“Quando você sabe que está certo,
às vezes, você sente como se algo estivesse vindo, uma gestação, quase como uma
grávida ou algo assim. Você fica emocional e você começa a sentir algo em
gestação e [então] mágica. Aí está! É uma explosão de algo que é tão lindo; você
vai: uau! Aí está. É como isso trabalha através de você. É uma coisa linda. É
um universo de onde você pode ir com estas doze notas...”
MICHAEL JACKSON, EBONY, 2007
“Eu sempre quis fazer música que
inspirasse ou influenciasse outras gerações... Eu dou tudo de mim ao meu
trabalho. Eu quero que ele viva.”
MICHAEL JACKSON, EBONY, 2007
CAPÍTULO
8 OS ÚLTIMOS ANOS
A última entrevista de Michael Jackson aconteceu no
outono de 2007. Ele estava no Brooklyn com os filhos dele, quando ele tinha
concordado com um bate-papo e sessão de fotos com a Ebony magazine para celebrar o vigésimo quinto aniversário de Thriller. Isso foi quase um ano antes que
ele se comprometesse para as cinquenta datas da série de concertos This Is It, na O2 Arena em Londres. Essa
foi a primeira vez que ele tinha falado amplamente, desde o julgamento e
absolvição de 2005.
Depois do julgamento – exaustivos
e árduos seis meses de humilhação e escrutínio – Jackson tinha, aparentemente,
desaparecido. Aquele que foi, um dia, face da música popular, tinha se tornado
um tipo de vadio, um artista em exílio. Tabloides, ocasionalmente, especularam
sobre o paradeiro dele (Bahrain, Irlanda, Las Vegas) ou conseguiam vislumbres
dele com os filhos em uma livraria ou um parque de diversões. Na maior parte, no
entanto, ele tinha se desligado da consciência do público. Muitos assumiam que
a carreira dele tinha acabado.
Nos bastidores, no
entanto, um Jackson, ainda compulsivamente criativo e inquieto, disse a Ebony que ele estava tão ocupado quanto
sempre. Na verdade, nos anos seguintes ao julgamento dele, em 2005, ele escreveu
e gravou dúzias de novas músicas. Algumas delas foram feitas com parceiros de
longa data, Brad Buxer e Michael Prince; algumas foram com amigos como Eddie
Cascio. E algumas foram feitas com artistas contemporâneos e produtores como
Will. i. am, Neff-U, Ne-Yo, RedOne e Akon. O novo álbum de estúdio,
comentava-se, seria tão forte quanto sempre; isso era a prova dele de que ele
não tinha perdido a magia criativa. Nos anos finais, ele também estaria
trabalhando em álbum clássico com o compositor David Michael Frank, e começou
com preparação para o notável concerto espetáculo dele, This Is It, uma série de cinquenta shows, no O2 Arena, que poderia ter sido o maior retorno na
história da música popular.
O público, é claro,
sabia muito pouco sobre isso. Nos últimos anos dele, Jackson estava mais
recluso que nunca e administração e finanças dele estavam em desordem. Porém,
aqueles que trabalharam com ele ou o entrevistaram durante esses anos puderam
sentir uma renovada paixão e determinação. “Sentado no sofá ao lado dele”, observou
Bryan Monroe, da Ebony, em 2007,
“você rapidamente olha através da pele clara, quase translúcida, do enigmático
ícone e percebe que esta lenda afro-americana é mais que apenas superficial.
Mais que um artista, mais que um cantor ou dançarino, este maduro pai de três
crianças revela um homem confiante, controlado e maduro, que tem muita
criatividade dentro dele”.
Jackson foi sobrecarregado com a
resposta à série de concertos This Is It.
Nos últimos meses,
Jackson diria aos parceiros colaboradores dele, que ele estava tão
“sobrecarregado”, que ele não poderia dormir à noite; a mente dele não
desligava. “Eu estou canalizando” disse ele a Kenny Ortega. “Eu estou
escrevendo música e ideias estão vindo para mim e eu não posso desligar isso.”
Ortega perguntou a ele se era possível que ele colocasse essas ideias “na
prateleira até depois de 13 de julho [quando as séries de concertos dele
começava]”. Jackson respondeu meio brincando: “Você não entende – se eu não
estiver aqui para receber essas ideias, Deus as dará ao Prince”.
Nesse
período entre o último álbum de estúdio de Jackson, Invincible, e a morte dele, ele continuou
a trabalhar em novo material e retornar às músicas que não tinham sido lançadas.
Jackson tinha descrito o mais recente trabalho dele como um poutpourri de estilos e sons, passando
de electro a pop sintetizada e clássica. “Eu gosto de pegar músicas e colocá-las
em microscópio e apenas falar sobre como nós queremos mudar o caráter dela”,
ele explicou em uma entrevista em 2007.
É claro, inúmeras
outras músicas foram deixadas de fora de álbuns anteriores (muitas das quais têm
sido descritas neste livro). “Michael tinha uma tendência de gravar em excesso”,
disse o coexecutor John Branca. “Ele gravaria 20, 30, 40 músicas para um álbum.”
Algumas dessas músicas eram tão boas, se não melhores, que as músicas que fizeram
o corte final. As razões para não inclui-las foram várias: algumas vezes,
Jackson sentia que estava reservando-as ou esperando para melhorá-las; algumas
vezes, ele sentia que elas apenas não combinavam com o resto do material. Há
estimadas quarenta a cinquenta músicas completamente finalizadas ou quase
finalizadas no cofre, que foram escritas e gravadas de Off The Wall a Invincible,
e foram deixadas de fora dos álbuns de estúdio dele. Muitas outras demos estão
em vários estágios de acabamento.
