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domingo, 24 de março de 2013

Nas Minhas Veias Eu Senti O Mistério


Nas Minhas Veias Eu Senti O Mistério

 

 

 

 


Postado por Willa e Joie em 20 de março de 2013

Traduzido por Daniela Ferreira para o blog The man in the Music

 


Willa: Uma das coisas que eu mais amo sobre a comunidade que se desenvolveu aqui no site é a ampla gama de perspectivas diferentes que os leitores trazem para a discussão – fãs, artistas, acadêmicos e profissionais de diversas áreas e diferentes origens culturais, todos compartilhando o amor pelo trabalho de Michael Jackson, assim como os insights deles sobre o que fez ele e a obra tão importante e tão atraente dele. Eu amo esse fascinante mosaico de perspectivas diferentes, e eu aprendi muito ao longo dos últimos 18 meses, a partir dos comentários que todos têm compartilhado.

Esta semana, Joie e eu queriamos falar sobre a espiritualidade de Michael Jackson e como isso se reflete no trabalho dele. Já vimos isso antes – por exemplo, em mensagens sobre “Don’t Sotp ‘Til You Get Enough” e “Dabcing the Dream”, na primavera passada. No entanto, esta semana nós queríamos explorar essa ideia de uma forma mais aprofundada. E, felizmente, alguém em nossa comunidade tem um monte de ideias para compartilhar sobre isso!

Infelizmente, Joie não foi capaz de se juntar a nós nesta semana – ela está trabalhando em um projeto pessoal emocionante. Mas eu estou muito feliz que Eleanor Bowman, uma contribuinte regular para o site, concordou em entrar em cena. Eleanor trabalhou com o Instituto Nacional de Biodiversidade da Costa Rica, no início de 1990 e, em nas palavras dela, tornou-se “mais e mais preocupada com o negativo impacto do nosso modo de vida no resto da natureza, e mais e mais intrigada sobre o motivo pelo qual essas preocupações não foram mais amplamente compartilhadas quando era tão óbvio que estávamos caminhando para o desastre”. Ela começou a se perguntar se nossas crenças religiosas desempenharam um papel na formação das nossas atitudes em relação à natureza, e ela entrou na escola divindade para explorar essa questão. Ela recebeu o grau de Mestre em Estudos Teológicos, e a pesquisa de pós-graduação dela foi focada em como noções de transcendência espiritual moldaram a cultura ocidental em relação com a natureza. Ela está atualmente trabalhando em um livro que aborda essas questões – Além da Transcendência: Busncando Uma Relação Sistentável com a Natureza. (
Transcendence: Seeking a Sustainable Relationship with Nature).

Importante, Eleanor vê Michael Jackson como incorporando um modelo espiritual muito diferente – um de imanência, em vez de transcendência – que pode nos levar a ver a nossa relação com a natureza de uma forma diferente. Estou muito intrigada com isso! Muito obrigada por se juntar a nós, Eleanor!


Eleanor: Oi Willa. Muito obrigado por me convidar para participar de suas discussões em curso sobre Michael Jackson, a vida e a arte dele. Além de fornecer a seus visitantes insights e informações interessantes, o blog criou uma comunidade acolhedora e solidária, uma expressão do L.O.V.E. de MJ – Que eu sou grata por ser parte.
 


Willa: Eu sou muito grata por essa comunidade também, e acho que é um verdadeiro testamento do poder do trabalho de Michael Jackson – especialmente que o trabalho dele é significativo para as pessoas de tão diversas origens. Por exemplo, a valorização de Michael Jackson parece ser fortemente influenciada pelo seu conhecimento de teologia, que eu sei muito pouco. Essa é uma razão por que estou especialmente ansiosa para ouvir suas ideias!

Então, antes de falar sobre como você situa a espiritualidade de Michael Jackson em termos desses dois modelos, eu queria saber se poderíamos começar por esclarecer o que exatamente você quer dizer com a transcendência e imanência. Como você descreveria esses dois modelos?

Como são diferentes, e por que é que a diferença é importante?


Eleanor: Antes de eu abordar sua pergunta sobre a imanência e a transcendência, eu tenho que dizer que tenho um pouco de dificuldade de falar sobre a espiritualidade de Michael Jackson, pois o termo “espiritualidade” está se tornando um conceito estranho para mim, e MJ é a última pessoa no mundo que eu descreveria como espiritual – muito menos como tendo uma “espiritualidade”.


Willa: Sério? Uau, eu estou surpresa! Por que você diz que, Eleanor? Estou pensando se talvez eu não tenha me expressado bem, ou não fiz a pergunta da maneira certa.


Eleanor: Não, não. Não é isso. Minha reação se relaciona com os meus próprios problemas idiossincráticos com o conceito de transcendência e como se relaciona com a ideia de espiritualidade. Mas, de maneira nenhuma eu estou “sacaneando” MJ. Como qualquer um que tem lido meus comentários sabe, eu sou uma das maiores admiradores de MJ.
 

Willa: Sim, eu sei – essa é uma razão pela qual eu estou tão confusa agora.


Eleanor: Compreensivelmente. Porque a maioria das pessoas associa ser uma pessoa espiritual com ser uma pessoa boa e MJ foi comprovadamente uma pessoa muito boa, assim como um grande artista. Dito isso, eu admiro MJ em razão da “incorporaçã” dele – a “materialidade dele” – ao invés da espiritualidade dele. E, eu acho, ao abordar a sua pergunta e esclarecer o que eu quero dizer com transcendência (outra palavra com muitas positivas associações culturais) e contrastando-o com imanência, eu também posso explicar meus problemas em associar espiritualidade a Michael Jackson.

Quando eu uso os termos “transcendente” e “imanente”, eu as uso como descritores para uma visão de mundo e sistema de valores. Uma visão de mundo e sistemas de valorese transcendentes divide espírito da matéria e localiza o valor sagrado ou final fora do mundo material, em espírito, drenando a natureza e da terra de valor, e é por isso que, com minhas preocupações ambientais, eu vim a ver transcendência tão sinistra e o termo “espírito” com desconfiança.
 

Analisar a cultura ocidental em termos de transcendência fornece uma explicação de por que nós, como uma cultura, temos adotado tal atitude exploradora em relação à natureza exploradora e ao mundo material. E, “a exploração transcendente” não para com a natureza. Na mesma linha, pensamos também que mente é devidamente separada do corpo, e atribuimos valor à mente, ao invés do corpo.


