubar toda a sua
privacidade, manipular a verdade e destruir sua reputação, mas eles poderiam,
também, literalmente, matar você. Houve, é claro, outros fatores no acidente de
carro da Princesa Diana, mas esse era o favorito de Jackson. Os paparazzi a tinham perseguido toda a
vida e, agora, como o próprio irmão dela disse, “eles tinham sangue nas mãos”. “Eu
tenho vivido este tipo de vida a minha vida inteira”, Jackson disse em uma
entrevista aquele ano. “A imprensa tabloide... esse tipo de imprensa... Eu
tenho corrido por minha vida assim, escondendo, fugindo... Você se sente como
se tivesse na prisão.”
The Sun, um notório tabloide Britânico, foi o primeiro a
espalhar a história. Outros vieram logo atrás. Apenas dias depois das alegações
surgirem, a correspondente do Hard Copy,
Diane Dimond, (que faria uma carreira em cima de Jackson) obteve uma cópia
ilegalmente vazada do relatório de abuso do Departamento de Serviços à Criança,
com todos os detalhes obscenos das alegações. Dentro de horas, o documento foi
vendido para outras redes de imprensa, que convergiram da Califórnia para o
mundo todo. Naquela noite, as alegações foram reportadas como a principal história
em várias das principais redes de televisão.
A cobertura de imprensa, entretanto, continuou implacavelmente. Em uma
extensivamente procurada peça da GQ magazine, de 1995, a jornalista Mary
Fisher descreveu isso como “um frenesi de exageros e rumores infundados, com a
linha entre tabloide e jornalismo convencional virtualmente eliminada”.
A consequência para Jackson foi quase um ano de caça às bruxas por parte
da mídia, no qual, artigo após artigo, e programa após programa, ofereceram
especulações e insinuações, mas nenhuma evidência corroborativa ou testemunhas
credíveis.
Para Jackson, contudo, a injustiça não terminou com a mídia. Isso estendeu
ao departamento de polícia e o promotor distrital (Tom Sneddon) que gastou uma
quantidade sem precedente de tempo, dinheiro e energia perseguindo,
infrutiferamente, um indiciamento. Estava claro desde o início – pois, mais que
setenta oficiais desceram na casa de Jackson, Neverland, em agosto de 1993 –, que isso não era um caso comum.
Portas foram quebradas, colchões foram cortados e diários, livros, vídeos e
fotos foram levados em caixas cheias. Os oficiais vasculharam cada metro
quadrado da propriedade de Jackson – procurando em camas, mesas e armários,
remexendo nos pertences pessoais dele. “Imagine ter alguém mexendo em todas as
suas coisas, quando você está a milhões de milhas de distância”, Jackson, mais
tarde, contou ao biografo J. Randy Taraborrelli. “Eles pegaram todos os tipos
de coisas, coisas bobas como vídeos de mim na Disneyland, fotos dos meus amigos, caixas e caixas de coisas
pessoais. E diários! Imaginem ter alguém estranho lendo seus pensamentos mais
secretos, as mãos imundas deles passando por todas aquelas páginas privadas,
pensamentos sobre [minha] Mãe e como eu me sinto sobre Deus. Isso foi perverso.
E eu ainda não recebi de volta um monte de coisas. Isso me faz chorar, quando
penso sobre isso. Mas em todos os meus objetos pessoais, não havia uma peça de
evidência para provar que eu fiz alguma coisa errada.”
A humilhação também incluiria um exame despido, na qual foram tiradas
fotos do pênis e nádegas. (Mais tarde foi revelado que as fotos não combinavam
com a descrição do acusador.) Nenhum desses fatos, é claro, fizeram as mesmas
manchetes que as alegações iniciais. “O que surgiu com a massiva investigação
de Jackson?” perguntou Mary Fisher, no estudo do caso dela, de 1995. “Depois de
milhões de dólares serem gastos pelos promotores e os departamentos de polícia,
em duas jurisdições, e depois de dois grandes juris questionarem cerca de 200
testemunhas, incluindo 30 crianças que conheciam Jackson, nem uma única
testemunha de corroboração pôde ser encontrada.” Por fim, o acusador se recusou
a testemunhar, do mesmo modo – em 1993 e, de novo, em 2005. “Os promotores
tentaram levá-lo a aparecer e ele não apareceu”, explicou o advogado de Jackson,
Thomas Mesereau. “Se ele tivesse, eu tinha testemunhas que entrariam e diriam
que ele contou a elas que isso nunca aconteceu e que ele nunca falou com os
pais dele novamente por causa do que eles o fizeram dizer. Acontece que ele foi
ao tribunal e pediu emancipação legal dos pais dele.”
Na verdade, Jackson nunca culpou o menino em questão. Em vez disso, ele
se sentiu “traído” e manipulado pelos pais. Ele ficou especialmente irado, com
o pai (Evan Chandler), que estava tentando extorquir dinheiro dele, durante
meses antes das alegações surgirem. Em uma gravação telefônica, Chandler,
realmente, admite que o bem estar do filho dele era “irrelevante”; se ele não
conseguisse o que ele queria, seria “um massacre”. “Há outras pessoas envolvidas
que estão esperando por meu telefonema, que estão em certas posições”; Chandler
ameaçou. “Eu paguei a elas para fazer isso. Tudo esta acontecendo de acordo com
certo plano que não é só meu. Uma vez que eu dê aquele telefonema, este cara [o
advogado dele, Barry Rothman] destruirá todo mundo à vista, da forma mais
sórdida e cruel que ele possa fazer. E eu dei a ele total autoridade apara
fazer isso... E se eu for adiante com isso eu ganharei um grande momento. Não
há nenhum jeito de eu perder. Eu chequei tudo. Eu conseguirei tudo que eu
quiser e eles serão destruídos para sempre... A carreira de Michael vai
acabar... Este homem será humilhado além do acreditável”. Apenas algumas semanas
depois dessa ameaça, quando as tentativas de Chandler em conseguir o
financiamento de Jackson para roteiros (Chandler era um aspirante a roteirista)
falharam, ele foi em frente com o plano dele. As autoridades foram notificadas
sobre as alegações, assim como a imprensa – e o “escândalo da década” estava em
andamento.