Em março de 2000, o
espólio de Michael Jackson e a Sony anunciaram
um acordo de sete anos de distribuição que incluía até dez novos projetos
Michael Jackson. Alguns dos quais incluíram materiais mais antigos, não
lançados e alguns novos. O acordo, que vale, estimativamente, 250 milhões, foi
de longe o maior contrato de gravação na história. “Nós e a Sony sentimos que o futuro para Michael
Jackson é ilimitado”, disse John Branca. “Se você olhar para Elvis e os Beatles e como as marcas deles estão
prosperando, elas apenas sugerem o que o futuro reserva para Michael.”
O material mais novo de
Jackson foi gravado com uma variedade de colaboradores em estúdios pelo mundo
todo. No verão de 2002 ele gravou algumas músicas com o amigo de longa data,
Barry Gibb, incluindo um lindo tema liderado por cordas, “Pray for Peace” (mais
tarde trabalhada com Brad Buxer), e um elevado dueto intitulado “All in Your
Name”, protestando contra guerra em nome da religião. Memo durante o julgamento
dele, em 2005, ele continuou a trabalhar em novo material. A porta-voz dele,
Raymone Bain, lembra-se de ele dizendo que escrever novas músicas era
terapêutico e ele estava trabalhando em novas ideias sempre que podia. Uma
dessas músicas, “From the Botton of My Heart” (uma variação de “I Have This
Dream”), era uma música para caridade, criada para beneficiar as vítimas do
Furacão Katrina. Outra, “You Are So Beattiful”, foi um tributo aos fãs leais
dele.
Em seguida ao
julgamento dele, em 2005, Jackson e os filhos se mudaram para o Reino do
Bahrain, uma pequena ilha do oriente médio próxima à Arábia Saudita. Lá, ele
viveu com membros da família real do Bahrain, Abdulla Hamad Al-Khalifa, por
vários meses (O arranjo foi feito pelo irmão mais velho de Jackson, Jermaine,
que era amigo próximo do Sheik Abdulla.) “[Michael] parecia derrotado”, recorda
Ahmed Al Kahn. “E muitas pessoas aqui, Abdulla, eu mesmo, todas as pessoas em
volta dele, realmente ajudamos Michael a se recuperar realmente rápido. Eles
deram a ele o espaço dele. Eles o deixaram se recuperar. Eles deram descanso a
ele. Eles deram privacidade a ele.” Em 2006, um acordo de gravação de curta
duração foi anunciado entre Jackson e o novo selo do Sheik Abdulla, Two Seas Records. Dois meses depois,
Jackson e Abdula se separaram, formando o selo do próprio Jackson (a Michael Jackson Company), na verdade.
Jackson trabalhou esporadicamente no estúdio do palácio durante essa época,
incluindo uma música intitulada “Light the Way” e “He Who Make the Sky Grey”. O
produtor Bill Bottrell, que tinha trabalhado com Jackson em várias faixas no
fim dos anos oitenta e início dos anos noventa (incluindo “Black or White”),
foi chamado para trabalhar com o cantor no Bahrain. Entretanto, quando ele
chegou, Jackson tinha partido. Bottrell decidiu arranjar alguns grooves no palácio, de qualquer forma,
no caso de ele e Jackson se juntarem no futuro. Infelizmente, eles nunca se
reuniram e as faixas nunca foram lançadas. Por essa época, Jackon também se
aproximou de outros amigos, como Rod Temperton e Teddy Riley, assim como jovens
talentos contemporâneos como 50 Cent
(que mais tarde performou em “Monster”) e Kenye West (que mais tarde remixou
“Billie Jean” para Thriller 25).
Mais tarde naquele ano,
Jackson se restabeleceu na Irlanda, onde ele ficou em várias propriedades
rurais lindas, isoladas, por vários meses. Patrik Norddstrom, que alugou o
Castelo Blackmore, em Cork, para
Jackson, por duas semanas, descreveu-o como uma “alma inquieta”, mas disse que
Jackson encontrou alguma paz, refugio e rejuvenescimento na estadia dele. Ele
pôde brincar com os filhos dele sem a constante presença de paparazzis; ele pôde ler e escrever e
planejar o futuro. (Uma noite de verão em Cork, Jackson, supostamente, levou os
filhos dele para um show de Bob
Dylan.)
Jackson também passou
algum tempo na propriedade do amigo e colega de dança, Michael Flatley, em Castelbridge. “Eu senti que ele estava
inspirado aqui”, disse Flatley. “Ele pôde ser ele mesmo, completamente, de
alguma forma, aqui, longe dos olhos do mundo.” A maior parte do tempo de
Jackson na Irlanda, entretanto, foi passada no Westmeath, no Grouse Lodge, e nas proximidades dele, Coolatore House, Jackson estava
interessado em tudo sobre a Irlanda. Ele iria ler o jornal local toda manhã e
estava fascinado com a história, mitologia e música do país.
Grouse Lodge também tinha
um estúdio estado-da-arte, o qual Jackson utilizou, frequentemente, durante a
estadia dele. “Michael, na verdade, gastou a maior parte do tempo dele gravando
no Estúdio Dois”, recorda Dunning. “Ele realmente parecia gostar do som daquela
sala. O que foi maravilhoso para mim foi descobrir como Michael era incrível em
tocar qualquer instrumento. Ele tinha sentado ao piano e tocado músicas dos Beatles para todos nós cantarmos juntos
ou ia para a bateria ou tocava guitarra. Michael estava trabalhando com pessoas
como [Neff-U], Rodney Jerkins, Will. i. am e outros músicos, mas as faixas que
eles gravaram nunca foram concluídas.”
Em uma rara entrevista,
em 2006, como o Acess Hollywood,
Jackson, mostrado no estúdio com o líder do Black
Eyed Peas, Will.i.am, foi perguntado se ele se sentia bem por estar
escrevendo música de novo. “Eu nunca parei”, ele disse.