Willa: Isso é verdade, Eleanor. Isso me lembra de algo Thomas Edison disse uma vez. Ele era um notório viciado em trabalho, que passava longas horas, todos os dias, no laboratório, e um repórter lhe perguntou o que ele fazia para exercício. Edison respondeu que a única coisa para que ele usava o corpo dele era para levar a mente dele de um lugar a outro.


Eleanor: Exatamente! Eu nunca ouvi falar disso, mas se encaixa perfeitamente.
 



Willa: Isso realmente destaca a separação mente / corpo, não é? E eu acho que um monte de gente compartilhar essa ideia – não só que a mente e o corpo são separados, mas que a mente é o que é importante, e o corpo é apenas um vaso imperfeito para segurar e transportar a mente.


 

Eleanor: Certo. Com ênfase no imperfeito! E eles privilégiam tais coisas e as pessoas associam com a mente sobre aquelas associados com o corpo e a natureza. Por exemplo, eles / nós vemos a razão como separada e superior à emoção, e a humanidade (homo sapiens, a sábia espécie) como separada e superior à (irracional) natureza. Por extensão, qualquer associação com fisicalidade, com o corpo, com a natureza – com a matéria – resulta em desvalorização de tipos específicos de pessoas e tipos específicos de trabalho.


Willa: Eu concordo, o que é uma razão pela qual as mulheres, as minorias raciais, e os trabalhadores das classes mais baixas têm sido historicamente desvalorizados, para usar o termo – porque historicamente eles têm sido associados com o trabalho físico, especialmente o trabalho que envolve cuidados diários com o corpo, as coisas como cozinhar e alimentar o corpo, fazer roupas e manter o corpo quente e limpo, cuidando do corpo e tratando as feridas e incapacidades dele, trocar fraldas e cuidar dos corpos de crianças ou idosos ou doentes. Essas pessoas, em uma posição mais privilegiada – em geral, ou seja, de classe alta, branca e masculina –, têm sido historicamente associada à vida da mente, e com o trabalho que está tão longe quanto possível de corpos humanos reais.
 


Eleanor: Eu sei. Tão frustrante e tão injusto. Porque quando você realmente pensa nisso, esse trabalho é uma dos mais valiosos do planeta, é fundamental para a sobrevivência. Então, do meu ponto de vista, a transcendência é perigosa para a saúde do planeta e de todos os habitantes dele. É por isso que eu sou cautelosa em usar o termo “espírito”, pois ele parece reforçar a ideia de uma realidade binária, na qual a natureza e aquelss associadss à natureza e ao corpo são desprovidos de valor.
 


Willa: Isso é interessante, Eleanor. E eu estou começando a ver o problema com a minha pergunta, e por que você disse que Michael Jackson era “a última pessoa no mundo que eu descreveria como espiritual”, embora isso ainda meio que me choca.
 


Eleanor: Bem, naturalmente, é chocante. Iaso vai contra a natureza e valor de tudo o que nos foram ensinados a acreditar. Mas eu acho que MJ, na vida e arte dele, sintetiza e personifica e promove a visão de mundo imanente – é por isso que o trabalho dele é tão chocante, tão eletrizante! Ele é verdadeiramente radical. Ele muda radicalmente nossa percepção da realidade. Como artista e como pessoa, ele incorpora uma nova visão de mundo e sistema de valor: ele próprio é a materialização de uma energia sagrada. Ele é o “Avatar da Imanência” Ele é a “Sua Imanência”, Michael Jackson.
 

Willa: Ao contrário de Sua Eminência, o Cardeal de Nova York ou Chicago, onde “eminência” salienta que esas figuras estão separados de nós e acima de nós. Esse é um título maravilhoso, Eleanor, e eu amo essa visão de Michael Jackson como integrando mente e corpo, e restaurando o valor do material, o mundo natural, físico. 


Eleanor: Bem, eu sou muito ligada aisso, eu mesma. E, como foi salientado na discussão sobre MJ agarra a virilha dele “Não é Nada Disso”, podemos também adicionar a integração da sexualidade no que significa ser plenamente humano, em oposição ao olhar sobre a sexualidade como um indicador de algum tipo de falha humana. É essa integração perfeita, a imanência dele, que dá ao trabalho dele tanta autenticidade, que dá à arte dele o incrível poder emocional, que o distingue de todos os outros dançarinos em um palco.

Em contraste com a transcendência, imanência se refere a uma visão de mundo que encontra o sagrado e o valor dentro da matéria. Em uma realidade imanente, o termo “espírito” não tem sentido, porque o valor e o sagrado, agora, são entendidos como sendo parte integrante da matéria, especificamente da natureza e do corpo. Não há linha divisória entre a mente e corpo, a razão e a emoção, a humanidade e a natureza, nenhum sistema de valor que atribui, automaticamente, o valor a seres humanos sobre a natureza ou aos brancos sobre os negros ou os homens sobre as mulheres ou profissões mentais sobre trabalho físico. Imanência derruba o racismo e o sexismo – e no pressuposto de que os seres humanos têm o direito de explorar a natureza.

Para mim, em tudo o que ele foi e fez, MJ representa essa visão de mundo, essa nova verdade. E é a verdade do trabalho dele que lhe dá tanta beleza. Pela primeira vez na minha vida, assistindo Michael Jackson, eu entendi o que Keats quis dizer quando ele disse:


“Beleza é verdade, verdade bela – isso é tudo
Vós sabeis na terra, e todos vós precisais saber”.
 


Willa: Ou quando Emily Dickinson escreveu: “Eu morri pela beleza”, e a pessoa no túmulo adjacente responde:


“E eu pela verdade – os dois são um;
Nós, irmãos somos”, disse ele.


Eleanor: sim. Exatamente. E, a bela verdade dele, a verdadeira beleza dele, é uma expressão de emoções profundas e verdadeiras, corajosamente reveladas na música, na dança, na arte dele. Ele dá uma verdadeira avaliação do mundo em que vivemos e o desequilíbrio dele e nos mostra o caminho para restaurar o equilíbrio que o nosso mundo – e visão de mundo – perdeu: ele coloca valor de volta em matéria, natureza, corpo e nas mulheres e pessoas de cor e tudo e todos que a nossa cultura despojou de valor. E, como foi observado neste blog, ele pagou um alto preço pela firmeza dele.
 


Willa: Sim, ele pagou.