Um revelador autorretrato de Jackson incluído como parte do livreto acompanhante para HIStory. À esquerda, está a letra da música dele, "Childhood".
Jackson, é claro, manteve a inocência dele por toda a vida. “Eu nunca
poderia ferir uma criança ou ninguém. Isso não está no meu coração, isso não é
o que eu sou”, ele disse a Diane Sawyer em 1995. Em outra entrevista, ele disse
que ele “cortaria os pulsos dele”, antes de machucar uma criança. As alegações
de 1993, porém, provaram ser uma experiência traumática com efeitos
prolongados, incluindo um vício crescente em analgésicos e, ainda, mais
isolamento do mundo exterior. Depois de meses do que ele descreveu como um
“horrível, horrível, pesadelo” – incluindo a completa demolição do caráter dele
pela imprensa, a invasão do lar dele e o desumano exame sem roupa– Jackson
decidiu que ele já tivera o bastante.
Jackson e Lisa Marie Presley sorriem para
a câmera em Versailles, França, em
1995.
Em 26 de janeiro de 1994, isso foi exatamente o que ele fez. O acordo
foi oficialmente anunciado, com Jackson mantendo a inocência dele. Foi estimado
que Evan Chandler e a família dele receberam 22 milhões de dólares no acordo.
Se há alguma coisa positiva a vir da provação que Jackson
enfrentou em 1993, foi a forma como ele transformou a dor, a raiva e a
desilusão da experiência, em surpreendentes novas músicas. Músicas como
“Scream” e “Stranger in Moscow”, igualmente, nunca teriam sido escritas, se
Jackson não tivesse atravessado esse período de extremo desespero. “Você tem
que ter esta tragédia, esta dor, de onde tirar”, ele, mais tarde, escreveu
sobre paradoxal fonte de grande arte.
O plano original para HIStory
era uma great-hits collection com
algumas novas músicas acrescentadas. Entretanto, com o influxo de promissor
material novo, Jackson, rapidamente, optou por fazer um álbum duplo: um disco
contendo os hits clássicos dele e
outro todo de novas músicas. “Na verdade, eu não queria que o álbum fosse sobre
músicas velhas”, Jackson admitiu. “Para mim, álbuns greatest-hits são chatos. E eu quero continuar criando.” O novo
álbum, ele determinou, seria uma poderosa refutação para aqueles que o
declararam morto: um álbum tão forte, diverso e corajoso, que as pessoas não
teriam escolha a não ser reconhecer isso.
Ajudando tanto na segurança quanto na resiliência dele estava uma nova
presença na vida dele, a filha da realeza do rock, Lisa Marie Presley. Jackson e Presley foram apresentados pelo
advogado de longa data de Jackson, John Branca. Por anos, Jackson tinha
cutucado Branca (que uma vez representou o espólio de Presley) sobre apresentá-lo
a Lisa. Eles se tornaram mais próximos no meio dos anos mais difíceis da vida
dele. “Eu estava em turnê”, ele recorda, “era como se eu estivesse no Armageddon... Todas estas histórias
horríveis sobre mim estavam circulando... Era inacreditável. Lisa Marie
ligaria. Eu poderia contar meus amigos verdadeiros em uma mão. Ela de muito,
muito apoio, todo o tempo. Isso realmente me impressionou. Ela ligaria e
estaria chorando”.
Tendo perdido o próprio pai para as drogas, Lisa estava ansiosa em ajudar
Jackson a se recuperar do vício dele em analgésicos. Ela também era sensível à
exploração que ele estava experimentando nas mãos de “abutres” em torno dele.
Quando Jackson retornou aos Estados Unidos, no meio de dezembro de1993, o par
começou a se ver com mais e mais frequência. “A coisa brilhante sobre nós, é
que estávamos sempre juntos, mas não deixávamos ninguém saber sobre isso”,
disse Michael. “Nós tínhamos que nos ver dessa forma... Nós ficávamos realmente
tranquilos e confortáveis um com o outro. Assim foi como, basicamente, o namoro
começou... Nós passávamos muito tempo no rancho e apenas caminhando por lá e
conversando... isso aconteceu, isso se desenrolou totalmente natural. Nós
podíamos sentir e sentimento que tínhamos um pelo outro sem nem mesmo falar
sobre isso. Estava tudo na vibração, os sentimentos e os olhares em nossos
olhos.”
“Nós nos apaixonamos”, confessou Presley, admitindo que o namoro deles contivesse
todas as coisas que se espera – “flores, telefonemas, doces, você nomeie isso”.
Jackson fez a proposta a Presley na biblioteca dele, em Neverland. Alguns meses mais tarde, o casal escapou dos Estados
Unidos para a República Dominicana, onde foram casados. A pequena e privada
cerimonia levou, no todo, doze minutos. Com algum milagre, o casal, de alguma
forma, conseguiu manter o casamento em segredo por quase dois meses depois,
quando eles passaram a lua de mel em Budapest, Hungria, e na Disney World e se estabeleceram no
Rancho Neverland.
Quando a imprensa, finalmente, ficou sabendo do casamento, houve um
previsível rebuliço e muito ceticismo. Muitos viram isso como um “movimento de
relações públicas”, dado que Jackson estava a menos de um ano do escândalo de
abuso sexual infantil. Outros aclamaram que Presley estava usando-o para
começar a própria carreira de cantora dela e levar Michael, e o dinheiro dele,
para a Igreja da Cientologia.