Durante os dois anos
seguintes, Jackon e Will. i.am se tornaram parceiros criativos próximos,
gravando, pelo menos, uma meia dúzia de músicas juntos. “Eu acho que ele está
fazendo música maravilhosa, revolucionária, positiva, incrível”, Jackson disse
sobre Will.i.am. Da parte dele, Will.i.am estava emocionado por trabalhar com o
ídolo dele. “Algo precisa dar uma sacudida na indústria da música, de novo”,
ele disse, “e a única coisa que pode fazer isso é a própria sacudida, a energia
que ilumina a imaginação das crianças [como eu, em primeiro lugar]”.
Na Irlanda (e, depois,
em Las Vegas e Los Angeles), Jackson e Will.i.am trabalharam em um gama de grooves, com elementos de electro, hip-hop e disco. “Isto
seria de outro mundo”, Will.i.am disse ao Daily
Mirror, descrevendo o trabalho deles como, principalmente, um álbum dance. “É claro que elas eram melódicas
e, como ele diria, suculentas. ‘É tão suculento, soa como algo que você iria
querer comer’, [ele disse]. O jeito como ele descrevia música era simplesmente
ótimo.” Uma música intitulada “The Future”, abordava questões ambientais, mas
com uma sensacional batida latina. “Era muito exigente”, Will.i.am disse à BBC. “Pedia e exigia pessoas na pista de
dança.” Outra faixa meio-tempo, chamada “I’m Gonna Miss You”, foi inspirada
pela morte de James Brown em 2006. Outras músicas foram incluídas, “I’m
Dreamin” e “The King”, as quais foram intentadas para incluir os protegidos de
Jackson, Usher e Ne-Yo. “Cara, ele continua cantando como pássaro”, Will.i.am
disse em 2006. “Ele poderia ir a qualquer lugar. Eu penso que nós temos uma
oportunidade real de fazer algo aqui.” Uma vez que eles finalizavam uma faixa,
Jackson ficava preocupado em se certificar de que ela não vazasse. “Ele era
muito protetivo e a mantinha trancada à chave”, explicou Will.i.am. “Depois que
nós fizemos as músicas, eu tive que voltar a todas as demos. Ele era um
perfeccionista e não queria que ninguém as escutasse até que estivessem prontas.”
Três colaborações Jackson-Will. i.am estavam, alegadamente, completas (ou quase
completas), com um quarto, cerca de setenta e cinco por cento, prontas, e o
resto deixado nos estágios iniciais. Algumas das obras de Jackson e Will.i.am
ficaram, depois, prontas para aparecerem no álbum póstumo dele, Michael; no entanto, Will.i.am, mais
tarde, mudou de ideia, argumentando que, desde que Jackson era tão
perfeccionista e não foi capaz de ver as faixas para conclusão, seria “desrespeitoso”
lançá-las.
“Ele era um pai
maravilhoso. As pessoas não percebem que, grande parte do tempo, ele nem mesmo
teve uma babá.”
Depois de uma estadia
de seis meses na Irlanda, Jackson, finalmente, retornou aos Estados Unidos, no
inverno de 2006, onde ele alugou uma casa, em Las Vegas, por vários meses.
Aqui, Jackson procurou por vários ex-colaboradores, incluindo o amigo de longa
data, Brad Buxer, Jackson, Buxer e o engenheiro de gravação, Michael Prince, trabalharam
juntos, intermitentemente, frequentemente, durante os últimos dois anos. A
maior parte do trabalho deles aconteceu na casa de Jackson, onde um estúdio
improvisado foi criado em um amplo segundo andar, que incluía uma pista de
dança e um escritório. Isso permitiu que Jackson trabalhasse em um ambiente
confortável, com pessoas em quem ele confiava. Alguns dias, ele iria,
simplesmente, acordar e trabalhar vestido com os pijamas dele; outros dias, ele
iria dirigir até o Palms Hotel e usar
o estúdio lá.
Jackson estava feliz
por estar trabalhando com velhos amigos de novo. “Alguns dias, nós
trabalharíamos duas horas, alguns dias, oito horas, dependendo dos horários dos
filhos dele”, recorda Michael Prince. “Ele era um pai maravilhoso. As pessoas
não percebem que, grande parte do tempo, ele nem mesmo teve uma babá. Ele era
um pai solteiro. Ele fiaria o café da manhã deles, conversaria com eles, os levariam
para ver shows, deixava que eles o
observassem trabalhar. Depois, ele chamaria um tutor e eles estudariam,
enquanto nós gravávamos.”
Jackson também gravou
com o produtor, Ron “Neff-U” Feemster, (que tinha anteriormente trabalhado com
Beyoncé e Ne-Yo) e com o artista senegalês-americano, Akon, em 2007. “Ele é
incrível”, disse Akon, depois de gravar com Jackson em Las Vegas. “Ele é um
gênio. Apenas por estar na mesma sala que ele, eu senti que tudo que eu queria
conquistar na minha vida tinha sido alcançado. Aquela aura... Assim é o quão
incrível aquela aura é... O modo como ele pensa... alguns artistas pensam
regional, alguns pensam nacional, eu estava pensando internacional. Ele pensa
planetas. Isso está em outro nível.”
Jackson e Akon
trabalharam em algumas músicas juntos, mas apena uma foi completada e ela vazou,
apenas dois meses depois, em janeiro de 2008. A boa notícia foi que os fãs – e
mesmo alguns céticos – gostaram do que eles ouviram. Com as exuberantes
harmonias e contagiosa melodia dela, “Hold My Hand” revelou que Jackson ainda
estava em boa forma vocalicamente. Ela não era uma faixa revolucionária, mas
ela mostrava promessa para o futuro trabalho dele. Quando a fofoca,
gradualmente, começou a se construir em torno de um novo “álbum de retorno”, um
“associado de longa data de Jackson” disse ao repórter do Chigago Suns-Time: “Isto é algo que Michael está planejando com
cuidado. Eu penso que este álbum será incrível”.