Eleanor: Para mim, Earth Song diz tudo. É tão incrível. À noite depois que ele morreu, como você, eu vi no youtube um vídeo MJ após o outro, e descobri Earth Song. Eu fiquei atordoada. Nesse trabalho, ele expressa o que eu estava tentando dizer há anos... e muito mais. Para mim, é a mais radical de todas as obras dele, pois é nada mais nada menosque uma acusação da visão de mundo e sistema de valores transcendente.


Em poucas frases hábeis, ele esboça os contornos de nossa tragédia global, expressando profundo pesar pelos danos que nós mesmos estamos causando àa terra – uma tristeza misturada com uma compaixão por um povo que apenas recentemente se tornou conscientes das consequências das próprias ações autodestrutivos, ações que, de alguma forma, parecem estar além do controle deles para fazer qualquer coisa. E, como em grande parte da obra dele, há a mistura de tristeza de coração partido e raiva angustiada. Na complexidade das letras e das músicas, transmite um profundo sentimento de traição que é muito pessoal.

Em Earth Song, MJ aborda ninguém menos que o convencional Deus Judeu- Cristão – espírito transcendente em si – o “você” que traiu o único filho dele, quem (quase) traiu Abraão, e cuja visão de mundo / sistema de valor está nos traindo. Ele chama o Deus transcendente para reconhecer a bagunça que o mundo está – a confusão que um sistema de valor e visão de mundo transcendentes são, em grande parte, responsáveis.
 


E quanto ao nascer do sol?

E quanto à chuva?

E quanto às coisas

Que você disse que estávamos ganhando?

E quanto as campos de extermínio?

Existe um tempo?

E quanto a todas as coisas

Que você disse que eram suas e minhas?

Você já parou para notar

Todo o sangue que derramamos antes?

Você já parou para notar

A Terra chorosa, as praias chorosas?

O que fizemos para o mundo?

Olhe o que fizemos.

E quanto toda a paz

Que você prometeu a seu único filho?

E quanto os campos de flores?

Existe um tempo?

E quanto a todos os sonhos

Que você disse que eram seus e meus?

Você já parou para notar

Todas as crianças mortas com a guerra?

Você já parou para notar

A Terra chorosa, as praias chorosas?



Willa: Isso é tão interessante, Eleanor. Eu sempre interpretei essas linhas de forma bem diferente – não como perguntas dirigidas a Deus, o Deus cristão, mas como questões voltadas para nós e nossos antepassados. Afinal, os nossos antepassados ​​são os que desenvolveram e transmitiram a visão de mundo que a natureza é simplesmente algo a ser explorado para satisfazer nossos próprios desejos. Eles criaram a revolução industrial. Eles desmataram florestas. Eles caçavam animais até a extinção. Em outras palavras, eles nos deram o legado muito destrutivo que estamos cumprindo hoje.

Mas ao ouvir as letras que você acabou de citar com suas ideias em mente, uma linha realmente se destacou para mim: “E toda a paz / Que você prometeu a seu único filho?” Isso realmente sugere que ele está se dirigindo a Deus – especificamente, Deus, o Pai – não é?
 


Eleanor
: Bem, a primeira vez que ouvi isso, se destacou para mim (e ainda se destaca). E realmente me nocauteou. Finalmente, alguém, Michael Jackson, não menos, parecia “entender isso”.  E parecia entender e expressar todas as emoções complexas que eu sentia. EM UMA CANÇÃO. Por muitos anos, eu acreditava na transcendência... e, de repente, um dia, eu não acrediatava. E meu sentimento avassalador foi um de traição. Eu vi que na tentativa de ser uma pessoa boa e fazer a coisa certa, eu estava realmente agindo contra os interesses do planeta e os meus próprios, como mulher – e o da sociedade em geral. E, naquele momento eu também perdi qualquer fé que eu tinha depositado no Deus JC, porque, para mim, como um símbolo e um personagem de um livro, o Deus JC representava o que não funcionava para o bem-estar de todos. Foi um momrnto tão terrível quanto libertador. Eu fui para a escola divindade, em parte, para ver se eu estava certs em minha avaliação, ou, se não, se eu puderia salvar alguns vestígios da minha fé cristã, mas ninguém nunca foi capaz de “conciliar os caminhos de Deus” para natureza ou mulher – ou a mim. E, eu saí mais convencida do que nunca de que eu estava no caminho certo (mas eu fui a uma escola divindade muito liberal). 

Para mim, Earth Song é tanto um lamento quanto uma acusação. O lamento de Michael Jackson não apenas sobre o que nós inflingimos a natureza, mas para o que estamos fazendo ao outro e o que aqueles que estão no poder estão fazendo para os menos capacitados.


Ei, o quanto ao ontem?

(E nós?)

E quanto aos mares?

(E quanto a nós?)

Os céus estão cdesabando

(E quanto a nós?)

Eu não consigo nem respirar

(E quanto a nós?)

E quanto à apatia?

(E quanto a nós?)

Eu preciso de você

(E quanto a nós?)

E quanto à importância da natureza?

É o ventre do nosso planeta

(E quanto a nós?)

E quanto aos animais?

(E quanto a eles?)

Nós transformamos reinos em pó

(E quantpo a nós?)

E quanto aos elefantes?

(E quanto a nós?)

Perdemos a confiança deles?

(E quanto a nós?)

E quanto às baleias chorosas?

(E quanto a nós?)

Estamos destruindo os mares

(E quanto a nós?)

E quanto às trilhas de florestas

Queimadas, apesar de nossos apelos?

(E quanto a nós?)

E quanto à terra santa

(E quanto a ela?)

Dilacerada por credo?

(E quanto a nós?)

E quanto ao homem comum?

(E quanto a nós?)

Não podemos libertá-lo?...


Por com tanta força tecer as preocupações dele com a Terra, a natureza e a humanidade em um único segmento – os temas de degradação ambiental e desumanidade do homem para com o homem, nossas guerras sobre a natureza e com os outros – ele está dizendo que essas duas tragédias estão relacionadas, que podem surgir a partir de uma única fonte – o deus transcendente da tradição judaico-cristã, cuja visão de mundo e sistema de valor levou o único filho dele para a cruz, cuja visão de mundo e sistema de valor trouxe Abraão para a beira do desastre, e cuja visão de mundo e sistema de valores estão destruindo o planeta e nos levando em direção à autodestruição. Earth Song é tanto um reconhecimento da terrível situação em que nos encontramos quanto um reconhecimento de que todos nós fomos traídos.

