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domingo, 28 de outubro de 2012

Man In The Music "Prefácio"


PREFÁCIO

Este livro começou na época que foi, sem dúvida, a hora mais sombria de Michael Jackson. Por quase dois anos, seguinte ao infame documentário de Martin Bashir, Living With Michael Jackson, ele tem sido objeto de um frenesi da mídia. O julgamento dele atraiu mais de 2 mil reporteres, vindos de, pelo menos, 35 países diferentes. Recebeu mais cobertura que a guerra no Iraque e o genocídio no Sudão. Os peritos de tabloides, liderados por âncoras de noticiários de entretenimento, como Nancy Grace e Diane Dimond, fundiram-se, perfeitamente, aos noticiários, nos quais, a especulação sobre Jackson era o tópico principal em praticamente todos os noticiários e canais de entretenimento, praticamente todas as noites, por mais de seis meses. A maioria assumiu que Jackson é culpado e usou isso para ridicularizar tudo, da aparência dele aos filhos e as varias excentricidades dele. “A América está feita com este cara”, proclamou o conservador apresentador da Fox, Bill O’Reilly. “Ele é um maluco.”

Quando eu cheguei a Santa Maria, Califórnia, naquele verão, eu testemunhei um uma atmosfera circense. A mídia tinha se estabelecido na pequena cidade. Trailers, barracas e satélites em volta do tribunal; reporteres em todos os lugares, de pé em frentes às câmeras, conduzindo entrevistas e falando no celular. Centenas de fãs estavam lá também, é claro, e outros que, simplesmente, queriam vender alguma coisa, fofocar ou aparecer na TV.

O que rapidamente se tornou aparente, porém, foi quão pouco interesse havia nas evidencias, decência, nuança ou objetividade. Audiências e manchetes dependem de incessante fluxo de sensacionalismo, insinuação, boatos e especulação e isso foi exatamente o que a audiência recebeu. Jackson foi reduzido a uma aberração de circo. Ele foi o Homem Elefante dos dias modernos, sendo tratado como um ser humano em meio a uma multidão de espectadores de dedos apontados para ele. O jornalista bretão, Charles Thompson, chamou isso de “um dos mais vergonhosos episódios da história do jornalismo”. O observador político Jeff Koopersmith caracterizou isso como um “linchamento high-tech”.

Jackson, é claro, foi definitivamente absolvido de todas as acusações. Porém, o dano já tinha sido causado. A música revolucionária tinha sido sufocada pela cacofonia de barulho, os vídeos e danças apagados e substituídos pela imagem de um homem quebrado, caminhando cuidadosamente, para fora de um tribunal.

Quando eu comecei o livro, então, meu objetivo era recuperar Michael Jackson, o artista. Os escândalos e excentricidades foram cobertos exaustivamente (e a maior parte de forma especulativa e superficial). O verdadeiro trabalho criativo dele, parece, para mim, foi, ontem e hoje, infinitamente  mais rico, interessante e atraente. Isso é o que eu espero trazer de volta ao foco.

Nos últimos cinco anos, eu li quase todos os livros escritos sobre o pop star. Dado o impacto cultural dele, é extraordinário como pouco da substancia está disponível. Enquanto alguém pode encontrar uma vasta gama de livros sérios, profundos, sobre Elvis Presley ou Os Beatles, a maioria dos títulos sobre Jackson caem em duas categorias: autopublicações de fãs aduladores ou sensacionalistas tabloides “conta-tudo”. Houve algumas exceções, mais notavelmente, a autobiografia de Jackson, Moonwalk, e o volumoso livro de J. Randy Taraborrelli, Michael Jackson: The Magic and the Madness. Durante o período da minha pesquisa (e particularmente depois da morte dele) outros livros substanciais apareceram, incluído o catálogo de referencia de Chris Cadman e de Craig Halstead, Michael Jackson: For The Record, a eloquente coleção de ensaios de Armond White, Keep Moving: The Michael Jackson Chronicles, o editado volume de Mark Fisher, The Resistible Demise of Michael Jackson e o técnico, mais iluminador, livro do engenheiro musical, Bruce Swedien, In the Studio With Michael Jackson.

Enquanto cada um desses livros oferece importantes contribuições, no entanto, eu continuo sentindo falta de um livro que aprecie todo o corpo de trabalho de Jackson: álbum por álbum, música por música, isso foi esquecido. Meu primeiro modelo foi o clássico de Ian McDonalds, A Revolution in the Head: The Beatles’s records and Sixties. Embora, de diversas maneiras, meu livro acabasse sendo estruturado bem diferentemente – eu escolhi organizar por álbum e enfatizar o contexto e interpretação mais do que as inovações técnicas – Eu ainda espero que este livro desempenhe um papel similar em termos de profundidade, extensão e abrangência.

