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terça-feira, 24 de abril de 2012

Parte 6 - Black or White: Curta Metragem e os Panteras Negras

Black or White: Curta Metragem e os Panteras Negras

 



Uma aura que é difícil de descrever permeou os anos sessenta, era um "espírito" que era muito tangível e constituía um movimento que foi muito um desses saltos evolutivos que empurra a raça (humana) para a frente e ilumina uma cultura. Enquanto o salto é semelhante ao que estamos vivenciando agora, a sensação era de que era um pouco diferente, mais ousado e mais enfático, de alguma forma. E muito mais militante, com maior desobediência civil.

Havia uma janela de tempo que começou em 1966 e foi realmente chamada "O Espírito de 66." Aqueles que estavam terminando o colegial e faziam o  caminho deles para o mundo, em 1966,  não enfrentavam um futuro muito brilhante. Eles já tinham ficado traumatizados com o assassinato de seu presidente, John Fitzgerald Kennedy,  baleado em Dallas, em 1963; a guerra no Sudeste da Ásia estava em pleno andamento com um adicional de 8.000 soldados enviados aquele janeiro, para um total de meio milhão de soldados no Vietnã.

Diplomados do sexo masculino estavam enfrentando o golpe da notícia de que estavam sendo convocados com o envio posterior para a frente no Vietnã. Dois anos depois, essa geração teria de enfrentar mais um assassinato de Kennedy: Robert F. Kennedy e o assassinato de Martin Luther King. Os Beatles eram o mais quente grupo musical, junto com os Beach Boys e Rolling Stones. Simon e Garfunkel iria liberar uma canção hino em 1966 : "Sound of Silence", cuja letra é uma reminiscência, para mim, de um plano para a cenografia do Billie Jean, produzido mais tarde. Naquele mesmo ano, a China lançou a Revolução Cultural e começou a puragar os intelectuais, Ronald Reagan se tornou governador da Califórnia, o Muro de Berlim que ainda estava de pé viu 4 pessoas  passar por um túnel por baixo para escapar da Alemanha Oriental, e distúrbios raciais irromperam em Atlanta, em uma América ainda muito dividida e atormentada por tensões em relações raciais.




"Black Power" nasceu em 1966 e se tornou o grito de mantra e política dos norte-americanos negros que ficaram cansados e irritados por terem sido privados de seus direitos civis. E nesse mesmo período, o Partido dos Panteras Negras foi formado e, pela primeira vez,  pretos, pobres e desprivilegiados  da América urbana ganharam uma voz. Huey Newton e Bobby Seale fundaram o partido em Oakland, Califórnia, e sua mensagem “Poder para o Povo" ecooou em toda uma nação, inaugurando uma nova época, cujo tema era unir um povo agredido e confuso, em um tempo extremamente tumultuado. Tornou-se o movimento de reforma cultural mais poderoso desde a Revolução de 1776.

O Partido Pantera Negra foi a única organização na história da luta do povo negro contra a escravidão e a opressão nos Estados Unidos e foi o último grande impulso em direção à igualdade racial, justiça e liberdade. Foi considerado militante pelo governo e foi criticado e visto como tão ameaçador e controverso, que chefe do FBI, J. Edgar Hoover chamou de "a maior ameaça à segurança interna dos Estados Unidos".




Havia um "código" ou certos sinais que indicavam a solidariedade para o movimento  black power, o mais visível eram o punho fechado e o penteado "afro". O afro, popularizado no final dos anos sessenta aos anos setenta, foi considerado "hip" ou moda por negros e foi até mesmo adotado pelos brancos. Era mais do que uma declaração de moda, era uma declaração política e uma espécie de crachá que identificava o indivíduo como alguém simpático ao movimento em direção à integração e igualdade racial. O Jacksons Five adotou o penteado afro que marcou a sua solidariedade com o orgulho negro. O punho cerrado era um sinal para "Black Power" ou o poder ao povo. Ela poderia ser interpretada como solidariedade com a equidade racial, mas às vezes era visto como uma ameaça ou um insulto. Durante os Jogos Olímpicos de 1968, dois atletas vencedores de medalhas fizeram a saudação Black Power e foram expulsos dos jogos, ostracizados pelos colegas e criticados pela imprensa. A reação foi severa e imediata. Somente 40 anos depois, a coragem dos atletas, incluindo o colega brabco simpatizante deles, seria reconhecida e, eventualmente, reverenciad em um scultura.