E, quando ele grita: “E quando a nós?”, ele identifica não apenas a si mesmo, mas todos nós, os ouvintes dele, com os impotentes e desprovidos. 


Willa: Eu concordo – ele está nos forçando a reconhecer as preocupações dele e está nos pedindo para nos importarmos com essas preocupações. Em outras palavras, ele está dando voz aos sem voz –“aos impotentes e desprovidos”, para emprestar as suas palavras – incluindo os animais, bem como pessoas oprimidas. E, mais uma vez, eu estou impressionada com as referências a Abraão (“E quanto a Abraão?”) e à “terra santa / Dilacerado por credo”, que suportam a sua interpretação.
 

A referência a Abraão é especialmente interessante, pois, como eu me lembro da história, Deus vem a Abraão e pede a ele para sacrificar o filho, Isaac – em outras palavras, ele lhe pede para escolher entre o material, físico, incorporado filho dele e um Deus espiritual, desencarnado. Abraão escolhe o espiritual sobre o físico e constrói um altar para matar o filho dele, embora Deus intervenha no último minuto. Abraão provou a si mesmo – ele fez a escolha certa – então  Deus permite que o o filho dele viava. Eu posso ver como a história de Abraão seria muito preocupante para Michael Jackson em muitos níveis diferentes, e ela se liga muito estreitamente com a sua interpretação de “Earth Song”.
 

Eleanor: sim. Acho que a história de Abraão é difícil para muitas pessoas conviver, especialmente MJ.

 Embora haja tanta raiva e dor em Earth Song, também há esperança, mas essa esperança realmente só é revelada no filme, que mostra Michael cantando a terra e a natureza de volta à vida. Eu adoro assistir, porque, realmente, eu acredito que a música, a arte, o próprio ser dele revelam e expressam uma nova forma de olhar para as coisas uma nova visão do mundo e sistema de valores – que podem realizar exatamente isso. Se deixarmos a natureza falar conosco, se é que podemos abrir os nossos corações, eu acho que ela vai nos mostrar o caminho, pois acredito que, no fundo de humano, a natureza plantou uma unidade que nos impulsiona para a sobrevivência coletiva, e quando uma forma de vida está operando contra a nossa sobrevivência, nós instintivamente reagimos e procuramos endireitar nosso curso.


Willa: Eu amo essa seção de Earth Song também, e isso é uma ótima maneira de descrevê-la, Eleanor – ele realmente está “cantando a terra e a natureza de volta à vida”. Eu acho que isso é especialmente importante que esa seção desfaça a destruição que testemunhamos na primeira parte do vídeo – as árvores cortadas, e mais uma vez se torna parte do dossel da floresta, o elefante que tem as presas crescendo novamente e volta à vida, o civil morto abre os olhos. E algo muito específico parece trazer a mudança entre a destruição que testemunhamos na primeira parte e a cura e despertar que vimos na segunda parte – é todas as pessoas enterrando as mãos delas na terra, reconectando-se com a fisicalidade da terra.


Eleanor: Eu tinha esquecido essa parte. Tão perfeita. Tão significativa. Não há dúvida sobre isso, ele era um gênio. 

Essa nova maneira de ver as coisas é claramente estabelecida em “Planet Earth”, que vem de um lugar emocional completamente diferente, mas aborda as mesmas questões.  Michael Jackson se refere à visão ocidental filosófica tradicional da matéria (uma visão da natureza refinada e defendida por pensadores do Iluminismo), quando ele pergunta se a terra, o mundo materialé:

 

uma nuvem de poeira
Um globo menor, prestes a rebentar
Uma peça de metal ligada à ferrugem
Uma partícula de matéria em um vazio sem sentido
Uma nave espacial solitária, um grande asteróide

 

Frio como uma rocha sem cor
Reunica com um pouco de cola

 

E simples e diretamente a refuta:
 

 “Algo me diz que isso não é verdade”.


Em “Planet Earth”, MJ celebra o valor inato da terra e afirma a profunda conexão e unidade dele próprio com a terra, e a dívida dele para com a natureza. Ao contrário da crença tradicional, a raça humana a qual Michael Jackson pertence não é separada e superior à natureza, mas uma parte integrante da natureza. Eu realmente amo as seguintes linhas:

 

Nas minhas veias eu senti o mistério
Dos corredores do tempo, livros de história
Canções de vida de eras pulsando no meu sangue
Ter dançado o ritmo da maré e inundação
Suas nuvens nebulosas, sua tempestade elétrica
Eram tempestades turbulentas em minha própria forma...

 
E, ele estabelece e modela uma nova relação com a natureza – a do amante para o amado, em vez de o proprietário para a propriedade ou o mestre para o escravo. Em “Planet Earth”, Michael Jackson ama e cuida da terra. 


Você se importa, você tem uma parte
Nas emoções mais profundas do meu próprio coração
Suave com brisas acariciando e todo
Vivo com música, assombrando minha alma.
Planeta Terra, gentil e azul
Com todo o meu coração, eu te amo.

 

Willa: Eu amo essas linhas também, e você está certa – ele reformula totalmente a nossa relação com a natureza e o mundo material. Eu vejo isso por todo Dancing the Dream, onde ele repetidamente localiza o espiritualdentro do material, e encontra um sentimento de admiração e de iluminação dentro do mundo físico, e não acima dele. (E eu sinto muito pela palavra “espiritual” – Eu não consigo evitar) Mesmo o prefácio sugere essa ideia:

Consciência se expressa através da criação. Este mundo em que vivemos é a dança do criador. Dançarinos vêm e vão num piscar de olhos, mas a dança vive. Em muitas ocasiões, quando eu estou dançando, eu me sinto tocado por algo sagrado. Nesses momentos, eu sinto meu espírito voar e se tornar um com tudo o que existe. Eu me torno as estrelas e a lua. Eu me torno o amante e o amado. Eu me torno o vencedor e o derrotado, eu me torno o mestre e o escravo. Eu me torno o cantor e a canção. Eu me torno o conhecedor e o conhecido. Eu continuo a dançar e, assim, é a eterna dança da criação. O criador e criação se fundem em uma plenitude de alegria. Eu continuo a dançar e dançar... e dançar, até que haja apenas... a dança.