Na primavera de 2007,
um Jackson com problemas financeiros se mudou, temporariamente, para Virgínia
do Norte, antes de aparecer na porta dos amigos de longa data, a família
Cascio, em Franklin Lakes, New Jersey, mais tarde naquele verão. Jackson tinha
se tornado amigo dos Cascio no meio dos anos 80 e tinham continuado próximos
desde então. Naquele outono, enquanto esteve na casa deles por, aproximadamente,
quatro meses, Jackson, Eddie Cascio e o cantor produtor James Porte (que tinha
trabalhado como um engenheiro assistente em
Invincible) trabalhou em várias novas músicas em um estúdio de gravação
improvisado no sótão.
No começo, Jackson simplesmente
os ajudou com o trabalho deles, mas logo, ele também estava colaborando,
escrevendo e cantando. Embora, ocasionalmente, estressado sobre dinheiro e
outros aspectos da vida dele, Jackson, na maior parte, parecia energizado e
feliz durante a estadia dele em New Jersey. De acordo com os Cascios, Jackson
gravou cerca de uma dúzia de demos àquele verão, incluindo três faixas
(“Braking News”, “Keep Your Head Up” e “Monster”), que apareceram no primeiro
álbum póstumo dele, Michael, e várias
outras (“Burn Tonight”, “Water”, “Carry On”, “All I Need”), que podem aparecer em
lançamentos subsequentes. Jackon também gravou vocais para Thriller 25 durante a estadia dele.
“Jackson ainda está
planejando o retorno dele, esperando pela oportunidade certa. Ele continua a
manter os dedos dele no pulso da indústria musical.”
Depois de uma
residência de quatro meses, em New Jersey, Jackson retornou a Las Vegas, onde
ele resumiu o trabalho com Brad Buxer e Michael Prince e procurou por vários
outros colaboradores, incluindo o renomado produtor suíço, RedOne (que produziu
o álbum de estreia de Lady Gaga, The Fame,
aquele ano). “Tudo que posso dizer é que ele é o melhor”, disse RedOne sobre a
experiência. “Ele é muito inspirador e muito aberto. Parece que não tem limites
no que ele sabe sobre música, sobre produções e sobre emoções.” RedOne
trabalhou com Jackson em várias músicas em 2008 e 2009. “A música que estávamos
fazendo era boa, realmente boa... muito enérgica, edificante. É triste que
nunca [a] tenhamos concluído.” RedOne diz, porém, que umas poucas faixas estão
completas o bastante para serem lançadas e ele planeja fazer isso nos anos que
virão, desde que o dinheiro vá para a caridade.
Àquele fevereiro, a Sony lançou Thriller 25, uma reedição do seminal clássico de Jackson, o que
incluiu cinco novos remixes de artistas populares contemporâneos, como Kanye
West, Will.i.am e Akon e uma regravação retirada das sessões de Thriller, “For All Time”. Considerando o
virtual desaparecimento de Jackson, desde o julgamento dele, em 2005, muitos
ficaram surpresos sobre o quanto o álbum vendeu bem. Ele alcançou o #1 em oito países. Mesmo nos Estados Unidos, onde supunham que
Jackson estava comercialmente morto, o álbum alcançou o #2 lugar na Billboar Albums
Charts, vendendo mais que 106.000 cópias. Na época do halloween, tinha vendido quase 70.000 cópias nos Estados Unidos (fazendo
dele o álbum de catálogo mais vendido de 2008) e uma soma estimada de três
milhões de cópias mundialmente.
Embora a reedição do
álbum tivesse sucesso tanto comercial quanto de crítica – lembrando as pessoas
por que ele se tornou o álbum mais vendido de todos os tempos, para começar – o
artista não estava em lugar algum para ser encontrado. Nenhuma entrevista (além
da Ebony, no verão anterior), nenhuma
aparição, nenhum anúncio. Jackson estava, supostamente, agendado para performar
no Grammy Awards Show, em fevereiro,
Entretanto, quando a data se aproximou, as conversas entre o produtor do show, Ken Ehrilich, e o time de Jackson
romperam e, apesar de ser alardeado em comerciais, Jackson era um misterioso
escondido. Alguns disseram que ele estava muito nervoso para subir no palco de
novo ou que as expectativas dele sobre ele mesmo eram muito altas.
Jackson ainda estava
planejando o retorno dele, esperando pela oportunidade certa. Ele continuava
mantendo os dedos dele no pulso da indústria musical. Ele estava instigado por
Laddy Gaga e planejava colaborar com ela em um futuro próximo. Ele também
estava interessado no trabalho de Ne-Yo, um artista cujas melodias pop sentimentais e suaves relembravam o
trabalho anterior de Jackson. Em 2008, ele ligou para Ne-You sobre colaborar
para o novo álbum dele. “Minhas mãos estavam tremendo com nunca antes”, recorda
Ne-Yo. “Mas a coisa incrível é que eu comecei a trabalhar com meu ídolo e ele
era realmente legal.” Perguntado sobre por que Jackson estava procurando por
ele, Ne-Yo respondeu: “A música dele é toda sobre melodia e este é o único tipo
de direção que ele me deu: ‘Apenas certifique-se de que a música será tão
melódica quanto possível. Eu quero voltar a isso. ’” Ne-Yo soube, rapidamente,
no entanto, das altas expectativas de Jackson. “Ele queria melodias
sensacionais. Ele me chamou de volta e disse: ‘Eu realmente gosto da música
número três, na música número quatro, o hook
poderia ser mais forte. A música número um, mude o primeiro verso... Okay, tiau.
’ Clique. E, então, eu as refaço e ele está como: ‘Okay, elas estão perfeitas.