Em múltiplas entrevistas (mesmo depois do divórcio deles), contudo,
Presley alegou que, enquanto ela podia entender o ceticismo, o casamento foi,
na verdade, real e íntimo. “Nosso
relacionamento não era ‘uma fraude’ como estava sendo reportado na imprensa”, ela,
mais tarde, escreveu no blog dela,
logo depois da morte de Jackson. “Era um relacionamento incomum, sim, onde duas
pessoas incomuns que não viviam ou conheciam uma ‘vida normal’ encontraram uma
conexão... Todavia, eu acredito que ele me amou, tanto quanto ele poderia amar
alguém e eu o amava muito.”
Com o apoio e encorajamento dela, Jackson estava pronto para recomeçar e
seguir em frente em uma nova fase da vida e da arte dele.
Não muito depois de Jackson e Presley ter casado, o cantor estava
de volta ao estúdio, trabalhando no novo álbum dele, onde Presley sempre o
acompanhava. “Eles agiam como duas crianças apaixonadas”, recorda o engenheiro
assistente, Bob Hoffman. “De mãos dadas o tempo todo, e ela sair[ia] por algum
tempo.” Presley estava profundamente impressionada pelo talento de Jackson, mas
ela, também, não tinha medo de ser honesta com ele. Ela não queria que ele
bancasse a vítima no álbum dele; ela queria que ele revidasse. Jackson
concordou e estava pronto para lançar mais que um ano de raiva e indignação
reprimida.
A maioria das primeiras canções de Jackson (“Stranger in Moscow”,
“Childhood”, “Money”, “Little Susie”, etc.) foi esboçada e gravada com o
compositor/músico Brad Buxer, com quem Jackson tinha se tornado muito próximo,
desde as sessões de Dangerous. Buxer
foi o diretor musical da segunda parte da Dangerous
World Tour e eles sempre trabalharam juntos em novo material nos quartos de
hotéis dele. O material serviu como a fundação para HIStory, quando eles retornaram aos Estados Unidos.
Coincidentemente, as gravações para HIStory
estavam agendadas para acontecer no mesmo dia em que aconteceu o terremoto, em
janeiro de 1994, em Los Angeles (o
que resultou em setenta mortes e mais que 20 bilhões de dólares em danos).
Jackson ficou horrorizado pelo terremoto e decidiu mudar todo o time para New York. As gravações começaram mais
tarde naquele mês, no legendário Hit
Factory, do qual o time frequentemente utilizava todos os quatro estúdios,
supervisionados, principalmente, pelo coordenador de produção, Matt Foger.
Durante os primeiros meses de gravação, Jackson viveu em hotéis em Manhattan,
onde ele, frequentemente, ficaria acordado até tarde da noite, desenvolvendo
letras e arranjos, antes de viajar, incógnito, até o estúdio. (Jackson,
essencialmente, escreveu e cantou no Estúdio Três.).
Depois do pesadelo que foi 1993, Jackson estava animado por estar focado
novamente no trabalho dele. O estúdio e o palco, como sempre, eram onde ele se
sentia mais em casa. “Quando Michael Jackson entrava na área de gravação, ela
se tornava dele, observou o, então, amigo Uri Geller, que presenciou as sessões
no Hit Factory em 1994. “Ele dominava
o estúdio, um tipo de dominação diferente do jeito como ele controla a
multidão... Michael é extremamente comprometido com a música dele. Ele trabalha
passionalmente nisso, com uma dedicação que me surpreendeu quando eu vi pela
primeira vez.”
Como com Dangerous, Jackson
assumiu o papel de produtor executivo, reunindo em torno dele um novo time de
músicos, compositores e coprodutores para ajudá-lo a realizar a visão criativa
dele. Enquanto ele manteve vários dos parceiros musicais de longa data – Bruce
Swedien, Rene Moore e Steve Porcaro, entre outros – ele, também, continuou procurando
por novos talentos. Para HIStory, a
principal equipe consistia em Brad Buxer, Eddie Delena, Andrew Scheps e Rob
Hoffman. Depois de uma positiva experiência trabalhando com Bill Bottrell e
Teddy Riley, em Dangerous, Jackson
estava ansioso por testar alguns novos produtores.
O som new jack swing tinha evoluído
desde Dangerous. Jackson gravou
algumas novas músicas com Teddy Riley, nas primeiras sessões, mas elas não
entraram no álbum. Jackson também gravou músicas com Babyface (incluindo “Why”
e “On the Line”), mas elas também não entraram no corte final. (Duas das
colaborações de Bottrell, “Come Together” e “Earth Song”, fizeram HIStory, mas elas já tinham sido
escritas e gravadas antes – embora “Earth Song” tenha sido ligeiramente
modificada.).
Neste inicial, estágio, Bruce Swedien recorda Jackson chamando-o para a
sala dele no estúdio, um dia, e perguntando se ele “poderia pensar em alguém
que era verdadeiramente original na elaboração de sons de sintetizadores e
cores”. Jackson enfatizou: “E eu quero dizer verdadeiramente original.” Swedien recomendou Chuck Wild, do
revolucionário grupo da nova onda, Missing
Persons. Jackson decidiu trazê-lo a bordo. “Eu nunca esquecerei a primeira
conversa entre Michael e eu, em 1994”, recorda Wild. “Ele disse: ‘ Chuck, que quero
que você fabrique sons que os ouvidos nunca ouviram. Eu quero que eles sejam
ardentes e agressivos, incomuns e únicos. ’ Intermitentemente, ao longo dos
próximos três anos, trabalhando com cerca de 25 sintetizadores, três
sampleadores e um par de computadores Macintosh,
eu criei uma biblioteca de sons e sonoridade.”