Fico especialmente impressionada com a linha “em muitas ocasiões, quando eu estou dançando, eu me sinto tocado por algo sagrado”.  Lendo essas linhas, em termos do que você está dizendo, Eleanor, parece significativo que ele conecta uma espiritualidade elevada, o “sagrado”, com uma fisicalidade exacerbada, com “dança”.  O sagrado não é algo que transcende o corpo físico, mas algo que ele acessa através do corpo físico.

 

Eleanor: Sim, esse é um tema ao qual ele volta bastante. E, obrigada por trazer esaa citação à minha atenção. Como uma fã de MJ relativamente nova, eu tenho medo que eu ainda tenha um caminho a percorrer nos meus estudos sobre Michael Jackson – mas, novamente, ela se encaixa tão perfeitamente e reforça a minha crença de que ele estava muito “conscientemente” tentando criar uma forma radicalmente nova de olhar o mundo. Eu amo o que ele diz...  que a consciência está dentro da criação, em outras palavras, que a matéria tem mente. Toda vez que eu olho pela minha janela ou vou auma caminhada, eu me pergunto como alguém pode duvidar disso – com cada folha sabendo exatamente como se posicionar para obter o máximo de sol, com as raízes das árvores indo diretamente para o meu sistema séptico de água, com a minha gansa – não tão boba – cuidadosamente ensinamdo os gansos a nadar e andando em uma falange protetora ao redor deles, minha égua sabendo tão perfeitamente como mãe (como eu queria que minha própria mãe tivesse conhecido tanto) vigiando o potro dela, seguindo-o de perto e chutando os calcanhares dela à luz do sol. Eu não sei sobre você, mas eu quero me sentir parte de toda essa vida – essa energia – essa consciência dentro da natureza – não separada de “uma plenitude de alegria”.

 

Willa: Eu concordo. Ele cria um desejo, no trabalho dele, de participar da “dança eterna da criação”, que podemos ver à nossa volta, uma vez que olharmos a natureza com profundo apreço por aquilo que é e não apenas de como podemos usá-la – por exemplo, para apreciar um prado ou uma floresta pelas maravilhas que são e não apenas como um potencial de local para moradia ou madeira a ser explorada.

Eu também estou impressionado com as linhas do prefácio, onde ele, mais uma vez, subverte todas essas relações hierárquicas – “o vencedor e o vencido”, “o senhor e o escravo”, “o conhecedor eo conhecido” – e se conecta com o sagrado, a esfera inferior, bem como a parte superior.


Eleanor: Sim, eu acho que é mais surpreendente para mim que ele inclui o “superior”. (Note como até mesmo a nossa imagem mental é afetada pela visão de mundo transcendente.). Ao escrever sobre Earth Song, lembrei-me, mais uma vez, que ele parece não culpar os “siperioes” pelos problemas que o mundo enfrenta, mas o próprio sistema. Estamos todos apanhados nesse sistema. E transcendência nos leva todos a subir ao topo e tomar o controle. Pela própria “natureza”, isso cria relações hierárquicas, por isso é objetivo de MJ subvertê-las. E ele não está apenas subvertendo relações, mas a energia que nos impulsiona a criar essas relações – a unidade que energiza nossa cultura. Ele quer alinhar a energia que impulsiona as sociedades humanas com a energia que impulsiona a natureza. E ele mesmo é um exemplo de alguém realmente ligado, realmente conectado. Eu acho que é essa energia que ele chama de A. M. O. R. Na nova aldeia global, não podemos mais nos dar ao luxo de trabalhar um contra o outro, a sobrevivência depende de trabalhar para o bem-estar de todos. E TODOS signifca toda forma de vida, não apenas a vida humana (excluindo mosquitos e formigas de fogo, é claro).


Willa: Apesar de eu ter a sensação de que iria incluir mosquitos e formigas de fogo também! Ele cantou uma bela canção sobre um rato, depois de tudo – é uma das minhas músicas favoritas.
 

Obrigada, novamente, por se juntar a mim, Eleanor. Foi muito interessante! Você realmente abriu meus olhos para uma nova maneira de pensar sobre essas ideias de corpo, mente e espírito (essa palavra problemática novamente, “espírito”). Agora eu estou querendo assistir Earth Song e ler Dancing the Dream novamente com esses pensamentos em mente, e eu amo isso. Eu adoro quando alguém me dá um novo caminho para a celebração de um trabalho e vê-lo de uma maneira diferente. Obrigada, Eleanor.

 

 


 

quinta-feira, 21 de março de 2013

Continue Movendo: As Crônicas de Michael Jackson


Keep Moving: The Michael Jackson Chronicles
 

Por Armond Write

Continue Movendo: As Crônicas de Michael Jackson

Traduzido por Daniela Ferreira

Movendo-se para Frente: Uma Introdução

 

 

 

Escrever durante o auge da carreira de Michael Jackson me deu a chance de escrutinizar um fenômeno cultural no momento em que ela atingiu o topo da atenção populares e as profundidas da censura pública. Depois de Thriller, a mídia mainstream tentou derrubar a eminência de Jackson no showbiz, o que isso tinha ajudado a construir – um circular processo de satisfazer o desejo animal por sangue e ressentimento político.  Isso era uma luta por poder.

A luta por poder continua depois da morte de Jackson em 25 de junho de 2009. Antigos argumentos sobre a significância de Jackson foram religados, como se, finalmente, dar ou recusar respeito e reconhecimento. Como Jackson dolorosamente aprendeu, os fãs dele também eram confrontados com as manobras da indústria da música, filme e TV; compelido a reconhecer que havia forças de aprovação ou condenação social; obrigado a entender, de novas maneiras, a importância moral e social da arte. Isso era, também, estranhamente excitante – cheio de suspense na imprevisibilidade sobre o que Jackson e a mídia fariam em seguida. E isso era perfeitamente adaptado à missão do jornal de fim de semana da New York’s Black, The City Sun, cujo lema “Falando a Verdade para O Poder” era um post indicador de como eu, como o Editor de Arte do jornal, pude escrever crônicas sobre os extraordinários eventos culturais dos anos 80 e 90.

Voltar em todas estas histórias jornalísticas me lembra de que a discussão sobre MJ, como a mística de MJ, mudou. Mas muitos detalhes têm sido esquecidos e o bom do jornalismo é que ele preserva estas minúcias e pode trazer de volta pontos que admiradores internalizam e que detratores dispensam. O filme de TV – Os Jacksons: Uma Lenda Americana (capítulo 7) mostra o tipo de simpatia da mídia que, provavelmente, não voltaria a acontecer.