Envie-me mais. ’ Portanto, eu não sabia o que ele está mantendo, do que ele
está se livrando, o que ele está gravando.”
Na verdade,
pouquíssimas pessoas sabiam. O que é sabido, agora, é que Jackson estava
ocupado no trabalho durante esses anos, continuando a desenvolver novas músicas
ou ideia para músicas. “Quero voltar amanhã”, ele, muitas vezes, diria a Brad
Buxer e Michael Prince, depois de uma bem sucedida sessão de gravação. “Ele
estava incrivelmente focado, completamente coerente, sempre com bom humor”,
recorda Michael Prince. “[Em 2008], você poderia dizer que ele estava se
preparando para o retorno dele. Ele parecia bem, parecendo forte, planejando o
próximo movimento dele.”
Mais tarde, naquele
ano, Buxer teve que informar a Jackson que ele não podia permanecer em tempo
integral em Las Vegas, embora Jackson tenha, fortemente, tentado convencê-lo a
ficar. “Quando as coisas desaceleraram [depois de Invincible]”, Buxer explicou,
“eu queria terminar meu treinamento de voo, portanto, eu fiz isso. Eu estava
voando para a principal linha aérea e quando eu estava voando eu estava comutando
para trabalhar com ele em Las Vegas. Isso funcionou por um tempo, mas ele não
gostou da ideia de que eu não iria abandonar a linha aérea”. Buxer disse a
Jackson que se houvesse uma grande turnê ou álbum, ele se juntaria, mas caso contrário,
ele não poderia se dar ao luxo de abandonar a linha aérea; ele tinha que manter
o emprego dele. Uma noite, Jackson suplicou a Brad Buxer. “Eu não quero trabalhar
com mais ninguém. Você está pilotando um avião toda noite; comigo você está
fazendo história.” Relutantemente, no entanto, Buxer teve de deixar a
oportunidade passar. Antes de partir, em 2008, porém, eles trabalharam em inúmeras
músicas, incluindo “Days in Gloucestershire”, “Changes”, “Hollywood Tonight” e
“Best of Joy”. (Ron Feemster coproduziu as duas últimas faixas para o álbum
Michael, assim como uma nova versão, de 2000, da faixa “The Way You Love Me”,
de Jackson e Buxer.)
Logo depois, Jackson
informou a Michael Prince, Neff-U e os outros, que ele estava se dirigindo para
Los Angeles. Primeiro, os colaboradores dele nem mesmo perceberam que a mudança
era permanente. Durante os próximos vários meses, Jackson viveu no Bel-Air Hotel. Todas as engrenagens e
motores foram trazidos de Las Vegas, porque ele continuou a trabalhar no novo
álbum e planos de negócios. Foi aqui que Jackson gravou vocais para várias
músicas quase finalizadas, incluindo “Best of Joy” e “I Was the Loser”. Vários
meses mais tarde, depois de finalizar um acordo com a AEG para as séries de concertos dele, na O2 Arena, Jackson se mudou
para uma casa alugada no Holmby Hills. Por essa época, Jackson tinha dúzias de
títulos de músicas escritos em um index
card de 3x5 polegadas. Ele estava prestes a determinar o que faria parte da
trilha sonora final. Ele também tinha um singular plano guardado para o novo
lançamento musical. De acordo com o engenheiro de gravação, Michael Prince, a
visão dele era finalizar muitas das faixas, enquanto os concertos dele
estivessem acontecendo em Londres, e lançá-las, uma a uma, como singles, não como um álbum completo. Era
uma ideia brilhante. Jackson, como sempre, estava profundamente sintonizado à
indústria da música e sentia que essa era o jeito ideal de disseminar a música
dele na era do download digital. Ele
também percebeu que, com a publicidade gerada pela estadia contínua dele na
maior ponto de encontro do mundo, a antecipação por cada nova música seria
enorme. Em vez de dar aos críticos a chance de, imediatamente, desprezar o novo
álbum dele como um fracasso, ele seria mais esperto que eles, por conseguir um hit single após hit single e, finalmente, uma vez que ele alcançasse dez ou doze
músicas, lançá-las-ia em um álbum completo.
Jackson continuou a
gravar mesmo nos meses finais dele, enquanto a maior parte do time dele estava
consumida preparando a turnê vindoura. Oito dias antes de ele morrer, ele ligou
para o amigo de longa data, Deepak Chopra, sobre uma nova música sobre meio
ambiente, na qual ele estava trabalhando, chamada “Breed”. “Eu tenho algumas
notícias realmente boas para dividir com você”, ele disse sobre a música, em
uma mensagem de voz. Chopra disse que ele soou “otimista” e “excitado”. A demo
que ele enviou era uma magnífica lembrança da nossa conexão com o planeta, não
muito diferente do hit de 1995 dele,
“Earth Song”. Chopra, no entanto, não foi capaz de alcançar Jackson para falar
com ele sobre a música. “A demo musical que ele me enviou está ao lado da minha
mesinha de cabeceira, como um pungente símbolo de uma vida inacabada.”
Apesar de que a visão
de Jackson para o álbum, tristemente, nunca será realizada, completamente, ele
deixou dúzias de músicas e fragmentos de música que serão ouvidas nos anos que
virão. O espólio de Michael Jackson, agora, possui a maior parte do trabalho
com o qual ele estava comprometido durante aquela época e planeja lançar, pelo
menos, dois ou três álbuns, contendo muito desse material. O primeiro deles, Michael, foi lançado em dezembro de
2010.
Outro
projeto no qual Michael Jackson esteve engajado
durante os últimos meses dele pode surpreender muitas pessoas que não o
conheciam muito. Jackson sempre teve uma profunda afinidade com música clássica
e, há muito, era um sonho dele compor um álbum clássico. Para esse fim, na
primavera de 2009, ele arranjou um encontro com o produtivo e premiado
compositor David Michael Frank.