Embora esta não fosse a cobertura que eu estava planejando, grande parte da crítica musical (particularmente sobre Jackson) tem sido redutiva e condescendente. Eu queria escrever algo histórico e criticamente rigoroso, mas abordar o tema com menos cinismo e mais curiosidade: O que Jackson está tentando transmitir? O que o trabalho dele ilumina, provoca, expressa? Como é feito? E que tipo de reação (reações) ele esperava extrair? Eu concordo com o crítico literário, Mark Edmundson, que a arte da interpretação deveria, pelo menos, estar com a intenção de ver o mundo pela perspectiva do artista, para “chegar a uma versão do trabalho que o (artista), como nós o imaginamos, aprovaria e ficaria satisfeito”.

O livro que se desenvolveu a partir dessa filosofia foi, inevitavelmente, assustador de se escrever. Fazer justiça a qualquer artista é um desafio, mas Michael Jackson é muito único. Talvez o mais difícil tenha sido a) acumular bastantes informações confiáveis para desenvolver um claro senso de quando, onde, por que, como e com quem, o trabalho dele foi feito e b) desenvolver alguns degraus de fluência em todos os meios midiáticos que o trabalho dele utilizou: música, canto, dança, filmes, estúdio, tecnologia, etc. O que eu rapidamente percebi é que meu papel seria, necessariamente, ser mais pesquisador e entrevistador que autor, e que eu deveria permitir que as pessoas que o conheceram há mais tempo falassem, elas mesmos. Por fim,eu li uma ampla quantidade de relatos internos, revisões e análises do trabalho de Jackson; eu li todas as entrevistas que Michael Jackson deu desde 1977 em diante; eu li tantas entrevistas, quanto eu pude encontrar, das pessoas que trabalharam com ele, incluindo Quincy Jones, Bruce Swedien, Rod Temperton, Teddy Riley, Rodney Jerkins, Matt Forger, Brad Buxer e Bill Bottrell. Talvez, o mais esclarecedor, porém, foi a entrevista pessoal que eu conduzi com muitas dessas pessoas e outras que trabalharam em estreita colaboração com Jackson. Falar com os parceiros criativos de Jackson: produtores, engenheiros, diretores musicais e técnicos, forneceu uma fascinante visão interna de como Jackson operava como um artista e como específicas músicas e álbuns surgiram. Muitas das pessoas com quem conversei tinham raramente falado sobre Jackson em público antes. Mas todos foram generosos com o tempo deles e ficaram contentes que o Jackson que eles conheceram fosse, finalmente, representado em um livro.

Também foi de grande ajuda na minha pesquisa a Rolling Stone, cujos arquivos forneceram rico e relevante material de, aproximadamente, todos os estágios da carreira de Jackson. Além disso, os arquivos da revista Times, The New York Times, Ebony e os arquivos dos sites de Michael Jackson foram inestimáveis. O espólio de Michael Jackson foi, também, muito generoso com o retorno e o apoio deles.

Infelizmente, eu nunca consegui entrevistar Michael Jackson. Na noite antes de ele morrer, eu estava trabalhando neste livro. Eu esperava entrevistá-lo em Londres, durante a série de concertos dele, This Is It. Eu soube de uma rara entrevista que ele deu a Ebony, em 2007, que ele estava ansioso para voltar a focar no trabalho dele, para ser percebido com um artista, não com excentricidades de tabloides. Mas, então, veio a trágica notícia.

Eu fiquei aturdido. Como muitas outras pessoas, eu cresci com Michael Jackson. Ele significa para mim, o que artistas transformativos com Elvis Presley, John Lenon e Bob Dylan significaram para as gerações anteriores de pessoas jovens. A primeira vez que eu vi a apresentação da Motown 25, aos nove anos de idade, eu fui, absolutamente, cativado. Eu costumava colocar a minha VHS: Michael Jackson: The Legend Continues para tocar o tempo todo e eu costumava pedalar minha bicicleta até a escola escutando músicas como “Beat it”, “Man In the Mirror” e “Black or White”, no meu Walkman. Com o passar doas anos, meus interesses musicais mudaram e se desenvolveram, mas minha fascinação por Michael Jackson persistiu, eu sempre apreciaria o trabalho dele de novas formas e em novos níveis.

Com a morte dele, então, feio um profundo sentimento de perda e tristeza sobre o que poderia ter sido. Mas como Jackson colocou, premonitoriamente, apenas dois anos antes (citando um dos heróicos artistas dele próprio, Michaelangelo): “Eu sei que o criador partirá, mas a obra dele sobrevive. Isto é escapar da morte, eu tento ligar minha alma ao meu trabalho.” Isso, talvez, tenha sido o mais revelador comentário que ele já fez sobre o que ele esperava do legado dele.

Criando este livro, eu mergulhei neste trabalho cheio de alma. Com cada visita retornada, novidades e excitantes descobertas desenroladas.

É minha esperança que Man In The Music irá inspirar uma experiência similar para outros, servindo como uma porta de entrada para o mundo criativo de um dos mias originais artistas do século passado.

JOSEPH VOGEL
Abril de 2011




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