Michael era um menino, naqueles dias, mas passou um tempo na companhia dos irmãos mais velhos que também foram imersos na batalha por igualdade racial, crescendo no meio dela. A corrente inconsciente naquele tempo foi realmente uma guerrilha urbana com o FBI fazendo de tudo para minar e desmantelar a organização dos Panteras Negras, que foi fundado sobre a filosofia de Malcolm X, um ministro muçulmano, que pregava o orgulho negro ea auto-confiança. O FBI começou a desmontar a festa e todas as organizações similares com assassinatos cirúrgicos, onde as casas de líderes proeminentes eram invadidas e os membros mortos a tiro por agentes. Em um caso, um rapaz de 17 anos, Bobby Hutton, foi morto por uma rajada de balas, quando ele correu para fora de sua casa com as mãos para cima, após sua casa ser incendiada. aqueles que narram a entrada de drogas ilegais nos bairros negros e atribem a sua propagação e os efeitos devastadores como obra do FBI e da CIA. Foi uma gerra urbana em sua forma mais feia e nínguém ficou imune. O stabilishment queria decapitar e desmembrar as estruturas de qualquer poder associados aos afro-americanos. A história desses anos não é bonita e é uma mancha no rosto da história da América. Muito do que foi removido do registro e minimizado, porque não há funcionários ou agentes da polícia que foram condenados e os tribunais dos Estados Unidos aparentemente tiraram férias para não fazer justiça aos membros do Partido dos Panteras Negras.



Simpatizantes se uniram, os líderes deixaram o país e a associação inchou por um tempo. O FBI é acusado de ter instituído uma campanha de propaganda para expulsar os líderes e desmantelar a estrutura de poder dos Panteras Negras. Eventualmente, sua decapitação foi bem sucedida e sem liderança, o partido diminuiu e morreu. O diretor do FBI, J. Edgar Hoove, era uma força a ser temida na América e os presidentes Johnson, Nixon e Reagan não eram amigáveis ​​ou de apoiavam a juventude. O “stabilishment que era a geração madura, resolvida e pacífica, ficou estarrecido com os jovens que estavam cansados da aptia, complacência, e crenças puritanas dos mais velhos. Os jovens estavam prontos para a revolução. Michael Jackson "Black or White" foi um outdoor subliminar para esta a revolução.

A referência de Michael Jackson a pantera negra e a inclusão dela em "Black or White" não é acidental. Sua fusão com o animal não é apenas uma declaração de solidariedade, mas fundir-se com um animal de poder no caminho do xamã, amplia o poder do animal, o "espírito” dele e os e suas características. Xamã aprende a fundir-se com seus animais dançando o animal dentro dos ossos deles e isso é precisamente o que Michael Jackson faz neste vídeo – e ele dança a pantera, xamanicamente se funde com o gato, torna-se o felino e demonstra as características e o poder dele.

Xamã Michael assume as características "primitivas e animalescas" do animal e também mescla simultaneamente com o espírito do Partido Black. Genial! Ele encarna e demonstra a raiva silenciosa presa em muitos negros por em razão do que ocorreu como o movimento dos Panteras Negras e a deliberada e violenta malipulação do  movimento pelo governo.

Black or White foi lançado simultaneamente em todo o mundo, aparecendo em 27 países, para 500 milhões de telespectadores. Os espectadores adultos ficaram chocados e os últimos quatro minutos da dança da pantera foram censurados e cortados. Michael mais tarde viria a pedir desculpas e dar entrevistas dizendo que ele não tinha a intenção de incitar a violência. Ele explicaria tudo, incluindo o desafio intencional para o stabilishment e a atitude puritana dele sobre exposição sensualidade. Ele viria a acrescentar insultos raciais no vidro das janelas de automóveis e lojas para justificar a violência para uma audiência geral.


Michael executa passos autoeróticos de dança, aterriza em água, o que é arquetípica fala de sexualidade, e mostraria um sugestivo close-up de sua virilha e mão, e ele iria parar e deliberadamente, e cerimoniosamente, fechar a braguilha. Essa é uma mensagem direta de poder, sexualidade negra, procriação e black power. É uma declaração contra a caracterização de homens negros, um protesto contra a castração e linchamento de negros do sexo masculino, uma referência ao black power e aos panteras. Em um único gesto que ele disse tudo isso e ele se comunicava com a juventude em todo o mundo e para aqueles que poderiam decifrar o código em sua mensagem.


O indigesto, puritano e racista stablishment viria imediatamente atrás dele e declararia seu vídeo chocante, violento e inadequado e merecedore de censura. Por essa altura já era tarde demais. A mensagem tinha sido entregue ao redor do mundo para todos os cantos do globo. E as línguas estavam abanando. "Michael Jackson", "Black or White" estava na boca de todos, o mundo todo estava falando sobre isso, porque eles ficaram chocados, surpresos ou encantados. Ele diria mais tarde, em seu pedido de desculpas, que ele não quis ofender ninguém, ele apenas quis interpretar para o público, a natureza animal da pantera.

Eu não acredito nele.
Próximo: A Dança da Pantera

Nota da tradutora:
 *Stabilishment é a ordem política, social e econômica de um país, também é um grupo sociopolítico que exerce sua autoridade, controle ou influência, defendendo seus privilégios.
 

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