Quando Frank chegou à
casa de Jackson em Holmby Hills, ele não tinha certeza do que esperar. “Eu me dirigi
para a porta da frente e fui recebido por um assistente que me disse para
entrar”, ele recorda. “Eu estava relutante em apertar a mão dele, porque eu
soube que ele se preocupava com germes, mas ele, imediatamente, estendeu a mão
e me deu um aperto de mão muito firme. Ele estava muito magro, mas nem um pouco
frágil. Ele estava usando um terno e um chapéu. Ele iria ensaiar, mais tarde,
para a turnê. Ele disse: ‘Você parece familiar’. Eu disse a ele que, muito
tempo atrás, eu tinha trabalhado em um tributo na TV para Sammy Davis Jr., no Shrine
Auditorium [que ele tinha participado]. Eu disse a ele que eu o tinha
conhecido, brevemente, lá. Ele disse: ‘Eu nuca esqueço um rosto. ’”
Jackson passou a falar
com Frank sobre três projetos principais, nos quais ele estava engajado: os
concertos This Is It, um álbum pop, e um álbum clássico. “Ele disse que
ele escutava... música clássica o tempo todo; era a absoluta favorita dele. Eu
fiquei impressionado pelas obras que ele mencionou: Rodeo, Fanfare for the Common Man, e Lincoln
Portrait, de Aaron Copland; West Side
Story, de Leonard Berstein. Eu mencionei On the Waterfront, de Berstein. Então, Michael mencionou que ele
amava o filme musical de Elmer Bernstein, também, e ele, especificamente,
mencionou To Kill a Mockinbird; eu
percebei que quase todas as obras clássicas que ele mencionou eram infantis,
muito simples e lindas, como Peter and
the Wolf, de Prokofiev e o Quebra nozes, de Tchaikovsky. Ele mencionou
Debusy, também, várias vezes, especificamente Arabesque [Nº1] e Clair the
Lune. Ele falava com muita suavidade, quando ele estava falando sobre
música, mas quando ele ficava animado sobre algo, ele mudava muito. Quando ele
disse o quanto ele amava Elmer Bernstein e eu disse que eu gostava da partitura
The Magnificent Seven, Michael começou a contar o tema bem alto, quase gritando.”
Jackson teve o filho mais
velho dele, Prince, buscando uma demo que ele tinha gravado e, juntos, ele e
Frank, a escutaram. “É uma música linda”, Frank recorda. “Uma peça que tinha
uma qualidade irlandesa sobre ela, eu sugeri que poderíamos usar uma harpa
Celtic. As peças soavam como lindas trilhas sonoras de filme, com harmonias
muito tradicionais e, definitivamente, melodias muito fortes. Uma delas era
como uma típica Jonh Barrish, como em Out
of Africa – esse tipo de trilha sonora de John Barry. Eu pude ouvir [na
minha mente] amplos acordes e instrumentos de sopro franceses em uníssono.”
Jackson e Frank foram
para o piano para aperfeiçoar partes que estavam, ainda, incompletas. “Eu
sentei ao piano”, recorda Frank, “e Michael cantarolou a parte que faltava de
umas das obras. Eu tinha levado um pequeno gravador digital comigo e perguntei
se eu poderia gravá-lo. Ele estava em perfeito tom. Eu tentei descobrir cordas
para seguir com elas, enquanto ele cantarolava. Ele disse: ‘Seus instintos
estão totalmente certos sobre as cordas’”. Jackson, mais tarde, disse a amigos
como ele ficou maravilhado por Frank poder tocar, imediatamente, cada peça que
ele mencionou.
Jackson, Frank se
lembra, estava ansioso por ter as peças orquestradas. Depois do primeiro
encontro, eles continuaram a falar por telefone. “Ele me perguntou como o
projeto estava indo e eu disse que eu estava esperando para ouvir de alguém,
assim, poderíamos fazer um acordo. Eu sugeri que nós poderíamos gravar a música
em Londres, enquanto ele estivesse fazendo o show lá. Ele gostou da ideia. Ele, novamente, trouxe Arabesque [de Debussy]. Eu coloquei
todas as músicas do meu computador e, antes de Michael morrer, o empresário
dele, Frank DiLeo, chamou-me e pediu-me um e-mail com o orçamento e esboço
eletrônico da música, os custos da orquestração.” Infelizmente, como com o
álbum pop dele, Jackon não foi capaz
de ver a visão dele realizada. Frank, no entanto, diz que Jackon “tinha as
canções muito trabalhadas”. Cada peça era cerca de sete a dez minutos e muitas
das partes faltantes tinham sido preenchidas. Jackson também disse a Frank
sobre outras músicas instrumentais na qual ele tinha trabalhado, incluindo uma
obra de jazz.
“Eu espero que um dia a família dele grave
esta música como um tributo”, Frank concluiu, “e mostre ao mundo a profundidade
da arte dele... Eu disse a Michael que eu ia usar uma dos bastões de Leonard
Berstein, que eu tinha comprado em um leilão, quando nós fizemos a gravação. Eu
sabia que ele teria conseguido um grande feito com isso”. No final de 2011, o
espólio de Michael Jackson ainda não tinha anunciado quaisquer planos para lançar o álbum
clássico de Jackson e Frank.