As Listas Anuais e Prêmios do City Sun (Capítulo 15) provam o impacto de Jackson no fim dos anos 90. Reanalisar um filme de Crispin Glover em The New York Press ajudou a relembrar a tremenda mordacidade de “Ben” (Capítulo 17). Minha entrevista de internet, Jackson Pop, (Capítulo 9) destacou um tributo Lincon Center antes da agonia final de Michael.

A carreira de Jackson era um espetáculo de aspiração contínua. Como o Rverendo Al Sharpton notou no Memorial de 7 de julho: “Michael Nunca Parou!” Sim, ele continuou se movendo. A importância de MJ não era showbiz como usual, ela se moveu através de ininterruptas questões raciais, de classe, sexuais, legais, espirituais e estéticas. Ele tinha se ostentado como uma figura cultural imponente, mas ele também foi um estopim cultural central, global. Essa é a razão por que comentadores da mídia de notícias ficaram retidos nas trilhas de cão-de-caça deles pela inegável efusão de afeição e lamento do público. Até mesmo P. Deddy disse ao repórter da CNN: “Nós não deixaremos que todos façam isso com ele”. Não apenas negros americanos, mas pessoas em volta do mundo sentiram da mesma forma – protetivas e carinhosas.

Esses atributos foram o que inspiraram Teofilo Colon Jr. e Jhon Demetry, dois dos mais perspicazes e passionais fornecedores pop que tem sido meu privilégio conhecer, a encorajar esta coletânea. Sim, ao revisar minhas peças sobre Jackson – ensaios longos, capsulas momentâneas, críticas e reflexões que crônica as criações deles e nota o contexto de relatados trabalhos por outros – eu fui forçado a relembrar meu próprio relacionamento com Jackson. Isso tinha mudado de meu habitual ceticismo crítico a uma sincera admiração. Eu não era o maior fã de Thriller quando ele foi lançado em 1982; ele não encaixava no meu critério roquista de álbum arte. Mas Thriller venceu o mundo pelo superlativamente trabalhado programa de faixas singles dele; ela era um álbum no original senso de cultura musical – uma coleção – enquanto eu estava apaixonado com a coesiva imprudência de 1999 de Prince. Eu não tinha apreciado Jackson, já um veterano do showbiz, alcançado um novo cume. Quem sabia o que viria depois? O poema Memorial de Maya Angelous, “We Had Him” convincentemente afirmou: “Agora nós sabemos que não sabemos nada”. Isso é devastadoramente simples para alguém que tem experimentado a dor da perda e a perplexidade sobre o que jaz além do véu, mas é humilhante para um jornalista.

Eu não estava preparado para a sútil revolução de Thriller. O que você escuta no funk suave, propulsivo da faixa título é um artista em comando significativamente, irrevogavelmente, mudando o popular groove. A assustadora canção paródia de Michael foi fundo dentro do conhecimento pop. Ela desenterrou underground funk – um som especialmente negro – e engajou o prazer comum em mitologia de filme de terror. (O rap de Vincent Price foi tão vanguardista quanto “Rapture” de Blondie). O que você no vídeo musical globalmente admirado certificou este novo vocabulário, fazendo dele um marco do pós-modernismo dos anos 80 (como foram as personalizadas referencias de West Side Story em Beat It). O vídeo Thriller não era grande cinema – as cosméticas do zombie de Stan Winston eram estados-de-arte, mas o diretor John Landis meramente reproduziu a narrativa contundente do Lobisomem Um Americano em Londres, 1981, dele. Isso levou a dança de Michael e o gosto de por alegorias de filmes de horror a ultrapassar a fotografia mal iluminada e esboços enredo desagradável. Ele, inesperadamente, elevou arte inferior ao alto pop através de contagiosidade pura.

Cada faixa do álbum tinha um similar efeito virtuoso. É por isso que Thriller tem efeito infinito. Mas o tempo tem mostrado que Thriller não era a culminação da carreira de Jackson como eu pensei naquele momento (e como os descomprometidos louvadores dele, agora, alegam, quando apontam Off The Wall como o auge artístico dele). Em vez disso, Thriller deveria se entendido como um novo começo para um pop internacional, multicolorido e, para Michael, como embaixador dessa época – uma exposta, vulnerável, inegável figura mundial. Como os singles de Thriller impressionou a excelência deles, inalterada, até mesmo através de infinita repetição, o fato de que Michael Jackson progrediu – polido, além das expectativas, superando o reino cultural de Armstrong, Sinatra e Elvis. O fato de que ele canta pop (R&B, Soul, Rock, Balladas) o colocou fora da esfera regular de recomendação. O profissionalismo dele era fácil de entender que a originalidade dele; artistas negros sempre são tomados por garantia. Mas a graça coreográfica a ingenuidade vocal permanece surpreendente. Thriller tornou Jackson a inspiração para os estilos pop music do subsequente quarto de século; os movimentos dele, visões de vídeo e vocalização têm ainda não desapareceram da cena. Mesmo eu, um entusiasta do Jackson Five, reconheço isso tarde. Mas eu estou feliz que essas afirmações são evidências de que a percepção não foi tão tarde.

O título Keep Moving vem da propulsiva interação de Michael com o remix de Tony Moran de “History”, que fecha Blood on the Dance Floor. Talvez os movimentos de Jackson venham muito rápido para os guardiões culturais, mas então isso é pop. Pronto ou não. A carreira de Jackson vai de estrela infantil a deslumbrante jovem homem a um show conquistador que sempre deixou o mundo perplexo a imaginação incessante. Ele empurrou a cultura para a frente – desafiando-a – como ele sempre desfiou a si mesmo. A natureza idiossincrática dele provou ser intrigante e sedutora, mas isso também atormentou o status quo – o que é altamente irônico para agradável arte pop fazer. A arte de Jackson nunca foi intentada ara ser controversa ou difícil, e eu tentei mostrar nestes artigos que não era – se alguém recebê-la com olhos, orelhas e coração aberto.