Jackson, também, trouxe a famosa dupla de Minneapolis, Jimmy Jam e Terry
Lewis, que tinham produzido todos os álbuns da irmã dele, Janet, incluindo o
revolucionário Rhythm Nation. Jam e
Lewis ficaram emocionados por, finalmente, trabalhar com Michael. Antes de
encontrá-lo em Nova Iorque, eles testaram um punhado de faixas com Janet. “Durante
um par de dias, nós viemos com cerca de oito diferentes ideias para as faixas”,
recorda Jimmy Jam. “Interessantemente o
bastante, Janet sabia que ele adoraria a demo que acabou sendo ‘Scream’. Eu
disse: ‘Como você sabe? ’ [Ela disse] ‘ Eu conheço meu irmão. ’” Janet, é
claro, estava certa. Quando Jam e Lewis chegaram ao Hit Factory, Michael e Janet escutaram as demos juntos. “Ele colocou
nossas faixas, as quais nós tínhamos comparado de oito a seis”, recorda Jimmy
Jam. “‘Scream’ foi a quinta. Ele escutou cada faixa por cerca de dois minutos.
‘Eu gosto disto... Isto é realmente bom’, ele diria. Assim, no fim, ele nos
disse: ‘Tudo isso realmente funciona, vocês fizeram um ótimo trabalho. Nós
podemos voltar à faixa cinco? ’ Ele tocou ‘Scream’ de novo. ‘Eu pensei nesta
aqui, eu pensava que eu tinha escutado alguma coisa para esta faixa’, ele
disse. ‘Vamos em frente com esta. ’ Janet olhou para mim e começou a rir. ‘Eu
disse a você que ele escolheria esta. ’”
Jackson no set do vídeo
musical dele
para Earth Song, o mais ambicioso
hino dele àquela época.
hino dele àquela época.
No dia seguinte, eles se encontraram, novamente, na suíte de Jackson, na
Trump Towers, e Jackson veio com a
melodia e a letra para a música. “Era maravilhoso”, lembra Jam. “O processo de
composição foi assim em todas as músicas que fizemos juntos... Ele era muito
rápido, muito intenso. Tudo foi escrito em um furacão. Apenas vinha para ele.
Era emocionante.” No total, três colaborações Jackson/Jam-and-Lewis – “Scream”,
“Tabloid Junkie” e “HIStory” – integrariam o álbum.
Para um punhado de outras faixas, Jackson alistou o produtor de R&B em ascensão, Dallas Austin, (coprodutor
do CrazySexyuCool, do TLC),
que ajudou com “This Time Around” e “2Bad”; e R. Kelly, que contribuiu com “You
Are Not Alone”. “Eu cresci com a música de Michael e eu tenho sido muito
inspirado pela música de Michael”, disse R. Kelly. “Para verdadeiramente tê-lo
ligando para mim, ligando para meu empresário, dizendo que ele queria que eu
fizesse uma música para ele, foi uma grande inspiração para eu seguir em frente
em minha carreira... E, até o dia em que eu o conheci, isso era como uma
contagem regressiva.” Quando os dois, finalmente, entraram no estúdio, juntos,
R.Kelly não ficou desapontado. “Michael estava em outro nível”, ele disse da
experiência, “e era um tremendo de um nível para o qual ir”.
Para as faixas orquestrais, do mesmo modo, Jackson se voltou ao renomado
compositor/produtor David Foster (que tinha trabalhado com quase todos os principais
artistas na indústria). Jackson tinha trabalhado brevemente com Foster antes,
em Off The Wall, mas eles não tiveram
uma chance de colaborar, desde então. “Michael pediu para eu trazer minha
família junto”, Foster recorda. “Ele foi muito cuidadoso em se certificar de que
todos estavam confortáveis. Eu levei três de minhas filhas e meus dois enteados,
que, é claro, ficaram muito animados. Michael nos colocou na incrível suíte de
cinco quartos dele no Plaza.” Foster ajudou em duas das mais emocionantes
declarações do álbum – “Childhood” e “Smile” – assim como ajudou a terminar o
trabalho para “Earth Song”.
Quando o trabalho progrediu no álbum, Jackson, como sempre, estava
sintonizado com as últimas tendências e inovações na música popular e estava
determinado em ficar à frente. “Eu penso que poucas pessoas percebem o quão
profundamente [Michael] estava envolvido nas gravações dele”, diz o engenheiro assistente
Rob Hoffman. “Ele tinha um incrível vocabulário musical – de trilhas sonoras
para programas de jazz e qualquer
coisa que estivesse no rádio. Ele estudava e eu penso que você pode escutar
isso na música dele.” Na verdade, enquanto gravava HIStory, ele escutou e desfrutou álbuns tão diversos quanto o Downward Spiral, do Nine Inch Nail, e Ready to
Die, do Notorious B.I.G. Felizmente, para Jackson, o respeito que ele
demandava dos colegas dele significava que qualquer um que ele quisesse que
colaborasse, iria agarrar a oportunidade. Para HIStory, Slash, mais uma vez, contribuiu com o virtuosíssimo trabalho
de guitarra dele, Boyz II Men
forneceram vocais backgrounds e o superstar do basketball, Shaquille O’ Neal, foi chamado para o rap. Em uma indicação do crescente respeito
do mundo hip-hop por Michael Jackson,
o Notorious B.I.G. – que estavam, então,
no auge da carreira deles –, não apenas avidamente contribuíram com um rap para “This Time Around”, de Jackson,
mas também, timidamente, pediu a Jackson um autógrafo depois.
Wyclef Jean, do Fugges, gravou com Jackson durante as sessões de HIStory. “Ele é a única pessoa em minha
vida onde, quando eu o vi, toda a minha voz sumiu”, ele recorda do primeiro
encontro deles. “Eu não sabia o que dizer. Minhas mãos estavam tremendo.” De
acordo com quase todo que trabalharam com ele, entretanto, Jackson sempre foi
humilde e tratava os colaboradores dele com iguais. “Trabalhar com Michael é um
tipo diferente de trabalho”, refletiu o produtor/compositor Dallas Austin. “Você
é pressionado pelo tempo, mas não por criatividade ou dinheiro. Assim, você é
deixado com liberdade louca. Você pensaria que ele seria muito controlador, mas
se ele gosta de você o bastante para trabalhar com você, ele quer sua
especialidade.”