De
todos os projetos finais dele, porém, as séries de
concertos This Is It, no O2 Arena, em
Londres, estavam prestes a fazer maior alvoroço. Na verdade, de muitas formas,
a afirmação já tinha sido feita antes mesmo de Jackson começar a ensaiar para o
show. Quando ele anunciou os
concertos em Londres, para uma multidão de fãs histéricos, redes de notícias do
mundo todo, incluindo a BBC e a CNN, deram ao anúncio mais que uma hora
de cobertura ao vivo. Era impossível pensar em outro artista no mundo que
pudesse comandar esse tipo de atenção, por, simplesmente, anunciar datas de
concertos. No dia seguinte, mais de 1,6 milhões de pessoas tinham se registrado
no website de Jackson para comprar os
ingressos. Assim, veio o que o executivo da AEG,
Randy Phillips, descreveu como “a mais surpreendente [coisa] que eu já vi em
minha carreira nos negócios de entretenimentos”. Depois de anos fora dos
holofotes públicos e quase uma década desde que esteve em um palco, Jackson
vendeu dez, depois trinta, depois cinquenta, datas no O2 Arena. A demanda foi
tão alta, que o website travou e caiu,
repetidamente. “Ingressos foram vendidos em um ritmo de 11 por segundo, 657 por
minuto e quase 40.000 por hora”, disse os organizadores dos concertos, que
chamaram isso de o show mais
rapidamente vendido na história. “Nós frequentemente falamos da demanda sem
precedentes, mas esta semana nós testemunhamos um vivo fenômeno do
entretenimento”, disse o diretor gerente do Ticketmaster.
“Isto foi, sem dúvidas, a mais movimentada demanda por ingressos para um evento
que nós já presenciamos.”
Foi uma surpreendente reviravolta
nos eventos. A mídia, que tinha perguntado dias antes “quem, além de fãs
devotos, pagariam mais de 50 euros [80 dólares] por um ingresso”, ficou
chocada. Jackson tinha acabado de conseguir o maior show, em única cidade, na história, na mais badalada arena do
mundo. Especialistas previram que ele geraria, aproximadamente, 1 bilhão de
euros para a economia londrina. As vendas dos álbuns tinham aumentado mais que duzentos
por cento. “Michael Jackson tinha jogado cimento sobre os críticos dele”,
escreveu Verônica Schimidt, do Times.
Na verdade, aos cinquenta anos de idade, ele estava pronto para fazer história
de novo. Mesmo os colegas dele ficaram maravilhados e animados para ver os shows. “Vender deste jeito é um
testemunho de talento”, disse Chris Martin, do Coldplay. “É incrível vender 50 shows, em uma única cidade, em uma
grande arena. Este é o maior retorno desde Lázaro.”
Jackson se reuniu com o
executivo da AEG, Randy Phillips, sobre
a possibilidade dos shows, pela
primeira vez, no final de 2007. Naquela época, Jackson ainda estava cético
sobre fazer um extensivo show ou
turnê. No ano seguinte, entretanto, ele tinha mudado de ideia. No outono de
2008, ele voou para Los Angeles para se encotrar com Randy Phillips de novo.
Dessa vez, Phillips pôde ver que Jackson estava sério e focado. Ele estava
“pronto para deixar de viver como um desconhecido”. Ele queria limpar a bagunça
financeira dele; ele queria um novo lar permanente para a família dele; e, o
mais importante, ele queria que os filhos dele o vissem performar e um palco
pela primeira vez. “Meu filhos estão maduros o bastante, agora, para apreciar o
que eu faço”, ele disse a Phillips, “e eu ainda sou jovem o bastante para
fazer”.
Dentro de meses, as
preparações entraram em andamento. O renomado diretor Kenny Ortega foi
contratado como diretor; Travis Payne, como coreografo e Michael Bearden, como
diretor musical. Os ensaios começaram no
Center Staging (um pequeno ponto de encontro, onde a primeira fundação foi
estabelecida), depois, mudaram-se para o Forum
e, finalmente, para o Staples Center.
Por essa época (março de 2009), Jackson tinha se mudado para a casa dele, em Holmby Hills chateau, e estava lutando contra insônia e ansiedade. Ele queria
fazer os shows, mas havia uma enorme
quantidade de pressão e stress. Muitos
do lado de fora (e mesmo alguns de dentro) estavam céticos sobre se Jackson
poderia, verdadeiramente, realizar os cinquenta concertos. Ele não era mais
jovem e tinha uma recente história de insegurança. As datas foram fixadas de
forma a dar a Jackson tempo de recuperação, mas havia, ainda, justificadas
preocupações com a saúde dele. A maioria dos que trabalhavam perto dele, no
entanto, disse que ele parecia estar em boa condição, mentalmente e
fisicamente. Ele tinha começado a treinar com Lou Ferrigno (do Incrível Hulk),
ele estava fortalecendo a voz dele, ele estava dançando e construindo resistência.
Quando o produtor do Grammy, Ken
Ehrlich, viu os ensaios dele, ele ficou impressionado por quão bem Jackson
parecia. “Mas vocalicamente, ele tinha começado a projetar realmente. Eu pensei
que ele estava em ótima forma.”
Não há duvidas de que,
nos bastidores, Jackson ainda lutava contra muitos demônios pessoais
concernentes ao sono dele, medicação, aparência física, finanças e outras
pressões. Mas o que estava claro para todos em volta de Jackson, nos meses
finais dele, era a paixão e comprometimento dele em criar “o maior espetáculo
da Terra”. “Os dias finais dele”, escreveu Claire Hoffman, da Rolling Stone, “ele não apenas sonhava
com um retorno, ele trabalhou tão duro quanto pôde para realizar isso, talvez
tão duro quanto ele nunca tivesse na vida”. Na verdade, Jackson estava
envolvido em vários aspectos do show,
desde selecionar os dançarinos, a criar os efeitos visuais, e criar o designe
dos figurinos, a desenvolver a coreografia. Teria sido muito fácil para ele, simplesmente,
fazer um show como muitos atos
“antigos” – passar pelos movimentos e permitir às pessoas alguma nostalgia
sobre os bons dias. Como a ex-mulher de Jackson, Lisa Marie Presley, colocou:
“Mediocridade não era um conceito que, nem mesmo por um segundo, entraria no
ser e atos de Michael Jackson.”.