O ponto crucial da carreira de Jackson demonstra como artistas americanos negros fora na necessidade lutam contra desrespeito para preservar tanto a criação da arte quando a existência diária. A maioria destes artigos foi escritos durante o período quando os discursos negros se tornaram moda na imprensa mainstream, um esnobe contraste com a irresistível franqueza entre artistas musicais negros da era – todos juntos o maior momento de articulação negra desde a Era dos direitos Civis. O próprio expressivo desenvolvimento de Jackson naquele período merece reconhecimento pela forma como ele respondeu culturalmente e politicamente através da sensibilidade dele. A voz singular dele transformada em um instrumento mais poderosamente emotivo que o que p Presidente dos estados Unidos menosprezou como um “entretainer”. Por que a afiada articulação de Jackson deveria não inspirar também admiração? Reconhecer isso explica o afiado tom dos ensaios de Scream, onde meu espanto de crítico encontrou minha exasperação de cidadão. Durante tudo isso, eu tentei registar a estabilidade moral e boa vontade que Jackson manteve na arte complexa dele. Eu espero que estes ensaios coloquem essas controvérsias em perspectiva apropriada.

 

 

 

 

 

quarta-feira, 20 de março de 2013

M Poetica: A Arte de Conexão e Desafio de MJ : Stranger in Moscow






Stranger in Moscow

 

Esta é a maldita paisagem que Jackson habita em Stranger in Moscow, do álbum de 1995 dele, HIStory. E, novamente, ele faz uma pergunta ética, embora dessa vez seja uma persona singular: o que o artista deveria fazer, quando o público se volta contra ele, e a fonte de inspiração dele – ou seja, o relacionamento dele com crianças, a e energia criativa da infância – se tornou suspeita?
Como em Billie Jean, ele caminha consigo, enquanto pondera sobre o que fazer; com o que está em torno dele, mais uma vez, refletindo a jornada psicológica dele. A “veloz e repentina queda da graça” o tem deixado “sozinho e frio por dentro/ Como um estranho em Moscow”. Mas mesmo nesse estado angustiante, ele continua sintonizado com as pessoas em volta dele: o homem só em um apartamento, uma mulher em uma cafeteria, um mendigo, um negociante, um adolescente vendo outras crianças jogando bola. Ele entende que eles estão sós e tristes e que têm os próprios tormentos. Ele é apenas uma das milhares de pessoas que sofrem, e a solução não é fácil. Alguém atira uma moeda para o mendigo, exatamente como Jackson fez com o bêbado em Billie Jean, mas agora, nós estamos olhando para a transação do ponto de vista do mendigo, vendo a moeda cair em direção a ele/ nós. Mas dessa vez, ele não se transforma; ele é apenas um mendigo com uma moeda. Dinheiro não pode consertar isso.
Começa a chover, basicamente um símbolo universal para tempos ruins, e as letras confirmam isso: “Dias ensolarados parecem distantes... De novo e de novo e de novo isso vem./ Queria que a chuva apenas me deixasse estar.” Os adultos se encurvam, blindando-se contra a chuva e se sentindo ainda mais tristes e isolados. De repente, nós escutamos um grito excitado, e, então, um pequeno grupo de crianças vem espalhando água do aguaceiro. Como as empobrecidas, mas alegres crianças em Jam, elas aceitam os tempos difíceis e estão alegres de qualquer forma.
A energia criativa da infância ainda existe, e ainda tem a capacidade de inspirar. Através delas, o significado da chuva, em si, é transformado de dificuldades para um tipo de batismo, uma fonte de renovação. Uma a um, os adultos, estende uma mão para a chuva e começa a se aventurar.
No fim do vídeo, Jackson está na chuva também, completamente encharcado, ele atira a cabeça para trás e o cabelo molhado forma arcos sobre ele. Daí, ele fica de pé com os braços estendidos, a chuva caindo. É um notável gesto, desde que essa era uma pose característica para ele, quando ele estava em concerto – uma que ele tipicamente adotava durante os aplausos de uma audiência, como se ele estivesse tentando reunir tudo isso, como um enorme buquê de flores, sem deixar que nenhuma delas caísse. No entanto, aqui ele não está sendo banhado em aplausos, mas em condenações, e os braços dele caem com o peso delas. Mas ele decide aceitar esses tempos difíceis, exatamente como ele uma vez aceitou os aplausos, e, embora ele não esteja feliz, talvez como as crianças que estão correndo, ele irá encontrar isso dentro dele mesmo, para ter momentos de alegria na chuva também.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Michael Jackson tinha como objetivo dirigir um filme sobre crianças orfãs


Michael Jackson tinha como objetivo dirigir um filme sobre crianças orfãs

 

 

Por Alex Ben Bloc, Sexta, 17 de julho de 2009

Traduzido por Daniela Ferreira para o blog The Man in the Music


LOS ANGELES (Hollywood Reporter) – Três meses antes da morte dele, Michael Jackson se comprometeu em codirigir e financiar um filme – um drama comovente sobre crianças em lares adotivos – e planejou começar tão logo concluisse os concertos dele em Londres. 

A notícia é a mais recente de uma série de revelações que estão ajudando a lançar luz sobre as paixões e projetos do pop star, mesmo quando a investigação sobre o abuso de medicamentos prescritos dele e uma briga pela custódia dos filhos dele esquenta. 

O projeto do filme também é assustadoramente marcado por um dos aspectos mais inesquecíveis da vida de Jackson: o parente sentimento dele de que o sucesso enorme do Jackson 5 o privou da infância. 

“Ele estava muito animado em fazer filmes e queria as mãos dele em tudo, desde trabalhar em roteiros para a produção a escrever a música. Porém, ele nunca mostrou qualquer interesse em atuar”, oprodutor e diretor cinematrográfico Bryan Michael Stoller disse de Jackson, que estrelou “The Wiz” em 1978. 

Stoller disse que ele tinha uma amizade de 23 anos com a estrela pop e foi parceiro dele na empresa cinematográfica Magic Shadows. Ele iria codirigir o filme, chamado “Eles Enjaulam Os Animais à Noite”, que Stoller disse que tinha vindo a desenvolver há sete anos. 


Inspirado por livro

 

O projeto foi baseado em um livro, de 1985, sobre as experiências da vida real do autor, Jennings Michael Burch, que passou por lares adotivos quando criança. Jackson mostrou o livro a Stoller em 2002, na propriedade dele, Neverland, e perguntou se ele queria produzir e codirigir uma versão cinematográfica. 

“Michael me disse, muitas vezes, que ele se sentia que ele cresceu como um órfão, como uma criança em lar adotivo, porque ele nunca estava em uma casa”, disse Stoller. “Para ele, cada hotel foi como um lar adotivo diferente. Ele disse que costumava se sentar na janela e ver as crianças brincando lá fora, e chorar, porque ele não poderia ser parte disso.” 