O
HIStory teaser de Jackson incitou um rebuliço. Aqui, ele marcha à frente de
um exercito sincronizado.
Outros apoiaram. “Michael é a pessoa mais intensa com quem já
trabalhei”, ofereceu Jimmy Jam. “Para ele, tudo é sobre a música e como torná-la
melhor. [Mas] ele também torna o trabalho muito divertido. Ele é uma criança no
coração – o escritório dele não é como um escritório normal. Ele tem todos os
tipos de brinquedos. Muitas vezes, nós estaríamos em sessão, no meio de um jogo
de videogame, e ele seria como: ‘Bem, nós temos que fazer isso. Mas vão em
frente e terminem o jogo de vocês – eu não quero atrapalhar o jogo de vocês. ’”
A data inicial para lançamento do álbum foi fixada para o inverno de
1994 – exatamente antes dos feriados. No que tinha se tornado forma padrão de
Jackson, contudo, o álbum foi adiado. Ele ainda não estava satisfeito com
bastante material. “Eu acredito em perfeição”, ele explicaria mais tarde, “e eu
tento criar isso em tudo que eu faço. Nós nunca parecemos chegar lá totalmente,
mas eu acredito em execução perfeita. E quando nós não conseguimos, pelo menos,
99.9 por cento, eu fico realmente chateado”. Jackson estava contente com o
jeito como HIStory estava evoluindo,
porém. Naquele inverno, ele e o resto do time criativo mudaram de volta para Los Angeles, onde a gravação continuou
no Record One, Larrabee e nos estúdios Westlake,
“Às vezes, nós olharíamos para cima e seriam, facilmente, 3 ou 4 da manhã”,
recorda Jimmy Jam. “Houve dias quando Michael deixaria o estúdio às 3 da manhã
e estaria de volta em ação, logo cedo, no dia seguinte.”
Os próximos vários meses foram gastos podando e polindo, enquanto Jackson
também trabalhava nos curtas-metragens, novas coreografias para performances e
outros projetos.
“A última semana de gravação em HIStory”,
recorda o engenheiro assistente Rob Hoffman, “[Michael] veio até mim e Eddie
Delena e disse: ‘Eu sinto muito, mas eu não penso que alguns de nós irão dormir
este fim de semana. Há muito a ser feito e nós temos que ir ao Bernie [Grundman,
para masterização] na segunda de manha. ’ Ele ficou no estúdio o tempo todo,
cantando e mixando. Eu passei um par de momentos tranquilos com ele, durante
aquele tempo. Nós conversamos sobre John Lennon uma noite quando ele estava se
preparando para cantar o último vocal do álbum – o enorme ad-libs no final de ‘Earth Song’. Eu disse a ele a história de John
cantando ‘Twist and Shout’ quando esta doente e, embora, a maioria das pessoas
pensasse que ele estava gritando para efeito, era, na verdade, a voz dele saindo.”
Jackson e o time de engenheiros dele continuaram a trabalhar todo o
caminho para finalizar a linha. “Mais tarde, naquela noite, enquanto estava
mixando”, recorda Hoffman, “todo mundo deixou a sala, daí [Michael] pôde subir
isso. Essa era uma ocorrência comum durante as mixagens e eu fui deixado na
sala, com plug de ouvido e mãos sobre
meus ouvidos, para o caso de ele precisar de alguma coisa. Esta noite, em
particular, todas as luzes estavam desligadas, e nós percebemos alguns flashes azuis, intermitentemente,
iluminando a sala durante o playback.
Depois de alguns momentos, nós pudemos ver que um dos alto falantes
(personalizado quádruplo Augspurger) estava atirando chamas azuis. [Michael]
gostou disso e continuou a instigar todas as luzinhas”.
Quando eles finalmente tinham todas as músicas finalizadas (quatorze faixas
escolhidas de, estimadas, quarenta a cinquenta, que foram trabalhadas durante
as sessões), entretanto, eles entraram em um problema familiar: havia muito
material para colocar em um CD. Bruce
Swedien encarregou o engenheiro assistente John Van Nest de apará-los. “Não era
tarefa pequena, pois cerca de sete minutos precisava ser recortado em algum
lugar”, recorda Van Nest. “Eu puxeis tudo isso para fora com Ferramentas de Som
e acabei sabendo cada verso de todas as músicas muito intimamente. Eu descobri
lugares onde músicas poderiam ser reforçadas e vim com muitas sugestões. Na
noite da masterização, eu fui colocado em uma sala no Bernie Grundman, com meu
Equipamento de Som e nessa sala, eu teria que ‘negociar’ com Michael sobre o
que tirar. Eu nunca esquecerei aquela noite... Michael entrou e Bruce Swedien
disse a MJ que nós teríamos que remover até uma música inteira ou editar as
outras para caber dentro de um CD.
Nós escolhemos a última opção. Eu comecei com música um, e toquei para Michael
minha edição, ‘Oh, não, nós não podemos tirar isto, esta é a minha parte favorita do álbum! ’ ‘Ok’, [Eu disse],
‘Vamos tentar outra. ’ ‘Oh, não, devemos
manter estes quatro versos. ’ ‘Ok, vamos para a vamp, o que continua por dois minutos – e quanto a remover estes versos?
’ ‘Oh, não, esta é a minha parte favorita da vamp! ’ Bem, você entendeu o cenário. Enquanto isso, Jimmy Jam estava
conosco, dizendo a Michael que todas essas edições eram ótimas e, na verdade,
tornava as coisas melhores. E durante o curso de cinco horas, nós chegamos lá.
