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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

M Poetica : A Arte de Conexão e Desafio de Michael Jackson: Blood on the Dance Floor


Blood on the Dance Floor

 

É claro, Jackson estava errado quando ele cantava: “Você não pode me ferir”. Todos têm fraquezas. Em 1993, um ano depois do lançamento de Jam, Jackson foi acusado de abusar sexualmente de um menino e os resultados foram devastadores para todos os desenvolvidos. Blood on the Dance Floor, do álbum, de 1997, de mesmo nome, retrata um caótico mundo sombrio. Por toda a vida e trabalho, Jackson incorporou arte, e, especialmente, dança, tanto socialmente quanto pessoalmente transformativo. Mas agora há “sangue na pista de dança” e a dança em si se tornou contaminada, meramente mais uma forma de sedução e traição.

Jackon senta em uma cadeira em uma boate, irritado e desorientado. Críticos musicais o castigaram por sentar a maior parte do vídeo, mas esse é precisamente o ponto. E quando ele vai para a pista de dança, ele apresenta uma dança muito diferente do que nós já o tínhamos visto dançar antes. Ele não é o líder de uma gangue de dançarinos, definitivamente alegres no meio de um ambiente sem vida. Em vez disso, ele é outro cansado da vida cara. E ele não está dançando para transformar o mundo dele ou ganhar renovação, mas para se perder, esquecer. Como ele canta: “Para escapar do mundo eu tenho que desfrutar desta simples dança”.

Mas Jackson não é meramente um dançarino nesse vídeo; ele é também o narrador de uma história de violência e revanche. Uma mulher, Susie, é seduzida no clube e abandonada. Ela, então, planejou para matar o amante desiludido dela, na pista de dança, com uma faca. De muitas formas, esse vídeo é uma continuação do ciclo Billie Jean/ Dirty Diana, mas naqueles vídeos Jackson trabalhou para entender essas personagens. Aqui, ele não. Susie é simplesmente tão diferente Ele pode se simpatizar com uma mãe solteira ou adotar o ponto de vista de uma groupies, mas ele aprece não precisar entrar na cabeça de uma assassina.

A envolvente personagem Billie Jean / Dirty Diana/ Susie tinham, finalmente, se tornado um monstro, apesar dos esforços de Jackson para humaniza-la. (Ela também se tornou masculina, ela crava a faca “sete polegadas dentro”.) Mas como Billie Jean e Diana, ela não é apenas uma mulher. Ela também representa audiência de Jackson – uma audiência que não está satisfeita com as performances públicas dele, mas que acesso à vida privada dele, da mesma forma. Billie Jean dança com o narrador, depois, tenta retirá-lo da pista de dança, alegando que ele é o pai do bebe dela. Dirty Diana ama o artista que ela vê dançando no palco, depois, tenta tirá-lo do palco, também, entrando no carro dele e convidando-o para ir para casa com ela. E Susie foi seduzida por um homem que ela conheceu na pista de dança, e, quando ele não quer nada mais que isso, ela o apunhala na pista de dança.

Interessantemente, a letra de Blood on the Dance Floor move para frente e para trás o “você” do sedutor e o “eu” do narrador. O sedutor e o narrador têm histórias paralelas, e Susie está lá fora para pegar os dois. Isso sublinha o que Jackson, mais uma vez, está contando a história dúbia de uma mulher com o amante dela, assim como o artista com a audiência dele. O amante de Susie a seduziu na pista de dança, exatamente como Jackson nos seduziu, a audiência dele, no palco. Nós nos apaixonamos pelo Michael Jackson que nós vimos cantando e dançando no palco. Mas como Billie Jean, Diana e Susie, nós queríamos reclamar a pessoa por trás do artista também, a pessoa que existia fora da pista de dança, e fora do palco. E quando não pudemos pegar isso – quando a aparência em transformação dele e as perturbadoras entrevistas nos confundem, e ele, simplesmente, não seria quem nós queríamos que ele fosse – nós nos voltamos contra ele com toda a ira de um amante desdenhado e o atacamos.