Michael Jackson queria
chocar o mundo com os concertos dele. “O show
que criamos, aqui, tem que ter as pessoas partindo e incapazes de esquecê-lo”,
Jackson disse a Kenny Ortega. “Eles não devem conseguir dormir. Eles devem ver
o sol nascer e ainda estar falando sobre isso.” Ele queria que isso fosse
diferente de tudo que as pessoas já tinham visto em um concerto antes. “Eu nem
mesmo me importo se elas estão aplaudindo”, ele disse a Ortega. “Eu quero o
queixo deles no chão.”
Jackson e o diretor de This is It, Kenny Ortega, trabalhando em um curta-metragem para as séries de concertos dele, This Is It.
Quando o mundo,
finalmente, teve um vislumbre do que Jackson estava preparando nos bastidores,
nos meses finais dele – através do, postumamente lançado, documentário This Is It –, houve alguma coisa
parecida a essa resposta. O crítico cinematográfico, Roger Ebert, disse que era
“nada do que eu estava esperando ver. Aqui não está um homem doente e drogado
forçando-se a atravessar extenuantes ensaios, mas um espírito incorporado pela
música... o timing correto dele, deixas
refinadas, conversas sobre detalhes da música. Vendo-o sempre a uma distância,
eu pensava nele como um instrumento da operação produção dele. Aqui, nós vimos
que ele é o autor do show dele.” Na
verdade, o documentário foi um fascinante vislumbre de como Jackson operava
criativamente – e como ele era sério e apaixonado pela arte dele. “A direção
dele era quase poética”, observou Kirk Honeycutt, do Hollywood Reporters. “Sobre o tempo de um número, ele instrui: ‘É
como se arrastar para fora da cama. ’ Outra hora, ele diz: ‘Isto tem que ferver.
’... Nesse momento, Ortega pergunta à estrela dele, como ele iria ver uma certa
dica no palco. Jackson pausa e, então, diz: ‘Eu sentirei isso. ’ E você sabe
que ele teria.” Há, também, outros vislumbres dentro da humanidade dele. Ele, humoradamente,
reclama sobre um fone de ouvido (“Isto soa como uma apunhalada no meu ouvido”),
em uma cena; em outra, ele instiga o diretor musical dele a tocar uma música do
jeito que ele a escreveu, antes de rir sobre uma “maldosa” brincadeira. “Nós
vemos Jackson como um perfeccionista, um chefe generoso, um rígido feitor e uma
criança brincalhona”, escreveu o crítico musical Alex Fletcher. “Com a guarda
baixa e, provavelmente, sem saber que isso, algum dia, seria visto pelo público,
nós encontramos Jackson pressionando a banda e a produção dele até o limite... É
animador, finalmente, ver o cantor falecido como um humano completo, com falhas
comuns e imperfeições. Similarmente, uma cena mostrando Jackson gritando ‘Weeeee!
’ com alegria infantil, enquanto ele se move em volta do palco em uma grua
gigante, dará um sorriso, certamente, até mesmo ao mais cínico espectador.”
A visão de Jackson para
This Is It era um espetáculo de
imersão completa. Havia vinte e dois cenários diferentes, elaborados panos-de-fundo,
filmes 3-D, dança aérea, enormes lustres,
fogos de artifício e fantasmas voadores. “Certifique-se de que estes fantasmas
venham para a tela”, Jackson instruiu Ortega. Ele queria que tudo fosse tão
visceral, intenso e dramático quanto possível. Era para o show começar com uma interferência estática permeando a arena, uma
cacofonia de iluminação e esferas cromadas se multiplicando no palco. Depois,
Jackson sairia de um robô, que emanava imagens históricas. Segurando uma esfera
cromada, ele refletiria uma imagem de si mesmo. Jackson descreveu isso como um
momento Hamlet. Dalí, ele e a audiência dele partiriam para uma “grande
aventura”.
Jackson não queria
apenas espetáculo sem sentido e escapismo. Ele queria algo mais profundo, algo
que mudasse a consciência das pessoas. Essa corrente está presente através de
muitas das escolhas musicais dele, desde “They Don’t Care About Us”, a “Black
or White”. No entanto, isso surge mais poderosamente em um dos últimos números,
“Earth Song”, uma apocalíptica obra opera-blues,
que retrata um quadro devastador da destruição que estamos fazendo no mundo. No
filme 3-D, criado para a performance,
uma menininha adormece na floresta; quando ela acorda, tudo em volta dela está
completamente queimado. Jackson gostava da metáfora de pessoas “dormindo”, até
que o problema tenha se desenvolvido para além do controle (“É como um trem desgovernado”,
ele disse). Pessoas que falaram com ele, pessoalmente, dizem que ele estava,
genuinamente, aterrorizado sobre que futuro os filhos dele (e de todas as
crianças) iriam habitar, se nós não começássemos a fazer mudanças. Depois do enorme
clímax da música, Jackson queria que a garota e o trator do filme, realmente,
viessem para o palco e se aproximasse da audiência. A porta do trator abriria e
um humano sairia. “Não são as máquina que estão destruindo o planeta”, Jackson
queria revelar. “São as pessoas que estão destruindo o planeta.”
Interessantemente, é nesta nota sombria, mas pungente, que ele queria terminar.
“Sem final feliz”, ele insistiu com Kenny Ortega. “Eu quero isso queimando. Eu
quero isso lá, resistente e queimando, e eu nos quero de pé lá, com nossos
braços estendidos, pedindo às pessoas, ‘por favor! ’... antes que se torne uma
caricatura.”
Em uma filmagem do último
dia de ensaio, Jackson é mostrado, em um momento, apontando para a audiência
imaginária dele: “Você, você, você, nós, nós.”
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