Naquele momento, era provavelmente 3:00 horas da manhã e eu estava destruído.”
O álbum foi, finalmente, masterizado por Bernie Grundman poucas horas depois.
Nota da tradutora:
Vamp é normalmente usada nas letras para indicar a parte de uma canção que
leva ao fim da canção. Geralmente após a ponte de uma música vem a vamp.
HIStory
foi completado na primavera de 1995. Antes do lançamento, a Sony desencadeou o começo de uma campanha promocional de 30 milhões
de dólares que, mais uma vez, transformou Michael Jackson em um espetáculo
mundial e sujeito de controvérsia. O ataque repentino começou com um elaborado teaser de quatro minutos filmado em
Budapest, apresentando Jackson marchando à frente de um exercito perfeitamente
sincronizado para a emocionante música de Brasil Poledouris, “Hymn to Red
October”. Dirigido por Rupert Wainwright, o vídeo é uma espetacular prova de
força visual. Enquanto Jackson marcha por uma ampla rua, parecida com a
Champs-Élysées, ele é identificado, gradualmente, através das icônicas marcas
registradas dele (uma luva, um olho, uma silhueta) magistralmente estabelecendo
uma aura, enquanto construía suspense. Quando ele é, finalmente, revelado inteiramente,
ele está adornado em reluzente traje militar, enquanto fãs olham, gritam e gemem
em adulação. Logo depois, ele é revelado novamente; dessa vez, literalmente
maior que a vida, como uma enorme estátua, enquanto helicópteros sobrevoam a
multidão.
Enquanto o curta-metragem promo
alcançou o proposito dele de gerar excitamento, ele, também, suscitou
generalizada controvérsia. “O clipe não somente para em representar os já
conhecidos níveis da Michael mania”, escreveu Chris William, do Los Angeles Times, “isso vai bem além
dos limites da autofelicitação para se tornar, talvez, a mais descarada autodeificação
vaidosa que um cantor pop já tem se
dignado a compartilhar com o público dele, pelo menos, com uma cara séria”.
Outros argumentaram, com o uso do imaginário e símbolos do vídeo, que ele foi
modelado a partir do filme-propaganda Nazista, Triunfo da Vontade.
Jackson respondeu à controvérsia dizendo que isso era “arte”, e não
tinha “nada a ver com políticas ou Comunismo ou Fascismo”. Mas quando o resto
da campanha promocional desenrolou – incluindo a inauguração de várias estátuas
de aço e fibras de vidro de trinta e dois pés do cantor por toda Europa, algumas
das quais flutuavam por proeminentes rios, como Tâmisa, em Londres –, o
criticismo começou a crescer. A promoção e as estátuas jogaram com as
concepções da mídia sobre Jackson. Ele era um megalomaníaco, um narcisista, uma
criança com uma compulsiva necessidade de atenção. Contudo, esses diagnósticos
foram um pouco simplista de mais.
A capa do álbum HIStory de
Jackson como uma estátua, e o acompanhante esforços promocionais, certamente,
transmitem uma certa audácia. Mas para Jackson, depois de ser declarado
derrubado e morto, depois do escândalo de abuso, isso foi como uma declaração de
desafio, no estilo Muhammad Ali (“Eu sou o melhor”). A imagem da capa revela-o
de pé, como um militante campeão; vigoroso, punhos cerrados, confiante. Para um
dançarino, em particular, a imortalização do corpo, a literal transformação do
semblante dele em um trabalho de arte, faz sentido.
Um estátua de trinta e dois pés de Jackson
flutua pelo Rio Tâmisa, em Londres, para promover
HIStory.
Isso foi, também, é claro, uma façanha publicitária – Clássico showbiz de P.T. Barnum. “Eu queria a
atenção de todo mundo”, ele disse a Diane Sawyer. Jackson gostava de
surpreender as pessoas, apresentar algo que eles nunca tinham visto antes. Isso
foi uma clássica demonstração do paradoxo de Michael Jackson. Como uma pessoa,
amigos dizem, ele era tímido, humilde e não levava a si mesmo muito a sério;
mas ele sabia como performar, como organizar um espetáculo, como se esconder
por anos e, então, reaparecer maior que a vida. Com a promoção de HIStory, isso foi, exatamente, o que ele
tinha feito. Exatamente um ano antes, ele foi considerado irrelevante pelos
críticos. Agora, mais uma vez, ele estava fazendo manchetes: as pessoas estavam
falando, as pessoas estavam com raiva, as pessoas estavam excitadas. Mas todos
no mundo sabiam que o álbum dele estava chegando.
Essa estratégia, porém, teve as repercussões dela. Jackson primeiro
concebeu a ideia de ser “o maior espetáculo da Terra”, antes de lançar Bad. O plano tinha, na verdade, transformando-o
em um espetáculo de intrigas sem fim e fascinação; mas também o desumanizou
para muitas pessoas. Isso foi, particularmente, o caso após as alegações.
Muitos críticos estavam alinhados e prontos para disparar.
Ainda, com a contagem regressiva encurtada até o lançamento do álbum, o
nível de excitamento estava elevado – dentro da indústria da música, assim como
para fãs, em todo o mundo. O single
líder, “Scream”, foi tão antecipado, que, na verdade, ele foi ilegalmente
vazado para uma estação de rádio de Los Angeles duas semanas antes (isso foi
antes dos dias de ilegais downloads,
quando tais vazamentos se tornaram comuns). A faixa não apenas foi a
apresentação de dois dos mais proeminentes artistas do mundo (que aconteceram
de ser irmãos), ela também foi o primeiro single
de Jackson desde a alegação de abuso infantil – e ela diretamente se referia ao
estado mental dele. O vídeo futurista (uma revolucionária produção de 7 milhões
de dólares), estreado no Prime Time Live,
da ABC, durante a entrevista de
Jackson e Presley com Diane Sawyer para um audiência, nos Estados Unidos, de
mais de 64 milhões de telespectadores.