Stoller adquiriu os direitos do livro por US $ 1 – inicialmente sem dizer a Burch sobre o envolvimento de Jackson. Quando lhe disse, Stoller disse que o autor ficou animado por trabalhar com o cantor. 

Jackson, por sua vez, estava preocupado que Burch, então com 67 e sofrendo de câncer, não pudesse sobreviver para ver o filme pronto. Assim, Stoller sugeriu trazer Burch para Neverland em 2003, onde Jackson virou o jogo e o entrevistou para o que era para ser um especial de TV e um eventual DVD.

Durante a conversa altamente emocionada, Jackson perguntou ao autor se ele já havia considerado suicídio. Burch disse que ele tinha, e Jackson disse que também tinha considerado durante os dias mais sombrios dele. (Um clipe desse vídeo está disponível em THR.com.)

Stoller gravou o encontro deles, uma adição a uma coleção de vídeos que ele fez com Jackson ao longo dos anos, e de horas de gravações de áudio das reuniões deles. 

Stoller disse ao The Hollywood Reporter que ele está revelando isso porque ele acredita que esse material humaniza o amigo dele em um momento em que muito mito inventado sobre Jackson está ocorrendo. O produtor também está comercializando o vídeo, áudio e fotos, quer para venda direta ou como um projeto que iria produzir e dirigir. Ele disse que já teve interesse da NBC, CBS e E!.

Maspessoa de dentro do campo de Jackson disseram que não há acordo formal para qualquer envolvimento de Jackson com “Enjaulam”, as discussões entre o artista e Stoller ocorreram quando Jackson estava sem gestão, o que pode ter franzido a testa em qualquer distração, enquanto ele se preparava para os shows em Londres.


Cast Away, Cast Off

 

A última incursão de Jackson em filme foi uma farsa cômica de 2005, “Miss Cast Away and the Island Girls”, produzido, escrito e dirigido por Stoller e estrelado por Eric Roberts.  Jackson aparece brevemente no filme como o Agente MJ, que vem para o resgate de vários personagens em um feixe de luz. O filme foi um lançamento direto em DVD vendido brevemente nas lojas Blockbuster. 

Quando Jackson foi indiciado por acusações de abuso sexual infantil, pouco depois do lançamento do filme, a Blockbuster retirou o filme das prateleiras. “Miss Cast Away” foi vendido no exterior por Showcase Entertainment, e Stoller disse que tem ofertas para um lançamento de novo vídeo doméstico pela última aparição de Jackson em filme. 

“Eles Enjaulam Os Animais” também foi afetado pelas acusações de abuso sexual, Stoller disse. Em 2003, o produtor arranjou uma reunião de três horas em um hotel da Universal City entre Jackson e Mel Gibson, que além de ser um ator é um produtor e parceiro no Icon Prods. “Eles se deram muito bem”, disse Stoller. “Foi engraçado. Mel estava um pouco nervoso. Ele estava abraçando um travesseiro o tempo todo, meio que brincando com ele. Michael estava meio tímido.” 

Icon assinou um acordo para desenvolver o projeto com um orçamento entre US $ 13 milhões e US $ 20 milhões (de 7 a 12 milhões de líbras), de acordo com Stoller, que foi pago por Icon para escrever o roteiro. Um par de meses depois, quando Jackson foi indiciado em Santa Barbara, na Califórnia, Icon deixou cair o projecto, e Gibson parou de retornar as chamadas de telefone de Stoller. Houve relatos de notícias em 2005 de Icon tinha abandonado o projeto. Um porta-voz da Icon disse que a empresa esteve brevemente envolvida em 1995, mas tinha perdido o interesse em 1997. Stoller tem uma cópia do contrato com a Icon datado de 2002. 

Stoller disse que a Icon ainda detém o roteiro, mas um representante da Icon refutou isso, dizendo que a empresa não teve nenhum envolvimento ou participação por 10 anos. Gibson se recusou a comentar para esta reportagem.
 

Assistindo a Filmes

 

Jackson perdeu o contato com Stoller por cerca de dois anos, durante o período em que o cantor foi a julgamento. Mas depois da absolvição, Jackson estendeu a mão para ele. Eles tinham visto dezenas de filmes no cinema de Neverland; Stoller disse que o favorito de Michael Jackson era “To Kill a Mockingbird”, e que eles também discutiram fazer um remake da comédia musical “Chitty Chitty Bang Bang”. 

“Quando Jackson ligou em 2007, ele ainda tinha filmes na mente dele”, disse Stoller. “Ele começou a comprar equipamentos de produção de filme. Ele estava sempre perguntando como as coisas funcionam, mas eu nunca o vi realmente funcionando as coisas. Mas ele queria todos os brinquedos. Ele comprou uma boneca e queria que eu mostrasse as crianças como usá-la, porque elas a estavam usando como um brinquedo, brincando montados nela.” 

Jackson não estava interessado em fazer um blockbuster. “Ele queria fazer filmes que a Academia gostaria”, Stoller lembrou. 

Três meses antes da morte de Jackson, ele e Stoller tiveram “uma reunião muito séria” sobre reviver “Eles Enjaulam Os Animais” como uma produção independente, disse o produtor. 

“Michael iria investir até US $ 8 milhões e não teria que lidar com quaisquer estúdios ou produtores e, em seguida, iria levá-los aos estúdios”, disse Stoller. “Ele era muito apaixonado sobre ser um diretor. Ele estava determinado a fazer esse filme.”


(Edição de Sheri Linden Reuters)

  

Nota da tradutora: dizer que a criança está em um lar adotivo, nos Estados Unidos, muitas vezes significa que ela está sendo cuidada por uma família que recebe dinheiro do governo para isso. Não é uma adoção no sentido legal (não como é entendida na legislação brasileira). Daí o sentimento ruim de não pertencer a lugar algum, pois, diferentemnte dos filhso adotivos (no sentido legal) que são filhos tanto quanto os biológicos, as crianças colocadas em “lares adotivos” (no sentido americano do termo) não se sentem filhos da família, que apenas cuida dela por dinheiro. Claro, pode haver exceções, mas não é o caso abordado pelo livro que inspirou o filme que Michel queria dirigir. No livro escrito por Michael Burch, “Eles Enajulam os Animais à Noite”, o autor relata como foi crescer em orfanatos e “lares adotivos” sofrendo violência físicias e psicológicas ao extremo.

Aqui está o vídeo da entrevista que Michael Jackson fez com Burch em Neverland em 2003.

 


 

Fonte: Reuters