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segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

M Poetica: A Arte de Conexão e Desafio de Michael Jackson


Capítulo Um

“Isto É Assustador Para Você, Baby?”

 

No memorial de Michael Jackson, Barry Gordy o chamou de “o maior entretainer que já viveu”. Essa é uma declaração extravagante, embora exista evidencias para apoiá-la: o fenomenal recorde de vedas, as turnês mundiais com ingressos esgotados, o absoluto deleite que sentimos quando o vamos performar.

Mas Michael Jackson também era um artista sério, e os impulsos do artistas, às vezes, contradiz os do entertainer. Enquanto o entertainer se esforça para nos agradar, o artista foca em explorar as ideias dele, mesmo que essas ideias nos irritem ou nos aborreçam. Enquanto o entertainer oferece uma escapatória para nossos problemas, pelo menos por um momento, o artista pode nos forçar e enfrentar feias verdades. E, enquanto o entertainer nos conforta, muitas vezes, nos acalmando com obras familiares que temos conhecido por anos, o artista pode, às vezes, sentir necessidade de desafiar a audiência dele e, intencionalmente, provocar-nos, desafiando nossas crenças estabelecidas, alterando r nossas percepções e nos forçando a ver a nós mesmo e o nosso mundo de uma nova maneira.

A genialidade de Jackson era a habilidade dele em expressar esses impulsos contraditórios com um corpo ágil e uma voz incrivelmente expressiva e um olho cinematográfico. Nas performances de palco dele, Jackson era o entertainer consumado, talvez o melhor que já vimos, e a dança e canto dele nos enche de alegria. O objetivo dele era nos agradar, e ele nos agradou. Mas nos vídeos dele, por exemplo, que ele chamava de curtas-metragens, o canto e a dança dele eram servis à visão artística dele. Se essa visão exigia que ele se sentasse em uma cadeira e não dançasse – como em Blood on the Dance Floor –, então ele se sentava. Não importa o quanto isso nos frustrasse. Na arte visual dele, Jackson era um artista sério, e o desejo dele em expressar as ideias dele vencia o desejo em nos agradar. Mas se nós tomarmos um tempo para olhar cuidadosamente e entender o trabalho, nós descobriremos que Jackson, o artista, pode nos deslumbrar e inspirar tanto quanto Jackson, o entertainer, uma vez nos deslumbrou e inspirou.

Considerar Michael Jackson como um artista sério também nos leva a reavaliar o longo arco da carreira dele. Visto como simplesmente um entertainer, a popularidade dele atingiu o ápice em 1983 com o lançamento de Thriller e nunca mais atingiu tais alturas novamente, com a careira dele entrando em um longo, doloroso crepúsculo, depois que ele foi acusado de molestar um garoto em 1993. No entanto, vendo Jackson como um artista, nós descobrimos que alguns dos mais interessantes perspicazes trabalhos deles apareceram depois de 1993, pois ele lutou para lidar com as consequências dessas alegações e a “súbita queda da graça” dele.

Além disso, se nós dermos a Jackson o respeito devido a um artista sério e conduzirmos uma análise focada da arte dele, isso revela uma surpreendente complexidade e inteligência no trabalho dele – surpreendente porque muitas das canções dele são tão bem conhecidas, que elas são tão familiares quanto as canções de ninar. Mas Jackson era um sensível e perspicaz observador das interações humanas e um apaixonado defensor da reforma, não apenas em hinos notórios como “Black or White”, “Earth Song”, “Heal the World”, e “We Are the World”, mas também sutilmente em vídeos como Beat It, Bad, Jam, Ghosts, Thriller, Smooth Criminal e The Way You Make Me Feel, um dos trabalhos mais mal interpretados dele.

Finalmente, uma leitura focada da obra de Jackson revela que ele era um artista extremamente dedicado e uma filosofia artística e visão bem desenvolvida – uma visão que, definitivamente, leva a uma ampliada definição da arte em si, assim como um profundo entendimento do que é possível através da arte. Os vídeos dele, especialmente, podem ser interpretados como uma conversa sem fim sobre o papel do artista; o relacionamento entre o artista e a audiência dele; e o escopo, função, e o poder da arte, incluindo a habilidade da arte em acarretar dramáticas mudanças sociais. Dar um focado olhar nos vídeos dele nos permite ver ambos, o artista e o entertainer, com a tensão entre os dois provendo o dinamismo que alimentou algumas das melhores obras dele.


 

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