É importante notar que o Michael Jackson “piadas” e a crucificação tabloide “Wacko Jacko” começaram muito antes das acusações de abuso sexual. Jackson lançou Leave Me Alone, a resposta dele ao bombardeio dos tabloides, em 1987 – seis anos antes das acusações de 1993, e 18 anos antes do julgamento de 2005. Em uma entrevista, em 1987, Robert Robertson do The Band, falou sobre este “estranho fenômeno americano, no qual nós pegamos estes heróis e nós os construímos e o expulsamos do paraíso. Nós continuamos a falar do assassinato de John Lenon, mas nós atacamos artistas populares de uma maneira mais sutil, da mesma forma: com palavras e piadas cruéis e um tipo único de desprezo que reservamos apenas para estrelas que, por qualquer razão, não mais nos encanta”.

Kacosn estava bem consciente desse fenômeno e falou sobre isso na entrevista de 1984 no auge da fama dele: “Streisand uma vez disse... ‘Eu superei isso, em 20/20’, ela disse que quando ele chegou, ela era nova e fresca e todo mundo a amou. Eles a elevaram e então... eles a derrubaram... Você sabe, ela é humana. Ela mão pode aguentar isso”.

Nós fizemos a mesma coisa com John Travolta, Houve um tempo, após o colapso do disco, quando Travolta era tão miseravelmente impopular que isso era como uma doença contagiosa capaz de infecta todo mundo que ousasse defende-lo: admitir que você gostava do trabalho de Travolta ou apreciava o talento dele era revelar que você mesmo era, terminantemente, chato.

Nós nos voltamos contra Elvis Presley também. Nós tendemos a esquecer disso por causa da renascente popularidade dele depois que ele morreu, mas há uma razão porque ele passou os últimos anos da carreira dele tocando em boates bregas em Las Vegas. Piadas e paródias sobre Elvis eram um grampo para de rotinas de comédias e passatempo nos programas de rádio nos anos setenta, embora olhando para trás com nostalgia, nós, convenientemente ignoremos o quão difuso o sentimento anti-Elvis estava de volta, então, ou o quão viciosamente ele era atacado – pela alegada paranoia dele e excesso, as armas dele, o peso dele, os sanduiches de nana com manteiga de amendoim dele, os terninhos dele e gola alta, até mesmo o distintivo estilo vocálico dele.

Os americanos se voltaram contra um dos heróis de Jackson, Charlie Chaplin, também.  Embora um cidadão bretão, Chaplin se tornou um dos atores mais amados da América, e ajudou os americanos a superar dias guerras e a Grande Depressão. No entanto, ele teve uma tempestuosa vida amorosa e uma suposta ascendência judaica (o que ele se negou a confirmar ou negar, dizendo que qualquer uma das declarações poderia ser usada para apoiar antissemitismo), ele foi criticado pelos esforços políticos, antes e durante a II Guerra Mundial. Em Chaplin: Uma Vida, o biografo Stephen Wissman alega que isso resultou em esforços engendrados para desacreditá-lo:

A reação contra Chaplin reuniu ímpeto no final de 1942. Westbook Pegler, um jornalista conservador..., deu o pontapé inicial na campanha com duas mordazes invectivas. Caracterizando as atividades de Chaplin em apoio ás nossas alianças militares com os soviéticos como pro-comunistas antiamericanas, ele recomendou deportação. E com ainda mais veemência, Pegler também sugeriu que os três divórcios anteriores do ator eram provas claras do desprezo dele pela pátria “pelos padrões americanos de relacionamento de casamento, família, e lar”.

A última acusação provou ser uma que pegou mais facilmente... Chaplin estava bem no caminho dele de ser publicamente marcado como um “leproso moral”.

O que é, talvez, mais mordaz sobre esse estágio da vida de Chaplin era a acurada consciência dele de que a audiência dele poderia se voltar contra ele.

Os pais de Chaplin eram, ambos, artistas talentosos, que terminaram a carreira deles em desprezível pobreza, e Wissman escreve sobre “o medo fixo” de Chaplin de que, como os pais dele antes dele, ele também estava a ser desprezado e esquecido pelo público, uma vez apaixonado, dele.