Quando “Scream” foi oficialmente lançado em 31 de maio de 1995,
juntamente com o acompanhante vídeo musical, ela não desapontou, alcançando o #5 nos charts da Billboard. Ela substituiu
“Let It Be” dos Beatles como a mais
alta estreia nos trinta e sete anos de história da Billboard Hot 100. Foi um grande retorno, na verdade, para um
artista que muitos críticos alegavam estar acabado. O álbum em si seguiu o
exemplo, tornando-se o quarto álbum de Jackson em uma fileira para hit #1 nos Estados Unidos, com 391.000
vendas na primeira semana (782.000 discos). “Agora é comum álbuns entrarem na
base #1 na primeira semana de vendas”,
nota John Branca. “Mas quando HIStory
foi lançado, você realmente tinha de ter um álbum muito bom para chegar ao #1.” Quando o álbum saiu do Top Ten cinco semanas mais tarde,
contudo, os críticos já o estavam rotulando de fracasso. Parte dos baixos
números de venda, provavelmente, tinha a ver com ele ser um álbum duplo e, portanto,
mais caro. Mas o interesse em Jackson também parecia estar diminuindo na
América. Enquanto estreou elevado, “Scream” fracassou em alcançar o 1º lugar
nos chart da Billboard, marcando a primeira vez na carreira solo de Jackson que
o single líder não alcançou o topo
dos charts (exceto por “The Girls Is
Mine”, que chegou ao #2). Mas HIStory
estava longe de ser um fracasso. Enquanto a performance dele nos Estados Unidos
estava sólida, se não esmagadora, Jackson mantinha enorme popularidade por toda
a Europa, Ásia, Austrália e África, todos os continentes, que viram o álbum
chegar ao primeiro lugar e se tornar multi-platinum.
Na verdade, apenas seis semanas depois, HIStory
tinha vendido, aproximadamente, oito milhões de cópias no mundo todo (dezesseis
milhões de discos).
Apesar do sucesso comercial do álbum, entretanto (e mais
importante, a qualidade artística dele), HIStory
foi amplamente dispensado pelos críticos que, previsivelmente, apenas
conseguiam interpretá-lo através das lentes de Michael Jackson, a caricatura da
mídia. Stephen Thomas Erlewine, da All Music,
chamou o álbum de uma “monumental conquista do ego”. Jim Farber, do The Daily News, rotulou-o “Choroso papo
furado de Jackson sobre o percebido mal tratamento dele.” Na sua crítica
redutiva, condescendente, ele escreveu: “Vamos ver uma amostra de mãos. Quantos
de vocês tiveram que cancelar a última turnê mundial e sofrer a perda de um
patrocínio multimilionário da Pepsi, porque toda a mídia saiu na criação de
forjadas acusações de que você molestou um menino? Se isso descreve os dois
últimos anos da sua vida, o novo álbum de Michael Jackson é para você. Todos os
outros podem se sentir um pouco excluídos. Em 11 das 15 novas músicas no HIStory, o cantor usa as músicas como playback para um mundo de acusadores.”
Jackson posa no set do vídeo musical para Scream. O premiado vídeo provou que Jackson continuava na vanguarda do veículo transmissor.
Jon Pareles, do New York Times,
similarmente, usou a crítica dele para provar a excentricidade de Jackson. “Ele
não está fingindo ser normal mais. Nas novas músicas dele, ele é paranoico e
desconfiado, messiânico, mesquinho, vingativo e sentimental. Comparando a si
mesmo com John F. Kennedy e Jesus Cristo, ele é um megalomaníaco que se sente
uma vítima.” Pareles admite que Jackson “continua um dos mais talentosos
músicos vivo”. Mas isso é um à parte, no que é, ao contrário, um desdenhoso
ataque falacioso.
Considerando o escândalo que o precedeu, HIStory foi um
extraordinário sucesso global,
culminado em mais outra
exaustiva turnê mundial de dois
anos.
O trabalho revolucionário de Jackson foi, pelo menos, parcialmente
reconhecido por alguns críticos. Em uma crítica quatro-estrelas, a Rolling Stone chamou o álbum de pacote “estimulante”,
mas “equivocado”. “O derradeiro objetivo de HIStory”,
escreve James Hunter, “é posicionar a música de Michael Jackson como um
planeta, um gênero, uma lei, um orçamento de marketing em si mesma”. Contudo, a revista conseguiu objetividade o
bastante para, pelo menos, na maior na parte, focar na música. “Algumas das
novas músicas”, Hunter escreve, “– o excelente single atual, ‘Scream’, ou a balada R&B de primeira, ‘You Are Not Alone’, manejaram para ligar os
incidentes do infame passado recente de Jackson às universais concepções, como
injustiça e isolação. Quando ele baseia a música dele na rudeza do hip-hop, Jackson esboça cenários da moda,
denunciando ganância, manto de insegurança e falsas acusações”. Hunter também destaca “Stranger in Moscow”, “Tabloid Junkie”
e “This Time Around” para elogios.
Sim, na maior parte, críticos profissionais em meados dos nos noventa
pareciam, inteiramente, perder a profunda evolução artística que HIStory representou. “HIStory é especial”, notou Armond White,
“porque um rei como Jackson deseja enunciar doenças sociais tão maravilhosamente.
Desde ‘They Don’t Care About Us’ a ‘Scream’, Jackson dá vida ao desconforto da
vida dos Americanos, a totalidade das serias questões da perda humanística da
nossa nação, uma questão de consciência popular... É enfadonho que críticos
digam que a raiva de HIStory é
pessoalmente motivada – é claro que é. Mas é importante que Jackson amplie,
relacione esta passada fúria lunática à condição de injúria nacional,
universal”. Na verdade, conectar o pessoal, social e universal é o que continua
a fazer HIStory tão relevante e convincente
anos depois.