Os americanos suavizaram as condenações moralistas sobre ele por volta do fim da vida dele, e, quando ele foi premiado com o Oscar Honorífico em 1972 aos 82 anos, ele recebeu a mais longa ovação de pé de acordo com um premiado do Oscar. Alistair Cooke notou: “ele é agora – como diz a canção – ‘fácil de amar’, absolutamente seguro de adorar.” É claro, tudo foi esquecido quando ele morreu e os americanos voltaram a escarniá-lo mais – um padrão que temos repetido com inúmeras estrelas, desde então, incluindo Elvis Presley e Michael Jackson.

Nós nos voltamos contra um chocante número de artistas, incluindo performers tão diversos quanto Liza Minelli, Berry Gibb do Bee Gees e Sammy Davis Jr. Significativamente, Jackson foi publicamente apoiado por todos os três, antes que eles caíssem da graça do público. Ele era um amigo de longa data de Liza Minelli e a conduziu no casamento dela; ele era amigo próximo de Barry Gibb e padrinho do filho dele, Michael; e ele abertamente admirava Sammy Davis Jr., e escreveu um lindo tributo para a celebração do 60º aniversário dele, cantando:

 

Você esteve lá, e graças a você

Agora há uma porta por onde todos nós entramos

Sim, eu estou aqui porque você esteve lá

 

Jacksons e recusou a deixar a opinião do público influenciar a afeição dele por esses artistas ou oscilar o julgamento deles sobre o talento ou contribuições deles. Quando Eminem realizou um vídeo ridicularizando Jackson em 2005, um momento quando a opinião do público estava amplamente contra ele, Jackson replicou: “Eu tenho sido um artista na maior patê da minha vida, fazendo o que eu faço, e eu nunca ataquei um colega artista”.  Na verdade, ele sentia que artistas deveriam se unir e ajudar uns aos outros a lidar com a tempestade de uma inconstante e, às vezes, cruel audiência.

Mesmo como um jovem artista, Jackson foi muito consciente dos perigos que artistas e entretainer enfrentam. Um repórter gravou esta troca durante uma entrevista nos bastidores de um concerto em 1982:

Michael está questionando um dançarino se ele sabe sobre as recentes crises de um de um caído superstar. Michael quer saber qual é o problema. O dançarino fez mímica para a resposta dele, passando um dedo sobre o nariz dele. Michael balançou cabeça e traduziu para o amigo dele: “Drogas. Cocaína”.

... “Eu sempre quis saber o que faz bons performers desmoronarem. Eu sempre tentei descobrir. Porque eu simplesmente não posso acreditar que é a mesma coisa que os pega de novo e de novo.”

Nas músicas dele, Jackson aborda o lado mais sombrio da vida de um artista, incluindo isolação, vício ou, mais frequentemente, o espectro de um público imprevisível e potencialmente ameaçador. Mesmo a veloz “Wanna be Startin’ Somethin’” tem, notoriamente, letras sombrias – “Você é apenas um buffet. Você é um vegetal./Eles comem você. Você é um vegetal” – e nos diz: “Você faz Meu Bem chorar”.  Ele retorna a essa imagem em “Monster”, do álbum póstumo dele, Michael, cantando: “Você dá a eles tudo de si. / Eles lhe assistem cair./ E eles comem sua alma como um vegetal.”

Quando ele produziu Blood on the Dance Floor, os piores medos de Jackson se tornaram, horrivelmente, realidade. As acusações de abuso sexual infantil contra ele dominaram a mídia por meses e, como Chaplin antes dele, Jackson “estava bem no caminho dele de ser publicamente rotulado de um ‘leproso moral’”. A imprensa e o público estavam, agora, atacando-o, tão fervorosamente quanto, uma vez, o idolatraram e, dentro do espaço de um ano, ele foi de ser um dos mais amados homens do mundo a objeto de desprezo e mesmo ódio. Ele escreveu músicas temendo um público ameaçador por mias de uma década. Ironicamente, no entanto, uma vez que essa mudança no humor do público verdadeiramente aconteceu, isso não era a preocupação principal. Enquanto ele está desconfiado desta criatura furiosa que se virou contra ele. Ele está cada vez mais horrorizado pela devastação espiritual da pista de dança

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