O álbum, certamente, teve um começo impressionante. A sequência
das três músicas de abertura, “Screm”, “They Don’t Care About Us” e “Stranger
in Moscow”, é um trio tão bom quanto se pode encontrar em qualquer álbum de
Jackson. Ao tornarem-se intensas, corajosas e assombradas, essas faixas revelam
uma progressão, desde as aberturas em Dangerous
(“Jam”, “Why You Wanna Trip On Me” e “In the Closet”). As letras são afiadas e
mais sofisticadas, e os sons mais distintos. “O clipe nítido, ininterrupto, e
comprimidas harmonias de ‘They Don’t Care About Us’”, observa Loundon
Wainwright, “ou as texturas postas em camadas, meticulosamente arranjadas, da
fluida ‘Stranger in Moscow’, não poderiam vir de ninguém mais, além de Jackson”.
Sonoramente, HIStory
apresentou um novo padrão para como álbuns são feitos e gravados. “Qualquer um
faz polêmica em torno do álbum”, escreve Daniel Sweeney, “alguém pode
dificilmente ignorar a maravilhosa produção e valor dele e a habilidade com a
qual, verdadeiramente, vastas fontes musicais foram exercidas sobre o projeto.
Quando a maioria da música popular se contenta com esparsa instrumentação de
uma faixa de trabalho, intermitente com um pouco de sintetizador, HIStory reúne tais renomados músicos de
estúdio e talentos de produtores como Slash, Steve Porcaro, Jimmy Jam, Nile
Rodges; além de uma completa orquestra sinfônica de sessenta peças, vários
coros, incluindo Andraé Crouch Singers
Choir; vocalistas estrelas como a irmã, Jante Jackson e Boyz II Men e o arranjo de Quincy Jones
e Jeremmy Lubbock. Na verdade, a riqueza absoluta de instrumental e alcance
vocálico é, provavelmente, sem precedentes em toda a esfera da gravação
popular”.
Nota da tradutora:
O autor se confundiu em relação ao local onde a
foto acima foi tirada. Obviamente é Salvador, Bahia, não o Rio de
Janeiro.
Jackson, em um momento de serenidade em turnê.
Sweeney continua: “Mas a riqueza se estende além de mera densidade na
mixagem para a global perspectiva espacial da gravação. Exatamente como as
gravações do clássico popular de Phil Spector, de trinta anos atrás, apresentava
uma característica “parede de sons”, sugerindo um amplo, talvez, muito
reverberante espaço de gravação, da mesma forma, as recentes gravações de
Michael Jackson transmitem um não menos distintivo, embora diferente, senso de
profundo espaço – o que, por falta de palavras, alguém poderia considerar um
‘salão de sons’”.
Como resultado, é claro, estava o produto de um time imensamente
talentoso. Jackson, entretanto, era a força diretora. “Eu não sei se muitas
pessoas teriam paciência ou trabalho ético para criar os álbuns que [Michael]
faz” diz o engenheiro assistente Bob Hofffman. “Nós nunca teremos as provisões,
de novo, com certeza... Havia esta constante busca por ‘sons que o ouvido nunca
ouviu’.”
Em termos de estilo, onde Dangerous
misturou new jack swing, rock e gospel, HIStory foi mais hip-hop e hard funk nas faixa rítmicas e cinemáticas, pop orquestral nas baladas. Essa justaposição incomum foi um dos
criticismos do álbum. Poderia músicas tão diversas quanto “Scream”, “Childhood”
e “2Bad” realmente funcionarem juntas como uma coesa experiência de audição? A
resposta depende, parcialmente, do ouvinte. Mas por toda a carreira dele,
Jackson, constantemente, apresentou este sonoro e temático contraste para
realizar específicos efeitos. Não era apenas de música a música, tampouco. Em
muitas das faixas rítmicas, um fundo denso, agressivo, é sobreposto com um cume
suave, melódico (veja “Tabloid Junkie”), para criar contraste e tensão.
Outro criticismo foi a sobrecarga de músicas “furiosas”. Essa
referência, entretanto, teve maior circulação em 1995 – quando todas as músicas
foram interpretadas através das lentes da vida pessoas dele – que hoje. Como os
trabalhos finais de John Lennon, HIStory
é intencionado para capturar a emocional turbulência da vida. Tudo veio em uma
torrente de intensas e variadas emoções: às vezes, raiva; às vezes,
vulnerabilidade; às vezes, dor; às vezes, alegre e triunfante; às vezes,
impetuoso e direto.
HIStory é, certamente, menos aceitável que muitos dos outros
álbuns de Jackson; mas ele pode, também, ser mais gratificante. Os pontos mais
altos do álbum são, provavelmente, tão altos quanto em qualquer álbum desde Thriller. Em adição ao brilhante trio de
abertura, “Earth Song”, “Little Susie” e “Smile” se sustentam como algumas das
melhores realizações musicais de Jackson. Nenhuma dessas é convencional música pop, mas cada uma delas oferece algo
único, poderoso e eterno.
HIStory é também, sem dúvida, o álbum mais político de Jackson.
Ele explora tudo, desde discriminação (“They Don’t Care About Us”) a manipulação
midiática (“Tabloid Junkie”, “Scream”) ao excessivo materialismo e corrupção
institucional (“Money”, “D.S.”) a preocupação com o meio ambiente (“Earth
Song”). Enquanto Off the Wall oferecia
abençoado escapismo e libertação através da música e dança, HIStory é um esforço mais maduro,
forçando o ouvinte a confrontar desmascaradas realidades sobre o mundo que nós
vivemos.
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